A APATIA POLITICA DA IGREJA QUE SE RENDEU AOS PRIVILÉGIOS DO ESTADO



    Em meio a toda esta eferverscência politica que tem agitado o país nesses últimos anos chegamos a mais um pleito eleitoral, disputa esta que tende a ser atípica e decisiva no tocante ao futuro da nação. As alianças e candidaturas estão formadas, o sistema que nos governa está se reinventando com o único e inequívoco proposito de dar manutenção a este projeto corrupto e maligno de poder que foi exposto através da operação lava jato, estimulando uma "revolta popular" e um desejo de "mudança" e "renovação". Porém, na prática nossas atitudes tendem a eleger mais do mesmo e os motivos (desculpas) são os mais diversos para tentar justificar o injustificável, nossas conveniências individualistas em detrimento de qualquer sentimento patriótico. 
   Olhando, em especial, para o eleitorado cristão evangélico me vem a lembrança de um hino antigo que diz o seguinte "Onde está aquele povo barulhento? Onde está que não se vê nenhum irmão? alguém com voz de lamento vai dizer neste momento, aquele povo foi embora pra Sião." Nos últimos anos o eleitorado evangélico tem ganhado uma expressiva importância no tocante ao resultado das urnas. No entanto, a mobilização da maioria das grandes denominação não tem representado seus valores cristãos bíblicos e sim seus "interesses partidários", temos fechado nossos olhos para injustiça, corrupção, cristianizando ideologias e politicas publicas contrárias ao evangelho de Jesus Cristo, apoiando e oramos em favor de criminosos condenados sem temor a Deus nem respeito a sua Palavra, isso quando não resolvemos lançar candidatos fantoches para representar os nossos anseios particulares efêmeros.
  Nossa relação com o estado é de prostituição, pensamos em nos valer do sistema para crescer enquanto " igreja", onde na verdade o sistema e que esta se valento da nossa carnalidade e desvio da verdade para proclamar o reino das trevas, tragando a nossa consciência, nos fazendo apoiar voluntariamente suas bandeiras travestidas de estado democrático de direito. 
    Fomos chamados como igreja do Senhor para sermos a consciência do estado, lhe servindo como referencia fiel de justiça social e padrão moral. Temos uma missão profética de, com a nossa conduta, exercermos uma cidadania que manifeste os valores do reino de Deus. Não podemos apoiar nada e nem ninguém que não comungue de tais princípios, pois o que está em jogo não é apenas o que fazemos, mas principalmente quem somos, e aí é onde encontramos a raiz do problema. Aqueles que não comungam intimamente dos valores e princípios do reino de Deus são indiferentes as consequências de uma cidadania irresponsável. Jesus como homem não fugiu das suas responsabilidades enquanto cidadão quanto esteve entre nós, ele nos deu o exemplo nisto também, ele pagou impostos, ensinou sobre a importância de submissão as autoridades constituídas e como denunciar de forma legitima abusos de autoridade, não acabou com a desigualdade, não criou cotas, nem programas sociais, ele fez melhor, salvou o homem do pecado da justiça e do juízo, transformou sua natureza e o fez satisfeito  nele para a glória do Pai das luzes. Este homem agora não somente tornou-se cidadão dos céus como abraçou uma nova conduta como cidadão desta terra, de inconformismo e denuncia, entendendo que não somente existe um proposito para sua existência como uma missão, lutar contra a tirania nos maldosos os chamando ao arrependimento. 
   Se somos maleáveis em nossa conduta no relacionamento com o poder publico, nos tornamos de igual forma responsáveis pela crise politica que aflige o nosso país e isso nos será cobrado do rigor pelo Senhor, precisamos despertar e tomar uma posição genuinamente cristã bíblica para com o nosso voto contribuirmos com o melhor para o nosso povo. 
    Não seja voto de cabresto, não apoie candidatos por ser fechamento da sua congregação, apoie e ajude a eleger quem tem compromisso com os valores e princípios do Reino de Deus. 


Deus vos Abençoe!

Vicente Leão

PROGRAMA EVIDENCIAS: SERIA JESUS UM PLÁGIO?


Neste vídeo o Dr. Rodrigo irá trazer esclarecimentos importantes sobre as varias contestações a respeito da pessoa de Jesus.

PROGRAMA EVIDENCIAS = A ORIGEM DAS CIVILIZAÇÕES


Neste programa o Dr. Rodrigo Silva irá nos trazer esclarecimentos históricos e arqueológicos riquíssimos sobre a origem das civilizações, diluvio e etc. 

O PREGADOR E SUA VIDA DEVOCIONAL




Todos nós precisamos de modelos para viver. Aprendemos pela observação. Quando seguimos as pegadas daqueles que percorrem as veredas da probidade, visamos aos objetivos de uma vida bem aventurada; mas, quando seguimos os modelos errados, colhemos frutos amargos de uma dolorosa decepção. São referencias e marcos balizadores em nosso caminho. Eles são como espelhos para nós, o espelho nos mostra quem somos e aponta-nos em que precisamos melhorar a nossa imagem. Analisemos algumas características interessantes do espelho.

Em primeiro lugar, ele nos mostra quem somos não através do som, mas da imagem, ele não discursa, revela, não alardeia; reflete. O seu sermão mais eloquente não é o pregado no púlpito, mas o que é vivido no lar, na igreja e na sociedade. Ele não prega apenas aos ouvidos, mas também aos olhos.

Em segundo lugar, o espelho deve ser limpo. Um espelho embaçado e sujo não pode refletir a imagem com clareza. Quando o pregador vivi em duplicidade, quando usa mascaras vivendo tal um ator, quando fala uma coisa e vivi outra, quando há um abismo entre o que professa e o que pratica, quando seus atos reprovam as suas palavras, então ficamos confusos e decepcionados. Um pregador impuro no púlpito é como um médico que começa a cirurgia sem fazer assepsia das mãos. Ele causará mais mal do que bem.

Em terceiro lugar, o espelho precisa ser plano. Um espelho côncavo ou convexo distorce e altera a imagem. Precisamos ver no pregador um exemplo de vida ilibada e irrepreensível. O pecado do líder é mais grave, mais hipocrisia e mais danoso em suas consequências. Mais grave, porque os pecados do mestre são os mestres do pecado. É mais hipócrita, porque ao mesmo tempo em que ele combate o pecado em publico, ele o pratica em secreto. Ao mesmo tempo em que condena isso nos outros, capitula-se a sua força e abriga-o no coração. É mais danoso em suas consequências porque, ao pecar contra um maior conhecimento, o líder tem uma queda mais escandalosa.

Finalmente, o espelho precisa ser iluminado. Sem luz, mesmo que tenhamos espelho e olhos, ainda assim ficarmos imersos em trevas espessas. Deus é luz. Sua Palavra é luz. Sempre que um líder se afasta de Deus e da sua Palavra a sua luz apaga-se e todos aqueles que o miravam ficam perdidos e confusos.

A crise avassaladora que atinge a sociedade também alcança a igreja. Embora estejamos assistindo a uma explosão de crescimento da igreja evangélica brasileira, não temos visto a correspondente transformação na sociedade. Muitos pastores, no afã de buscar o crescimento de suas igrejas, abandonam o genuíno evangelho e rendem-se ao pragmatismo que prevalece na cultura pós moderna. Não pregam todo o conselho de Deus, mas doutrinas engendradas pelos homens. Não pregam as Escrituras, mas as revelações de seus próprios corações, fazendo do púlpito um balcão de negócio, uma praça de barganha, governando as ovelhas de Cristo com dureza e rigor.

A crise teológica e doutrinária deságua na crise moral, uma crise que, como bem disse Dietrich Bohoeffer, transforma a graça de Deus em graça barata, justificando o pecado e não o pecador. A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento do pecador, é o batismo sem disciplina eclesiástica, é a comunhão sem confissão de pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, sem cruz e sem Jesus Cristo Vivo e encarnado.


1.      A VIDA DO MINISTRO É A VIDA DO SEU MINISTÉRIO

Uma das áreas mais importantes da pregação é a vida do pregador. John Stott afirma que a prática da pregação jamais pode ser divorciada da pessoa do pregador. A pregação com consistente exegese, sólida teologia e brilhante apresentação não glorifica a Deus, não alcança os perdidos, nem edifica os crentes sem um homem santo no púlpito.

O que nós precisamos desesperadamente nestes dias não é apenas de pregadores eruditos, mas sobretudo, pregadores piedosos. Piedade é um caminho de vida. Isto inclui vida domestica e relacionamento do marido com a esposa e do pai com os filhos (1Tm 3.5). Assim um ministro sem piedade não tem autoridade para pregar o santo evangelho. Não atrai pessoas para a igreja, antes as repele, não construindo pontes para aproximar-se das pessoas, mas abismos que as afasta do Senhor.

