POR QUE OS APÓCRIFOS NÃO SÃO CONSIDERADOS INSPIRADOS?



Etimologicamente, o termo “apócrifo” significa: “oculto”, “escondido”. É usado para designar os 14 ou 15 livros, ou partes de livros que, em algum tempo, foram colocados entre os livros do Velho e do Novo Testamento. Eles aparecem anexados nas versões Septuaginta e Vulgata Latina. O vocábulo tem sido empregado de forma diferente por católicos e protestantes:

Para os protestantes “apócrifo” designa o conjunto de livros ou porções de livros que não fazia parte do cânon (lista de livros inspirados) hebraico. Para os católicos “Apócrifo” se refere aos livros que os estudiosos protestantes chamam de pseudo-epígrafos. Os livros que os protestantes chamam de “apócrifos”, os católicos chamam de “Deuterocanônicos”. Para os protestantes, os livros apócrifos não foram inspirados por Deus. São importantes fontes documentais para o conhecimento da história, cultura e religião dos Judeus. Também muito úteis para nossa compreensão dos acontecimentos intertestamentários (entre o Velho e o Novo Testamento). Mas não para estarem lado a lado com a literatura canônica (inspirada por Deus), pois ao compararmos uma literatura com a outra, logo percebemos profunda e radical diferença no estilo, na autoridade e até nos ensinamentos.

A igreja Católica só se lembrou de incluí-los no Cânon (lista de livros inspirados por Deus) em 15 de abril de 1546, no Concílio de Trento, impondo-os aos seus fiéis como livros inspirados. Quem não aceitasse a decisão da igreja, seria por ela amaldiçoado. Por que rejeitamos os apócrifos? Se a mente divina inspirou a cada escritor, o produto destes diferentes autores deve estar em harmonia entre si. Portanto, os primeiros livros se constituem o critério para todos os demais livros que se consideram ou são chamados de inspirados. Mas os livros conhecidos como apócrifos:

1. Não se harmonizam em ensino e doutrina com Moisés e outros profetas canônicos;
2. Nem Jesus, nem os apóstolos citaram os livros apócrifos como fonte de autoridade.
Por que então, a Igreja Católica continua apegada aos livros apócrifos? Porque as doutrinas fictícias dos apócrifos confirmam falsos ensinos da igreja, como por exemplo: oração pelos santos, falsas curas, dar esmolas para libertar da morte e do pecado, e salvação pelas obras.

Eis alguns ensinos de apócrifos:

1. Ensino da Arte Mágica – Tobias 6:5-8. Refutação bíblica: Marcos 16:17; Atos 16:18;
2. Dar Esmolas Purifica do Pecado – Tobias 12: 8 e 9; Eclesiático 3:33. Refutação bíblica: 1 Pedro 1:18 e 19; Judas 24;
3. Pecados Perdoados pela Oração – Eclesiástico 3:4. Refutação bíblica: Prov. 28:1; 1 João 1:9; 2:1 e 2;
4. Orações pelos Mortos – 2 Macabeus 12: 42-46. Refutação bíblica: Atos 2:34; Isaías 38:18; Lucas 16:26; Isaías 8:20;
5. Ensino do Purgatório – Sabedoria 3:1-4 (imortalidade da alma). Refutação bíblica: 1 João 1:7;
6. O Anjo Relata uma Falsidade – Tobias 5: 1-19. Refutação bíblica: Lucas 1:19;
7. Uma Mulher Jejuando toda Sua Vida – Judith 8: 5 e 6. Esta é uma história parecida com outras lendas católicas com respeito a seus santos canonizados. Uma mulher dificilmente jejuaria por toda sua vida. Jesus, mesmo sendo divino-humano, jejuou 40 dias, não pela vida toda.
8. Simeão e Levi mataram os habitantes de Siqueia por ordem de Deus – Judite 9:2. Refutação bíblica: Deus não tinha nada a ver com isto: Gênesis 34:30; 49: 5-7; Romanos 12: 19, 17
9. A Imaculada Conceição – Sabedoria 8:19 e 20. Este texto é usado pelos católicos para sustentar a doutrina de que Maria nascera sem pecados. Refutação bíblica: Lucas 1:30-35; Salmo 51:5; Romanos 3:23.
10. Ensinos da Crueldade e do Egoísmo – Eclesiástico 12:6. Refutação bíblica: Provérbios 25:21,22; Romanos 12:20; João 6:5; Marcos 6:44-48.

Há muitos outros ensinamentos errados, mas, creio serem estes suficientes para aceitarmos que tais livros devem realmente ficar fora da lista de livros inspirados.
Apócrifos do Antigo Testamento

1. O 1º Livro de Esdras;
2. O 2º Livro de Esdras;
(Na versão Vulgata: O Esdra Canônico é chamado de 1º Esdras e Neemias de 2º Esdras; enquanto o 1º Livro de Esdras apócrifo é chamado de 3º Esdras).
3. Tobias;
4. Judite;
5. Adições ao Livro de Ester;
6. A Sabedoria de Salomão;
7. A Sabedoria de Jesus o filho de Sisaque, ou Eclesiástico;
8. Baruque;
9. A Carta de Jeremias;
10. A oração de Azarias e o Canto das Três Jovens;
11. Susana;
12. Bel e o Dragão;
13. A oração de Manasses;
14. O 1º Livro de Macabeus;
15. O 2º Livro de Macabeus;
Apócrifos Deuterocanônicos
1. Tobias;
2. Judite;
3. Adições ao Livro de Éster (10:4 – 16:22);
4. Sabedoria;
5. Eclesiástico;
6. Baruque;
7. Susana (Daniel 13);
8. Bel e o Dragão (Daniel 14);
9. 1º Macabeus;
10. 2º Macabeus;

Apócrifos do Antigo Testamento

Os apócrifos do Antigo Testamento podem ser facilmente identificados comparando os livros das Bíblias utilizadas pela maioria das “Sociedades Bíblicas” com uma Bíblia Católica. Na comparação abaixo, os livros em negrito constituem os apócrifos (chamados de Deuterocanônicos pelos Católicos). Aqueles não negritados são aceitos como canônicos por protestantes e Católicos:
♦ Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levíticos, Números e Deuteronômio;
♦ Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester (com acréscimos), 1 Macabeus, 2 Macabeus.
♦ Sapienciais: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico.
♦ Proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruque, Ezequiel, Daniel (com acréscimo), Oséias, Joel, Amós, Abdias (Obadias), Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.
Total: 46 Livros
39 Canônicos
+7 Deuterocanônicos ( = aqueles sublinhados)

