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CRISTÃO MARXISTA: UMA CONTRADIÇÃO ALARMANTE


1. Para Início de Conversa

Este é o tipo de texto que me deixa feliz ao escrever, pois tratarei de campos do saber que muito me agradam discutir e que fazem parte da minha formação acadêmica. Com graduação em História e especializado em Ciência Política, conheço e estudei o marxismo sob a ótica de diversos teóricos favoráveis e contrários às ideias difundidas por Karl Marx - esta figura controversa. Sou da opinião de que algo da sua leitura acerca das relações entre empresários e trabalhadores (no contexto da Revolução Industrial) não pode ser totalmente desprezada, no entanto, creio que sua desgraça foi reduzir todo o fluxo da História apenas à questão econômica. Também acredito que ele não conseguiu escapar de algo que tanto atacou: a ideologia. O mais irônico é ter as suas ideias utilizadas como uma religião. A tragédia marxiana foi denunciar o ópio da religiosidade e acabar vendo seus seguidores produzindo uma droga sintética chamadamarxismo-leninismo[1].

Como veneno não cura veneno, onde quer que o marxismo-leninismo tenha se instaurado como regime, deixou um rastro de miséria que faz com que os países do leste europeu - que integraram a antiga União Soviética - recebam de muito bom grado as ideias vindas da boca do diabo, mas rechacem todo e qualquer pressuposto que tenha sua raiz no pensamento de Marx. Isto porque em nome do ideal comunista, que envolvem a ditadura do proletariado e a luta de classes, as atrocidades cometidas pelos líderes “revolucionários” se equiparam a de nomes execráveis como Hitler e Bin Laden. O governo de Stalin, por exemplo, foi um dos mais mortais, superando e muito o número elevado de mortes produzido pelo nazismo. Esta mórbida associação entre stalinismo e nazismo é esmiuçada pela filósofa e teórica política Hannah Arendt:
O único homem pelo qual Hitler sentia “respeito incondicional” era “Stalin, o gênio”, e, embora no caso de Stalin e do regime soviético não possamos dispor (e provavelmente nunca venhamos a ter) a riqueza de documentos que encontramos na Alemanha nazista, sabemos, desde o discurso de Khrushchev perante o Vigésimo Congresso do Partido Comunista, que também Stalin só confiava num homem, e que esse homem era Hitler[2].

Aos que pensam que o totalitarismo foi coisa de Stalin apenas, pesquisem sobre as denúncias de Alexander Solzhenitsyn sobre o governo autocrático de Lenin e vejam a absurda e atual falta de liberdade interna na China e na Coréia do Norte. Como disse Schaeffer, a repressão “é uma parte integrada ao sistema comunista”[3]. Logo, o remédio que o marxismo se dispôs aplicar para curar a enfermidade da sociedade é tão desastroso, que é preferível permanecer doente. Esta é a lógica do paciente quando sabe que as contraindicações medicamentosas são bem piores do que os sintomas da doença.

2. Porque Marxismo e não Socialismo?

Considero que seja bom explicar a adoção do termo marxismo ao invés de falar socialismo (ou comunismo). Faço isso pelo fato do conceito de socialismo ser usado de uma forma tão variada que supera os postulados marxianos. Alguns socialistas, como Crosland, não enxergam o socialismo como sendo um poder antagônico ao capitalismo, mas sim uma forma de aprimorar as condições de trabalho e melhorar a vida dos trabalhadores, mesmo dentro do sistema capitalista. Acaso não é assim que são geridas as sociais-democracias europeias? O sociólogo P. Jaccard afirma em sua obra Histoire sociale du travail que em matéria social, tudo que foi realizado no mundo de língua inglesa, na Suíça, nos Países Baixos, na Escandinávia e na Alemanha, deve-se ao pensamento cristão com pressupostos bíblicos. Corrobora com isso a fala do primeiro-ministro britânico Clement Attle, sucessor de Churchill, que certa feita afirmou ser a Bíblia, e não os escritos de Marx, a base do socialismo britânico. Este socialismo do qual Attle se refere é aquele que após a II Guerra, com o continente europeu arrasado economicamente, introduziu o Estado do bem-estar social com uma economia mista, algo pensado por conservadores e liberais para evitar a influência do marxismo-leninismo.

