A CONFLITUOSA CONFUSÃO DA MASCULINIDADE E FEMINILIDADE DEPOIS DA QUEDA



Para a mulher ele disse, "Eu aumentarei muito a sua dor ao dar a luz; na dor você trará ao mundo crianças, ainda assim o seu desejo deverá ser para com seu marido, e ele deverá ditar as regras sobre você... se você se der bem, como você não seria aceita? E se você não se der bem, o pecado baterá à sua porta; o desejo do pecado será para você, mas você deverá dominá-lo."

Na semana passada focamos nossa atenção em Gênesis 1:27. Essa é a base extremamente importante para a compreensão do que é ser humano, especialmente o que significa ser o humano masculino e o humano feminino. "Então Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança; masculino e feminino Ele os criou." Moisés adicionou as palavras "masculino e feminino "para ter certeza que ninguém faça confusão pensando que a palavra HOMEM neste verso (“ Ele criou o homem à Sua própria imagem”) refere-se apenas ao humano masculino e não ao humano feminino. Gênesis 5:1-2 faz o mesmo ponto: "Esse é o livro das gerações de Adão. Quando Deus criou o homem (Adão), Ele o fez semelhante a Deus. Homem e Mulher Ele os criou, e Ele os abençoou e deu o a eles o nome de Homem (Adão) quando eles foram criados." Então o ensinamento claro em Gênesis é que os seres humanos, tanto o homem quanto a mulher, são totalmente diferentes de todas as demais criaturas, pois os humanos sozinhos são a imagem e semelhança de Deus – tanto o homem quanto a mulher.

Então eu disse na semana passada que Deus nos criou à sua imagem COMO HOMEM E MULHER, isso quer dizer igualdade de pessoa, de dignidade, respeito mutuo, harmonia, complementaridade e destino unificado.

Igualdade de pessoa significa que o homem não é menos que a mulher porque ele tem cabelo em seu peito como um gorila, uma mulher não menos que o homem porque ela tem menos pelo no peito como um peixe. Eles são iguais em sua pessoa e suas diferenças não mudam aquela verdade básica.

Igualdade de dignidade significa que eles devem ser honrados de maneira igual como seres humanos à imagem de Deus. Pedro diz (em Pedro 1, 2:17) "honrar a todos," isto é, todos os seres humanos. Existe uma honra a ser utilizada em relação às pessoas apenas por elas serem seres humanos. Existe até mesmo a honra que devemos até mesmo ao pior dos criminosos, como um Ted Bundy, apenas pelo fato dele ser um ser humano e não um cachorro. E essa honra pertence igualmente tanto ao homem quanto a mulher.

O respeito mútuo quer dizer que homens e mulheres devem ser igualmente zelosos para respeitar e honrar um ao outro. O respeito não deve partir apenas de uma direção. Criados à imagem de Deus, homem e mulher devem se olhar com um tipo de temor respeitoso o qual modera, mas não é destruído pelo pecado.

A harmonia significa que deve existir uma cooperação pacífica entre homens e mulheres. Devemos encontrar maneiras de lubrificar as engrenagens de nossos relacionamentos a fim de existir trabalho em equipe e também uma harmonia além de uma ajuda mútua e prazer.

A complementaridade significa que a música de nossos relacionamentos não devem apenas soar apenas como o coro de uma só voz. Deve ser o som integrado de um soprano e de um baixo, um alto e um tenor. Isso significa que as diferenças entre homens e mulheres serão respeitadas e afirmadas e valorizadas. Isso significa que homem e mulher não tentarão se duplicar, mas sim vão enfatizar no outro as qualidades únicas necessárias para o enriquecimento mútuo.

Finalmente, o destino unificado significa que homem e mulher, quando estão juntos na fé do Cristo, são “herdeiros da graça da vida” (Pedro 1, 3:7). Estamos predestinados para ter um prazer igual da revelação da glória de Deus nos anos que estão por vir.

Então ao criar os seres humanos como homem e mulher a sua imagem, Deus tinha algo em sua grandiosa mente. Ele ainda tem isso em sua mente. E em Jesus Cristo, Ele pretende redimir a visão das destruições do pecado.

Vimos brevemente na semana passada o que o pecado fez com que a relação entre homens e mulheres. Quero esclarecer isso que melhor hoje. Originalmente havia planejado apenas tocar neste assunto e utilizar o meu tempo na visão da masculinidade e da feminilidade antes da queda. Mas a mensagem tomou um rumo diferente e o que vou fazer é ajustar para que se esclareça essa visão pré-queda da masculinidade e da feminilidade na semana que vem. Quero que percebam muito precisamente que o conflito é entre homens e mulheres, e o quanto essa confusão é grande hoje em dia sobre o que significa ser homem e ser mulher.

Vamos dar uma olhada em Gênesis 3:16. Adão e Eva ambos cometeram um pecado contra Deus. Eles desconfiaram de sua bondade e deram as costas para Ele a fim de depender de suas próprias sabedorias do que é ser feliz. Então eles rejeitaram a Sua palavra e eles comeram da fruta daquela árvore do conhecimento do bom e do mal. Deus os chama para os comunicar e descrever como as coisas da vida do ser humano serão daquele momento em diante devido ao pecado. Em Gênesis 3:16 Deus diz à mulher, "Eu multiplicarei imensamente a sua dor ao dar à luz; em dor deverás dar à luz aos seus filhos, e seu desejo deverá ser sobre o seu marido e ele deverá te dominar." Essa é a descrição do curso. É uma descrição de miséria, ao uma descrição de casamento. Essa é a maneira que deverá ser na história onde o pecado tem o controle. Mas o que realmente está sendo dito aqui? Qual é a natureza deste relacionamento destruído depois do pecado?

A chave está em reconhecer a relação entre as últimas palavras deste verso (3:16b) e as últimas palavras de Gênesis 4:7. Aqui Deus está avisando Caim sobre os eu ressentimento e a sua fúria contra Abel. Deus diz a ele que o pecado está quase controlando a sua vida. Note no final do verso 7: "O pecado está se postando na porta; ele o deseja, mas você deve dominá-lo (literalmente:você deve ditar as regras sobre ele)."

Um paralelo aqui entre 3:16 e 4:7 é extremamente próximo. As palavras são virtualmente as mesmas em Hebreu, mas também se pode observar o mesmo em Inglês. Em 3:16 Deus diz à mulher, "Seu desejo deverá ser sobre os seu marido, e ele deverá te dominar." Em 4:7 Deus diz à Caim, "O desejo do pecado está sobre você, e você deve dominá-lo."