Apócrifos do Novo Testamento

Os apócrifos do Novo Testamento não oferecem problema porque são rejeitados por todas as igrejas cristãs. E não podia ser diferente. Observe o ensino, como por exemplo, do evangelho de São Tomé:
“Jesus atravessava uma aldeia e um menino que passava correndo, esbarra-lhe no ombro. Jesus irritado, disse: Não continuarás tua carreira. Imediatamente o menino caiu morto. Seus pais correram a falar com José, este repreende a Jesus que castiga os reclamantes com terrível cegueira”. Tal relato não é compatível com a sublimidade dos ensinos de Cristo e é suficiente para provar que este evangelho é espúrio. “Trouxeram-lhe, então, algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse; mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus. E, tendo-lhes imposto as mãos, retirou-se dali.” (Mateus 19:13-15).
Lista dos Apócrifos do Novo Testamento
1. Evangelhos: Evangelho Segundo Hebreus, Evangelho dos Egípcios; Evangelhos dos Ebionitas; Evangelho de Pedro; Protoevangelho de Tiago, Evangelho de Tomé; Evangelho de Filipe, Evangelho de Gamaliel; Evangelho da Verdade.
2. Epístolas: Epístola de Clemente; as 7 Epístolas de Inácio; aos Efésios, aos Magnésios, aos Trálios, aos Romanos, aos Filadélfios, aos Esmirnenses e a Policarpo; a Epístola de Policarpo aos Filipenses; Epístola de Barnabé.
3. Atos: Atos de Paulo, Atos de Pedro, Atos de João, Atos de André, Atos de Tomé.
4. Apocalipses: Apocalipse de Pedro, o Pastor de Hermas, Apocalipse de Paulo, Apocalipse de Tomé; Apocalipse de Estêvão.
5. Manuais de Instrução: Didaquê ou Ensino dos 12 Apóstolos, 2 de Clemente. Pregação de Pedro.
Total: 34 livros – são mais do que os Canônicos do Novo Testamento (que somam 27).
Muitos destes livros disputaram um lugar junto ao Cânon Bíblico, mas graças a Deus, foram rejeitados pela Igreja Cristã, assessorada pelo Espírito Santo. Se estes livros pertencessem à lista de livros inspirados por Deus, certamente manchariam a beleza da sã e pura Palavra de Deus.

Devemos, portanto, nos apegar apenas aos 66 livros como dignos de confiança em termos da revelação de Deus ao homem. Nestes livros, 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento, temos toda a revelação necessária para a salvação do homem. A Sociedade Bíblica do Brasil – com razão – adota estes 66 livros como padrão para as Bíblias que produz. (Professor Jorge Mário, Apostila de Estudo Teológico).
Equipe Biblia.com.br


BREVE ANÁLISE DA EPÍSTOLA AOS HEBREUS



Uma epístola anônima do Novo Testamento, colocada depois daquelas identificadas como sendo de Paulo e antes das Epístolas Gerais. É ama exortação a uma experiência completa de salvação, apresentada em um estilo grego clássico e retórico. A epístola é única, repleta de questões e características peculiares a si mesma. Não obstante, ela contém uma profunda visão teológica sobre a natureza da salvação que Deus possibilitou por meio de Seu Filho, Jesus Cristo. Isto é pregado por meio de uma argumentação do tipo rabínica das instituições e afirmações do Antigo Testamento a respeito da salvação de Deus. Por toda a epístola encontram-se exortações e princípios úteis para a alegria da salvação. A igreja primitiva esteve durante algum tempo em um dilema quanto ao que fazer com ela, por causa da incerteza quanto à sua origem; e alguns cristãos contemporâneos a vêem como um enigma, por não compreenderem a profundidade de seu alcance.

Autoria e Canonicidade

A incerteza sobre o autor resultou em uma lenta admissão ao cânon. Os esforços combinados dos patriarcas da Igreja para atribui-la a Paulo foram mais motivados pelo zelo quanto à canonicidade do que pelo desejo de conhecer a sua autoria. No entanto, depois da sua admissão, a sua inspiração e a sua autoridade são claramente certificadas pela Igreja. Como a autoria não é afirmada no texto, ela é um assunto de interesse dos estudiosos e não um comprometimento teológico. Quando a Igreja Ocidental mencionou pela primeira vez essa epístola, nada foi dito sobre a sua autoria. Da Igreja de Alexandria vieram sugestões de que Paulo era o autor; no entanto, Orígenes de Alexandria concluiu: “Mas quanto a quem realmente escreveu a epístola, Deus sabe a verdade sobre esse assunto”. A história subsequente da questão atesta a sabedoria da conclusão de Orígenes, pois alguns estudiosos do assunto na época da Reforma sugeriram como autores, além de Paulo, Barnabé, Clemente de Roma e Lucas. Lutero foi o primeiro a sugerir Apoio. Como os estudos da Bíblia desenvolveram-se na época da Reforma, cada vez menos estudiosos sustentaram a autoria de Paulo, de modo que poucos a defendem de forma séria hoje em dia. No entanto, ela continuou a ser homileticamente conveniente, e é assim com frequência afirmada de forma inquestionável. Também são sugeridos como autores Filipe, o diácono, Priscila e Aqüila, Aristion, Silas, Marcos e Judas. Entre as evidências apresentadas para a autoria de Paulo, estão a menção de Pedro a uma carta escrita por Paulo, possivelmente aos judeus (2 Pe 3.15,16); a associação com Timóteo (cf. Hb 13.23) e Roma (cf. v. 24); um final parecido com os finais de Paulo; e muitos pontos de concordância teológica. A evidência mais freqüentemente oferecida, no entanto, é simplesmente a tradição. Na verdade, este é provavelmente o argumento mais forte e não deve ser descartado sem razão. O fato é que Paulo é o candidato sugerido mais ampla mente aceito, e ele tem sido aceito por mais pessoas e durante um período de tempo mais longo do que qualquer outro candidato. Entretanto, um grande número de razões tem sido apresentadas para descartar a tradicional autoria de Paulo. A Igreja levou um longo tempo para sugeri-la, e a sugestão veio da parte da Igreja que provavelmente tinha menos conhecimento, e sem uma cuidadosa argumentação, ao passo que a parte que provavelmente tinha mais conhecimento se absteve. Contudo, foi considerada tradicional durante a época dos estudiosos menos críticos. A falta de assinatura e saudações pessoais, e o uso exclusivo da LXX não são típicos das epístolas assinadas por Paulo. O estilo não é semelhante ao daquelas, no sentido de que utiliza retórica esmerada, espírito helenista, idéias completas e sentenças equilibradas. Também existe um vocabulário diferente e um ponto de vista teológico peculiar. Paulo representa Cristo habitando em cada crente, ao passo que, em Hebreus, Ele está representado “à destra do Pai”; Paulo mostra a Lei como sendo eticamente impossível, ao passo que Hebreus argumenta que ela é cerimonialmente impossível. Além disso, esta epístola não se encaixa facilmente no itinerário de Paulo (ef. Hb 13.23). O argumento mais forte contra a autoria de Paulo é o de que parece impossível para o mesmo homem reconhecer uma fonte secundária de informações (2.3) e, em outros pontos, insistir nas revelações em primeira mão e diretas (G1 1.11-24). Apoio é o personagem apostólico cuja descrição bíblica (At 18.24-28; 1 Co 1.13; 3.4) mais se aproxima do tipo de homem que escreveria uma epístola como Hebreus. Ele era um judeu de Alexandria, um “varão eloqüente e poderoso nas Escrituras”, e intimamente associado com Paulo. Primeiramente sugerida por Lutero, esta se tornou a versão aceita por um número crescente de estudiosos, em que estão incluídos T. W. Manson, W. F. Howard, C. Spicq, Alford, F. W. Farrar e Hugh Montefíore. Contudo, isso não justifica a omissão do seu nome, e parece estranho que a Igreja de Alexandria não conheça nem defenda fervorosamente a autoria de Apoio.