Para que se tenha a noção da abrangência do termo socialismo, este foi incorporado ao partido nazista alemão. O nome não abreviado do partido liderado por Hitler era Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. E, embora seja verdade que pressupostos marxistas estejam presentes no programa de governo do partido alemão, a classificação mais correta da ideologia por detrás do regime hitlerista seria o nacionalismo e não o marxismo. Por isso então decidi utilizar marxismo ao invés de socialismo, contudo faço uma ressalva: todos os partidos intitulados de esquerda no Brasil são marxistas. Na maioria de suas sedes é possível ver os retratos de Marx e Lenin pendurados na parede (faça uma visita e confirme)[4].

Mediante o que foi dito acima, toda crítica feita ao marxismo pode ser entendida como uma crítica à ideologia dos partidos que compõem a esquerda brasileira e que possuem os termos socialista ou comunista em seus nomes. Os apontamentos feitos serão teóricos, mas como toda teoria redunda na prática, caberá ao leitor fazer a devida análise do que aqui será denunciado como anticristão e comparar com as bandeiras levantadas pelos esquerdistas.

3. O Marxismo como uma Religião Herética

Como dito no começo do texto, o marxismo tem características de religião. Uma religião secularizada - é bem verdade - pois tem sua base no materialismo. Marx era estudioso e admirador do materialismo de Epicuro[5]. Este filósofo grego acreditava que o mundo era composto de átomos que do vazio (espaço) se movem verticalmente para baixo. É o desvio do movimento dos átomos que dá origem as coisas. O homem, fruto desse desvio, é um combinado de átomos pesados e leves, que formam respectivamente o corpo e a alma. Os epicuristas entendiam que a alma é mortal e não eterna, uma vez que todo composto atômico é dissolúvel.

Epicuro rejeitava a ideia da eternidade dos corpos celestes, e pretendia livrar os homens das amarras da superstição religiosa. Embora não seja um determinismo, pois o desvio dos átomos aponta para uma gama de possibilidades não determinadas, o atomismo epicureu mantém as suas bases mecanicistas, sendo o homem e toda realidade material fruto da casualidade do movimento atômico. O jovem Marx manteve essa base ontológica para fundamentar o seu materialismo histórico. André Bieler esclarece assim o conceito materialista marxiano: “[...] conforme as suas concepções, é o material que precede e determina o espiritual, e não o contrário, como o ensina a ética cristã”.[6]

Se nós somos cristãos e temos os nossos pressupostos baseados na Escritura, logo, não podemos abraçar uma doutrina concorrente ao cristianismo. Ainda mais quando esta corrente enxerga a religião, ou melhor, a metafísica como sendo um produto da opressão, uma vez que os oprimidos a inventaram como um entorpecente que alivia a dor (ópio). A doutrina cristã não foi fabricada. Ela é a revelação de Deus por meio do seu Filho, trazendo boas novas de salvação. Não que ela negue que existam opressores e oprimidos, essa realidade existe e se lermos os profetas, os evangelhos e as cartas apostólicas, veremos que Deus está sempre do lado dos pobres quando os ricos não agem corretamente e tolhem a justiça, devido a sua ganância[7]. Mas isto é muito diferente do que almeja o marxismo.

Marx, junto com Engels, criou uma soteriologia ao anunciar o fim da opressão quando o proletariado se rebelar contra a burguesia e tomar o poder político e econômico, controlando os modos de produção e a máquina estatal. É um enredo religioso-escatológico, pois a sociedade sem classes e sem miséria certamente chegaria (Marx tinha esperanças de ver isso ainda no séc. 19). A certeza deste mundo idílico é fruto de sua tese na luta de classes. Segundo Marx e Engels, toda a história se resume no conflito entre opressores e oprimidos, sendo que este segundo grupo, cansado da exploração acaba fazendo a revolução e subvertendo a ordem vigente. Logo, o governo do proletariado iria dar um basta no capitalismo burguês. O que os marxistas não esperavam é que o capitalismo aliado à democracia cativava mais os trabalhadores do que o ideal revolucionário.

