DESAFIADOS A LEVAR O IDE AO MUNDO


A Palavra de Deus nos convoca para sermos sal da terra(carne) e luz do mundo(trevas), mas muito têm medo de sair de dentro de Igreja e ir na casa dos Zaqueu e ali se perderem vendo as prostitutas, as jogatinas, a bebedices. Jesus era chamado por muitos de glutão e beberrão, porque ia onde o pecador estava, no lamaçal, e dali arrancava o peixe. A sua santidade fazia Ele ter segurança e ir sem medo, sabendo ser Ele o sal que ia contagiar e não carne que seria contagiada. Como disse Paulo: me faço como se fosse pecador para ganhar os pecadores. A melhor tradução que temos para o Ide é Indo, significando que onde estamos devemos “fazer a diferença“ e essa mudança a ser notada em nós não são os modelos de gravatas, o comprimento das saias ou o estilo dos cabelos, a embalagem não provoca mudanças, aliás ela é lançada fora assim que consumismo o produto, nem as cascas dos alimentos costumam ser consumidas, antes o interior é absorvido. Santidade não é uma vestimenta, Jesus foi crucificado “semi nu“ e não diminuiu sua ligação com Deus, santidade é estar conectado a Deus, recebendo a influência, a seiva, assim como os galhos recebem da Videira a Vida, e portanto, estar habilitado a ir em qualquer lugar e ali ser o que de fato se é: imitador de Cristo, fruto do Salvador, pequeno Cristo, pequeno Salvador ao contar a Boa Notícia. Somos chamados para Salvar o mundo, não mais pelo sacrifício, esse já foi feito pelo Messias, mas pela pregação do feito a todas as criaturas da terra. 

A Igreja precisa chorar com os que choram e rir com os que se alegram, ir aos velórios e festas, se fazer de bobo para ganhar o tolo, porque o homem que ainda não sabe usufruir da dádiva de estar acessado diretamente ao Seu Criador, é um tolo, um perdido, alguém que não sabe de fato para que veio a terra e o que está fazendo da vida que lhe foi concedida.

A Igreja precisa estar nas favelas, no meio dos catadores de reciclagem, no meio dos sem teto, no meio dos estudantes, até mesmo, se for preciso, na portaria de um motel, cercando a carne e salgando, atravessando as regiões de trevas(pecado) com a luz e tirando as pessoas das mãos daquele que as estraga por não terem sal e as cega por não terem luz para ver. A Igreja precisa deixar de lustrar os bancos, fazer cultos todos dias e dizer que são para adorar a Deus, quando não fazem o que de fato Deus quer que façam e por isso deu Seu Único Filho, para Salvar, Pescar almas de homens, invadir o território da sujeira e tirar de lá pessoas sujas e as levar para lavar nas águas do batismo...aleluia!!!

A Igreja/Templo, o monte, a comunhão, a ceia, são momentos onde como carros vamos aos postos de gasolina e ali pegamos o combustível, trocamos o óleo, os filtros, calibramos os pneus, pagamos com dízimos e ofertas, mas a finalidade é pegar a estrada e destino tem que ser onde a ovelha perdida está e o trabalho deve ser buscar ela, limpar, falar do Amor de Deus, preparar como quem fabrica mais um carro para se colocar a serviço do Reino. Vrummmmm....vamos buscar os perdidos Igreja!!!aleluia!!!


A RELAÇÃO DA TEOLOGIA COM MISSÕES


Tenho trabalhado com evangelismo por mais de 10 anos. Mas poderia dizer que, de certa forma, meu ministério sempre foi evangelismo ou relacionado com evangelismo. Eu me lembro de, mesmo como Testemunha de Jeová, estar me preparando para compartilhar “as boas novas do Reino de Jeová”. Depois, quando me converti ao verdadeiro cristianismo, uma das primeiras atividades que me envolvi foi o evangelismo do 15 de Novembro (não tão logo, já que me converti em janeiro). Tentei um pouco me envolver com música, o que até obtive um certo êxito, mas logo fui para o ministério de teatro Grupo Mensagem e grande parte das apresentações eram fora da igreja. Era uma forma de apresentar o evangelho sem me envolver diretamente com as pessoas. Alguns anos depois e em outra igreja, me envolvi com a Jocum e mergulhei diretamente no evangelismo. E isso já faz mais de 10 anos.