O pregador não sobe ao púlpito para entreter ou agradar seus ouvintes, mas para anunciar-lhes todo o desígnio de Deus. Sem pregação fiel não há santidade, sem santidade não há salvação, pois sem santidade ninguém verá a Deus. Há muitas igrejas cheias de pessoas vazias e vazias de pessoas cheias de Deus, porque os pastores estão produzindo discípulos que se conformam com sua própria imagem e semelhança, cheios de motivações hipócritas e egocêntricas isso gera como resultado sermões secos e sem vida.

2.      FOME POR DEUS

O pregador deve ser prioritariamente um homem de oração e jejum. O relacionamento do pregador com Deus é a insígnia e a credencial do seu ministério público. O pastor Paulo Anglada ao citar Thomas Murphy em seu livro “Introdução a Pregação Reformada” faz a seguinte afirmação: Há dois lugares onde, sem ser visto pelo mundo, o pregador recebe força e habilidade para a obra monumental a que foi ordenado, o quarto de meditação e o gabinete de estudo, primeiro o quarto aonde se cultiva o coração e depois o gabinete onde se cultiva a cabeça. É a regra de vida da qual o ministro do evangelho jamais deveria se afastar”.

O Espirito de Deus não inspirará um homem sem que ele próprio se esforce, pois o Espirito opera através do uso diligente de meios humanos. Spurgeon declara que nós somos, em certo sentido, as nossas próprias ferramentas e, portanto, devemos guardar-nos em ordem. Nosso espírito, alma, corpo e vida interior são as nossas mais íntimas ferramentas para o serviço sagrado. A chave para uma robusta pregação poderosa é uma robusta piedade pessoal.

A oração precisa ser prioridade tanto na vida do pregador quanto na agenda da igreja. A profundidade de um ministério é medido não pelo sucesso diante dos homens, mas pela intimidade com Deus. Spurgeon conclui que “se uma igreja não ora ela está morta”. Muitos pregadores pregam sermões eruditos, porem sem poder do Espirito Santo. Eles tem luz na mente, mas lhes falta fogo no coração.  Para Jesus a oração era mais importante do que o sucesso no ministério. Os maiores e mais conhecidos pregadores da historia foram homens de oração.  Outro habito importante para um ministério de pregação abençoado e abençoador é o jejum, ele é um importante exercício espiritual. Se desejamos pregas com poder, o jejum não pode ser esquecido em nossa vida devocional. Há um apetite por Deus em nossas almas. Deus colocou a eternidade em nosso coração e somente ele pode satisfazer essa nossa necessidade. John Piper define o jejum como fome de Deus, ele fala que o maior inimigo da fome de Deus não é o veneno mortífero, mas uma torta de maçã. O maior adversário do amor de Deus não são seus inimigos, mas seus dons e os mais mortíferos apetites não são pelos venenos do mal, mas pelos simples prazeres da terra.

3.      FOME PELA PALAVRA DE DEUS

É impossível ser um pregador bíblico eficaz sem que haja profunda dedicação aos estudos. “O pregador deve ser um estudante.”

John MacArthur diz que um pregador deve ser um diligente estudante da Escritura, o que João Calvino reforça ao dizer que o pregador precisa ser um pesquisador. Spurgeon escreve que, “aquele que cessa de aprender cessa de ensinar, aquele que não semeia nos estudos, não colhe nos púlpitos”.

O pregador enfrenta o constante perigo da preguiça dentro das quatro paredes de seu escritório. A ordem do apostolo Paulo é sumamente pertinente: “procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade” (2Tm 2.15).

A Bíblia é o grande e inesgotável reservatório da verdade cristã, uma imensa e infindável mina de ouro. John Wesley revelou o seu compromisso com a Escritura, ao dizer: “Oh! Dá-me o livro. Por qualquer preço, dá-me o livro de Deus! Nele há conhecimento para mim, Deixe-me ser o homem de um só livro!”

Em seu livro da série Um perfil de homens piedosos aonde fala sobre o zelo evangelístico de George Whitefield, o Rev. Steven J. Lawson vai fazer a seguinte análise sobre a imersão nas Escrituras de George:

“A devoção espiritual de Whitefield foi estabelecida sobre seu compromisso inabalável com a Bíblia. Uma vez que se converteu, a Escritura imediatamente tornou-se seu alimento necessário e acendeu o fogo de sua alma por Deus. Quanto mais se imergia na Bíblia, mais profunda era sua dedicação por conhecer a Deus e promover o seu reino.”

O pregador precisa ler não apenas a Palavra, como também o mundo ao seu redor; precisa ler o texto antigo e a nova sociedade a sua volta. John Stott comenta que “nós devemos estudar tanto o texto antigo quanto a cena moderna, tanto a Escritura quanto a cultura, tanto a Palavra quanto o mundo.

Martyn Lloyd-Jones recomenda que cada pregador deve ler toda a Bíblia pelo menos uma vez por ano. Além da Bíblia, todo pregador deve ser um serio estudante de teologia enquanto viver. Deve também estudar historia da igreja, biografias, apologética, bem como outros tipos de leituras. Deus mesmo promete dar lideres a sua igreja (Jr. 3.15). Se os pregadores não forem homens de conhecimento, jamais poderão realizar o ministério de ensino e instrução ao povo de Deus.É impossível ter graça no coração e luz na mente. É impossível ter experiências gloriosas sem o conhecimento das Escrituras.

A Palavra de Deus é eterna, não muda, não se torna ultrapassada nem desatualizada. Ela foi o instrumento que Deus usou para trazer grandes reavivamentos na história. A Palavra de Deus produziu a reforma nos dias do rei Josias. Semelhantemente, a Palavra de Deus trouxe vida a Israel quando a nação era como um vale de ossos secos. A Palavra de Deus produziu uma grande restauração nos dias de Esdras e Neemias. Em Jerusalém, o reavivamento espalhou-se quando a Palavra de Deus foi proclamada com o poder do Espirito Santo. Quando a Palavra de Deus foi proclamada pelos crentes, o reavivamento espalhou-se para além das fronteiras de Jerusalém (At 8. 1-4). O reavivamento de Éfeso foi resultado do crescimento da Palavra de Deus (At 19.20).

Devemos orar para que os pregadores sejam homens da Palavra! Os pregadores precisam desesperadamente retornar a Palavra de Deus. Todo pregador precisa ter paixão pela Palavra de Deus. Ele deve lê-la, conhece-la, obedecer a ela e pregá-la com autoridade, no poder do Espirito Santo.

Em seu livro sobre a soberania de Deus na pregação, John Piper faz uma análise sobre a pregação Jonathas Edwards mostrando 10 características marcantes deste que foi um dos maiores avivalitas na historia da igreja e que serve de desafio para a nossa geração de pregadores, observemos a seguir:

·           Desperte sentimentos santos:Uma boa pregação tem como objetivo encorajar “emoções santas” tais como ódio do pecado, deleite em Deus, esperança em suas promessas, gratidão por sua misericórdia, desejo de santidade e compaixão terna.

·           Ilumina as mentes: É crucial levar luz a mente porque os sentimentos que não são provenientes de seu entendimento da verdade não são afetos santos.

·           Sature com as Escrituras: Afirmo que uma boa pregação é “saturada com as Escrituras” e não “baseado nas Escrituras”, pois as Escrituras são mais (e não menos) do que a base para uma boa pregação.

·           Empregue analogias e imagens: A experiência e as Escrituras nos revelam que o coração é tocado de forma poderosa, não quando a mente se encontra absorta em ideias abstratas, mas quando é preenchida com imagens vividas da realidade estupenda.

·           Use ameaças e advertências: Edwards conhecia seu inferno, mas melhor ainda seu céu. Boas mensagens bíblicas incluem advertências a congregação.

·           Peça uma resposta: Não somos meramente passivos, nem Deus faz alguma coisa e nós, o resto. Deus faz tudo, e nós fazemos tudo. Deus fornece tudo, e nós desempenhamos tudo. Porque é isto que ele produz, a saber nossas próprias ações.

·           Sonde as operações do coração: A pregação poderosa é como uma cirurgia. Sob a unção do Espirito Santo, ela localiza, perfura e remove a infecção do pecado.

·           Submeta-se ao Espirito Santo em Oração: O pregador deve labutar em oração para colocar sua pregação sob a influência divina. 

·           Tenha um coração quebrantado e compassivo: Uma boa pregação procede de um espirito quebrantado e dócil. Apesar de toda sua autoridade e poder, Jesus era cativante, pois era manso e humilde de coração.