Daí entendemos o porquê do Cristianismo sempre ser perseguido nos regimes marxistas. Primeiro: Para o cristão, as desigualdades e injustiças econômicas são fruto do pecado e o único capaz de curar esse mal é Jesus Cristo. Mas a promessa de um mundo sem dor e sem lágrimas está no porvir (Ap 21.4). Ora, isso frustra os marxistas que pregam o Reino dos Céus na terra, algo que não funcionará enquanto o pecado dominar o coração humano. Tanto as sugestões marxianas como as de qualquer outra ideologia que busque o fim da pobreza não serão bem-sucedidas neste mundo corrompido. Podemos ter uma agenda política que pregue uma melhor distribuição da riqueza nacional, ou o Estado do bem-estar social. Podemos criar programas de microcrédito e de transferência de renda. Podemos ver o incentivo estatal e privado na educação profissionalizante. Seja qual for, como observa Aaron Armstrong, “[...] essas soluções estão tratando os sintomas, não a causa; estão podando os galhos, não desenterrando a raiz. A questão principal por trás da pobreza é o pecado”[8]. Algumas dessas ideias podem até minorar muitos males, mas não acabarão definitivamente com a injustiça e opressão existentes na sociedade.

Segundo: Muitos marxistas colocaram a culpa do fracasso do prognóstico de Marx e Engels[9] nos fundamentos do Cristianismo. Para eles, não é conveniente concorrer com o messianismo cristão. Por isso que homens como Gramsci chegaram a afirmar que o melhor para se chegar ao comunismo (o reino escatológico marxista), necessário seria descristianizar a sociedade. A nova faceta do marxismo foi se infiltrar na cultura e na Academia, desconstruindo os valores e instituições tradicionais da burguesia, das quais se encontram não só o capitalismo, mas a família e a fé cristã[10]. Por isso que o relativismo moral está tão presente na fala e nas atitudes dos defensores do marxismo-leninismo. Se o Cristianismo é firmado em absolutos morais (os mandamentos), uma forma de lutar contra ele é relativizando os conceitos de certo e errado.

Chegamos à clara oposição do método de pensamento cristão e o marxista. O primeiro é antitético e o segundo, dialético[11]. A antítese funciona da seguinte maneira: Se A é verdadeiro, logo A não pode ser falso. Tendo duas alternativas, poderíamos ilustrar assim: A e B, se A é verdadeiro, logo B é falso. Já a síntese vai dizer que a verdade é parcial tanto em A quanto em B, desembocando numa terceira via: C. Não foram poucos os cristãos que caíram nessa rede e até buscaram sintetizar o Evangelho com os pressupostos marxianos, gerando assim uma heresia que tem dominado muitos círculos teológicos[12].

O “canto da seria” que encanta muitos cristãos que se afogaram em mares marxistas é o discurso da dignidade humana. Ora, este discurso coaduna com o que diz a Bíblia. No entanto, Marx tomou emprestado este conceito do cristianismo para engendrar um programa político que atingisse o seu objetivo escatológico. Mas como falar em dignidade humana se não há absolutos morais? Uma ideologia que desconsidera Deus, que assume uma ética relativista e fundamenta-se no materialismo não irá promover uma sociedade mais justa. Pelo contrário! A História serve como testemunha, ou será que precisam surgir outros Stalin’s ou Mao’s para que de uma vez por todas as pessoas enxerguem a face do mal e o abomine?