Em toda essa jornada, o foco sempre foi no “fazer evangelismo”. Como sair pra rua, como abordar as pessoas. O que falar? O que não falar? Resumidamente: como aplicar o evangelismo à minha vida?

Essa é uma pergunta importante, sem a menor sombra de dúvidas. As pessoas sempre me perguntam sobre isso quando falamos sobre evangelismo. Mas pouca gente nesses anos já me perguntou sobre “a teologia do evangelismo”. Existe interesse na aplicação. Mas poucos percebem que antes da aplicação, vem o conhecimento.

Trabalhei com muitos missionários, de vários países, de muitos ministérios. Poucos demonstravam essa preocupação. Talvez isso tenha a ver com um certo desdém que o movimento evangélico tem em relação à teologia. Muitos a consideram como uma forma de “racionalizar” a fé. Eu também já pensei assim. Talvez também tenha algo a ver com um hábito da igreja do entender a Bíblia como um grande livro de aplicações, com textos soltos (versículos) que possuem aplicações imediatas sem grande reflexão. Eu também já pensei assim. Seja qual for a razão, essa falta de pensamento teológico em relação ao evangelismo trabalha contra o próprio empreendimento do evangelismo.

Mas evangelismo não é só falar para as pessoas “Jesus te ama” e “você pode aceitar Jesus em seu coração” fazendo a “oração do pecador”? Não, evangelismo não é só isso. É muito mais do que isso.

A teologia é essencial para o evangelismo. A teologia motiva, dirige e sustenta o cristão na hora de compartilhar sua fé.

Ela motiva quando nos diz porque devemos evangelizar. Muitos não se preocupam em pregar o evangelho simplesmente porque ignoram (ou querem ignorar) o destino final daqueles que morrem em seus pecados (Hebreus 10:31; Marcos 9:47). Nos motiva quando nos comanda a pregar o evangelho (Mateus 28:19; Marcos 16:15 e outros), quando nos informa que há alegria no céu em relação ao pecador que se converte (Lucas 15:7), quando nos diz que aqueles que amam Jesus obedecem seus mandamentos (João 14:21).
A teologia nos dirige no evangelismo quando nos informa sobre o que é a salvação (2 Coríntios 5:21), do que somos salvos (Romanos 1:18), por quem somos salvos (Atos 13:23), para o que somos salvos (2 Timóteo 4:18) e como devemos responder a essa salvação (1 Pedro 4:10). Nos dirige quando declara que a Lei do Senhor é perfeita e converte a alma (Salmo 19:7) e nos mostra que quem converte o ser humano não somos nós, mas o Espírito Santo (João 16:8). Nos dirige prevenindo o erro na apresentação do evangelho (Gálatas 1:7).

E ela nos sustenta quando declara quem é Deus (Deuteronômio 6:4), quem é Jesus (Mateus 16:16), quais são as nossas crenças (1 Pedro 3:15) e nos guarda de ser enganados. Nos sustenta quando nos defende de crenças erradas e nos dá confiança para proclamar a mensagem do evangelho (Romanos 1:16).
Só poderemos ter uma correta aplicação do evangelismo quando tivermos crenças corretas em relação ao cristianismo. Sem teologia, o evangelismo é fraco, supérfluo e ineficaz. Causa medo, insegurança e desinteresse naqueles que deveriam fazê-lo.
A crença correta, leva a prática correta. Uma teologia correta, leva a um evangelismo correto.

Se você quer ser um servo melhor, que maneja bem a Palavra da verdade (2 Timóteo 2:15), prepare-se. Estude teologia e leve essa teologia para a rua.
Quero terminar com uma frase de J. I Packer sobre esse assunto. A relação de dependência entre teologia e evangelismo. Um precisa do outro.