·           Seja intenso: Uma pregação que compele os ouvintes produz a impressão de que algo grandioso está em jogo. Com a visão de Edwards sobre a realidade do céu e do inferno, e da necessidade de perseverar em uma vida de santos afetos e piedade, a eternidade estava em jogo no domingo.

Tais características nos mostram não somente as qualidades de Edwards como grande pregador, como também seu comprometimento pessoal com a causa do evangelho. Uma boa pregação começa a partir de uma vida regenerada, esta verdade é fundamental, principalmente em tempos de crise nos púlpitos, aonde muitos tem transformado o anuncio das boas novas do evangelho e mero discurso religioso motivado, ou por uma espiritualidade espetaculosa, ou por uma erudição morta em suas tradições e dogmas, visando sua autopromoção e o famigerado mercadejamento da fé.

Precisamos como pregadores do Evangelho da Cruz, levar em consideração os conselhos do apostolo Paulo aonde ele diz que devemos não somente nos auto examinar como ter cuidado conosco mesmo e com a doutrina (Sagradas Escrituras) para que a nossa vida fale mais alto do que o nosso discurso.

O IMBECIL JUVENIL - (Artigo do Professor Olavo de Carvalho)



Jornal da Tarde, 3 de abril de 1998

Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.

O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.

Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder , sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria – a supressão, em suma, da personalidade.

É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação – literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador.

Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que o rejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.
Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.

Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não-ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidade do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior.

Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.


O JOVEM CRISTÃO NO CAMPUS DA BABILÔNIA - JONAS MADUREIRA


O Rev. Jonas Madureira traz uma palavra ricamente abençoada aos jovens, ministrada no congresso FIEL.

COMO DESENVOLVER UM MINISTÉRIO DE MISSÕES URBANAS - PR. SÉRGIO LIRA


Neste vídeo o Rev. Sérgio Lira irá tratar sobre aspectos bíblicos e práticos importantes para o desenvolvimento de um ministério missionário urbano.

MENSAGEM DA CRUZ: SANTIFICADO SEJA O TEU NOME - PROF. VICENTE LEÃO


Uma palavra de edificação e benção para você e sua família

AULA 1 DO CURSO DE INTRODUÇÃO A TEOLOGIA - O QUE É TEOLOGIA?


Esta aula é a primeira da série de 4 que irão tratar sobre introdução a teologia, para ter acesso as demais aulas entre em contato: ibep.analise.inteligente@gmail.com ou pelo whatsapp (81)98840-7009

HUMILDADE CRISTÃ VS HUMILDADE HUMANA



Por Michael J. Kruger  

Uma das objeções mais comuns feitas às reivindicações absolutas do cristianismo é de que os cristãos são arrogantes. Os cristãos são arrogantes ao afirmar que estão certos, arrogantes ao afirmar que os outros estão errados; arrogantes ao afirmar que a verdade pode ser conhecida. Infelizmente, no meio de tais acusações, ninguém se preocupa em perguntar que definição de humildade está sendo usada. Ao longo dos anos, a definição de humildade sofreu uma gradual, mas ainda assim profunda, mudança. Especialmente na comunidade intelectual. Atualmente, humildade se tornou, basicamente, sinônimo de outra palavra: incerteza. Estar incerto é ser humilde. Estar certo é ser arrogante. Assim, o pecado capital no mundo intelectual é afirmar saber alguma coisa com certeza.

Claro, essa mudança representa um problema real para o cristianismo. Os cristãos acreditam que Deus revelou-se claramente em sua Palavra. Assim, quando se trata de questões históricas importantes (Quem foi Jesus? O que ele disse? O que ele fez?) ou questões teológicas importantes (Quem é Deus? O que é o céu? Como se chega lá?), os cristãos acreditam que têm uma base sobre a qual podem afirmar com certeza: a revelação de Deus. Na verdade se afirmarmos não saber a verdade sobre tais assuntos, isso seria negar a Deus e negar sua Palavra. (Isso não significa, é claro, que os cristãos estão certos sobre tudo, mas podem estar seguros sobre essas verdades básicas do cristianismo).

Assim, para os cristãos, humildade e incerteza não são sinônimos. Uma pessoa pode estar certa e ser humilde ao mesmo tempo. Como? Por esta simples razão: os cristãos acreditam compreender a verdade apenas porque Deus revelou a eles (1 Coríntios 1.26-30). Em outras palavras, os cristãos são humildes porque sua compreensão da verdade não se baseia em sua própria inteligência, em sua própria investigação, em sua própria perspicácia. Pelo contrário, é 100% dependente da graça de Deus. Conhecimento cristão é um conhecimento dependente. E isso leva à humildade (1 Coríntios 1.31). Isto obviamente não significa que todos os cristãos são pessoalmente humildes. Mas significa que eles devem ser, e que têm motivos suficientes para ser.

Embora cristãos tenham uma base sobre a qual podem ser humildes e estar certos ao mesmo tempo, não é necessariamente o caso com as outras cosmovisões. Considere o ateu, por exemplo. Ele é bastante seguro de muitas coisas (ao contrário da sua afirmação de que não se pode ter certeza de nada). Ele está certo de que ou Deus não existe (ateísmo pesado), ou de que não se pode saber se Deus existe (ateísmo leve). E, em sua crítica ao cristianismo, estão absolutamente certos de que os cristãos estão errados ao afirmar que estão certos. Em essência, o ateu está afirmando: “Eu sei o suficiente sobre o mundo para saber que uma pessoa não pode ter uma base para a certeza.” Isso em si é uma afirmação bastante dogmática.

Mas, sobre o que o estão baseadas essas afirmações de amplo alcance dos ateus sobre o universo? Em sua própria mente finita, caída e humana. Ele tem acesso apenas ao seu próprio e limitado conhecimento. Então, agora devemos fazer a pergunta novamente: Quem está sendo arrogante? O cristão ou o ateu? Ambos reivindicam estar certos sobre um grande número de questões transcendentais. Mas um faz isso enquanto afirma ser dependente da pessoa que sabe essas coisas (Deus), e o outro faz dependente apenas de si mesmo. Se uma das posições é uma postura de arrogância, não seria a cristã.

Sem dúvida, o ateu se oporia a essa linha de raciocínio pelo fato de ele rejeitar a Bíblia como revelação divina. Mas, isto sai completamente da questão. O ponto não é se ele está convencido da verdade da Bíblia, mas a questão é qual visão de mundo, do cristão ou do ateu, tem uma base racional para reclamar certezas sobre questões transcendentais. Somente o cristão tem essa base. E já que seu conhecimento de tais coisas é dependente da graça divina, ele pode ser humilde e seguro, ao mesmo tempo.


Traduzido por Josie Lima | iPródigo.com | original aqui 
 Fonte: Monegismo 

O OFÍCIO PASTORAL




O pastorado é um dos ofícios listados em Efésios 4.11-12: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”.

A leitura reformada dessa passagem (Calvino, Owen, Hendriksen) considera os apóstolos, profetas e evangelistas como ofícios extraordinários e temporários, dados por Cristo à Igreja para o estabelecimento de seus fundamentos. Os pastores e mestres (ou pastores-mestres) são ofícios ordinários, concedidos à Igreja durante todo o tempo entre a primeira e segunda vindas do Senhor Jesus.

O termo ofício possui, no âmbito eclesiástico, um sentido especial: uma função relacionada ao governo e pastoreio da Igreja (daí os oficiais, presbíteros docentes, regentes e diáconos). Tal uso diferenciado é necessário mas pode gerar um mal-entendido. É possível sublimar tanto o significado desta palavra ao ponto de esquecer-se de seu sentido primordial.

Ofício é, essencial e primariamente, um lugar de atuação na sociedade, um serviço ou trabalho. Nesse sentido os antigos falavam do ofício de carpinteiro, de escrivão, de alferes ou de médico. Em suma, um ofício é aquilo que hoje denomina-se profissão.

A espiritualidade das profissões

O que é uma profissão? Um espaço para o cumprimento dos mandados da Criação. Uma profissão não aponta meramente para uma ocupação ou um emprego, mas para uma divina vocação. Assim sendo, todos os seres humanos — não apenas os ministros da Igreja — são vocacionados. No exercício dos diversos ofícios o Senhor é cultuado, o próximo é servido e a cultura é marcada pelo testemunho do Criador. Tais cogitações produzem, necessariamente, alguns desdobramentos.

Primeiro, o exercício de todas as profissões honestas é para a glória de Deus. Cada atividade na esfera dos trabalhos humanos pode ser empreendida como culto e evangelismo (1Co 10.31; Cl 3.22-24). Não são apenas os pastores, presbíteros e diáconos que prestarão contas pelo trabalho que realizaram no âmbito na Igreja. Todos os cristãos responderão pelo modo como desenvolveram suas atividades educacionais e profissionais, uma vez que, no sentido lato, todos possuem (ou pelo menos deveriam possuir) ofícios.