 4. Para Encerrar o Assunto

Creio que mais nítido do que isto não poderia escrever. O marxismo é, como diria Schaeffer, uma heresia cristã; e como tal não pode ser abraçada por quem ama o Evangelho e se pauta no princípio do Sola Scriptura. Na verdade, toda a ideologia acaba sendo idólatra, pois tem o humanismo por fundamento e deifica algum elemento da criação, depositando nele a salvação. Koyzis salienta:
Assim, cada uma das ideologias tem base numa soteriologia específica, isto é, numa teoria elaborada que promete aos seres humanos o livramento de algum mal fundamental visto como a fonte de uma ampla gama de problemas humanos, entre os quais a tirania, a opressão, a anarquia, a pobreza e assim por diante.[13]

Logo, nenhum cristão deve se identificar com ideologia X ou Y e a ela jurar lealdade. Recentemente vi alguém dizer numa rede social que o capitalismo é de Deus. Claro que não! O liberalismo do início da Revolução Industrial produziu muitas injustiças e feriu a dignidade humana em muitos aspectos. Mas Deus sempre levanta seus profetas para denunciar aquilo que está em desacordo com seus princípios e levanta homens dispostos para trabalhar no socorro dos necessitados. Os irmãos Wesley, apenas para citar um exemplo, fizeram um belo trabalho com os proletários em Londres. Há diversas demandas do capitalismo (liberalismo) que ferem a ordem da criação[14], dando ao homem uma autonomia que ele nunca possuiu.

Sei que muitos de meus irmãos em Cristo que flertam com as ideias marxianas, fazem isso por ingenuidade ou idealismo - o caso dos mais jovens. Tal inocência é resultado da omissão da Igreja em falar sobre política e se posicionar. Uma visão pietista fez o cristianismo recuar na esfera pública e o marxismo-cultural foi ganhando o espaço que encontrou vazio. Quando nossos jovens vão para as universidades, os professores marxistas fazem de tudo para convertê-los a sua cosmovisão. Não são neutros. Logo, a Igreja deveria abandonar a postura da neutralidade e denunciar a inconsistência desta religião idólatra concorrente da Fé Cristã. Oremos para que Deus erga homens corajosos e capacitados para ensinar e fazer política, firmados no crivo bíblico, dando glórias ao SENHOR.

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Notas:
[1] Lenin foi o responsável por fazer uma releitura de Marx e Engels, aplicada ao contexto da Revolução Russa de 1917.
[2]  As Origens do Totalitarismo. Companhia de Bolso. Tradução: Roberto Raposo.
[3] Como Viveremos? Cultura Cristã. Tradução: Gabriele Greggersen.
[4] Embora existam os partidos que se definam como trotskistas (PSOL, PSTU e PCO), estes se dizem os verdadeiros representantes do marxismo-leninismo. Trotsky nunca se opôs a Lenin.
[5] Sua tese de doutorado foi A diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro, ficando clara a sua afinidade com o pensamento epicurista.
[6] A força Oculta dos Protestantes. Cultura Cristã. Tradução: Paulo Manoel Protasio.
[7] Dt. 15.7 ss, 24.17, Is 10. 1-4, Ez 16. 49, Am 5.25, Mc 6.12, Zc 7.10,  Mt 11.5, Lc 16.19-31, e Tg 5.1-4.
[8] O Fim da Pobreza. Vida Nova. Tradução: Flávia Lopes.
[9] O grande equívoco marxiano foi reduzir o complexo dos fenômenos humanos no fundamento econômico da luta de classes, como se tudo fosse determinado apenas pela produção.
[10] Leia o meu artigo Love Wins? O Casamento Gay não é uma questão de amor. Disponível aqui.
[11] Embora Marx tenha rompido com o idealismo hegeliano, manteve o seu método dialético e o aplicou ao materialismo. Por isso que o materialismo histórico também é conhecido como materialismo dialético.
[12] No passado tivemos o evangelho social de Walter Rauschenbusch, com viés materialista. Hoje, existe o marxismo-católico que é a Teologia da Libertação e uma fatia da Missão Integral tem abraçado as ideias de Marx e produzido uma teologia sintetizada.
[13] Visões e Ilusões Políticas. Vida Nova. Tradução: Lucas G. Freire.
[14] Princípio que afirma que todas as instituições humanas obedecem à ordem da criação e o mandato cultural que Deus deu a Adão, p. ex. família e Estado. As ideologias humanistas distorcem esta ordem e afirmam que o homem em sua liberdade criou estas instituições no decorrer da história. Damos a isso o nome de historicismo.