Data

Diversas afirmações indicam que a epístola foi escrita durante a segunda geração do período apostólico, o que se deve, por exemplo, ao processo de transmissão (2.1-4), à época do crescimento (5.12), aos “dias passados” (10.32), aos líderes mortos (13.7), e à prisão de Timóteo (13.23). Contudo, as instituições judaicas ainda estavam em operação e o Templo ainda existia (13.10,11), embora em breve deixaria de existir (12.27) e a perseguição fosse iminente (10.32ss.; 12.4). Estes fatores parecem colocar a escrita ao redor do final dos anos 60 d.C., aprox. entre 67 e 69.

Destinatários e Leitores Destinatários

É difícil identificar os destinatários e o público leitor, uma vez que não existem afirmações internas nem externas. O título e o uso do Antigo Testamento foram tomados como indicações de um público leitor judeu-cristão. Mas esta suposição é cada vez mais desafiada, e foi sugerido que o público leitor era o dos gentios convertidos ao paganismo (Moffatt, E. F. Scott), Outros estudiosos recentes sugerem judeus não-palestinos (William Manson, F. F. Bruce), essênios ou antigos essênios (C. Spicq, Yadin). A representação é da experiência do deserto dos hebreus e do Tabernáculo, e não do estado de restauração e do Templo, e nada é dito sobre a ênfase característica do judaísmo sobre a circuncisão. As citações e as referências do Antigo Testamento não são tão obscuras a ponto de não serem compreendidas por alguém que tenha estudado o Antigo Testamento. Mas as advertências parecem encaixar-se melhor nos cristãos que estavam correndo o risco de recair nas práticas do judaísmo. Talvez se possa supor que, embora o público leitor não necessariamente devesse ser judeu, provavelmente era judeu, ou pelo menos fortemente influenciado pelo judaísmo. A cidade de Roma, agora, parece estar descartada como o lugar da escrita (veja 13.24), mas poderia ser a destinatária. De maior importância que esses assuntos, tanto quanto a interpretação da epístola e sua aplicação contemporânea, é a condição espiritual do público leitor. Os leitores foram convertidos ao cristianismo por meio do testemunho daqueles que tinham conhecido Jesus (2.3ss.)e, portanto, eram os crentes da segunda geração. Mesmo não vindo do judaísmo (ou provavelmente de algum contexto não palestino), eles adquiriram um forte respeito pelas antigas instituições dos hebreus e pelas promessas de Deus a Israel (evidentemente a partir de um estudo da LXX e não da observância da adoração no Templo em Jerusalém). Logo tiveram que suportar uma perseguição significativa (10.32ss.), embora não tão severa quanto aquela que era iminente (12.4). A crise criou neles uma expressão prática de sua fé, e assim preocupavam-se em servir aos seus irmãos - em especial àqueles que estavam sendo mais afetados pela perseguição (6.10; 10.34). Apesar dessas experiências precoces, eles não estavam mais crescendo (5.11-6.20) e, na verdade, estavam começando a retroceder (2. lssj. Não porque estivessem rebelando-se conscientemente contra o evangelho da fé, ou voltando-se proposital mente a outra coisa; mas sim assumindo a salvação como sendo uma bênção garantida, e abusando da graça de Deus, que exigiu o sacrifício de Seu filho (10.26-31). Eles estavam letárgicos e preguiçosos com respeito à sua fé (3.7-4,13) e suscetíveis aos falsos ensinos (13.7-9). Estavam propensos a exagerar na questão da importância dos anjos (1.5-14) e da efetividade da lei, e a depreciar a suficiência do sacrifício de Cristo (9.11-10.31) e a sua perfeição (4.14- 5.10; 7.1-8.13), assim como o valor da realidade suprema que lhes fora prometida (11.13- 16). Eles possuíam a salvação, mas estavam sendo negligentes em termos de vivê-la. Portanto, estavam em perigo, correndo o risco não apenas de deixar de alcançar a plenitude da sua salvação, mas também de perder o privilégio de experimentá-la no presente. Ao invés de receberem as “coisas melhores” que lhes estavam prometidas, corriam o risco de perder as bênçãos já recebidas, ficando apenas com as coisas menores, do passado.

Argumento e Propósito

Esta epístola fornece uma contribuição significativa à teologia do Novo Testamento, mas seu principal objetivo não é teológico. O escritor refere-se a ela como “a palavra desta exortação” (13.22), e este é seu objetivo ao longo de toda a carta. Ele escreve sobre a compaixão daquele que se preocupa com os cristãos como um grupo, e tem algum tipo de responsabilidade pastoral para com eles. Ele os exorta a uma prática determinada e ativa para a sua salvação, de modo que possam alcançar aquilo que a salvação tem para lhes dar, evitando as conseqüências desastrosas da negligência. Podemos considerar que o autor está tentando oferecer um estudo coletivo das advertências, e consequentemente das passagens exortativas. Ele adverte seus leitores sobre as conseqüências inevitáveis da negligência à salvação (2.1-3), a perda do repouso de Deus (3.7-19), a desqualificação para o repouso (4.1-11), a impossibilidade do retorno de uma apostasia consciente (6.4- 8) e a inexistência de uma provisão para o pecado deliberado e consciente (10.26-31). Intimamente ligadas a estas são suas exortações: estejam alertas, para que não se desviem (2.1-4); tenham cuidado, para não perderem a fé (3.7-4.13); prossigam, não dando lugar a qualquer retrocesso (5.11-6.20); aproximem-se, não dando lugar a qualquer afastamento (10.19-39); edifiquem-se, não dando lugar à queda ou à ruína pessoal (12.12-29). Se seus leitores eram judeus ou gentios, ou se era ao judaísmo ou ao paganismo que eles estavam em perigo de retornar, não é tão claro quanto à condição espiritual do momento, e o perigo no qual o autor os encontrou. Ele faz a comparação não com o judaísmo nem com o paganismo, mas com a peregrinação dos hebreus no deserto entre o êxodo da escravidão do pecado e a entrada na terra prometida. A condição em que estavam poderia ser classificada como tão pobre e tão infrutífera quanto o deserto. Como seus leitores eram culpados pelo mesmo tipo de descrença e desobediência que os hebreus na época de Moisés, eles corriam o mesmo perigo de morrer onde estavam, sem jamais entrarem no repouso prometido. Eles não se pareciam com os judeus das sinagogas, trabalhando por sua religião, mas sim com os hebreus do deserto, deixando de colocar em prática sua salvação. O objetivo da Epístola aos Hebreus é o de exortar os cristãos a se tomarem ativos na sua experiência atual com a salvação de Deus, para que possuíssem tudo o que Deus havia prometido, enquanto houvesse tempo.