Segundo, o trabalho é, de fato, dádiva sublime e direito inalienável (Gn 2.15). Não possuir um ofício é uma aberração existencial. O desemprego é um pecado que afronta ao Criador. Governos agem de maneira ímpia quando, na condução de suas políticas econômicas, induzem juros altos, que sufocam novos empreendimentos, produzem recessão, aumentam o endividamento da população e empurram os trabalhadores para a informalidade. Deus é provocado à ira quando os habitantes de uma nação não têm acesso a educação de qualidade ou quando são promovidas políticas de crescimento desordenado das cidades, sem a necessária estrutura para absorção da nova massa de trabalhadores. Ao mesmo tempo, a iniciativa de ensinar ofícios é bíblica e nobre.

Terceiro, o pastorado é, na essência, um trabalho. O pastorado possui distinções transcendentes, altamente espirituais, mas, em suma, é um ofício, um serviço prestado a Deus que possui suas peculiaridades, assim como as outras profissões. Alguém poderá retrucar afirmando que o ministério pastoral se diferencia pelo fato de exaltar a doutrina divina e contribuir para a expansão do reino. Respondo dizendo que um juiz trabalhista, no desempenho honesto e destemido de sua vocação, também exalta ao Senhor, dá testemunho do poder do evangelho e confirma a presença do reino na cultura. A dignidade da função não é encontrada no ofício em si, mas no Senhor que concede os talentos e a vocação.

O trabalho não é o centro da vida

Há de considerar-se, nesse ponto, que todo ofício tem sua legitimidade e, ao mesmo tempo, suas limitações. Todo trabalho deve ser desenvolvido como parte do gracioso projeto de Deus para a vida humana, mas, simultaneamente, deve ser dito que ninguém encontra seu centro de satisfação no trabalho em si, mas em Deus que o concede. Essa é uma outra maneira de dizer que — mesmo nós pastores — devemos trabalhar para viver e não viver para trabalhar.

Deve ser lembrado que os ofícios são passageiros. Haverá o dia em que as forças faltarão, a própria Igreja exigirá — e com razão — um obreiro mais novo, os filhos sairão de casa e só restarão o pastor jubilado e sua esposa, ambos idosos, com uma parcela significativa de vida ainda pela frente. É a dificuldade em compreender isso que produz, nos profissionais das mais diversas áreas, a crise pós-aposentadoria ou, nos casais cujos filhos saíram recentemente de casa, a síndrome do “ninho vazio”.

Essa é a razão pela qual Deus estabeleceu um padrão de rotina vivencial demarcada por lacunas denominadas “descansos”. Um dia em cada sete foi separado para revigoramento da mente, corpo, emoções e fé (Gn 2.1-3; Êx 20.8-11). Isso indica que explodir a saúde, destruir os relacionamentos íntimos e familiares, isolar-se ao ponto de não desenvolver amizades profundas ou trabalhar exageradamente ao ponto de não ter tempo para a devoção, saudável diversão e oxigenação do corpo ou da alma — nada disso é prescrito por Deus nas Sagradas Escrituras. Tais coisas são valorizadas pela sociedade capitalista orientada para a produtividade ou pelo arremedo de Cristianismo centrado em mártires e heróis ascéticos, mas passam longe do padrão bíblico de vida com Deus.

O mito doentio do paladino da fé

Se isso é assim, não é errado o pastor trabalhar honesta, equilibrada, responsável, fervorosa e eficazmente, mas sem exageros ou heroísmos personalistas. O ideal do pastor que morre pelo trabalho eclesiástico é uma distorção da doutrina bíblica do ministério. Deus deseja que estejamos prontos a entregar nossas próprias vidas por ele e seu reino; não pelo trabalho.

Dentro do sistema de governo presbiteriano, pastores não são membros da igrejas locais, mas dos presbitérios. Nas igrejas locais, os pastores passam e os presbíteros permanecem. Se partirmos desse fato, o lógico seria pedir dos presbíteros que estivessem dispostos a anular-se a si mesmos e entregar-se fanaticamente aos trabalhos eclesiásticos, mas ninguém espera que um presbítero morra pelos trabalhos da igreja, mas espera-se — ainda que inconscientemente — isso do pastor. Um profissional de comunicação viciado em trabalho é submetido a um tratamento psicológico. Um pastor viciado em trabalho é celebrado como paladino da fé e ganha um prédio com o seu nome, após o seu falecimento (normalmente precoce). Isso não é bíblico nem saudável.

É claro que muitos dos apóstolos morreram martirizados. Mas não foram apenas os apóstolos; os cristãos de modo geral foram perseguidos nos primórdios da história da Igreja e também recentemente, nas experiências comunistas da antiga União Soviética e China, nos confrontos com os muçulmanos na Indonésia ou mesmo na evangelização de etnias animistas em campos missionários. O martírio é uma possibilidade a todo discípulo maduro de Jesus Cristo, mas isso não significa que a doença ou a morte prematura devam ser buscadas. Cristãos — e pastores estão incluídos aqui — devem ser bons mordomos de suas mentes, corpos, família e recursos, testemunhando sobre a libertação, transformação e santificação promovidas pela graça de Deus, demonstrando o que significa desfrutar da vida abundante prometida pelo Redentor.

Diversão, vida pessoal e trabalho

Se isso é assim, não é errado o pastor divertir-se. Ele pode dar risadas, aliviar o estresse, viajar, dedicar-se a passatempos, praticar esportes, ouvir música, passear com a família e relaxar. Pastores são seres humanos que precisam de refrigério.

Se isso é assim, não é errado o pastor saber dividir entre sua vida pessoal, familiar e as tarefas da Igreja, considerando-as dessa forma mesmo, como tarefas e não como o centro de sua vida.

Assim como é legítimo que um funcionário público tenha projetos pessoais fora do âmbito de sua repartição, é legítimo que o pastor desenvolva, com sabedoria e equilíbrio, projetos que não tenham necessariamente a ver com os trabalhos da Igreja. Destarte, é descabido exigir, para contratação ou permanência de um pastor em um campo, que ele abra mão de qualquer projeto pessoal e assuma como centro do universo somente as atividades e exigências da Igreja. Isso é antibíblico, cruel e desumano.

O pastor é, como todo trabalhador, um profissional que precisa desenvolver-se de acordo com a semelhança de Cristo. Isso não significa, porém, anulação da individualidade. O pastor possui vida pessoal, sonhos pessoais, anseios humanos normais que não se relacionam com as tarefas eclesiásticas.

Pastores são guias crentes e humanos

A liderança espiritual inclui-se no bojo do ofício pastoral. Pastores são guias de suas comunidades de fé. Eles assumem responsabilidades únicas e mui solenes. Daí a importância de termos o ministério pastoral em alta estima e elevada consideração.

Pastores lideram mostrando aos irmãos o que significa ser crente. Eles exemplificam a vida pela fé. Mas fazem isso não como titãs da espiritualidade e sim como homens. Eles demonstram como caminhar com Deus como seres humanos regenerados e santificados. Fazem isso vivendo a vida comum dos homens, não caminhando como gurus desligados das experiências, sentimentos, anseios e lutas cotidianas da congregação.

Nesse contexto, pastores demonstram como viver com Deus e para a glória de Deus; como trabalhar e descansar, como equilibrar as diversas demandas da existência depositando tudo nas mãos misericordiosas do Altíssimo. Pastores demonstram como seguir a Cristo com fé fervorosa, autêntica e, essencialmente, bíblica, ensinando a sã doutrina e corrigindo quaisquer distorções da fé e prática, inclusive os paradigmas errôneos acerca do próprio ministério pastoral.

Pastores fiéis repudiam o profissionalismo, que é a tendência de relacionar-se com a Igreja de forma mercantilista e gananciosa, ao mesmo tempo em que reconhecem que o pastorado é uma vocação entre outras, um ofício e uma profissão que deve ser exercida para a glória do Criador. Deus, não o trabalho da Igreja é o centro da vida do pastoral. Penso que o que passar disso não provém do Senhor.
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Autor: Rev. Misael Nascimento
Fonte: Somente pela graça

A RELAÇÃO DA PREGAÇÃO COM A TEOLOGIA BÍBLICA


Diagnóstico – O Problema com Grande Parte da Pregação de Hoje

Na associação de igrejas à qual eu pertenço – a Southern Baptist Convention [Convenção Batista do Sul] -, a batalha pela inerrância da Escritura pode ter sido ganha. Entretanto, nem nós nem outras denominações ou igrejas evangélicas que ganharam batalhas semelhantes deveríamos nos congratular tão rapidamente. Isso porque muitas igrejas conservadoras podem abraçar a inerrância da Escritura, mas, ainda assim, negar na prática a suficiência da Palavra de Deus. Nós podemos dizer que a Escritura é a palavra inerrante de Deus, mas, ainda assim, falhar em proclamá-la seriamente de nossos púlpitos.