Agora a razão pela qual é importante notar esse detalha é que isso nos mostra mais claramente o que significa "desejo." Quando em 4:7 se diz que o pecado está postando na porta do coração de Caim (como um leão, Gênesis 49:9) e que o desejo é por ele, significa que o pecado quer se apoderar dele. Ele quer derrotá-lo e dominá-lo e fazê-lo de escravo do pecado. Agora quando voltamos ao 3:16 provavelmente veremos o mesmo significado no desejo pecaminoso da mulher. Quando se diz, "Seu desejo deverá ser sobre seu marido, "significa que o pecado dominou a mulher, ela deseja controlar ou dominar ou explorar o homem. E quando o pecado se apodera do homem ele responderá da mesma maneira e a sua força controlará a mulher, a dominará.

Então o que realmente é descrito no decorrer de 3:16 é o terrível conflito entre homem e mulher que tanto marcou a história humana. Masculinidade como Deus criou foi depravada e corrompida pelo pecado. Feminilidade como Deus criou foi depravada e corrompida pelo pecado. A essência do pecado é a sua própria confiança e sua própria exaltação. Primeiramente em conflito com Deus, e depois em exploração um com o outro.

Então a essência da masculinidade corrompida está no esforço de se engrandecer para subjugar e controlar e explorar as mulheres para os seus próprios prazeres. E a essência da feminilidade corrompida está no esforço de se engrandecer para subjugar e controlar e explorar os homens para os seus próprios prazeres. E a diferença é encontrada principalmente nas diferentes fraquezas que podem ser exploradas em um e em outro.

Como regra os homens têm mais forca bruta do que as mulheres e por isso eles podem abusar e ameaçar e apenas sentar e estralar os seus dedos. Está na moda dizer esse tipo de coisas hoje em dia. Mas isso é também verdade em relação às mulheres como pecadoras. Somos na imagem de Deus homens e mulheres; e somos depravados, homens e mulheres. Mulheres podem não ter a mesma força bruta que os homens, mas elas sabem as maneiras de subjugar os homens. Elas podem frequentemente girar em torno deles com suas palavras e onde as suas palavras falham, elas sabem que a sua fraqueza está na luxúria.

Caso tenha alguma dúvida da capacidade de controle que uma mulher pecadora tem sobre um homem pecador apenas reflita por um momento na força número um de divulgação no mundo – o corpo feminino. Ela pode vender qualquer coisa, pois ela sabe da fraqueza universal do homem e como controlá-lo com isso. A exploração de mulheres por homens pecaminosos é evidente, pois é frequentemente severo e violento. Mas um momento de reflexão mostrará que a exploração de homens por mulheres pecadoras é tão perverso quanto em nossa sociedade. A diferença está nas sanções de nossa sociedade pecaminosa que considera um tipo mais perverso do que o outro. (Existem sociedades que é exatamente o oposto.)

Esse não é a maneira que Deus queria que fosse antes do pecado, quando o homem e a mulher eram dependentes Dele em relação ao modo de vida. Isso é o resultado da revolta contra Deus. Como então Deus queria que fosse? Como deveria ser a relação entre Adão e Eva antes do pecado entrar no mundo?

Nós já vimos parte da resposta. Eles foram criados a imagem de Deus de acordo com Gênesis 1:27 então a relação deles deveria ser governada pela igualdade de pessoa, igualdade de dignidade, respeito mútuo, harmonia, complementaridade e um destino unificado. Mas isso é apenas parte da resposta. É como dizer a um bailarino e uma bailarina: Lembrem-se, vocês são ambos igualmente bailarinos realizados; vocês dois são ambos iguais em relação aos demais parceiros; vocês devem procurar executar harmoniosamente; um deve completar os movimentos do outro; e não se esqueça que deverão repartir os aplausos.

Esse tipo de conselho é muito importante e afetará profundamente a beleza do espetáculo. Mas eles apenas souberem isso em relação à dança que irarão executar, eles não conseguirão. Eles precisam saber os movimentos, e as suas diferentes posições, além disso, precisam saber quem vai cair e quem vai pegar. Quem vai correr e quem vai ficar parado. É a essência da dança e do drama que os dançarinos saibam os movimentos distintos que eles devem fazer. Se eles não souberem os afazeres distintos que terão no palco não haverá drama e não haverá dança.

Então devemos perguntar isso: no drama da vida entre um homem e uma mulher antes da queda, Deus quis dizer que algumas responsabilidades cairiam mais em um do que no outro? Ambos devem mostrar respeito igual dissemos; mas eles devem mostrar esse respeito na mesma maneira? Ambos devem procurar por paz e harmonia servindo mutuamente uma ao outro; mas a forma de servir se mostrará da mesma maneira par ao homem e para a mulher?

Quero tentar desvendar uma visão da complementaridade e harmonia Bíblica nas próximas semanas. Estou convencido que a Bíblia ensina que os homens têm responsabilidades únicas dadas por Deus em relação as mulheres e as mulheres têm responsabilidades únicas dadas por Deus em relação aos homens. Essas responsabilidades não são idênticas, e elas não dependem de nossas capacidades. Elas estão baseadas em nossas masculinidade e feminilidade como Deus nos designou. E elas não estão limitadas apenas as funções biológicas no processo de reprodução.

Essas responsabilidades diferentes vão diretamente ao coração do significado de masculinidade e feminilidade como Deus nos criou. Mas é que elas estão sendo plenamente atacadas hoje em dia, e o resultado em nossa cultura é uma grande confusão.
Eu diria que duas gerações de homens e mulheres foram educadas em nosso país sem uma visão positive do que significa ser homem e ser mulher. Foram-nos dito muitas coisas negativas – coisas que não devemos ser, coisas das quais devemos ser liberados.
Por exemplo, masculinidade não é exploração sexual. Masculinidade não é legal, é apaticamente racional. Masculinidade não é a função rude – direcionada e orientada à conquista, etc. Então se liberem homens! Por outro lado a feminilidade não é se a doméstica maçante. A feminilidade maternidade apenas voltada ao lar. A feminilidade não é emocionalmente sem valor. A feminilidade não é a obediência sexual, etc. Então se liberem mulheres!