“Evangelismo e teologia na maioria das vezes andam em caminhos separados e o resultado é uma grande perda para ambos. Quando a teologia não é mantida no curso pelas demandas da comunicação evangelística, ela cresce abstrata e especulativa, desobediente em seus métodos, teórica em interesse e irresponsável em sua postura. Quando o evangelismo não é fertilizado, alimentado e controlado pela teologia, se torna uma performance estilizada buscando seus efeitos através de habilidades manipulativas ao invés do poder da visão e da força da verdade. Tanto a teologia quanto o evangelismo, de forma importante, se tornam irreais, falsos à própria natureza que Deus lhes deu; toda a verdadeira teologia tem uma impulsão evangelística e todo verdadeiro evangelismo é teologia em ação.”



Este artigo foi enviado por maurilo, fonte: pesevangelismo.blogspot.com.br 

UMA ANÁLISE SOBRE OS PRINCÍPIOS MORAIS DE CRESCIMENTO DA IGREJA NA ATUALIDADE


Por Matheus Negri

Este breve ensaio é resultado de reflexões a partir da prática do autor e de debates com pares na academia e no diálogo com membros e participantes das mais variadas denominações. Das conversas surge a questão: o quanto a igreja deve se apropriar das técnicas do mercado para avaliar seu desempenho? Quais os resultados que devem ser cobrados? Nota-se um grande apelo ao número de membros ou participantes, e o uso de teorias, métodos e técnicas desenvolvidas no âmbito do mercado para alcançar o objetivo.
O que se propõe é apresentar, através de uma metodologia simples, adotada muitas vezes pela teologia prática – ver, julgar e agir –, o desafio da moral do mercado colocado à administração eclesiástica hoje, buscar um resgate na moral[1] bíblico-cristã, e propor caminhos práticos para a aplicação dessa moral.

A PRESENTE SITUAÇÃO DA IGREJA E SEU CONTEXTO

Através da metáfora do líquido, Z. Bauman[2] explica contexto contemporâneo. Para ele a liquidez explicaria de modo mais adequado a dificuldade de se padronizar ou “encaixotar” os ideais contemporâneos que conflitam, de certa maneira, com a solidez da modernidade passada. A liquidez, ou fragmentação da cultura ocidental, a partir do século XX, tomou proporções assustadoras, devido às duas grandes guerras, às lutas pelos direitos civis, a queda do regime comunista, e os avanços da tecnologia da informação. O ocidental tornou-se um verdadeiro cidadão do mundo, conhecedor da vida íntima das celebridades nacionais e internacionais, sabendo mais das mudanças climáticas da Antártida do que sabe sobre o manual de sua televisão. A partir do final do século XX, constata J. Arduini, juntamente com a intensificação da informática e os avanços da internet, houve uma intensa globalização neocapitalista e um surto místico-psíquico-religioso.[3]

Essas mudanças, como é de se esperar, causam um impacto profundo no ser humano, suas relações e em suas concepções sobre a cultura, a ciência, a técnica e a moral.[4] Trata-se de uma mudança que, no dizer de Arduini, leva a preferir a intuição à racionalidade, a experiência subjetiva aos sistemas metafísicos, a cultivar o emocionalismo, o sincretismo, o prazer, e em contrapartida a tolerância à economia, que de maneira imoral, deteriora populações inteiras.[5] É desafiante o complexo quadro instaurado no ocidente acerca das instituições garantidoras de referenciais para a sociedade (política, família e religião).