Teologia

A teologia da epístola é tão única que muito tempo tem sido gasto na comparação e no contraste com o resumo da teologia ao Novo Testamento (especialmente com a teologia de Paulo). Uma investigação ainda maior foi realizada para encontrar raízes ideológicas nas religiões contemporâneas e nos sistemas filosóficos. As primeiras associações foram feitas com Filo, em seguida com o gnosticismo, e mais recentemente com o essenismo judeu. Em cada caso, semelhanças impressionantes foram superadas por divergências mais significativas. O autor mostra familiaridade com uma variedade de escolas de pensamento, mas a sua teologia é distinta e própria. Encontrando uma analogia no dualismo matéria/ideal de Platão, ele fala da realidade presente como sendo apenas uma sombra da realidade eterna. Assim, para os gregos dualistas, Hebreus apresenta Cristo como permitindo o acesso à suprema realidade em Deus. Outra analogia vem do temor a Deus demonstrado pelos hebreus. A epístola mostra que Cristo inaugurou o caminho para Deus no santuário supremo do céu, por meio de sua própria reconciliação “de uma vez por todas”. Assim, para os judeus tementes a Deus, Hebreus apresenta Cristo como permitindo amplo acesso à presença de Deus. Os conceitos teológicos da epístola são, todos, aplicações dessas suposições básicas: Cristo permite acesso à realidade e acesso a Deus. Não é desenvolvida nenhuma preocupação teológica que não faça uma contribuição conceituai à exortação a viver a salvação de Deus. A Cristologia é importante porque o conceito da perfeição nasce da Soteriologia, que se baseia solidamente na Cristologia. A salvação é uma bênção porque foi proporcionada na pessoa do Filho de Deus, A epístola tem um dos mais elevados conceitos da filiação de Cristo que se pode encontrar em qualquer passagem da Bíblia. O Filho é superior aos patriarcas, aos profetas, e até mesmo aos anjos, cuja magnitude era exagerada pelos rabinos. E o Filho de Deus identifica-se com o homem tomando-se homem. O crente, então, toma-se um irmão do Filho de Deus e, portanto, torna-se um filho de Deus. O Filho tornou-se o Sacerdote Supremo e Perfeito para todos os homens (e não exclusivamente o representante do povo da antiga aliança). Ele é o Sacerdote Supremo porque sua reconciliação não precisará jamais ser repetida, ano após ano, e pelos mesmos pecados, mas foi feita “de uma vez por todas”. Ele é o perfeito Sacerdote-Salvador porque verdadeiramente realizou a remoção real do pecado e a redenção do pecador ao invés de simplesmente cobrir o que ainda permanece na consciência. Mantendo a imagem do Dia da Expiação, o Senhor Jesus é representado como o Supremo Sumo Sacerdote. Para mostrar seu sacerdócio inigualável, o autor o chama, por analogia, de “sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque”. A soteriologia de Hebreus não representa a salvação como um objetivo para os perdidos ou como uma possessão dos fiéis, mas exorta os cristãos a fazerem uso da sua salvação. Embora a crucificação e a ressurreição sejam efetivamente assumidas e estejam claramente implícitas, a Epístola aos Hebreus concentra-se no sacrifício, e não na maneira como a vítima é morta no altar. Ela destaca a maneira como o sacrifício é conduzido até o Santíssimo (a mão direita do Pai) e mediado por constante intercessão. A salvação é descrita em termos cerimoniais (sacerdócio supremo) e forenses (nova aliança), e não apenas éticos (Paulo). Então Hebreus mostra a imagem do sumo sacerdote levando o sangue da vítima do altar até o Santo dos Santos (através do véu do Templo), ano após ano, sendo substituído por Jesus levando seu próprio sacrifício da cruz através do véu, entre a realidade imperfeita e a realidade suprema, até o céu, de uma vez por todas. A santificação é descrita em termos altamente peculiares nesta epístola, centrando-se em um conceito de perfeição que é remanescente da insatisfação de Platão com a imperfeição do presente e a antecipação da perfeição do futuro. O objetivo da salvação e Deus é que o homem desfrute o repouso de Deus, do qual fala de várias formas, como a chegada a um destino, como a realização de uma tarefa e como a paz com Deus. O repouso de Deus pode ser definido, então, como a companhia perfeita e eterna de Deus. Mas a perfeição e o repouso são concebidos em termos dinâmicos, de modo que o crente esteja sempre no processo da perfeição e chegando ao seu repouso. A perfeição não é um prêmio a ser conquistado, mas uma experiência a ser perseguida. A apostasia deve ser temida porque não se trata da perda de uma possessão, mas sim de uma experiência. A Epístola aos Hebreus não discute a segurança eterna, uma vez que os leitores estavam completamente convencidos dela e, na verdade, estavam supondo que ela fosse o ponto de negligência da atual experiência da salvação. A epístola mostra que a apostasia é o fracasso no processo da salvação do pecado. Quando uma pessoa não está sendo salva dos seus pecados atuais, ela não está vivendo a salvação. Se persistir nessa condição durante tempo suficiente, ela se tornará tão endurecida que nunca mais retornará à aquela experiência anterior de estar no processo de salvação. O autor, ao invés de ser considerado culpado pela falta de apreço ao recebimento da salvação, deveria receber os créditos por levar a sério a sua utilização. Ele não ensina a segurança eterna porque isso é desnecessário, Ao invés de deixar os leitores à vontade com respeito ao fim, ele os coloca na benéfica tensão entre a segurança sobre a eternidade e as perdas do presente, e essa tensão possibilita a posse da primeira e a fuga da segunda, ao mesmo tempo em que assegura uma salvação completa do começo ao fim.

Bibliografia

William Barclay, The Letter to the Hebrews, Filadélfia: Westminster Press, 1957. F. F. Bruce, The Epistle to the Hebrews, NIC, Grand Rapids: Eerdmans, 1964. Marcus Dods, “The Epistle to the Hebrews”, EGT, IV, Grand Rapids: Eerdmans, reimpressão, 1956. William Manson, The Epistle to the Hebrews, Londres: Hodder & Stoughton, 1951. Andrew Murray, The Holiest of All, Londres: Nisbet & Co., s.d. (devocional). Alexander Nairne, The Epistle to the Hebrews, Cambridge: Univ. Press, 1921. William R. Newell, Hebrews Verse by Verse, Chicago: Moody Press, 1947. John Owen,Hebrews: The Epistle of Waming, Grand Rapids: Kregel, 1953 (uma condensação da obra de 8 volumes de Owen). Adolph Saphir, The Epistle to the Hebrews, 2 volumes, Nova York: Loizeaux Bros., s.d. (exposição acalorada por um professor cristão de origem judaica). B. F. Westcott, The Epistle to the Hebrews, Grand Rapids: Eerdmans, reimpressão, 1950. Ronald Williamson, Philo and the Epistle to the Hebrews, Leiden: Brill, 1970. 