Mas quando a nossa conversa é sobre o que a masculinidade and a feminilidade NÃO é, o que temos? Um grande vácuo de confusão sobre o que elas são. Uma confusão frustrante, que cria culpa, e que é destrutiva. E com isso tudo uma grande quantidade de homossexualidade, uma epidemia de divórcio, um aumento da violência, crescimento do abuso doméstico, e milhares de suicídios todos os anos, 75% dos quais de homens. (Em 1981 houve 27.500 suicídios na América dentre os quais 75% eram homens.)

É simplesmente uma abdicação de nossa responsabilidade moral e espiritual dizer aos jovens para evitar os estereótipos negativos e depois não lhes dar o positive, o prático, a visão da bíblia do que é ser homem e mulher. E uma das razões nós abdicamos de nossa responsabilidade é porque é o caminho com menos resistência. É fácil estraçalhar os estereótipos negativos; mas é trabalho difícil e arriscado construir arquétipo positivo.

Ninguém vai criticar se criticar os estereótipos feios da masculinidade e da feminilidade. Esse é um passa tempo seguro e costumeiro. Mas centenas de pessoas esperam para te julgar caso tente desenvolver uma visão positive para as suas filhas do que significa ser feminina, ou para os seus filhos que significa ser masculino. Por isso nós geralmente não fazemos isso. Com isso os deixamos confusos – dizendo a eles o que não é certo, mas não apontamos aquilo que é certo.

Durante os nove anos de pastorado aqui já aconselhei dezenas e dezenas de casais que estavam à procura do casamento. Minha experiência tem sido que é extremamente raro encontrar um jovem casal que tem uma visão clara do que é ser um marido Cristão e uma esposa Cristã. Geralmente os casais prontamente admitem que eles não têm idéia do que é ser um homem e uma mulher significa ter responsabilidades especiais dadas por Deus. Ou, ou se eles pensam existir alguma responsabilidade especial, eles geralmente não sabem quais são essas responsabilidades. E essa confusão tem implicações sérias para a estabilidade do casamento e na maneira que esse casal preparará as crianças para a vida como homem e mulher.

Eu fiz menção a isso apenas para evidenciar o desafio que temos perante nós como igreja. Deus tem uma visão para a Masculinidade e Feminilidade resgatadas. Ele quer que nós recuperemos aquilo que perdemos devido ao pecado. E por isso na semana que vem quero começar a reconstruir a partir da palavra de Deus, da melhor maneira que puder a visão destorcida da masculinidade e da feminilidade que Deus ordenou antes da queda e que Ele está nos chamando a recuperar a través de Jesus Cristo. Eu rogo por suas preces e por suas considerações sérias a respeito dessas coisas. O que somos como homem e como mulher é focado direto no coração de nossa identidade pessoal. Se estamos confusos aqui, as repercussões serão profundas e perversas.




Obs: Artigo extraído do site LIVRO E SERMÕES BÍBLICOS de autoria do Rev. John Piper

QUAL O PROBLEMA COM O PASTORADO FEMININO?



Uma questão que permanece forte nos dias de hoje é a questão da ordenação feminina. Afinal, mulheres podem ser pastoras? Nós do VE acreditamos que tanto os homens quanto as mulheres foram criado à imagem de Deus, porém Deus deu funções distintas a cada um. Em Efésios 5 vemos que o homem é o cabeça da esposa, como Cristo é o cabeça da igreja. Da mesma forma, na igreja, Deus deu a função de liderança pastoral aos homens.
Oferecemos aqui respostas aos argumentos geralmente empregados em favor da ordenação de mulheres para o ministério pastoral.

1. Deus não criou originalmente o homem e a mulher iguais? Qual a base, pois, para impedir que a mulher seja ordenada? 

Resposta: De fato, lemos em Gênesis 1 que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança. Entretanto, lemos no relato mais detalhado de Gênesis 2 que Deus lhes atribuiu papéis diferentes, dando ao homem o papel de liderar e cuidar da mulher e à mulher o papel de ser sua ajudadora, em submissão. Esta diferenciação é percebida por Paulo na ordem em que foram criados (primeiro o homem e depois a mulher, 1Tm 2.13), na forma como foram criados (a mulher foi criada do homem, 1Co 11.8) e no propósito para o que foram criados (a mulher foi criada por causa do homem, 1Co 11.9). A igualdade da criação, portanto, não anula a diferenciação de funções estabelecida na própria criação.

2. A subordinação feminina não é parte da maldição por causa da queda? E Cristo não aboliu a maldição do pecado? Por que, então, as mulheres cristãs não podem exercer o ministério em igualdade com os homens?

Resposta: Sem dúvida um dos castigos impostos por Deus à mulher foi o agravamento da sua condição de submissão. Entretanto, a subordinação feminina tem origem antes da queda, ainda na própria criação. O homem não foi feito da mulher, mas a mulher foi feita do homem. O homem não foi criado por causa da mulher, mas sim a mulher por causa do homem (1Co 11.8-9). Quanto à obra de Cristo, lembremos que seus efeitos não são total e exaustivamente aplicados por Deus aqui e agora. Por exemplo, mesmo que Cristo já tenha vencido o pecado e a morte, ainda pecamos e morremos. Outros efeitos da maldição impostos por Deus após a queda ainda continuam, como a morte, o sofrimento no trabalho e o parto penoso das mulheres. Além do mais, desde que os diferentes papéis do homem e da mulher já haviam sido determinados na criação, antes da queda, segue-se que continuam válidos. O que o Cristianismo faz é reformar esta relação de submissão para que a mesma seja exercida em amor mútuo e reflita assim mais exatamente a relação entre Cristo e a Igreja.

3. Há abundantes provas na Bíblia de que as mulheres desempenharam papéis cruciais, ocupando funções de destaque e sendo instrumento de bênção para o povo de Deus. Isto não prova que elas, hoje, podem ser ordenadas e exercer liderança?

Resposta: Estas provas demonstram apenas a tremenda importância do ministério feminino, mas não a existência do ministério feminino ordenado. Nenhuma destas mulheres era apóstola, pastora, presbítera ou diaconisa. Jesus não chamou nenhuma mulher para ser apóstola. As qualificações dos pastores em 1Timóteo 3 e Tito 1 deixam claro que era função a ser exercida por homens cristãos. O fato de que as mulheres sempre foram extremamente ativas e exerceram muitas e diferentes atividades e serviços na Igreja Cristã não traz como corolário que elas tenham sido, ou tenham que ser, ordenadas para tal.

4. Há evidência na Bíblia de que Hulda, Débora, Priscila e Febe eram líderes e exerciam autoridade. Isto não é prova bíblica suficiente para ordenação de mulheres?