Neste quadro está inserida a igreja, que de maneira nenhuma passa imune ao seu tempo e a decorrente liquidez. E é neste contexto que a administração eclesiástica se inscreve. Aparentemente um caminho se impõe à igreja neste momento: abraçar a cultura globalizada neocapitalista. Adentrando a lei do mercado, que segundo Bauman é marcada pela produção e consumo imediato.[6]

Ao assumir a cultura neocapitalista tende a se autocompreender como uma empresa, dessa forma as bases em que fundamenta suas ações estão ligadas não nas Sagradas Escrituras, mas as normas da efetividade impostas pelo mercado, como teorias da administração e marketing. E como bem salienta Michel Sandel[7], não há um limite claro sobre a moralidade do mercado. Que para Bauman e Donskis[8] se manifesta na perda da sensibilidade diante do imperativo do consumo e a consequente falta de critérios. E esse sintoma pode ser percebido por algumas estruturas denominacionais que trabalham por franquias, e não medem esforços para angariar fundos. Ou ainda no forte apelo para o crescimento numérico de membros e participantes, julgando assim que por meios mercadológicos de oferta e procura, qual é a melhor igreja. Tema muito presente na literatura focada em evangelismo e pela contemporânea matéria, em seminários e faculdades de teologia, intitulada crescimento de igreja.[9]

Como afirma João R. Buhr[10], “Para conseguirem aumentar de tamanho, muitas vezes, são administradas como empresas. É cada vez mais comum aplicar métodos empresariais para obter resultados satisfatórios”. E a resultante da apropriação deste método é demonstrada por Buhr no sofrimento dos pastores. E acrescento aqui não só o sofrimento dos pastores, mas também de toda a comunidade que sofre juntamente com a pressão por resultados.

Faz-se necessário perguntar se esta situação deve ser aceita ou refutada? O que proponho neste caminho de liquidez é o encontro de uma rocha forme. Mesmo que o tempo presente seja marcado pela moral do mercado, a igreja deve ser marcada pela moral bíblica, e nela ter o seu fundamento. Vejamos então a moral cristã.

A MORAL CRISTÃ A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE CRISTO

A fé cristã é elaborada a partir da vida e dos ensinamentos de Jesus de Nazaré que estão reunidos num conjunto de quatro livros bíblicos chamados de Evangelhos. Jesus Cristo é tido como o filho de Deus encarnado, o Messias prometido e esperado pelo Antigo Testamento, qual libertaria o seu povo da tirania na fundação de um reino de paz e amor. No seu tempo de vida e ministério na terra percorre as ruas da Palestina pregando o evangelho das boas novas, anunciando a chegada do Reino de Deus. Cristo resignifica as antigas leis judaicas, dadas por Deus no monte Sinai para Moisés, não as invalida, mas apresenta que a lei mais importante é o amor. Aqui está a novidade trazida que os homens deveriam amar a todos, inclusive seus inimigos.

No cristianismo a conduta do homem deve ser guiada pela compaixão e misericórdia, da mesma forma que encontramos na moral hebraica. Um bom exemplo é o evangelho de Mateus, nele o evangelista organiza as boas novas de Cristo em cinco ciclos de discurso. No primeiro ciclo encontramos uma sequencia de capítulos conhecido como Sermão da Montanha, Mateus 5-7, no qual podemos observar que existe uma inversão de valores, pois inicia com as, Bem Aventuranças, valorizando os pobres de espírito, os que choram, os humildes, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores, os perseguidos e todos os que sofrerem pelo nome de Cristo. A todos estes é prometido consolo, paz e felicidade no Reino de Deus. Confira o texto:

Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo: “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos. Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus. “Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mateus 5.1-12).

Cristo afirma também que a justiça de seus seguidores deve ser superior a dos fariseus, os líderes judaicos conhecidos por sua rigorosa prática religiosa, e que sua conduta deveria ser de humildade, pois assim seriam exaltados no Reino (Cf. Mateus 5.17-20). Neste capítulo cinco ensina que a ira possui o mesmo peso do homicídio. O adultério é cometido pela intenção do coração e não pela prática do ato. E de forma espantosa o amor deve ser a todos, inclusive aos inimigos, visto que neste momento Israel pertence a Roma e sofre com a invasão e perseguição. Coloca assim que o cristão ao ser agredido deve dar a outra face e não buscar a vingança, pois seu padrão de conduta é a próprio Deus (Cf. Mateus 5.21-47).