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Autor: Pr. Thiago Oliveira
Fonte: Electus

A BÍBLIA É INSPIRADA, CONFIÁVEL E INERRANTE


Por Thiago Oliveira

A Bíblia gera muitos questionamentos e controvérsias. Muitos sempre perguntam se ela é mesmo a Palavra de Deus e argumentam que por ter sido escrita por homens, pode ter sido alterada ao longo da História. Mas então, a Bíblia é de fato a Palavra de Deus? Podemos confiar nela? Não seria ela uma obra possuidora de muitos erros? Para chegarmos a uma resposta satisfatória, devemos analisar três correntes teológicas: Liberalismo, Neo-Ortodoxia e Teologia Reformada.

O Liberalismo Teológico tem ligação com o método histórico-crítico de interpretação bíblica. Este método nega a inspiração divina e reduz as Escrituras a um compêndio da fé israelita e dos primeiros cristãos, recheado de erros e contradições. Influenciado pelo Iluminismo, o Liberalismo adquiriu um caráter antropocêntrico e relativizou questões-chaves da dogmática. Schleiermacher foi o grande expoente dessa corrente que se afastou a passos largos do ensino ortodoxo e fez com que a Igreja europeia abraçasse o mundanismo e declinasse para o Cristianismo secularizado que até hoje é uma de suas marcas.

Todavia, com o advento da Primeira Guerra Mundial, todo o ideal progressista-iluminista foi por água abaixo. As correntes de pensamento entram em crise e a Teologia não foge à regra. É justamente neste cenário que surge Karl Barth com o que chamamos de Neo-Ortodoxia ou Barthianismo. A Neo-Ortodoxia lutou contra a secularização da Igreja e defendeu que a Bíblia é a palavra de Deus revelada aos homens.

O grande problema da corrente Neo-Ortodoxa é que ela conservou a crítica bíblia do Liberalismo, a mesma que reduziu as Escrituras a um livro de fé comum. A diferença é que os barthianos afirmam que mesmo contendo erros, a Bíblia é a Voz de Deus para a humanidade. Para sustentar essa posição, argumentam que a parte histórica é irrelevante para a fé salvífica, sendo assim, pouco importa a veracidade dos relatos bíblicos sobre a Queda, o Dilúvio, o Cativeiro Egípcio e etc.

Para a Teologia Reformada (evangélica/protestante) a Bíblia é a Palavra de Deus em sua totalidade e está isenta de erros. Desde o século XVI, de Lutero até os dias de hoje, cristãos de confissão reformada adotam o Sola Scriptura como ponto crucial da fé. Calvino (2006, p.72), o grande sistematizador da doutrina reformada fala o seguinte quanto ao questionamento da procedência divina das Escrituras:
Se, pois, quisermos firmar a nossa consciência de modo que não permaneça agitada e em perpétua dúvida, é preciso que coloquemos a autoridade da Escritura muito acima das razões ou das circunstâncias ou das conjecturas humanas; quer dizer, é preciso que a estabeleçamos como base no testemunho do Espírito Santo. Porque, ainda que, por sua própria majestade, a Escritura nos leve a respeitá-la, não obstante só começa a tocar-nos quando é selada em nosso coração pelo Espírito Santo. [...] É graças à certeza dada por uma autoridade superior que concluímos, que, sem dúvida nenhuma, a Escritura nos foi outorgada diretamente por Deus.