Existe, na verdade, uma fome pela palavra de Deus em muitas igrejas evangélicas hoje. Algumas séries de sermões fazem, em seus títulos, referências a programas de TV tais como Gilligan’s Island, Bonanza e Mary Tyler Moore. A pregação, com frequência, foca em passos para um casamento bem-sucedido ou em como criar filhos em nossa cultura. Sermões sobre questões familiares, obviamente, são adequados e necessários, mas dois problemas frequentemente aparecem. Primeiro, o que as Escrituras de fato ensinam acerca desses assuntos é frequentemente negligenciado. Quantos sermões sobre casamento apresentam com fidelidade e urgência o que Paulo de fato ensina sobre os papeis do homem e da mulher (Ef 5.22-23)? Ou acaso nós estamos constrangidos pelo que as Escrituras ensinam?

Segundo, e talvez mais sério, tais sermões são quase sempre pregados no nível horizontal. Eles se tornam o centro da vida semanal da congregação, e a cosmovisão teológica que permeia a Palavra de Deus e provê o fundamento para toda a vida é simplesmente ignorada. Nossos pastores se tornam moralistas como Dear Abby, dando conselhos sobre como viver uma vida feliz semana após semana.

Muitas congregações não percebem o que está acontecendo porque a vida moral que tal pregação promove está de acordo, ao menos em parte, com a Escritura. Ela vai ao encontro das necessidades sentidas tanto por crentes como por incrédulos.

Pastores também creem que devem preencher seus sermões com histórias e ilustrações, de modo que as anedotas enfatizem o ensino moral apresentado. Todo bom pregador usará ilustrações. Todavia, sermões podem se tornar tão repletos de histórias que acabam desprovidos de qualquer teologia.

Eu tenho ouvido evangélicos afirmarem com certa frequência que as igrejas evangélicas estão indo bem em teologia porque as congregações não estão reclamando daquilo que lhes é ensinado. Tal comentário é completamente assustador. Nós, como pastores, temos a responsabilidade de proclamar “todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Nós não podemos pôr a nossa confiança em pesquisas de opinião congregacionais para determinar se nós estamos cumprindo o nosso chamado. Nós devemos pôr a nossa confiança naquilo que as Escrituras exigem. Pode ser que uma congregação jamais tenha sido seriamente ensinada na Palavra de Deus, de modo que os crentes não percebem onde nós estamos falhando como pastores.

Paulo nos alerta que “entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho” (At 20.29). E, em outro lugar, ele afirma que “haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4.3-4). Se nós avaliamos nossa pregação pelo que as congregações desejam, nós podemos estar dando espaço para as heresias. Eu não estou dizendo que nossas congregações são heréticas, mas apenas que o teste para a fidelidade é a Palavra de Deus, e não a opinião popular. O chamado dos pastores é para alimentar o rebanho com a Palavra de Deus, não para agradar as pessoas com o que elas desejam ouvir.

Muito frequentemente, nossas congregações são treinadas de modo pobre por aqueles de nós que pregam. Considere o que acontece quando alimentamos uma congregação com uma dieta constante de pregação moralista. Eles podem aprender a ser gentis, perdoadores, amorosos, bons maridos ou esposas (tudo isso é bom, obviamente!). Os seus corações podem ser aquecidos e até edificados. Mas, à medida que o fundamento teológico é negligenciado, o lobo da heresia passa a espreitar cada vez mais de perto. Como? Não que o próprio pastor seja um herege. Ele pode ser completamente ortodoxo e fiel em sua própria teologia. No entanto, ele presume a teologia em toda a sua pregação e, assim, torna-se negligente em pregar ao seu povo o enredo e a teologia da Bíblia. Em uma ou duas gerações, portanto, a congregação pode, desavisadamente e por ignorância, chamar um pastor mais liberal. Esse novo pastor também pregará que as pessoas devem ser boas, gentis e amorosas. Ele também enfatizará a importância de bons casamentos e relacionamentos dinâmicos. As pessoas nos bancos podem nem sequer discernir a diferença, uma vez que a teologia parece exatamente igual à do pastor conservador que o precedeu. E, em um sentido, ela o é, pois o pastor conservador nunca proclamou ou pregou a sua teologia. O pastor conservador cria na inerrância da Escritura, mas não em sua suficiência, pois ele deixou de proclamar tudo o que as Escrituras ensinam à sua congregação.

Nossa ignorância acerca da teologia constantemente se evidencia. Não saem da minha mente duas ocasiões nos últimos dez anos (uma em um grande estádio, por um pregador cujo nome não lembro) em que um pregador convidava as pessoas para virem à frente. O sermão no estádio pretendia ser um sermão evangelístico, mas eu posso honestamente dizer que o evangelho não foi pregado de modo algum. Nada foi dito acerca de Cristo crucificado e ressurreto, ou por que ele foi crucificado e ressurreto. Nada foi dito sobre por que a fé salva, e não as obras. Milhares vieram à frente e foram, sem dúvida, contados como salvos. Mas eu coçava minha cabeça e indagava o que de fato estava acontecendo. Eu orei para que ao menos alguns fossem verdadeiramente convertidos, talvez porque eles já conhecessem o conteúdo do evangelho de ouvi-lo em outras ocasiões. O mesmo aconteceu no culto de uma igreja que eu visitava. O pregador prolongou-se em um inspirado convite para que os ouvintes “viessem à frente” e “fossem salvos”, mas ele não deu qualquer explicação acerca do evangelho!

Tal pregação pode encher nossas igrejas de pessoas não convertidas, as quais são duplamente perigosas: elas foram asseguradas por seus pastores de que são convertidas e de que nunca podem perder a sua salvação, mas ainda estão perdidas. Então, daquele dia em diante, essas mesmas pessoas são exortadas, semana após semana, com o nosso novo evangelho para esses tempos pós-modernos: sejam legais.

Descoberta – O que é Teologia Bíblica

A solução para os problemas com a pregação rasa descritos na Parte 1 é, na verdade, bastante simples: os pastores precisam a prender a usar a teologia bíblica em suas pregações. Contudo, tal aprendizado exige que comecemos com a pergunta: o que é teologia bíblica?

Teologia Bíblica versus Teologia Sistemática

A teologia bíblica, em contraste com a teologia sistemática, foca no enredo bíblico. A teologia sistemática, embora seja informada pela teologia bíblica, é atemporal. Don Carson argumenta que a teologia bíblica se coloca mais próxima ao texto do que a teologia sistemática, almeja ser genuinamente sensível no tocante às distinções entre cada corpus e busca conectar os diversos corpora usando as suas próprias categorias. Idealmente, portanto, a teologia bíblica permanece como uma espécie de ponte entre a exegese responsável e a teologia sistemática responsável (ainda que cada uma dessas inevitavelmente influencia as outras duas). [1]
 
Em outras palavras, a teologia bíblica se limita mais intencionalmente à mensagem do texto ou corpus em consideração. Ela questiona quais temas são mais centrais para os escritores bíblicos em seu contexto histórico e procura discernir a coerência entre esses temas. A teologia bíblica foca no enredo da Escritura – o desdobramento do plano de Deus na história redentiva. Como nós consideraremos mais cuidadosamente na Parte 3, isso significa que nós deveríamos interpretar e então pregar cada texto no contexto de sua relação com todo o enredo da Bíblia.

A teologia sistemática, por outro lado, formula questões ao texto que refletem as questões ou preocupações filosóficas do momento. Os sistemáticos também podem – com um bom propósito – explorar temas que estão implícitos nos escritos bíblicos, mas que não recebem atenção primária no texto bíblico. Além disso, deveria ser evidente que qualquer teologia sistemática digna desse nome é edificada sobre a teologia bíblica.