Jesus ensina ainda que os dois maiores mandamentos são amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo:

Respondeu Jesus: “‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mateus 22.37-40).

Assim por esta nova lei, a do amor, Cristo apresenta um novo projeto de vida para seus seguidores, abrindo um novo campo na moralidade não sendo somente externa, mas interna partindo das intenções do ser humano. Estritamente teocêntrica, o centro está, então, para as intenções do discípulo.

O projeto de vida dos antigos gregos era baseado na felicidade (eudaimonia) na polis. Dos quais Aristóteles afirma “todo o saber e toda intenção têm um bem por que anseiam […]. Tanto a maioria como os mais sofisticados dizem ser a felicidade, por que supõe que ser feliz é o mesmo que viver bem e passar bem”[11], felicidade está posta como um esforço político por parte do homem em suas ações[12]. Já o seguidor de Cristo tem sua felicidade em uma vida futura. Esta sua nova vida começa agora e é fundamentalmente marcada pelo amor e compaixão. Ele espera ansioso, em meio aos sofrimentos, a volta de seu Senhor e a manifestação pela de seu Reino eterno (Cf. Romanos 8.18-25).

Cristo levou seus ensinamentos até as últimas consequências. Sofreu uma morte de cruz e assim afirmando que o mais importante é o amor, pois do que explica o apóstolo Paulo em sua carta aos romanos: “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5.8).

Passamos agora a considerar o legado desta nova moral no mundo em que estava inserido. Um projeto audacioso como este e de sua magnitude de forma nenhuma pode passar despercebido e nem deveria. Jesus afirma no fim do Evangelho de Mateus que suas palavras deveriam ser ensinadas a todos, temos um projeto de vida para toda a terra, e não somente para um seleto grupo de pessoas. Nas palavras do evangelho: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que lhes ordenei” (Mateus 28.19,20).

CAMINHOS PRÁTICOS

Baseado, então, nos ensinamentos dos evangelhos e dos apóstolos, que se encontram nos outros livros do novo testamento, e a partir da uma experiência de Jesus do Antigo Testamento, temos que o projeto de vida cristã para o ser humano é composto da seguinte maneira: quanto a sua existência deve ser para a glória de Deus (Cf. 1 Coríntios 10.31); quanto ao seu relacionamento com as outras pessoas, independente com quem e onde esteja, deverá seguir a regra do amor incondicional (Cf. Mateus 22.36-40); sua relação com a natureza e o mundo criado deverá seguir a lei do amor e do respeito, visto que ele é criação de Deus e ele, o ser humano, é posto como um administrador (Cf. Gênesis 2.15); e quanto a morte esta é somente uma passagem para a verdadeira vida, a eterna, no qual aquele que seguir o projeto de vida da moral cristã terá a paz e o consolo prometidos, já os que não o fizeram passarão a eternidade em sofrimento (Cf. Apocalipse 21.1-8).

Desta maneira encontramos um fundamento moral inegociável para a igreja, como afirmou o Concílio Vaticano II: peregrina e por natureza missionária.[13] Como peregrina ela está atravessando o tempo e não presa a ele. Por isso não pode se deixar dominar pelas estruturas e visões preponderantes, ou imperativas, de determinada cultura. Mas sim agir a partir de sua natureza como uma missionária que traduz a sua mensagem, de tal forma que aqueles que passam por seu caminho são transformados a partir do fundamento de Cristo. Essa transformação é profunda e trabalha no interior do ser, transformando a cosmovisão, aquilo que baliza o agir.