Com isso, Calvino defende que por ser um livro de revelação, a Bíblia precisa ser revelada a nós através de uma ação soberana do próprio Deus, na pessoa do Espírito. O mesmo processo revelacional ocorreu com os autores bíblicos que passaram por um processo de inspiração para deixar registrada a Palavra de Deus como uma fonte revelacional permanente e completa, ao ponto de não mais haver a necessidade de uma outra (i.é. nova) revelação. Tudo o que precisamos saber sobre Deus está registrado nos escritos do Antigo e do Novo Testamento. Assim, o primeiro questionamento (a Bíblia é de Fato a Palavra de Deus?) está respondido.

Dizer que a Bíblia é um livro inspirado é estar de acordo com que a mesma diz acerca de si própria (2Tm 3:16). No entanto, a inspiração não foi um ditado divino. Deus usou as características humanas de cada autor para dizer aquilo que deveria ser dito. Muitos fazem confusão com esta informação e dizem que se existe este viés de humanidade no processo de escrituração e o erro é inerente da condição humana, logo, existe a possibilidade de ter erros na Bíblia. Barth é um exímio defensor do errare humanum est. Embora isto seja verdade, não quer dizer que os homens erram sempre em tudo que fazem, muito menos concluir que o erro é necessário ao homem.

O homem é limitado por ser finito, porém a finitude não o torna falível sempre. Há de se separar onisciência de infalibilidade. Estas duas coisas estão conjuntas em Deus, não nos homens. Como afirma Sproul (2012, p. 49): “Finitude significa uma necessária limitação de conhecimento, mas não significa obrigatoriamente uma distorção do conhecimento. A confiabilidade do texto bíblico não deve ser negada com base na finitude do homem”.

Respondendo ao questionamento sobre a confiabilidade bíblica, sobretudo do Novo Testamento, o mais questionado, apelamos para dois argumentos bastante convincentes:
• Argumento Bibliográfico: Corresponde a lacuna do tempo histórico em que o livro foi escrito e o manuscrito mais antigos que temos dele. Por exemplo: O manuscrito da obra de Platão mais antigo que temos data de 1200 anos após o filósofo grego ter escrito o original. Aristóteles também escreveu 1400 anos antes da cópia mais antiga que possuímos dele. Já o intervalo do original para a cópia de um livro do NT é de apenas 100 anos, e temos esta certeza graças a descoberta arqueológica do papiro de John Rylands.
• Argumento Manuscritológico: Corresponde a quantidade de cópias de um presumível texto original. Quanto maior a quantidade de cópias, maiores são as chances de identificar as imprecisões. Por exemplo: Temos sete cópias manuscritas de Platão em todo o mundo. De Aristóteles temos apenas cinco cópias. Em contrapartida, contando apenas as cópias gregas, o texto do Novo Testamento é preservado em aproximadamente 5.686 porções manuscritas parciais e completas que foram copiadas a mão a partir do século I até o século XV.

Além dos manuscritos gregos, há várias traduções partindo do grego. Contando com as principais traduções antigas em aramaico, copta, árabe, latim e outras línguas, há 9 mil cópias do Novo Testamento. Isso dá um total de mais de 14 mil cópias do Novo Testamento. Além disso, se compilarmos milhares de citações dos pais da igreja primitiva dos séculos II a IV pode-se reconstruir todo o Novo Testamento com exceção de onze versículos. De modo que se não for possível confiar na Bíblia, também deve ser posto em xeque a autenticidade de toda e qualquer obra literária da Antiguidade.

Quanto a questão dos erros, o segmento reformado é categórico: Toda a Bíblia é inerrante. Lopes (2006) diz:
Ao dizer que a Bíblia é inerrante, não estou negando que erros de copistas se introduziram no longo processo de transmissão da mesma. A inerrância é um atributo somente dos autógrafos, ou seja, do texto como originalmente produzido pelos autores inspirados por Deus. Muito embora hoje não tenhamos mais os autógrafos, pela providência divina podemos recuperar seu conteúdo, preservado nas cópias, quase que totalmente, através da ajuda de ferramentas como a baixa crítica ou a manuscritologia bíblica. A ausência dos autógrafos não torna a inerrância bíblica irrelevante, como dizem alguns. Senão temos os autógrafos para provar que eles não contêm erros, eles também não os têm para provar que contêm. Lembro que o ônus da prova é deles.