MENSAGEM DA CRUZ: O CUSTO DO DISCIPULADO


Uma palavra de edificação e benção para você e sua família.

O BRASIL EM UMA CRISE QUE SÓ PIORA.



   Nos orgulhamos de ser um país democrático, laico e com liberdade de expressão, direitos garantidos em nossa constituição, mas será que na prática tem sido assim? É neste momento de dificuldade e crise que descobrimos até onde nossos direitos, de fato, podem nos levar e até onde nossas opiniões e decisões podem influenciar para o bem comum da nação. O que presenciamos hoje é um poder publico que trabalha alheio a voz agonizante e fragmentada das ruas. O que esta explodindo hoje no país (corrupção, rebelião, violência, desemprego, caos na saúde e tantas outras desgraças sociais) é o resultado daquilo que tem sido plantado nesses quase 20 anos de desgoverno, em todas as esferas (federal, estadual e municipal). Não quero ser redundante neste artigo, pois já venho comentando sobre o tema neste blog, mas me sinto na necessidade de trazer uma palavra sobre os últimos noticiários que tem ganhado destaque nesses dias. 

    Em primeiro lugar eu acho um absurdo, um descarado abuso de poder, as ações realizadas pelo governo do Espirito Santo em indiciar 703 policiais, demitir 161 e processar suas famílias. Recentemente escrevi uma nota falando sobre o problema na segurança publica do país, pois assim como existe uma crise no Espirito Santos, outros estados estão ariscados a vivenciar o mesmo problema, se já não estão vivendo, por causa do desrespeito e da canalhice de gestores públicos que não providenciam condições de trabalho dignas a seus servidores, em especial a esta honrada instituição que é a Policia Militar. As mobilizações e paralisações desta classe são democráticas e visam a manutenção de direitos que lhes foram aviltados, não somente como servidores, mas como cidadãos, muitos podem não concordar e achar radical tal postura, comprometendo a segurança publica, que sem greve já não é essas coisas, mas é por causa da incompetente gestão publica e não por culpa dos policiais que se ariscam sem o devido reconhecimento e valorização. 
      
    O que estamos assistindo é a criminalização do direito democrático a manifestações que visem melhorias nas condições de trabalho por parte desta classe de servidores públicos e isto não é atitude de uma nação que se orgulha de ser democrática, ao contrario, denuncia uma inclinação ao totalitarismo intolerante que escraviza a mão de obra publica a seu bel prazer. 

     Enquanto isso em Brasilia há uma outra mobilização, não em favor da PM ou de outras classes de servidores públicos que trabalham efetivamente em favor do bem comum da nação, mas em prol de blindar o sistema contra a lava jato, as 10 medidas contra a corrupção (que já foram jogadas no lixo) e a famosa lei da ficha limpa, conquista muito comemorada pelo povo, mas tímida na prática e prestes a ser jogada no lixo também, sem a intervenção popular democrática.
    
    Há um projeto de lei sendo discutido na câmara, e prestes a ser aprovado, que irá abrir vários precedentes para o politico contraventor não ser lesado eleitoralmente por envolvimento em caixa 2 e outros casos de corrupção, os anistiando até em relação aqueles que forem presos, trazendo-os de volta para a sistema. Achamos um absurdo a greve dos policiais, mas não vamos fazer nada contra mais um projeto de lei que pretende ser outro tapa moral na cara dos brasileiros. Não deixamos de ir para as ruas resistindo contra todo este estado de coisas, por causa da falta de segurança, mas porque ainda não entendemos o que deve ser prioridade para o Brasil enquanto nação. 

    Precisamos despertar e nos colocar do lado de quem realmente tem compromisso com o bem comum da nossa nação, denunciando, resistindo, lutando, orando, mesmo em minoria, mesmo sendo abafados pelo populismo irracional, mas precisamos marcar posição, se for pra cair, que seja atirando, só assim seremos capazes de deixar algum legado relevante para as futuras gerações.


DEUS VOS ABENÇOE!!

A "INCLUSÃO EVANGÉLICA" NO CARNAVAL




E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.


    No texto acima, o apostolo Paulo faz uma seria recomendação aos irmãos da igreja em Roma falando sobre qual deveria ser sua nova conduta em Cristo. O império Romano era conhecido, dentre tantas coisas, pela sua promiscuidade e libertinagem, um cenário ameaçador a integridade não somente moral, como principalmente espiritual daqueles irmãos. Paulo vai começar o versículo os alertando para não tomarem a forma do mundo, mas que eles transformassem a realidade ao seu redor através do evangelho manifesto em Jesus Cristo.
  O texto é pertinente em um momento aonde a igreja evangélica brasileira tem se preocupado mais em ser popular do que fiel, não nos sensibilizamos mais em fazer a diferença, mas em sermos aceitos pela sociedade. Está chegando mais um carnaval e com ele os blocos e os polos de folia "gospel", um verdadeiro escarnio a fé cristã, algo que para muitos não tem nada demais é até legal essa inclusão para a "evangelização", mas na verdade na verdade, é a igreja tomando a forma do mundo, tornando-se ainda mais irrelevante, utilizando-se dessas prerrogativas para dar lugar a carne, assim como tem acontecido nas famosas "marchas pra Jesus." O incentivo a essas manifestações é um desfavor a verdadeira causa do evangelho, pois a própria Palavra de Deus, no salmo primeiro, nos ensina que bem aventurado é a aquele que tem o seu prazer na lei do Senhor e por isso não se assenta na roda dos escarnecedores, não se detêm no conselho dos impios e não anda no meio dos zombadores, e o que é o carnaval se não o grande encontro desses três tipos de pessoas relatadas no salmo? Paulo também vai nos recomendar em uma de suas cartas a fugirmos da aparência do mal, ou seja, devemos evitar tudo aquilo que nos induza ao pecar, mesmo que esteja travestido de motivações "evangélicas"
    Neste ano, uma das novidade do carnaval de Olinda é o polo gospel, um espaço, nas festividades de carnaval da cidade separado para os evangélicos. O prefeito da cidade, professor Lupércio, disse em entrevista que não criou o polo para os irmãos caírem na folia, mas com um proposito evangelístico e social. Olinda é uma das cidades do Brasil que mais vivi o carnaval, principalmente nos 4 dias de folia, é bloco e troça em todos os lugares, e no meio desse turbilhão de confete e serpentina estão os irmãos expostos a toda essa influencia, incentivados não somente a participar, de certa forma, como se arriscar em meio a criminalidade que aterroriza nosso estado. 
    O nobre prefeito Professor Lupércio é um crente confesso de uma denominação que não simpatiza com tais iniciativas, é certo que ele não governa para os evangélicos, mas também não pode jogar contra desse jeito, incluir os evangélicos na programação de carnaval é jogar os irmãos aos leões da carnalidade, principalmente levando em consideração que essa turma que vai pra o polo gospel, boa parte dela não tem base bíblica nenhuma para discernir o que é do que não é de Deus, os pastores que estão apoiando esta iniciativa estão arrumando sarna pra se coçar e das brabas. 
  Não estou torcendo pela desgraça dos meus irmãos, estou colocando os fatos, respaldado na Bíblia, melhor que ele não tivesse feito nada e deixado os evangélicos quietinhos no seu lugar, os que fossem pra retiro, fossem, os que não, ficariam na igreja ou em casa mesmo, orando lendo a Bíblia com suas famílias, ou até indo conhecer o carnaval  sem precisar de desculpas como a do polo gospel, mesmo porque, diante de Deus não fará diferença se no coração a intenção é cair na gandaia. 
     Esse tipo de inclusão vai causar mais problemas do que solução, é uma manobra a qual vai ser um prato cheio para o inimigo das nossas almas, que alem de cuidar dos seus, ainda vai ter a oportunidade de derrubar alguns dos nossos, e o pior é que muitos cairão cantando gloria e aleluia. 
   Temos que nos mobilizar em oração como igreja, para que o Senhor proteja os seus nesses dias de carnaval, não somente os desviados, como também aqueles irmãos que vão participar deste "polo gospel" Particularmente fico triste e preocupado com essas iniciativas, o entretenimento de fato tornou-se uma via de regra em nosso meio evangélico, ao ponto de, daqui a pouco, não sabermos a diferença daquele que serve e que não serve a Deus.
   Se você meu irmão tem filhos, netos ou parentes que gostam de participar dessas programações, os recomende para que não vá e se não tiver como impedir, de preferencia, vá com eles, esteja próximo em virtude de evitar imprevistos desagradáveis, é nessas horas que uma companhia mais experiente, principalmente como crente, faz toda diferença. 