O retorno ao fundamento bíblico-moral da igreja é um imperativo, visto que a crise de sua identidade é geradora da falta de credibilidade diante da sociedade, de dar respostas insuficientes ao sofrimento econômico, ao desespero das massas, a intolerância religiosa, que num crescente protagoniza o empoderamento dos discursos de ódio. E por fim, responder a sociedade brasileira por meio de uma teologia pública que contemple a política apartidária. Mesmo a situação vigente sendo imperativa, algumas dicas e são bem vindas.
Em primeiro lugar, ampliar o debate. Os teólogos e pastores precisam levar o debate sobre a igreja, sua função e fundamento, para os leigos. De forma que todo o corpo vivo de Cristo possa refletir sobre sua práxis. A partir de livre exame das escrituras constatar, e obviamente encorajar, a reflexão profética da realidade.

Em segundo lugar, fazer uma diagnóstica da realidade. Para Dunker a “’racionalidade diagnóstica’ opera cifrando, reconhecendo e nomeando o mal-estar em modos mais ou menos legítimos de sofrimento, e secundariamente, estipulando, no interior destes, as formas de sintoma”.[14] Assim a igreja precisa identificar a articulação entre sintoma, sofrimento e mal-estar. Saber onde ela pode ser a resposta e onde ela é a causadora do sofrimento.

Em terceiro lugar, deixar o método. Coma importação irrefletida da teologia, ou prática, evangelical norte-americana o método torna-se o fim em si mesmo. De forma que os líderes eclesiásticos e o povo da igreja são apenas usados para atingir metas e números. A partir de técnicas utilitaristas a pessoa humana é diluída em cálculo frio e vil. O método deve ser deixado de lado e as palavras e prática de Jesus devem ocupar o seu lugar por definitivo: a salvação do sujeito, de maneira integral, é o começo, o meio e o fim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A igreja fundada por Cristo com o passar do tempo teve muita dificuldade em manter suas raízes e fundamentos. Seguidamente procurou sempre se adaptar a cosmovisão vigente. Martin Dreher[15] destaca a tradução da fé inicial dos cristãos palestinos para a cultura helênica, depois a latinização dos pais apostólicos, a germanização decorrente das invasões e missões ao povo bárbaro, os conflitos da reforma e contra-reforma, o advento do iluminismo e hoje destacamos a absorção, inacreditável, da moral relativista e insensível do neocapitalismo pós-moderno.

Nossa abordagem procurou apresentar à realidade imposta à igreja e, à luz da Palavra de Deus, repensar novas soluções para os novos desafios ligados à moral neocapitalisa que adentrou os portões das igrejas evangélicas brasileiras. Esses desafios são novos e decorrentes da pós-modernidade, e têm atravessado diversas denominações. A partir desses, pode-se pensar uma moral bíblica para a igreja fundamentada nas palavras de seu Senhor e Salvador.

REFERÊNCIAS

ARDUINI, Juvenal. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade. São Paulo: Paulus, 2002.
ARISTÓTELES. Ética a Nicomaco. São Paulo: Editora Atlas, 2009.
BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão Internacional. Sociedade Bíblica Internacional. São Paulo: Editora Geográfica, 2000.
BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
________________. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BAUMAN, Zigmunt; DONSKIS, Leonidas. Cegueira Moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
BUHR, João R. Igrejas ou empresas? Uma breve reflexão sobre o sofrimento causado a pastores quando igrejas são tratadas como empresas. Protestantismo em Revista, Vol. 40 (2016
DREHER, Martin N. História do povo de Deus: uma leitura latino-amaricana. São Leopoldo: Sinodal, 2011.
DUNKER, C. I. L. Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil ente muros. São Paulo: Boitempo, 2015.
MONDIN, Battista. Antropologia teológica. São Paulo: Paulus, 1979.
MUZIO, Rubens. O DNA da Igreja: comunidades cristã transformando a nação. Curitiba: Esperança, 2010.
SANDEL, Michael. O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
VATICANO. Documentos do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 2002.
NOTAS
[1] Moral, que possui sua raiz no termo latino, mores (hábitos, costumes). Por isso é possível falar de uma moral cristã, estes são os costumes e hábitos próprios desta religião.
[2] BAUMAN, 2001, p. 9.
[3] ARDUINI, 2002, p. 13.
[4] MONDIN, 1979, p. 46.
[5] ARDUINI, 2002, p. 13.
[6] BAUMAN, 2009, p. 8,9.
[7] SANDEL, 2012, p. 19.
[8] BAUMAN,DONSKIS, 2014, p. 158.
[9] MUZIO, 2010, p. 161.
[10] BUHR, 2016, p. 111-122.
[11] ARISTÓTELES, 2009, p. 20.
[12] ARISTÓTELES, 2009, p. 37
[13] VATICANO, p. 314.
[14] DUNKER, 2015, p. 20.
[15] DREHER, 2011.