Alguns objetam com passagens bíblicas que falam sobre o movimento do sol em Josué e de catalogar morcego como ave, segundo Levítico, como se tais exemplos fossem equívocos de cunho científico. Recomemos mais uma vez as palavras de Lopes (2006):
Ao afirmar a inerrância da Bíblia não estou ignorando que, com freqüência, as teorias científicas sobre a história da terra têm sido usadas para desacreditar o relato bíblico da criação, do dilúvio e sua cosmovisão geocêntrica. Entendo, contudo, que não é correto avaliar a veracidade da Bíblia mediante padrões de verdade que são distintos do seu propósito e que se baseiam em conclusões provisórias, efêmeras e freqüentemente desmentidas a posteriori por outros estudiosos e cientistas. A Bíblia não é um livro científico, nos padrões modernos, e frequentemente se refere aos fenômenos naturais usando a linguagem descritiva do observador, como já mencionei, a qual não é cientificamente analítica.

Como observadores dos fenômenos naturais, é totalmente aceitável que haja esse tipo de informação na Bíblia. Em qualquer registro do mundo antigo teremos pessoas falando sobre o movimento do sol e catalogando animais voadores como sendo aves. Até mesmo nos filósofos gregos encontramos estas afirmações, que hoje nos soam absurdas. Todavia, inaceitável seria se naquela época eles tivessem as informações científicas que hoje temos.

Mediante a tudo o que já foi exposto, a Bíblia taxativamente provém de Deus, sendo a Sua Palavra digna de confiança e inerrante. Mesmo utilizando-se de um processo humano, ela é inspirada em sua totalidade. Assim rechaçamos o posicionamento liberal e o barthiano. Esta é a posição ortodoxa, abraçada pelas igrejas de credo reformado. Como está registrado na Confissão de Fé de Westminster Capítulo 1, artigo V:
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações. I Tim. 3:15; I João 2:20,27; João 16:13-14; I Cor. 2:10-12.
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Referências:
BEEKE, Joel R. Harmonia das Confissões Reformadas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006.
CALVINO, João. As Institutas. São Paulo: Volume 1, Editora Cultura Cristã,2006.
LOPES, Augustus Nicodemus. Sobre a Inerrância da Bíblia. Acesso em 20/06/2014.
LOPES, Augustus Nicodemus. Porque o Barthianismo foi Chamado de Neo-Ortodoxia. Acesso em 20/06/2014.
SPROUL, R.C. Posso Crer na Bíblia? São José dos Campos: Editora Fiel, 2012.

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Divulgação: Bereianos

QUAL É O REAL PROBLEMA DA HUMANIDADE?



·      O PECADO É A CAUSA PRINCIPAL DA MAIOR PARTE DOS NOSSOS PROBLEMAS.

De fato, para entendermos a real dimensão dos nossos problemas, precisamos fazer uma análise a partir do pecado, causa primeira de todas as outras crises enfrentadas pela humanidade. A Bíblia nos apresenta o pecado como a raiz de todo mal que descaracteriza a imagem de Deus no homem desde o éden (Gn 3.7). Um dos primeiros sinais desta descaracterização é a falta de honestidade e sinceridade para assumir a culpa pelos mesmos (Gn 3.8-10), como consequência de seus pecados o homem experimenta sensações de dor e sofrimento, além do terrível vazio da culpa, através de uma consciência que constantemente lhe denuncia e oprime o colocando debaixo do jugo da lei do pecado e da morte (Rm 3.9). O problema do pecado nos torna incapazes de buscar a Deus e de realizarmos boas ações, por conta de nossas bocas perversas e dos nossos corpos corrompidos, destrutivos e violentos, nos fazendo desconhecer a paz e não temer a Deus. (Rm 3.11-18). A morte caracteriza-se como a consequência universal do pecado, mediante a queda de Adão, nos tornando condenados por um só homem (Rm 5. 12-21). O pecado de Adão não afetou somente a humanidade como também a toda criação que geme e espera a redenção do Senhor (Rm 8. 20-22). 
Para Freud o problema do homem era sexo, para Maslow era a baixa estima, para os demonistas, o problema é única e exclusivamente a ação dos demônios, a sociologia culpa a sociedade, temos também a síndrome das vítimas que jogam a culpa nos atos alheios de outras pessoas, o temperamento quer culpar a minha personalidade e ainda existem aqueles que jogam a culpa na minha genética. Todas essas sugestões são frutos de uma análise muito superficial sobre o real problema do homem, tentativas de se arranjar respostas existenciais que satisfaçam, mas não respondam de fato suas principais questões e problemas.