DEUS VOS ABENÇOE!!           

O IMPACTO DA ARQUEOLOGIA NO ESTUDO DA BÍBLIA



DEFINIÇÃO E HISTÓRIA


A arqueologia é a ciência que estuda o passado humano e as civilizações antigas a partir de testemunhos concretos. Para a tradição judaico-cristã a arqueologia sempre teve um significado especial. Desde os tempos de Justino Mártir (2o. séc. a. C.) já havia um interesse arqueológico incipiente entre os cristãos. Nos últimos duzentos anos a arqueologia bíblica tem se desenvolvido muito. Israel, Jordânia, Egito, Síria, Líbano, Iraque, Turquia, Grécia, Chipre e Itália são os principais países onde é realizada a pesquisa arqueológica bíblica, que procura relacionar descobertas arqueológicas com narrativas do texto sagrado.
Os primórdios dessa pesquisa concreta teve início do século XIX, quando o estudioso alemão Seetzen explorou a Transjordânia, e descobriu Cesaréia de Filipe, Amã (Rabá 2Sm 11.15) e Gerasa. Em meados do século xix, o francês De Saulcy foi o primeiro a escavar sítios arqueológicos na atual Palestina. Já o inglês Charles Warren fez escavações em Jerusalém e datou as obras de Herodes no grande muro de contenção da antiga plataforma do templo. O explorador francês Charles Cler­mont-Ganneau recuperou, por volta de 1870, a famosa inscrição em pedra de Mesa (2Rs 3.4) e encontrou a famosa inscrição em pedra que proibia, sob pena de morte, o acesso de gentios ao pátio do templo.
Todavia, foi somente no final do século XIX que surgiu o primeiro grande arqueólogo das terras bíblicas. Foi o inglês Sir Flinders Petrie, primeiro trabalhando no Egito e depois na Palestina, que estudou a cerâmica antiga e desenvolveu um sistema de datação dos períodos e fatos bíblicos observando e registrando as diferenças na forma, textura e pintura da cerâmica. Petrie estudou as várias camadas de terra dos sítios antigos e descobriu que os estratos tinham uma ordem cronológica. Outro arqueólogo muito importante no século XX foi o americano William F. Albright. Os estudiosos evangélicos sempre valorizaram muito a obra de Albright, não somente por sua perícia e conhecimento, mas também porque seu pressuposto era que a Bíblia é um documento historicamente confiável.
No século XX, devido ao surgimento da chamada “New Archaeology”, a arqueologia das terras bíblicas passou denominada “Arqueologia Siro-palestina”. A idéia dessa nova perspectiva é que a arqueologia da região deveria ser percebida da perspectiva científica. A característica peculiar do Oriente Próximo com seus aluviões e célebres “tells” deveria delimitar a arqueologia do Oriente Próximo. Além disso, a arqueologia passou a ter uma abordagem multidisciplinar (valendo-se dos estudos de arquitetos, antropólogos, geólogos e osteólogos) e não considerar o texto bíblico como historicamente exato. A arqueóloga britânica Kathleen Kenyon foi um dos expoentes da nova abordagem. Sua obra teve grande impacto na estratigrafia.


O PROGRESSO CIENTÍFICO

A arqueologia atual conta com uma gama de técnicas e análises que vão muito além da mera “pá e picareta”. Segue uma relação da complexidade dos seus níveis de análise:

Análise da Numismática: As moedas ajudam a datar as camadas onde são encontradas. As moedas começaram a ser usadas na Ásia Menor pelos lídios por volta de 650 a.C.

Análise Osteológica: Os restos de esqueletos encontrados são conservados, identificados e analisados. Observa-se idade, sexo, alimentação e patologias. Esse é o trabalho de um antropólogo. Algumas escavações também contratam zoólogos para fazer a mesma análise dos restos de animais.

Análise Etnoarqueológica: As características étnicas são estudadas, e se fazem comparações entre os resultados desse estudo e a informação cultural obtida das antigas camadas do sítio arqueológico.

Análise do Solo: Amostras de terra são analisadas para ajudar a determinar a concentração de pessoas e animais no sítio e para identificar o que comiam. Sementes carbonizadas e outras partículas são separadas, e às vezes tratadas quimicamente para determinar o teor alcalino e ácido do solo.

Análise da Cerâmica: Todos os utensílios são guardados, bem como os cacos, bordas, bases, alças. A textura da argila, a decoração de superfície ou pinturas características diferentes são analisadas. São úteis na datação do material. As peças são catalogadas, desenhadas e fotografadas para estudos posteriores.

Análise Especializada:

  Dendrocronologia: datação baseada no crescimento dos anéis na madeira das árvores.

  Radiocarbono (radiocronometria) (C 14): datação baseada no nível de resíduo de carbono 14.

  Potássio-argônio: datação de um mineral baseado no nível de redução do potássio original.

Termoluminescência: datação de cerâmica baseado na energia radioativa acumulada na cerâmica desde o dia em que foi queimada no forno.