A ênfase distinta da teologia bíblica, tal como Brian Rosner observa, é que ela “permite que o texto bíblico dite a pauta”. [2] Kevin Vanhoozer articula o papel específico da teologia bíblica ao dizer: “‘teologia bíblica’ é o nome dado a uma abordagem interpretativa da Bíblia a qual assume que a Palavra de Deus é textualmente mediada pelas diversas palavras, literária e historicamente condicionadas, dos seres humanos”. [3] Ou, “para exprimir a asserção de modo mais positivo, a teologia bíblica está em harmonia com os interesses dos próprios textos”. [4]

Carson expressa bem a contribuição da teologia bíblica:
Mas, idealmente, a teologia bíblica, como seu nome implica, mesmo ao trabalhar indutivamente a partir dos diversos textos da Bíblia, busca desvendar e articular a unidade de todos os textos bíblicos tomados juntos, recorrendo primariamente às categorias daqueles próprios textos. Nesse sentido, ela é teologia bíblica canônica, teologia bíblica “de-toda-a-Bíblia”. [5]

A teologia bíblica pode limitar-se à teologia de Gênesis, do Pentateuco, de Mateus, de Romanos ou até mesmo à teologia paulina. Contudo, a teologia bíblica pode também compreender todo o cânon da Escritura, no qual o enredo das Escrituras como um todo é integrado. Com muita frequência, pregadores expositivos limitam-se aos livros de Levítico, Mateus ou Apocalipse, sem considerar o lugar que eles ocupam no enredo da história redentiva. Eles isolam uma parte da Escritura da outra, e assim pregam de um modo truncado, ao invés de anunciarem todo o conselho de Deus. Gerhard Hasel corretamente destaca que nós precisamos fazer teologia bíblica de um modo “que busca fazer justiça a todas as dimensões da realidade de que os textos bíblicos testificam”. [6] Fazer tal teologia não é meramente uma tarefa para professores de seminário; é a responsabilidade de cada pregador da Palavra!

Pensemos novamente sobre as diferenças entre teologia bíblica e sistemática, para o que Carson traça o caminho. [7] A teologia sistemática considera a contribuição da teologia histórica e, assim, se utiliza da obra de Agostinho, Tomás de Aquino, Lutero, Calvino, Edwards e tantos outros ao formular o ensino da Escritura. A teologia sistemática procura anunciar a Palavra de Deus diretamente para o nosso tempo e nosso ambiente cultural. Obviamente, então, qualquer bom pregador deve ser versado na sistemática para anunciar uma palavra profunda e poderosa aos seus contemporâneos.

A teologia bíblica é mais indutiva e fundacional. Carson corretamente afirma que a teologia bíblica é uma “disciplina mediadora”, ao passo que a teologia sistemática é uma “disciplina culminante”. Nós podemos afirmar, então, que a teologia bíblica é intermediária, funcionando como uma ponte entre o estudo histórico e literário da Escritura e a teologia dogmática.

A teologia bíblica, então, trabalha a partir do texto em seu contexto histórico. Isso não significa afirmar que a teologia bíblica é um empreendimento puramente neutro ou objetivo. A noção de que nós podemos separar nitidamente o que o texto significou do que ele significa [what it meant from what it means], como pretendia Krister Stendahl, é uma quimera. Scobie diz o seguinte acerca da teologia bíblica:

As suas pressuposições, baseadas em um compromisso com a fé cristã, incluem a crença de que a Bíblia transmite uma revelação divina, que a Palavra de Deus na Escritura constitui a norma da fé cristã e da vida cristã, e que todo o variado material tanto do Antigo como do Novo Testamentos pode de algum modo ser relacionado ao plano e propósito do único Deus de toda a Bíblia. Tal teologia bíblica situa-se em algum lugar entre o que a Bíblia “significou” e o que ela “significa”. [8]

Segue-se, então, que a teologia bíblica não está confinada apenas ao Novo Testamento ou ao Antigo Testamento, mas que ela considera ambos os Testamentos juntos como a Palavra de Deus. De fato, a teologia bíblica trabalha a partir da noção de que o cânon da Escritura funciona como a sua norma e, assim, ambos os Testamentos são necessários para desvendar a teologia da Escritura.

Equilibrando o Antigo e o Novo Testamento

Há uma maravilhosa dialética entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento no trabalho da teologia bíblica. O Novo Testamento representa a culminação da história da redenção iniciada no Antigo Testamento e, assim, a teologia bíblica é por definição uma teologia narrativa. Ela captura a história da obra salvadora de Deus ao longo da história. O desenrolar histórico do que Deus tem feito pode ser descrito como a “história da salvação” ou a “história redentiva”.

Também é proveitoso considerar as Escrituras a partir da perspectiva de promessa e cumprimento: o que é prometido no Antigo Testamento é cumprido no Novo Testamento. Nós precisamos tomar cuidado para não apagarmos a particularidade histórica da revelação do Antigo Testamento, de modo a expungir o contexto histórico do qual ele nasceu. Por outro lado, nós devemos reconhecer o progresso da revelação do Antigo Testamento para o Novo Testamento. Tal progresso da revelação reconhece a natureza preliminar do Antigo Testamento e a palavra definitiva que vem no Novo Testamento. Dizer que o Antigo Testamento é preliminar não elimina o seu papel crucial, pois nós só podemos entender o Novo Testamento quando também compreendemos o significado do Antigo Testamento, e vice-versa.

Alguns são hesitantes em abraçar a tipologia, mas tal abordagem é fundamental para a teologia bíblica, uma vez que é uma categoria empregada pelos próprios escritores bíblicos. O que é tipologia? Tipologias são as correspondências divinamente pretendidas entre eventos, pessoas e instituições do Antigo Testamento e o seu cumprimento em Cristo, no Novo, [9] como quando  Mateus se refere em seu Evangelho ao retorno de Maria, José e Jesus do Egito usando a linguagem da saída de Israel do Egito (Mt 2.15; Êx 4.22; Os 11.1). Obviamente, não apenas os autores do Novo Testamento observam essas “correspondências divinamente pretendidas”. Os autores do Antigo Testamento também o fazem. Por exemplo, tanto Isaías como Oséias predizem um novo êxodo que será moldado de acordo com o primeiro êxodo. Do mesmo modo, o Antigo Testamento fala da expectativa de um novo Davi que será ainda maior do que o primeiro Davi. Nós vemos no próprio Antigo Testamento, portanto, uma gradação na tipologia, de modo que o cumprimento do tipo é sempre maior do que o próprio tipo. Jesus não é apenas um novo Davi, mas o maior Davi.

A tipologia reconhece um padrão e um propósito divinos na história. Deus é o autor final da Escritura – a história é um drama divino. E Deus conhece o fim desde o começo, de modo que nós, como leitores, podemos ver prenúncios do cumprimento final no Antigo Testamento.

Direção – Como Fazer Teologia Bíblica ao Pregar

Ao pregar as Escrituras, é vital compreender onde o livro que estamos estudando se situa na linha do tempo da história redentiva. Correndo o risco de simplificar demais, fazer boa teologia bíblica ao pregar consiste em dois passos básicos: olhar para trás e, então, olhar para o todo.

Olhar para Trás – Teologia Antecedente

Walter Kaiser nos lembra de que nós deveríamos considerar a teologia que antecede cada livro à medida que pregamos as Escrituras.

Por exemplo, ao pregarmos o livro de Êxodo, nós dificilmente interpretaremos a mensagem de Êxodo com exatidão se o lermos à parte de seu contexto precedente. E o contexto precedente de Êxodo é a mensagem transmitida em Gênesis. Nós aprendemos em Gênesis que Deus é o criador de todas as coisas, e que ele fez os seres humanos à sua imagem, de modo que os seres humanos estenderiam o governo do Senhor por todo o mundo. Adão e Eva, contudo, falharam em confiar em Deus e em obedecer o mandato divino. A Criação foi seguida pela Queda, a qual introduziu morte e miséria no mundo. Não obstante, o Senhor prometeu que a vitória final viria através da semente da mulher (Gn 3.15). Intenso conflito haveria entre a semente da mulher e a semente da serpente, mas a primeira iria prevalecer. Nós vemos no restante de Gênesis a batalha entre a semente da mulher e a semente da serpente, e nós aprendemos que a semente da serpente é muito poderosa: Caim mata Abel; os ímpios subjugam os justos até que restam apenas Noé e sua família; seres humanos conspiram para fazer um nome para si mesmos ao construírem a torre de Babel. Ainda assim, o Senhor permanece soberano. Ele julga Caim. Ele destrói todos no dilúvio, exceto Noé e sua família. E ele frustra os desígnios dos homens em Babel.

O Senhor faz uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó, assegurando que a vitória prometida em Gênesis 3.15 viria por meio da semente deles. O Senhor lhes concederá uma semente, uma terra e uma bênção universal. Gênesis focaliza especialmente na promessa acerca da semente. Em outras palavras, Abraão, Isaque e Jacó não possuem a terra da promessa, tampouco eles abençoam o mundo inteiro durante a sua geração. Mas Gênesis conclui com o relato dos doze filhos que o Senhor concedeu a Jacó.