Resposta: Há dois pontos a se ter em mente quanto ao ministério destas mulheres: (1) O fato de que a Bíblia descreve como Deus usou determinadas pessoas em épocas específicas para propósitos especiais não faz disto uma norma. Lembremos da utilíssima distinção entre o descritivo e o normativo na Bíblia. Deus usou o falso profeta Balaão (Nm 22.35). O desobediente rei Saul também profetizou em várias ocasiões (1Sm 10.10; 19.23), bem como os mensageiros que enviou a Samuel (1Sm 19.20,21). A descrição destes casos não estabelece uma norma a ser seguida pelas igrejas na ordenação de oficiais. O fato de que Deus transmitiu sua mensagem através de uma mulher não faz dela um oficial da Igreja. Há outros requisitos no Novo Testamento para o oficialato conforme lemos nas especificações explícitas que temos em 1Timóteo 3 e Tito 1.
 (2) Os profetas de Israel não recebiam um ofício mediante imposição de mãos para exercer uma autoridade eclesiástica oficial. Os reis e sacerdotes, ao contrário, eram “ordenados” para aquelas funções e as exerciam com autoridade. Não há sacerdotisas “ordenadas” em Israel, pelo menos nas épocas onde prevalecia o culto verdadeiro. Hulda foi uma profetiza em Israel, recebendo consultas em sua casa (2Re 22.13-15). A mesma coisa pode ser dita de Débora, que foi juíza em Israel numa época em que não havia reis e nem o sacerdócio funcionava, quando todos faziam o que parecia bem aos seus olhos. Seu ministério foi uma denúncia da fraqueza e falta de coragem dos homens daquela época (Jz 4.4-9; compare com Is 3.12). Sobre Priscila, sua liderança parece evidente, porém menos evidente é se ela era pastora ou presbítera. Quanto à Febe, ver a pergunta sobre ela mais adiante.

5. Podemos afirmar que o patriarcado, conforme o encontramos na Bíblia, especialmente no Antigo Testamento, é uma instituição nociva e perversa que denigre, inferioriza e humilha a mulher?

Resposta: O patriarcado, como o encontramos na Bíblia, especialmente no Antigo Testamento, não é simplesmente uma afirmação da masculinidade, não é jamais sinônimo de domínio macho ou um sistema de valores no qual o homem trata a mulher com descaso, desvalorizando-a e super valorizando-se. Muito menos sinônimo de exploração e domínio, como afirma o feminismo. Patriarcado é o sistema no qual os pais cuidam de suas famílias. A imagem do pai no Velho Testamento não é primariamente daquele que exerce autoridade e poder, mas do amor adotivo, dos laços pactuais de bondade e compaixão. Somente nas Escrituras hebraicas podemos encontrar um Deus Pai Todo-Poderoso e Todo-Bondoso. Os patriarcas refletem a paternidade de Deus, ainda que muito pobremente. O Deus dos Hebreus não é como os deuses masculinos irresponsáveis das culturas pagãs das cercanias de Israel, porque ele jamais abandona os filhos que gera, antes, deles cuida. Os patriarcas seguem o exemplo de Deus. Naquela cultura ensinava-se ao homem judeu que ele não era simplesmente um animal, agressivo, assertivo e violento, mas pai, cuja agressividade deveria ser transformada pela responsabilidade, que haveria de manifestar a gentileza e o cuidado pelos filhos e a expressão da completa masculinidade, que haveria de se unir com o ser feminino e o mundo feminino da família, ainda que mantivesse a separação necessária para o exercício da autoridade. O machismo é uma versão deturpada de alguns aspectos do patriarcado, e oprime as mulheres. Devemos lutar contra o machismo, e não deixar de reconhecer a verdade sobre o patriarcado.

6. Febe não era uma diaconisa, conforme Romanos 16.1-2? Isto não prova que as mulheres podem exercer autoridade eclesiástica na Igreja?

Resposta: Temos de considerar os seguintes aspectos.
(1) Não é claro se Febe era realmente uma diaconisa. Muito embora no original grego Paulo empregue o termo “diácono” para se referir a ela, lembremos que este termo no Novo Testamento nem sempre significa o ofício de diácono. Pode ser traduzido como servo, ministro, etc. Portanto, nossa tradução “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia” é perfeitamente possível e não é uma tradução preconceituosa.
(2) Mesmo que houvesse diaconisas na Igreja apostólica, é certo que elas não exerceriam qualquer autoridade sobre as igrejas e sobre os homens – a presidência era dos presbíteros, cf. 1Tm 5.17; o trabalho delas seria provavelmente com outras mulheres (Tt 2.3-4) e relacionado com assistência aos pobres. É interessante que a primeira referência que existe na história da Igreja sobre o trabalho de mulheres, diz assim: “A mulher deve servir às mulheres” (Didascalia Apostolorum). Isto queria dizer que elas instruíam as outras que iam se batizar, ajudavam no enterro de mulheres, cuidavam das pobres e doentes. Não há qualquer indício de que tais mulheres eram ordenadas para o exercício da autoridade eclesiástica.

7. O que fazer quando mulheres possuem visão pastoral, liderança, habilidades para o ensino ou capacidade administrativa, dons de evangelismo ou profecia?

Resposta: Que exerçam estas habilidades e dons dentro das possibilidades existentes nas Igrejas. Elas não precisam ser ordenadas para desenvolver seus ministérios e manifestar seus dons.

8. A resistência em ordenar mulheres hoje não decorre da reafirmação através dos séculos da inferioridade da mulher, feita por importantes teólogos e líderes da Igreja?

Resposta: A Igreja deve andar pelo ensino das Escrituras Sagradas. Se teólogos e líderes antigos defenderam idéias erradas sobre a inferioridade da mulher, cabe à Igreja corrigi-las à luz das Escrituras, que mostram que Deus criou o homem e a mulher iguais. Porém, corrigir os erros dos antigos neste ponto não significa ordenar mulheres, pois aí estaríamos cometendo um outro erro. Certamente as mulheres não são e nunca foram inferiores aos homens, mas daí a abolirmos os papéis distintos que lhes foram determinados por Deus na criação vai uma grande distância.