A INTOLERÂNCIA DA TOLERÂNCIA



Por Greg Koukl

Traduzido por Semi Chung Azeka – Artigo original aqui.

Provavelmente nenhum outro conceito tem tido mais peso em nossa cultura do “politicamente correto” do que a noção de tolerância. Infelizmente, uma das mais nobres virtudes da América tem sido tão distorcida que se tornou um vício.
Existe um mito moderno que sustenta a ideia de que a verdadeira tolerância consiste em neutralidade. É um pressuposto que tem se arraigado numa sociedade enraizada no relativismo.

Uma pessoa tolerante ocupa um terreno neutro, um lugar de completa imparcialidade na qual é permitido cada pessoa decidir por si só. Nenhum julgamento é permitido. Nada de “forçar” pontos de vista pessoais. Cada um toma uma postura neutra para as convicções de outro.

Esta abordagem é bem comum entre os pós-modernos, uma geração de céticos radicais cujas ideias comandam o respeito injustificado nas universidades hoje. Seu grito de guerra, “Não existe uma verdade”, é muitas vezes acompanhado de um apelo à tolerância.
Para todos os seus tumultos, berros e violência, o apelo do relativista afirma duas verdades, uma racional e uma moral: a primeira é a “verdade” de que não há verdade, a segunda é a verdade moral de que se deve tolerar o ponto de vista de outras pessoas. Sua postura, contraditória em pelo menos dois pontos, serve como alerta de que a noção moderna de tolerância é seriamente equivocada.

Três elementos da tolerância
Muitas pessoas estão confusas sobre o que vem a ser a tolerância. De acordo com o dicionário Webster’s New World Dictionary, Second College Edition, a palavra tolerar significa deixar ou permitir, reconhecer e respeitar crenças e práticas de outros sem compartilhar delas, suportar ou aguentar alguém ou algo que não necessariamente gostou.
Tolerância, portanto, envolve três elementos: (1) deixar ou permitir (2) uma conduta ou ponto de vista de alguém que não concordamos (3) enquanto respeitamos a pessoa durante o processo.

Notem que não podemos tolerar alguém a menos que discordemos dele. Isso é crítico. Nós não “toleramos” pessoas que compartilham dos mesmos pontos de vista dos nossos. Eles estão no nosso lado. Não há nada a se fazer a respeito. Tolerância é reservada para aqueles que pensamos estarem errados.

Esse elemento essencial da tolerância – desacordo – foi completamente perdido na distorção moderna do conceito. Hoje em dia, se você pensa que algo está errado, você é chamado de intolerante.

Isso apresenta um problema curioso. Uma pessoa precisa, primeiramente, pensar que outro está errado para poder praticar a tolerância com ele, ainda assim, ao fazê-lo, acusam-no de intolerância. É um “catch-22”. De acordo com essa abordagem, a verdadeira tolerância é impossível.

Três faces da tolerância

Somando a essa confusão, é o fato de que a tolerância pode ser aplicada a diferentes coisas – pessoas, condutas, ideias – e as regras são diferentes para cada uma delas.
Tolerância às pessoas, o que poderíamos chamar de “civilidade”, pode ser equiparado com a palavra “respeito”. Esta é a definição clássica de tolerância: a liberdade de expressar as ideias sem medo de represálias.