·      O EVANGELHO É A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS DO HOMEM
Falei anteriormente que o maior problema do homem é o pecado, pecado é tudo aquilo que transgride a lei de Deus, ao transgredir a lei de Deus o homem rompe relações com ele, necessitando do seu perdão redentor para então ter sua relação com o Pai das luzes restaurada (Is 55.6-9). Este perdão nos foi outorgado desde antes da fundação do mundo através de Jesus Cristo, o cordeiro de Deus que é conhecido pela a eficiência do seu sangue desde os tempos eternos (Rm 10.3).
Somos justificados do pecado pela fé na obra de Cristo, ele, através do seu santo sacrifício satisfez a justiça de Deus, morrendo em nosso favor, nos libertando da escravidão da lei do pecado e da morte, nos fazendo viver agora debaixo da lei do espirito e da vida. Nos tornamos novas criaturas, de corações limpos e desejosos pelo Senhor e da sua Palavra Fiel (Rm 3.18). O Espirito Santo intercede por nós mediante ao sangue de Cristo, ele supre as nossas necessidades integralmente (Fl 1.6), nele encontramos a plena satisfação, independente das circunstâncias (Ef 3.20). O evangelho nos ensina que Cristo irá voltar e destruirá o pecado e seus efeitos e os planas deles serão cumpridos integralmente (Jo 14.1-3). Toda a obra de Deus em Cristo será consumada para a gloria eterna dele, viveremos no novo céu onde habita somente a justiça (2 Pe 3.13).
·      O VERDADEIRO CONSELHEIRO É O ESPIRITO SANTO
O papel do Espirito Santo neste processo é fundamental, papel este que é mal compreendido por alguns pentecostais e principalmente pelos neopentecostais que enfatizam as experiências espiritualisticas de forma demasiada, e por outro lado temos a negligencia da atuação do espirito santo, pregada e ensinada pelas igrejas tradicionais, isso produz uma verdadeira confusão sobre qual de fato é o papel do Espirito Santo, mas a Bíblia é bem clara, ele foi derramado sobre a vida dos regenerados para nos ternar testemunhas da graça transformadora manifesta em Jesus Cristo e isso inclui não somente a pregação e o ensino bíblico, como também o aconselhamento. O ministério de aconselhamento é algo que só se torna possível através da mediação e do discernimento espiritual (2 Co 2.15,16), nossa suficiência é totalmente em Cristo (2 Co 3.5,6). O sucesso na pratica do aconselhamento não compete a nossa inteligência, personalidade nem tão pouco pelo nosso credenciamento formal, mas ao poder do Espirito Santo que age em nós e por nós.
O Espirito Santo é um recurso diferenciado para um conselheiro cristão, pois através da Palavra de Deus ele pode ir além dos limites meramente humanos psicológico e existencial. Ele é um importante agente de mudança de atitude, provocando reações não somente paliativas como definitivas para aquele que se permite tratar mediante ao seu poder. Se o Espirito Santo é um agente de mudança devemos dar o credito a Ele por qualquer sucesso ministerial que venhamos a ter ou qualquer mudança que aconteça em nossas vidas ou nas vidas de outras pessoas (1 Ts 1.3;2.13 Rm 1.7). 

DEUS VOZ ABENÇOE!!!