9. Existe algum texto na Bíblia que diga claramente “é proibido que as mulheres sejam ordenadas ao ministério”?

Resposta: Nenhuma das passagens usadas contra a ordenação feminina diz explicitamente que mulheres não podem ser ordenadas ao ministério. Entretanto, todas elas impõem restrições ao ministério feminino, e exigem que as mulheres cristãs estejam submissas à liderança cristã masculina. Essas restrições têm a ver primariamente com o ensino por parte de mulheres nas igrejas. Já que o governo das igrejas e o ensino público oficial nas mesmas são funções de presbíteros e pastores (cf. 1Tm 3.2,4-5; 5.17; Tt 1.9), infere-se que tais funções não fazem parte do chamado cristão das mulheres. Ainda, se o argumento do silêncio for usado, ele se vira contra a ordenação feminina, pois não há texto algum que diga que as mulheres devem ser ordenadas ao ministério da Palavra e ao governo eclesiástico, enquanto que as Escrituras atribuem ao homem cristão o exercício da autoridade eclesiástica e na família.

10. Se as mulheres recebem os mesmos dons espirituais que os homens, não é uma prova de que Deus deseja que elas sejam ordenadas ao ministério?

Resposta: Não. As condições para o oficialato na Igreja apostólica estão prescritas em 1Timóteo e Tito 1. Percebe-se que o dom do ensino é apenas um dos requisitos. Há outros, como por exemplo, governar a própria casa e ser marido de uma só mulher, que não podem ser preenchidos por mulheres cristãs, por mais dons que tenham.

11. O ensino de Paulo sobre as mulheres na Igreja se aplica hoje? Não estava ele influenciado pela cultura daquela época, que era muito diferente da nossa?

Resposta: É necessário fazer a distinção entre o princípio teológico supra cultural e aexpressão cultural deste princípio. Há coisas no ensino de Paulo que são claramente culturais, como a determinação para o uso do véu em 1Coríntios 11. Porém, enquanto que o uso do véu é claramente um costume cultural, ao mesmo tempo expressa um princípio que não está condicionado a nenhuma cultura em particular, que é o da diferença funcional entre o homem e a mulher. O que Paulo está defendendo naquela passagem é a vigência desta diferença no culto público — o véu é apenas a forma pela qual isto ocorreria normalmente em cidades gregas do século I. Notemos ainda que Paulo defende a participação diferenciada da mulher no culto usando argumentos permanentes, que transcendem cultura, tempo e sociedade, como a distribuição ou economia da Trindade (1Co 11.3) e o modo pelo qual Deus criou o homem (1Co 11.8-9).

12. Paulo escreveu suas cartas para atender a problemas locais e específicos. Como podemos aplicar hoje o que Paulo escreveu, se a situação e o contexto são diferentes?

Resposta: Quase todos os livros do Novo Testamento foram escritos em resposta a uma situação específica de uma ou mais comunidades cristãs do século I, e nem por isto os que querem a ordenação feminina defendem que nada do Novo Testamento se aplica às igrejas cristãs de hoje. A carta aos Gálatas, por exemplo, onde Paulo expõe a doutrina da justificação pela fé somente, foi escrita para combater o legalismo dos judaizantes que procuravam minar as igrejas gentílicas da Galácia, em meados do século I. Ousaríamos dizer que o ensino de Paulo sobre a justificação pela fé não tem mais relevância para as igrejas do final do século XX, por ter sido exposto em reação a uma heresia que afligia igrejas locais no século I? O ponto é que existem princípios e verdades permanentes que foram expressos para atender a questões locais, culturais e passageiras. Passam as circunstâncias históricas, mas o princípio teológico permanece. Assim, o comportamento inadequado das mulheres das igrejas de Corinto e de Éfeso, às quais Paulo escreveu determinando que ficassem caladas na Igreja, foi um momento histórico definido, mas osprincípios aplicados por Paulo para resolver os problemas causados por estas atitudes permanecem válidos. Ou seja, o ensino de que as mulheres devem estar submissas à liderança masculina nas igrejas e na família, sem ocupar posições de liderança e governo, é o princípio permanente e válido para todas as épocas e culturas.

13. Onde está na Bíblia que somente homens podem ser pastores, presbíteros e diáconos?

Resposta: Os textos mais explícitos da Bíblia são Atos 6.1-7; 1Timóteo 2.11-15; 1Coríntios 14.34-36 e 1Coríntios 11. 2-16. Algumas destas passagens foram analisadas com mais profundidade em outra parte deste caderno. Além disto, a relação intrínseca entre a família e a Igreja mostra que aquele que é cabeça na família (Efésios 5.21-33) também deve exercer a liderança na Igreja.

14. Onde está na Bíblia que os homens devem ser o cabeça da família?

Resposta: Há diversas passagens no Novo Testamento onde se trata dos papéis do homem e da mulher na família: Efésios 5.21-33; Colossenses 3.18-19; 1 Pedro 3.1-7; Tito 2.5. Em todos eles, a liderança da família é atribuída ao homem.

15. Os argumentos usados hoje para defender a submissão da mulher não são os mesmos usados no século passado por muitos cristãos para defender a escravidão?

Resposta: O fato de que no passado a Bíblia foi usada de forma errada para defender a escravidão não significa que a defesa da subordinação feminina seja igualmente feita de forma errada. Não devemos pensar que a relação entre o homem e a mulher na família e na igreja está no mesmo pé de igualdade que a escravidão. Primeiro, os papéis distintos do homem e da mulher estão enraizados na própria criação, enquanto que a escravidão não está. Segundo, o fato de que Paulo faz recomendações aos escravos cristãos para que sejam bons escravos não significa que ele aprovava a escravidão. Na verdade, as recomendações que ele dá aos cristãos que eram donos de escravos já traziam embutidas a idéia da dissolução do sistema de escravidão (Fm 16; Ef 6.9; Cl 4.1; 1Tm 6.1-2).

16. Havia uma mulher chamada Júnias que Paulo considera como apóstola, em Romanos 16.7. Se havia apóstolas, por que não pastoras, presbíteras e diaconisas? 

Resposta: A passagem diz o seguinte: “Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim” (Rm 16.7). Não é tão simples assim deduzir que Júnias era uma apóstola. Há várias questões relacionadas com a interpretação deste texto. Júnias é um nome masculino ou feminino? Existe muita disputa sobre isto, embora a evidência aponte para um nome masculino. Outra coisa, a expressão “notável entre os apóstolos” significa que Júniasera um dos apóstolos, já antes de Paulo, e um apóstolo notável, ou apenas que os apóstolos, antes de Paulo, tinham Júnias em alta conta? A última possibilidade é a mais provável. Em última análise, só podemos afirmar com certeza, a partir de Romanos 16.7, que, quem quer que tenha sido, Júnias era uma pessoa tida em alta conta por Paulo, e que ajudou o apóstolo em seu ministério. Não se pode afirmar com segurança que era uma mulher, nem que era uma “apóstola”, e muito menos uma como os Doze ou Paulo. A passagem não serve como evidência bíblica para a ordenação feminina no período apostólico. E essa conclusão está em harmonia com o fato de que Jesus não escolheu mulheres para serem apóstolos. Não há nenhuma referência indisputável a uma “apóstola” no Novo Testamento.