Busca de fissuras: Datação por meio de microscópio de elétrons que registra a concentração de fissuras fósseis no vidro natural, no vidro fabricado e em outros materiais.

Arqueomagnetismo: Datação por meio da intensidade do campo magnético da terra contida nos objetos de argila na época em que esfriaram depois de queimados no forno.

Flourine: Datação relativa de ossos em que se mede o flourine absorvido da terra pelo osso, comparando-se esse nível com o de outros ossos na mesma área (não é absoluta).

Teste radiométrico: datação de ossos e de objetos baseada na quantidade de urânio presente (não é absoluta).

Conteúdo de colágeno: datação de ossos pela quantidade de colágeno (baseada na quantidade de nitrogênio dos ossos).

Análise de pólen (palinologia): Análise de grãos de pólen em relação ao solo e ao ambiente do qual foram extraídos (nível de acidez do solo, aridez do clima etc.).


OS PERÍODOS DA ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A arqueologia bíblica é dividida em períodos específicos, classificados com base no nível de desenvolvimento da civilização. Tal classificação leva em conta a tecnologia dos metais utilizados pelo grupo humano em vista.




PERÍODO

DATA
HISTÓRIA
BRONZE (ou CANANEU)

    Primitivo do Bronze
    I   
    II                                                    
    III 
    IV                                                  
    Médio do Bronze
         I                                                
         IIA                                            
         IIB                                            
    Posterior do Bronze
         I
         IIA                                                 1400—1300 a.C.                        
         IIB                                            
3150—1200 a.C.

3150—2200 a.C.
    3150—2850 a.C.           
    2850—2650 a.C.           
    2650—2350 a.C.           
    2350—2200 a.C.           
2200—1550 a.C.    Patriarcas (Gn 12-50)
    2200—1950 a.C.           
    1950—1750 a.C.           
    1750—1550 a.C.           
1550—1200 a.C.    Êxodo e conquista (Ex-Jz)
         1550—1400 a.C.      
         1400—1300 a.C.      
         1300—1200 a.C.      

História Primeva (Gn 1—11)





Patriarcas (Gn 12—50)



Êxodo e conquista (Ex-Jz)
FERRO (ou ISRAELITA)

    Ferro I (ou Primitivo do Ferro)       1200—1000 a.C.                        
         IA                                             
         IB
    Ferro II (ou Médio do Ferro)
         IIA
         IIB
    Ferro III (ou Posterior do Ferro IIC)                                                          (722 e 586 a.C.)
1200—586 a.C.

    1200—1000 a.C.
         1200—1150 a.C.
         1150—1000 a.C.
    1000—800 a.C.             
         1000—900 a.C.         
         900—800 a.C.           
         800—586 a.C.                                                                       (722 e 586 a.C.
Monarquia (1Sm—2Rs, Profetas
pré-exílicos)


Reinado de Davi

Divisão do Reino

Queda de Israel e Judá
PERSA (ou BABILÔNICO / PERSA
ou Posterior do Ferro)
586—332 a.C.
Cativeiro babilônico (586—539 a.C.)
(Ezequiel, Profetas pós-exílicos)
HELENISTA
    I   
    II (ou Asmoneu / Macabeu)
332—37 a.C.
    332—152 a.C.
    152—37 a.C.
    Período Interbíblico
ROMANO
I (ou Romano Antigo, ou Herodiano)                                     
II (ou Romano Médio)
III (ou Romano Posterior)
37 a.C.—324 d.C.
         37 a.C.—70 d.C.
         70—180 d.C.
        180—324 d.C.

Jesus Cristo
Novo Testamento Concluído


    AS GRANDES DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS

       O resultado prático de toda a pesquisa arqueológica realizada nas terras bíblicas pode ser medido por um grande número de descobertas e pela relevância de tais achados. Na verdade são centenas de referências importantes que poderiam ser relacionadas aqui. Dezenas de cidades e centenas de objetos arqueológicos foram desenterrados e estudados. Aqui apresentaremos as principais descobertas dos últimos cento duzentos anos bem como sua importância para o estudo das Escrituras.