Então, como essa “teologia antecedente” de Gênesis é crucial para a leitura do livro de Êxodo? Ela é fundamental, pois, quando Êxodo começa com a imensa multiplicação de Israel, nós imediatamente reconhecemos que a promessa abraâmica de muitos descendentes, dada em Gênesis, está se cumprindo. Não apenas isso, olhando para Gênesis 3, nós percebemos que Faraó é um descendente da serpente, enquanto Israel representa a semente da mulher. O esforço de Faraó para matar todas as crianças do sexo masculino representa os desígnios da semente da serpente, à medida que a batalha entre as sementes, preanunciada em Gênesis, continua.

Enquanto continuamos a nos mover pelo livro e Êxodo e o resto do Pentateuco, nós podemos ver que a libertação de Israel do Egito e a promessa de que eles conquistarão Canaã também represente um cumprimento da aliança do Senhor com Abraão. A promessa da terra está agora começando a se cumprir. Além disso, Israel agora atua, em certo sentido, como um novo Adão em uma nova terra. Como Adão, eles devem viver em fé e obediência no espaço que o Senhor lhes concedeu.

Se nós tivéssemos que ler Êxodo sem ser informados pela mensagem antecedente de Gênesis, nós não perceberíamos a significância da história. Nós leríamos o texto à parte do seu contexto, e seríamos vítimas de uma leitura arbitrária.

A importância da teologia antecedente é evidente ao longo do cânon, então nos contentaremos aqui com outros poucos exemplos. Vejamos:

  • A conquista sob Josué deve ser interpretada à luz da aliança com Abraão, de modo que a posse de Canaã é entendida como o cumprimento da promessa feita a Abraão de que ele desfrutaria da terra de Canaã.
  • Por outro lado, o exílio dos reinos do norte (722 a.C.) e do sul (586 a.C.) ameaçado pelos profetas e registrado em diversos livros representa o cumprimento das maldições da aliança de Levítico 26 e Deuteronômio 27-28. Se os pregadores e as congregações não conhecem a teologia antecedente da aliança mosaica e as maldições ameaçadas naquela aliança, eles dificilmente poderão discernir o significado de Israel e Judá sendo enviados para o exílio.
  • A promessa do novo Davi reflete a aliança previamente feita com Davi de que a sua dinastia permaneceria para sempre.
  • O Dia do Senhor, que é tão proeminente nos profetas, deve ser interpretado à luz da promessa feita a Abraão.
Obviamente, o mesmo é verdade acerca do NT.
  • Nós dificilmente poderemos entender a importância do reino de Deus nos sinóticos se não conhecermos o enredo do Antigo Testamento e formos ignorantes acerca das alianças e promessas feitas a Israel.
  • A significância de Jesus ser o Messias, o Filho do Homem e o Filho de Deus está completamente arraigada na revelação prévia.
  • O livro de Atos, como Lucas aponta em sua introdução, é uma continuação do que Jesus começou a fazer e ensinar, e, portanto, é informada tanto pelo Antigo Testamento como pelo ministério, morte e ressurreição de Jesus.
  • As epístolas também se alicerçam na grande obra salvadora realizada por Jesus Cristo, e explicam e aplicam às igrejas estabelecidas a mensagem salvadora e o cumprimento das promessas de Deus.
  • Finalmente, Apocalipse faz sentido como o ápice da história. Não é apenas um anexo aposto ao final para promover alguma excitação sobre o tempo do fim. As muitas alusões ao Antigo Testamento demonstram que a revelação do Apocalipse é traçada sobre o pano de fundo da revelação do Antigo Testamento. Semelhantemente, o livro não faz qualquer sentido a menos que vejamos que ele se coloca como a conclusão de tudo o que Jesus fez e ensinou.
Isso não significa que o enredo da redenção tem a mesma centralidade em todos os livros do cânon. Nós poderíamos pensar acerca dos livros de sabedoria como Cantares de Salomão, Jó, Eclesiastes, Provérbios e Salmos. Contudo, mesmo nesses exemplos, os autores bíblicos pressupõem as verdades fundamentais da criação e queda de Gênesis, assim como o papel especial de Israel como o povo da aliança de Deus. Algumas vezes, eles até mesmo articulam esse papel, como quando os Salmos narram a história de Israel. Ainda assim, nós somos lembrados da diversidade do cânon e reconhecemos que nem toda porção de literatura possui a mesma função.

A principal verdade para os pregadores aqui é que eles devem pregar de tal maneira a integrar os seus sermões no escopo mais amplo da narrativa bíblica da história da redenção. Aqueles nos bancos precisam ver a imagem mais abrangente do que Deus tem feito e como cada parte da Escritura contribui para aquela imagem. O que nos leva ao segundo passo para fazer boa teologia bíblica na pregação…

Direção – Como Fazer Teologia Bíblica ao Pregar (cont.)

Olhe para o Todo – Pregação Canônica
Como pregadores, nós não devemos nos limitar apenas à teologia antecedente. Nós também devemos considerar o todo da Escritura, o testemunho canônico que agora possuímos no ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Se nós pregarmos apenas a teologia antecedente, não estaremos dividindo acuradamente a palavra de Deus; tampouco estaremos levando a mensagem do Senhor ao povo de nossos dias.

Quando pregamos nos primeiros capítulos de Gênesis, portanto, nós também devemos proclamar que a semente da mulher é Jesus Cristo, e que a queda da criação na futilidade será revertida por meio da obra de Jesus Cristo (Rm 8.18-25). Nossos ouvintes devem ver que a velha criação não é a palavra final, mas que há uma nova criação em Cristo Jesus. Nós devemos mostrar-lhes pelo livro de Apocalipse que o fim é melhor do que o começo, e que as bênçãos da criação original serão alargadas (por assim dizer) na nova criação.

Do mesmo modo, o que nós como pregadores diremos ao pregar em Levítico, se não pregarmos Levítico à luz do cumprimento havido em Jesus Cristo? Certamente nós devemos proclamar que os sacrifícios do AT se cumpriram na obra de Jesus Cristo na cruz.
Além disso, os regulamentos concernentes às leis alimentares e à purificação devem ser interpretados canonicamente, de modo a compreendermos que o Senhor não nos chama para seguirmos as leis alimentares ou os regulamentos de purificação. Esses regulamentos apontam para algo maior: a santidade e a nova vida que devemos possuir como crentes (1Co 5.6-8; 1Pe 1.15-16).

Tampouco é o caso, como o Novo Testamento claramente ensina, de que os crentes ainda estejam sob a lei Mosaica (Gl 3.15-4.7; 2Co 3.7-18). A antiga aliança foi planejada para estar em vigor por um período determinado na história da salvação. Agora que o cumprimento em Cristo se manifestou, não estamos mais sob a aliança que o Senhor instituiu com Israel. Então, é um erro pensar que as leis às quais Israel estava obrigado como nação deveriam servir como paradigma para os estados nacionais atualmente – como defendem os teonomistas em nossos dias. Nós devemos reconhecer, em nossa pregação, a diferença entre Israel como povo de Deus e a igreja de Jesus Cristo. Israel era o povo teocrático de Deus, representando tanto o povo da aliança de Deus como um ente política. Mas a igreja de Jesus Cristo não é um ente político com um código de leis para os estados nacionais. A igreja é composta de pessoas de todo povo, língua, tribo e nação. Uma falha em compreender essa diferença entre a antiga e a nova aliança devastaria nossas congregações.

Se nós não entendermos as diferenças entre a antiga aliança e a nova, teremos dificuldade, por exemplo, em proclamar a conquista da terra em Josué. Certamente, a promessa para a igreja de Jesus Cristo não é que nós possuiremos a terra de Canaã algum dia! Diversamente, ao lermos o Novo Testamento, nós aprendemos que a promessa da terra é entendida tipologicamente e também expandida para um cumprimento final no Novo Testamento. A epístola aos Hebreus explica que o descanso prometido sob Josué nunca foi planejado pra ser o descanso final para o povo de Deus (Hb 3.7-4.13). Paulo explica que a promessa da terra a Abraão não pode ser confinada a Canaã, mas se universaliza para incluir o mundo inteiro (Rm 4.13). Descobrimos em Hebreus que nós, como cristãos, não aguardamos uma cidade terrena, mas uma cidade celestial (Hb 11.10; 14.16; 13.14), uma cidade por vir. Ou, como João coloca em Apocalipse 21-22, nós aguardamos a Jerusalém celestial, a qual não é outra coisa senão uma nova criação. E, outras palavras, se nós pregarmos em Josué e não enfatizarmos a nossa herança em Cristo e a nova criação, então teremos falhado miseravelmente em comunicar o enredo da Escritura na exposição do livro. Teremos truncado a sua mensagem de modo que o nosso povo falhará em ver como toda a Escritura se cumpre em Cristo, e como todas as promessas de Deus são “sim” e “amém” em Cristo Jesus (2Co 1.20).