17. O Novo Testamento diz que, em Cristo, não há homem nem mulher, todos são iguais diante de Deus (Gl 3.28). Proibir as mulheres de serem oficiais da Igreja não é fazer uma distinção baseada em sexo?

Resposta: Não se pode discordar de que o Evangelho é o poder de Deus para abolir as injustiças, o preconceito, a opressão, o racismo, a discriminação social, bem como a exploração machista. E nem se pode discordar de que Cristo veio nos resgatar da maldição imposta pela queda. A pergunta é se Paulo está falando da abolição da subordinação feminina e de igualdade de funções nesta passagem. Está o apóstolo dizendo que as mulheres podem exercer os mesmos cargos e funções que os homens na Igreja, já que são todos aceitos sem distinção por Deus através de Cristo, pela fé? Entendemos que a resposta é não. Gálatas 3.28 não está ensinando a igualdade para o exercício de funções, mas a unidade de todos os cristãos em Cristo. Veja a análise desta passagem acima.

18. O conceito da submissão feminina ensinado na Bíblia não acarreta inevitavelmente o conceito de que o homem é melhor e superior à mulher?

Resposta: Infelizmente muitos têm chegado a esta conclusão, mas ela certamente é equivocada. O ensino bíblico é que Deus criou homem e mulher iguais porém com diferentes atribuições e funções. A Bíblia ensina que Deus tem autoridade sobre Cristo, Cristo tem autoridade sobre o homem, e o homem tem autoridade sobre a mulher. É uma cadeia hierárquica que começa na Trindade e continua na igreja e na família. Podemos inferir (guardadas as devidas proporções) que, da mesma forma como a subordinação de Cristo ao Pai não o torna inferior — como afirma a fé reformada em sua doutrina da Trindade — a subordinação da mulher ao homem não a torna inferior. Assim como Pai e Filho, que são iguais em poder, honra e glória, desempenham papéis diferentes na economia da salvação (o Filho submete-se ao Pai), homem e mulher se complementam no exercício de diferentes funções, sem que nisto haja qualquer desvalorização ou inferiorização da mulher. Em várias ocasiões o Novo Testamento determina que os crentes se sujeitem às autoridades civis (Rm 13.1-5; 1 Pe 2.13-17). Em nenhum momento, entretanto, este mandamento implica que os crentes são inferiores ou têm menos valor que os governantes. Igualmente, os filhos não são inferiores aos seus pais, simplesmente porque devem submeter-se à liderança deles (Ef 6.1). O conceito de subordinação de uns a outros tem a ver apenas com a maneira pela qual Deus estruturou e ordenou a sociedade, a família e a igreja.

19. Em 1Timóteo 3.11, ao descrever as qualificações do diácono, Paulo se refere às mulheres: “Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo”. Este versículo não prova que havia diaconisas nas igrejas apostólicas?

Resposta: Não necessariamente. Esta passagem tem sido entendida de diferentes modos: (1) Paulo pode estar se referindo às mulheres dos diáconos (Calvino). Porém, ele emprega para elas a expressão “é necessário” (1Tm 3.11), que foi a mesma que empregou para os presbíteros (3.2) e os diáconos (3.8), ao descrever suas qualificações. Logo, não nos parece que o apóstolo se refira às mulheres dos diáconos. (2) Paulo pode estar se referindo à todas as mulheres da igreja; entretanto, é bastante estranho que ele tenha colocado instruções para todas as mulheres bem no meio das instruções aos diáconos! (3) Paulo pode estar se referindo às assistentes dos diáconos, mulheres piedosas, que prestavam assistência em obras de misericórdia aos necessitados das igrejas (Hendriksen). (4) Paulo se referia à diaconisas. Porém, é no mínimo estranho que Paulo não empregou o termo apropriado para descrever a função delas (diaconisas), já que ele vinha falando de presbíteros e diáconos. A opção 3 nos parece a melhor e mais provável: havia mulheres piedosas nas igrejas apostólicas, não ordenadas como “diaconisas”, que ajudavam os diáconos nas obras de misericórdia, trabalhando diretamente com as mulheres carentes e necessitadas. É a estas que Paulo aqui se refere.


Artigo extraído do site VOLTEMOS AO EVANGELHO, de autoria do Rev. Augustus Nicodemus Lopes 

O ANO DO JUBILEU E SUA APLICAÇÃO COMO PADRÃO DE JUSTIÇA SOCIAL PARA IGREJA CONTEMPORÂNEA


O ano do jubileu (que provavelmente nunca aconteceu) deveria acontecer em Israel a cada 50 anos. A celebração tinha dois componentes: um retorno ao quinhão de terra original e liberdade da servidão.

Levítico 25 antecipava o tempo em que Israel herdaria a Terra Prometida e cada tribo receberia de Deus a sua herança (ver Js 13, ss). Com o passar do tempo, algumas pessoas seriam inevitavelmente forçadas a vender parte de sua terra. Clima ruim, ladrões, má administração ou indolência, não importava a causa da venda da terra, toda família receberia de volta no Ano do Jubileu o seu quinhão de terra original. Os pobres obteriam alívio; os ricos perderiam parte da terra que haviam comprado.

Antes do Ano do Jubileu, uma pessoa poderia comprar de volta sua terra, pagando um preço de redenção. Este preço de venda e o preço de redenção eram ambos calculados com base em quantos anos faltavam até o Ano do Jubileu. Em essência, não se podia nunca comprar ou vender uma terra, somente emprestá-la ou alugá-la. O proprietário tinha o direito de comprar de volta a terra em qualquer tempo. Portanto a sentença no final do ultimo parágrafo não é totalmente correta. Os ricos não perderiam suas terras, pois havia o arrendamento da terra que eles haviam alugado de seus compatriotas mais pobres.

Havia outras leis concernentes a cidades muradas, vilas sem muralhas e propriedade dos levitas, mas  o principio básico para o Ano do Jubileu era claro (1) a terra poderia ser vendida/arrendada por um preço que se baseasse no numero de anos restante ate o Jubileu; (2) a terra poderia ser comprada de volta a qualquer momento de acordo com o mesmo principio; (3) depois de 50 anos todos os direitos de propriedade da terra voltavam aos seus donos originais.