1.    As Cartas de Amarna. São 380 cartas em acadiano entre cananeus e egípcios. Falam sobre a Palestina do século XIV a.C.
2.    Os Manuscritos do Mar Morto. São as cópias mais antigas do Antigo Testamento, mil anos mais antigas do que os disponíveis até então. São centenas de folhas de manuscritos, mas em todos eles estão bem preservados em relação ao Texto Massorético. São datados entre 200 a.C. a 100 d.C. e foram encontrados em 1947-48 em onze cavernas da região de Cunrã, no deserto da Judéia. Os manuscritos continham: 1) Cópias integrais ou parciais de todos os livros canônicos do Antigo Testamento (exceto Ester); 2) Comentários das Escrituras; 3) Material dos livros apócrifos e pseudepígrafes do período intertebíblico; 4) Manuscritos das regras e doutrinas da seita (a espera de dois messias, um secular e um religioso, e a esperança do juízo divino iminente sobre os ímpios; 5) Textos sobre outros assuntos, como o Rolo do Templo e o tesouro oculto descrito no Rolo de Cobre.
3.    Outros Manuscritos do Antigo Testamento. Destacam-se o Códice Cairense (Geneza), descoberto em 1890, contendo muitos manuscritos de grande parte da Bíblia Hebraica, e o Papiro Nash, descoberto em 1902, contendo poucos versos de Êxodo e de Deuteronômio.
4.    As Tábuas de Ebla. São 17000 tábuas em eblita que trazem luz sobre a vida patriarcal. São datadas de 2600-2300 a.C., e foram encontradas na Síria por arqueólogos italianos em 1976.
5.    As cartas de Mári. São 20000 tábuas em acadiano, do séc. XVIII a.C. Descrevem costumes, informações detalhadas e nomes da época patriarcal. Foram encontradas em 1933 por Parrot.
6.    O código de Hamurábi. Código de leis babilônicas que apresenta paralelos com a lei mosaica. É do séc. XVIII a.C.
7.    A Pedra da Roseta. Encontrada por Champolion no Egito, foi a chave para decifrar o egípcio antigo.
8.    Cultura e língua de Ugarite e as tábuas de Ras Shamra.  São cerca de 1400 tábuas em ugarítico (língua próxima ao hebraico bíblico). Traz muita luz sobre a religião e a literatura cananita e a poesia hebraica.
9.    O Rochedo de Behistun. Achado fundamental para decifrar a língua babilônica.
10. Cidades, cultura e língua acadianas.  De grande valor histórico e lingüístico. Revela a antiga cultura semita ocidental da Mesopotâmia. O acadiano é parente do hebraico.
11. O calendário de Gezer. Calendário agrícola que traz o mais antigo registro do hebraico bíblico; as poucas linhas aparecem na escrita paleo-hebraica.
12. A Epopéia de Gilgamés. Texto acadiano que descreve um paralelo muito próximo do dilúvio bíblico.
13. Enuma Elish. Sete tábuas em acadiano que falam da Ascenção do deus Marduque. Texto paralelo aos relatos da criação de Gênesis.
14. O Prisma de Senaqueribe. Descreve o cerco assírio de Senaqueribe a Jerusalém em 701 a.C. É datado de 686 a.C. e confirma a história da resistência do rei Ezequias narrada na Bíblia.
15. As Tábuas de Nuzi. São cerca de 10000 tábuas, e pertenciam ao antigo império hitita. Descreve a história hitita e traz exemplos de alianças internacionais do séc. XVII a.C.
16. A Inscrição de Mesa. Encontrada por Klein em 1868, fala das conquistas de Mesa, rei de Moabe. Conhecida como Pedra Moabita, menciona Onri, rei de Israel, pai de Acabe, e contemporâneo do rei moabita.
17. A Inscrição de Siloé. Comemora a conclusão do túnel de Ezequias; é um exemplo importante do hebraico da época.
18. Estela de Merneptá. Encontrada no Egito, em Tebas, é a mais antiga menção a Israel. Data do séc. XIII a.C.
19. A Cidade de Laquis e as suas cartas. A atual Tell ed-Duweir, (Js 10.3,31) fica na Shefelá, a oeste de Hebrom. Foi fortificada por Roboão (2Cr 11.9), capturada pelo rei Senaqueribe (2Rs 18–19), tomada mais tarde pelos babilônios (Jr 34.7) e habitada até depois do exílio (Ne 11.30). Era uma das cidades-fortalezas que guardavam os acessos à região montanhosa. Foi escavada na década de 1930 e de 1970 e 1980. A história de Laquis remonta a 8000 a.C.. Os egípcios exerceram muita influência no local no Período do Bronze Médio e Posterior. Entre as desco­bertas importantes destacam-se um templo cananeu do Bronze Posterior e um palácio do período israelita (Idade do Ferro). Foram encontrados muitos selos, escaravelhos e registros de impostos egípcios, vários selos hebraicos, pesos, alças de vasos com inscrições. As cartas de Laquis são óstraca (cacos de cerâmica com informações) em hebraico. São 18 cartas que discorrem sobre a conquista babilônica de Judá em 586/7 por Nabucodonosor.
20. Os Papiros do Novo Testamento. Os papiros são os testemunhos mais antigos do Novo Testamento e datam dos séculos II e III dC. Os mais importantes, que levam o nome de seus descobridores ou do local onde foram achados, são: 1) O Fragmento John Rylands, encontrado em 1930, chamado p52, (trechos de João 18), de cerca de 130 dC. 2) Os papiros de Oxirrinco, diversos manuscritos encontrados no Egito em 1898. Datam principalmente do século III dC. 3) Os papiros Chester Beatty, p45, p46 e p47, contendo a maioria do NT, de cerca de 250 dC. 4) Os papiros Bodmer, p66, p72 e p75, contendo grande parte do NT, de cerca de 175-225 dC.
21. Os Pergaminhos do Novo Testamento. Escritos em couro de ovelha (ou cabra), são os Manuscritos Unciais, assim chamados porque foram escritos com letras maiúsculas. Os códices (cópias completas do NT) mais antigos são o Sinaítico, o Vaticano e o Alexandrino. O Sinaítico foi descoberto em 1844 pelo conde Tischendorf e data da primeira metade do século IV dC. Já o Vaticano, ainda que conhecido desde 1475, arquivado na Biblioteca do Vaticano, só foi publicado em 1889-1890.
22. Cafarnaum e sua Sinagoga. Esse sítio arqueológico à margem noroeste do lago da Galiléia, é destacado no Novo Testamento (Mt 4.13; 8.5; 11.23; 17.24), em Josefo e no Talmude. As escavações começaram em 1856 e continuaram a partir de 1968. Há uma sinagoga do segundo século d.C., de pedra calcária branca, que tinha um salão com colunas com três portas do lado sul na direção de Jerusalém, galerias superiores e um salão comunitário (ou escola) com colunas no leste. Escavações recentes mostraram que sob a estrutura atual havia uma sinagoga mais antiga de pedras pretas de basalto com paredes de mais de um metro de espes­sura. Amostras de cerâmica encontradas no piso de basalto e debaixo dele mostram que essa sinagoga era do primeiro século d.C. ou antes. Essa sinagoga mais antiga sem dúvida é aquela em que Jesus pregou (Mc 1.21), a sinagoga construída para os judeus pelo centurião romano (Lc 7.1-5).
23. O templo de Diana.  Em 1869 foi encontrado o templo da deusa Ártemis (Diana) na cidade de Éfeso, mencionado em Atos 19.

A CONCLUSÃO DAS DESCOBERTAS

            A vasta gama de achados arqueológicos pertinentes ao mundo bíblico sem dúvida trouxe muita informação importante a respeito das narrativas sagradas do mundo judaico-cristão. Algumas conclusões são inequívocas e merecem destaque:

1.    A arqueologia revelou que o Israel bíblico pertenceu ao mundo semítico, com o qual tinha muitas semelhanças lingüísticas e culturais. A compreensão desse universo permite um entendimento mais correto do Antigo Testamento.
2.    A arqueologia comprovou em muito a historicidade bíblica. Dezenas de lugares e fatos anteriormente contestados por críticos céticos foram mais do que comprovados pela pesquisa arqueológica. Nas palavras do naturalista Werner Keller “A Bíblia tinha Razão”.
3.    O estudo da arqueologia não resolve todas dificuldades bíblicas. Todo achado arqueológico exige interpretação. Além disso, há dificuldades ainda não resolvidas plena e satisfatoriamente como os casos de Jericó e da cidade de Ai.
4.    Os achados arqueológicos desmontaram o historicismo, o liberalismo clássico e o anti-semitismo que influenciaram muito da literatura crítica do século XIX. Os paralelos entre a literatura babilônica e hitita dos séculos XVIII e XVII a.C. e o Pentateuco estão confirmados.
5.    A arqueologia trouxe muita luz sobre a preservação da Bíblia. Centenas de manuscritos confirmaram que o texto bíblico foi mais preservado que qualquer outro documento antigo da humanidade. Os Manuscritos do Mar Morto são a maior prova disso.

Bibliografia e Literatura Recomendada:

Dockery, David S. et alli. Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Edições Vida Nova, 2001
Cook, Randall. Jerusalém nos dias de Jesus. São Paulo: Edições Vida Nova, 1993.
Lasor, William S. et alli. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
Millard, Allan. Descoberta dos Tempos Bíblicos: São Paulo: Editora Vida, 1999.
Paroschi, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento: São Paulo: Edições Vida Nova, 1993.
Sayão, Luiz. NVI: A Bíblia do Século 21. São Paulo: Vida/Vida Nova, 2001.
Unger, M. Arqueologia do Velho Testamento. São Paulo: IBR, 1973.
Walton, J. O Antigo Testamento em Quadros. São Paulo: Editora Vida, 2001.

Por Luiz Sayão