Se nós pregarmos as Escrituras canonicamente, usando a teologia bíblica, então proclamaremos Cristo tanto a partir do Antigo Testamento como do Novo Testamento. Devemos evitar o perigo, é claro, de fazer alegorias simplistas ou conexões forçadas entre os testamentos. Nós não cairemos em tais erros se tivermos realizado adequadamente o trabalho da teologia bíblica e seguido a hermenêutica dos próprios escritores apostólicos. Os escritores apostólicos, afinal, criam que o Antigo Testamento apontava para Cristo e se cumpria nele. E eles aprenderam essa hermenêutica do próprio Jesus Cristo, no momento em que ele abriu as Escrituras para Cleopas e seu amigo no caminho de Emaús (Lc 24). Sob esse aspecto, alguns têm defendido que a hermenêutica dos apóstolos era inspirada, mas não deveria ser imitada hoje. [11] Tal visão não se sustenta porque sugere que o cumprimento do Antigo Testamento visto pelos apóstolos não confere com o que os textos verdadeiramente significam. Se esse é o caso, as conexões apontadas entre os testamentos são arbitrárias, e os apóstolos (e o próprio Cristo!) não servem como modelos de interpretação do Antigo Testamento hoje.

Se nós cremos, contudo, que os apóstolos foram leitores inspirados e sábios do Antigo Testamento, então nós temos um padrão para lermos todo o Antigo Testamento à luz do cumprimento realizado em Jesus Cristo. O enredo e as estruturas do Antigo Testamento todos apontam para ele e são aperfeiçoados nele. [12] Quando nós lemos sobre a promessa de Abraão no Antigo Testamento, nós percebemos que ela se cumpriu em Cristo Jesus. As sombras dos sacrifícios do Antigo Testamento encontram a sua substância em Cristo. Por exemplo:
  • Festas como a Páscoa, o Pentecostes e os Tabernáculos apontavam para Cristo como o sacrifício pascal, para o dom do Espírito e para Jesus como a Luz do mundo.
  • Os crentes não estão mais obrigados à observância do shabbat, pois ele também era uma das sombras da antiga aliança (Cl 2.16-17; cf. Rm 14.5) e pertence à aliança do Sinai que não está mais em vigor para os crentes (Gl 3.15-4.7; 2Co 3.4-18; Hb 7.11-10.18). O shabbat aponta para o descanso que já começou para nós em Cristo e que será consumado no descanso celestial do último dia (Hb 3.12-4.11).
  • O templo antecipa Cristo como o verdadeiro templo, enquanto a circuncisão é consumada na circuncisão do coração ancorado na cruz de Cristo e protegido pela obra do Espírito.
  • Davi, como rei de Israel e um homem segundo o coração de Deus, não representa o ápice do reino; Davi é um tipo de Jesus Cristo. Cristo, o superior Davi, era impecável. Ele é o rei messiânico que, por meio de seu ministério, morte e ressurreição, inaugurou as promessas que Deus fizera ao seu povo.
Se não pregarmos o Antigo Testamento considerando todo o cânon, nós estaremos nos restringindo a lições morais do Antigo Testamento, ou, o que é igualmente provável, nós raramente pregaremos no Antigo Testamento. Como cristãos, nós sabemos que muito do Antigo Testamento não fala mais diretamente à nossa situação hoje. Por exemplo, Deus não prometeu nos libertar da escravidão política como libertou Israel do Egito. A terra de Israel é politicamente volátil nestes dias, mas os cristãos não creem que a sua alegria virá pelo fato de viverem em Israel, tampouco pensam que a adoração consiste em ir ao templo para oferecer sacrifício. Contudo, se não pregarmos o Antigo Testamento canonicamente, à luz da teologia bíblica, ele frequentemente será negligenciado na pregação cristã. E, ao fazê-lo, nós não apenas nos privamos de maravilhosos tesouros da palavra de Deus, mas também falhamos em ver o caráter profundo e multifacetado da revelação bíblica. Nós nos colocamos em uma posição na qual não lemos o Antigo Testamento do modo como Jesus e os apóstolos faziam, e assim não vemos que as promessas de Deus são “sim” e “amém” em Jesus Cristo.

Ler o Antigo Testamento canonicamente não significa que o Antigo Testamento não seja lido em seu contexto histórico-cultural. A primeira tarefa de todo intérprete é ler o Antigo Testamento em si mesmo, discernindo o significado pretendido pelo autor bíblico ao escrevê-lo.      Além disso, como defendemos acima, cada livro do AT deve ser lido à luz de sua teologia antecedente, de modo que o enredo da Escritura é compreendido. Mas nós também devemos ler toda a Escritura canonicamente, de modo que o Antigo Testamento é lido à luz da história completa – o cumprimento que veio em Jesus Cristo.

Em resumo, nós deveríamos sempre considerar a perspectiva do todo – do autor divino – ao fazer teologia bíblica e ao pregar a Palavra de Deus. Nós deveríamos ler as Escrituras tanto de frente para trás como de trás para frente. Nós deveríamos sempre considerar a história que está se desenvolvendo bem como o fim da história.

Conclusão

A nossa tarefa como pregadores é proclamar todo o conselho de Deus. Nós não cumpriremos o nosso chamado se, como pregadores, nós falharmos em fazer teologia bíblica. Nós podemos receber muitos elogios de nosso povo por nossas lições morais e nossas ilustrações, mas não estamos servindo nossas congregações fielmente se elas não entendem como toda a Escritura aponta para Cristo, e se elas não obtêm de nós um melhor entendimento do enredo da Bíblia. Que Deus nos ajude a sermos mestres e pastores fieis, de modo que cada pessoa sob nossos cuidados seja apresentada perfeita em Cristo.

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Notas:

1. D. A. Carson, “Systematic and Biblical Theology,” em New Dictionary of Biblical Theology (eds. T. Desmond Alexander e Brian S. Rosner; Downers Grove: InterVarsity, 2000), 94. Uma outra definição é apresentada por Charles H. H. Scobie: “A teologia bíblica pode ser definida como o estudo ordenado do entendimento da revelação de Deus contida nas Escrituras canônicas do Antigo e do Novo Testamentos” (“The Challenge of Biblical Theology,” Tyndale Bulletin 42 [1991]: 36).
2. Brian S. Rosner, “Biblical Theology,” in New Dictionary of Biblical Theology, 5.
3. Kevin J. Vanhoozer, “Exegesis and Hermeneutics,” in New Dictionary of Biblical Theology, 56.
4. Ibid., 56.
5. Carson, “Systematic and Biblical Theology,” 100.
6. Gerhard Hasel, “Biblical Theology: Then, Now, and Tomorrow,” Horizons of Biblical Theology 4 (1982): 66.
7. Para a discussão que segue, ver Carson, “Systematic and Biblical Theology,” 101-02.
8. Scobie, “The Challenge of Biblical Theology,” 50-51.
9. Para uma introdução mais completa à tipologia, ver David L. Baker, Two Testaments, One Bible (IVP, 1976), capítulo 7.
10. Walter Kaiser, Jr., Toward an Exegetical Theology: Biblical Exegesis for Preaching and Teaching (Grand Rapids: Baker, 1981), 134-40.
11. Richard N. Longenecker, Biblical Exegesis in the Apostolic Period (2. ed.; Grand Rapids: Eerdmans, 1999).
12. Sobre a importância da centralidade em Cristo na nossa pregação, ver Graeme Goldsworthy, Preaching the Whole Bible as Christian Scripture: The Application of Biblical Theology to Expository Preaching (Grand Rapids: Eerdmans, 2000); Sidney Greidanus, Preaching Christ from the Old Testament: A Contemporary Hermeneutical Method (Grand Rapids: Eerdmans, 1999); Edmund P. Clowney, Preaching Christ in All of Scripture (Wheaton: Crossway, 2003). [N.T.: Dentre tais obras, apenas o livro de Sidney Greidanus foi publicado em português, pela Editora Cultura Cristã, com o título Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento.]
Este artigo foi extraído e adaptado do The Southern Baptist Journal of Theology [Jornal de Teologia Batista do Sul] 10.2 (2006) e é usado com permissão. Thomas Schreiner serve como pastor de pregação na Clifton Baptist Church em Louisville, Kentucky. Ele é também professor de Novo Testamento no Southern Baptist Theological Seminary [Seminário Teológico Batista do Sul] e escreveu Romans [Romanos] (Baker, 1998) e Paul, Apostle of God’s Glory in Christ: A Pauline Theology [Paulo, o Apóstolo da Glória de Deus em Cristo: Uma Teologia Paulina] (InterVarsity, 2001), entre muitos outros títulos.