Há um processo acontecendo aqui. Se uma pessoa estivesse em dificuldades financeiras, ela poderia vender/arrendar parte da terra ao seu parente mais próximo. Se não tivesse essa opção, ela poderia vender/arrendar parte da terra a alguém que não era seu parente. Se isso não desse certo, ou se a pessoa vendesse a terra completamente, ela daria o próximo passo: obteria um empréstimo livre de interesses ( ou seja, um empréstimo de subsistência, e não um empréstimo de capital), que seria perdoado a cada sete anos. Se um empréstimo não resolvesse a situação, a pessoa poderia vender-se a si mesma e outro israelita. No pior cenário, a pessoa se venderia a um estrangeiro ou peregrino que vivia entre eles. Em os casos de vender-se a si mesmo, a pessoa poderia ser redimida por um membro da família ou por si mesma em qualquer tempo. O preço de compra era calculado com base nos anos que ainda restavam até o Jubileu. Se houvesse mais anos ate o Jubileu, a pessoa tinha que pagar mais por sua liberdade, Se houvesse menos anos até o Jubileu, a pessoa pagava menos. E, se ela ainda fosse escrava quanto chegasse o Ano do Jubileu, um israelita escravo, e não um estrangeiro escravo, seria libertada automaticamente.

Alguns teólogos ensinam que este modelo é o ideal para exercermos a prática da justiça social em nossos dias. Muitos cristãos equiparam o Ano do Jubileu com programas de redistribuição forçados, Mas advogar essa abordagem com base em Levítico 25 incorre em muitos problemas.

1.   Não somos uma sociedade antiga agrária: A maioria de nós não lida com terras e agricultura. Nenhum de nós lida com escravos, ou escravos de contrato, ou cidades muradas. Acima de tudo, a terra não é a nossa principal fonte de renda. Portanto, libertar escravos e devolver a terra aos seus donos originais não é o mundo em que a maioria de nós vivemos.

2.   Nossas prioridades não foram designadas diretamente por Deus: Este é o verdadeiro bicho-papão de se tentar aplicar o Ano do Jubileu Qual é o “ano um” para os proprietários da terra? O ano passado? 1776? 1492? O Ano do Jubileu faz sentido somente quando é visto no contexto da Terra Santa.

3.   Nossa economia não se fundamenta em um pedaço de terra fixo: Consequentemente a divisão da riqueza também não é fixa. Em Israel (como muitos lugares no mundo antigo), se alguém ficava rico, isso acontecia porque outra pessoa havia ficado mais pobre, o rico ficava rico, porque o pobre ficava pobre, ou no mínimo, o pobre, por se tornar pobre, capacitava o rico a ficar rico. Se você desperdiçasse seu dinheiro ou o perdesse, não tinha outra escolha senão vender a sua terra ou vender-se. Se você fosse a falência, isso seria bom para outra pessoa, na maioria das vezes a propriedade era um jogo de perda de um e ganho de outro.

4.   As nações modernas não estão sob a aliança de Moisés: Não temos a promessa de colheita miraculosa no sexto ano. As bênçãos e as maldições para o povo da aliança, em Levítico 26, não fazem sentido em nosso contexto e não se aplicam diretamente aos Estados Unidos  ou a qualquer outra nação

5.   A maioria de nós não somos judeus: Se você lê atentamente as leis concernentes ao Ano do Jubileu observará que elas fazem distinção clara entre israelitas e estrangeiros. O Ano do Jubileu era boas novas para os israelitas, mas não propiciava qualquer proveito para quem não era israelita. De fato, se um estrangeiro vivesse entre os israelitas e adquirisse, ele a perderia completamente no Ano do Jubileu, e não haveria terra nenhum para qual retornar.

Mencionamos os cinco pontos anteriores para acautelar-nos de aplicar o Ano do Jubileu de uma maneira que parece boa, mas não faz justiça ao texto bíblico. Mas isso não significa que o Jubileu não tem ramificações no modo como vemos a riqueza e a pobreza. Há varias aplicações.

1.   Fazemos o bem quando damos oportunidade para os pobres prosperarem: É claro que não devemos ser rudes para os pobres. Não devemos aproveitar-nos dos fracos. Mas, além disso, devemos encontrar maneiras de lhes proporcionar um novo começo.

2.   A Bíblia apoia a existência de propriedade privada: Em Israel, a terra era possuída não pelo Estado, mas sim por indivíduos famílias, clãs e tribos. De fato os direitos de propriedade eram garantidos por Deus aos proprietários originais, em perpetuidade. A terra era deles e eles tinham o direito de ganhar a vida por meio delas.

3.   A Bíblia relativiza a propriedade privada: O direito de possuir propriedades não era absoluto, mas derivado. O verdadeiro dono de toda terra era Deus (ver Lv 25.23). O Jubileu recordava ao povo que eles não ganhariam o premio grande nesta vida, a propriedade privada não e aquilo pelo qual devemos viver.

4.   Nosso Deus é o Deus de segundas chances: Um texto como este poderia ser usado para apoiar as leis de falência moderna e de reabilitação de prisioneiros. Certamente apoiaria a extinção de uma rede de segurança social, pelo Estado, alguns poderiam argumentar, mas certamente no âmbito familiar e da comunidade da aliança. O Jubileu tencionava dar, pelo menos para algumas pessoas, uma chance de um novo começo. Também é bom prover essa mesma chance para os pobres e desamparados em nossos dias.

5.   Jesus é o nosso Jubileu. Quando Jesus leu o rolo de Isaías, em Lucas 4, sua mensagem simples foi, em essência: “ Eu sou o Jubileu”. Ele não apresentou um plano para uma reforma social, em vez disso, Jesus afirmou claramente: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4.21)

A falta de uma interpretação correta em relação aos textos bíblicos, em especial, as tradições e mandados culturais do Antigo Testamento, sem a devida analise histórico-cultural, pode nos trazer sérios problemas no tocante a nossa pratica cristã contemporânea. A ideia de justiça social ensinada por Jesus não tem nada a vê com igualdade de classes, mas que cada um cumpra seu proposito na sociedade com dignidade e para a glória de Deus.



Deus vos abençoe! 


Obs: Artigo extraído do livro QUAL A MISSÃO DA IGREJA?, Autores: Kevin DeYoung e Greg Gilbert (Capítulo 6: Entendendo a Justiça Social) 

A IMPORTÂNCIA DOS CREDOS, CATECISMOS E CONFISSÕES.



Desde o início a Igreja de Cristo foi confessional. O apóstolo Paulo chega a dizer: “Se creem com o coração, tem que confessar com a boca” (Rm 10.9-10).  Judas, por exemplo, faz referência direta a algum tipo de formulação existente no seu tempo. Ele fala da "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (v. 3). O comentarista bíblico Michael Green diz que: “A palavra entregar, Gr. Paradidomai é a palavra usada para transmitir tradição autorizada em Israel (cf. 1Co 15.1-3; 2Ts 3.6), e Judas, portanto, está dizendo que a tradição apostólica cristã é normativa para o povo de Deus. O ensino apostólico, e não qualquer moda teológica que atualmente esteja em voga, é a marca do cristianismo autêntico”.[1] Essa “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” é o conjunto de verdades reveladas que estavam de alguma forma sistematizadas e eram aceitas pelos crentes de então. O ensino e a pregação apostólica regulamentavam a igreja como vemos em Atos 2.42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos...”

O apóstolo Pedro exortou aos cristãos para que estivessem sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós (1Pe 3.15). O escritor sagrado mostra-nos a necessidade do conhecimento do conteúdo da fé, para poder explica-los a outros. Eles deveriam estar com a cabeça pronta para esclarecer a todo aquele que pedissem uma palavra sobre a fé e o porquê de determinadas atitudes e pontos de vista dos cristãos.[2]  Pedro insiste que o cristão saiba responder com firmeza a razão de sua fé, que seja capaz de entender, articular e de modo bíblico possa responder a quem quer que seja. É insensato professar uma crença sem ao menos saber o conteúdo daquilo que se professa.

“Eu sei em quem tenho crido...” disse o apóstolo Paulo (2Tm 1.12), mas infelizmente, muitos cristãos hoje em dia diriam de forma contrária a declaração de Paulo. Se perguntássemos: em que você crê? A resposta de muitos seria: “Eu não sei em quem tenho crido!”. Eis a importância dos credos, catecismos e confissões. Eles resumem de maneira clara e simples a verdade bíblica. São documentos históricos que reúnem as melhores contribuições dos servos de Deus na compreensão da verdade. Colocam diante de nós uma exposição correta da verdade bíblica revelada. Essas declarações de fé precisavam ser, até certo ponto, completas e simples, para que o cristão não iniciado nas questões teológicas pudesse entender o que estava sendo dito, confrontar esse ensinamento com as Escrituras e assim compreender biblicamente sua fé.[3]

Apesar de sua importância teológica, doutrinária e histórica, eles tem, para o prejuízo da própria igreja, sido abandonados. Quando falamos de credos muitos torcem o nariz em claro sinal de desaprovação. E ao invés de voltar-se ao ensino sério, sadio, sistemático e confessional, abraçam de maneira irrefletida e irresponsável ensinos dos modernos liberais, que não fazem outra coisa, senão adoecer e matar as igrejas.
 Herminsten Maia, citando o Dr. Martin Lloyd-Jones, declara a importância da doutrina bíblica para as nossas vidas:

“Todo doutrina cristã visa levar, e foi destinada a levar a um bom resultado prático. [...] A doutrina visa levar-nos a Deus, e a isso foi destinada. Seu propósito é ser prática [...] a nossa vida cristã nunca será rica, se não conhecermos e não aprendermos a doutrina. Você não poderá ser santo se não conhecer bem a doutrina. Doutrina é a ligação direta que leva à santidade. É somente quando compreendemos essas verdades fundamentais que podemos atender ao apelo lógico para a conduta e o comportamento agradáveis a Deus”.[4]

Nesse mesmo viés de pensamento, John Stott escreve: “Desrespeitar a tradição e a teologia histórica é desrespeitar o Espírito Santo que tem ativamente iluminado a Igreja em todos os séculos”.[5]

Os credos não têm a pretensão de se igualar a Palavra de Deus. Seus formuladores jamais cogitaram que os credos fossem a Palavra de Deus. Eles são uma resposta humana a revelação divina. Eles são recebidos e cridos enquanto permanecem fiéis a Palavra de Deus. Por isso, não devemos tomá-los como autoridade final para definir um ponto doutrinário: os limites da reflexão teológica estão na Palavra. Os credos não estabelecem o limite da fé, antes a norteiam. As Escrituras sempre serão mais ricas que qualquer pronunciamento eclesiástico, por mais bem elaborado e mais fiel que seja à Bíblia.[6]

A Confissão Belga declara no artigo 7:

Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo. Nela, Deus descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-Lo. Por isso, não é lícito aos homens, mesmo que fossem apóstolos “ou um anjo vindo do céu”, conforme diz o apóstolo Paulo (Gálatas 1.8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura. É proibido “acrescentar algo a Palavra de Deus ou tirar algo dela” (Deuteronômio 1.32; Apocalipse 22.18,19). Assim se mostra claramente que sua doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa. Não se pode igualar escritos de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. Nem se pode igualar à verdade de Deus costumes, opiniões da maioria, instituições antigas, sucessão de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos ou resoluções. Pois a verdade está acima de tudo e todos os homens são mentirosos (Salmo 116.11) e “mais leves que a vaidade” (Salmo 62.9).
Por isso, rejeitamos, de todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível, conforme os apóstolos nos ensinaram: "Provai os espíritos se procedem de Deus" (l João 4:1), e: "Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa" (2 João :10).

Os credos, Catecismos e Confissões, por sua amplitude e simplicidade teológica jamais podem ser desmerecidos. Eles norteiam a nossa fé. Nos firma na doutrina sagrada e fortalece a nossa mente. Nesses dias fiquei feliz ao ouvir um jovem declarar: “O que me livrou do ateísmo na faculdade foi o meu apego pelos catecismos e confissões reformadas”. Que muitos possam testemunhar de igual forma! Que nesse mundo de secularização, inversão de valores, liberalismo, heresias e modismos, possamos dizer com firmeza “Cremos e Confessamos...” Para a glória de Deus!

Rikison Moura, V. D. M




[1] Judas, Introdução e Comentário, Vida Nova, p.152
[2] MULLER, Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário, Vida Nova, p. 196
[3] MAIA, Hermisten, Fundamentos da Teologia Reformada, Mundo Cristão, p.11
[4] Idem, p. 22
[5] A cruz de Cristo, p.8
[6] MAIA, Hermisten, Fundamentos da Teologia Reformada, Mundo Cristão, p.21


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