Respeitamos aqueles que sustentam crenças diferentes das nossas tratando-os com cortesia, dando um espaço aos seus pontos de vista no debate público. Nós até podemos discordar fortemente e contestar vigorosamente contra eles no debate público, mas ainda assim mostrar respeito pelas pessoas, apesar das diferenças.

Note que o respeito é concedido à pessoa. Se seu comportamento deve ser tolerado é uma questão completamente diferente. Este é o segundo sentido da tolerância, a liberdade de agir, chamada tolerância ao comportamento. Nossas leis mostram que um homem pode acreditar no que gosta – e ele geralmente tem a liberdade de expressar essas crenças – mas pode ser que não seja permitido agir de certas maneiras que ele gostaria. Algumas condutas são imorais ou ameaçam o bem comum. Em vez de ser tolerado, ele é restringido pela lei. Nas palavras de Lincoln: “Não há o direito de fazer o mal”.

Tolerância à pessoa precisa ser distinguida da tolerância às ideias. A tolerância às pessoas exige que as opiniões de cada pessoa recebam uma audiência cortês, e não que todas as visões tenham o mesmo valor, mérito ou veracidade. A visão de que as ideias de ninguém são melhores ou mais verdadeiras do que as de outro é irracional e absurda. Argumentar que alguns pontos de vistas são falsos, imorais ou simplesmente tolos, não viola nenhum padrão significativo de tolerância.

Essas três categorias são freqüentemente misturadas por mentes confusas. Se alguém rejeita as ideias ou comportamentos de outro, ele é automaticamente acusado de estar rejeitando e desrespeitando a pessoa. Falar que sou intolerante à pessoa porque discordo com suas ideias é confuso. Nesta visão de tolerância, nenhuma ideia ou comportamento pode sofrer oposição, independente de quão graciosamente seja feita, sem convidar a acusação de incivilidade.

Historicamente, nossa cultura tem enfatizado a tolerância às todas as pessoas, mas nunca tolerância à todos os comportamentos. Esta é uma distinção crítica porque, na retórica atual do relativismo, o conceito de tolerância é freqüentemente usado em defesa para comportamentos como: sexo antes do casamento, o aborto, a homossexualidade, o uso de pornografia, etc. As pessoas devem ser capazes de se comportar da maneira que desejam num amplo quadro de limites morais, os argumentos continuam.

Ironicamente, porém, há pouca tolerância para a expressão de ideias contrárias sobre questões de moralidade e religião.  Se alguém defende uma visão diferente, ele é violentamente censurado. A questão da tolerância tem, portanto, sido muito contraditória e incoerente: tolerar a maioria dos comportamentos, mas não tolerar crenças opostas sobre esses comportamentos. Opiniões morais contrárias são rotuladas como “impor sua visão sobre outros”.

Ao invés de ouvir, “Eu respeito seu ponto de vista,” aqueles que se diferenciam por serem “politicamente incorretos” são chamados de intolerantes, retrógrados e opressores.
Um caso pontual foi um ataque feito ao meu jornal comunitário sobre os cristãos que estavam desconfortáveis com a pressão social para aprovar a homossexualidade. Escrevi a seguinte carta ao editor para mostrar como a noção moderna de tolerância foi distorcida em um vício em vez de uma virtude:

Caro Editor:

Estou grandemente surpreso em ver como residentes de South Bay são intolerantes em relação à moralidade dos outros, mas não com a sua. O último artigo da semana passada sobre homossexualidade foi exemplo disso. Um escritor até sugeriu que a censura alternasse opiniões.

Essa atitude de pequenez mental e auto-justificada sobre ética sexual é hipócrita. Eles desafiam o que eles enxergam como ódio (costumava-se a chamar de moralidade) com ataques ácidos e vitrílicos. Eles condenam a censura pedindo por censura (há uma diferença). Eles acusam outros de intolerância e fanatismo e em seguida repreendem essas mesmas pessoas por terem uma visão contrária a sua.

Por que alguém é atacado de forma tão violenta simplesmente por afirmar orientações morais sobre sexo que nos mantiveram em bom lugar por milhares de anos?
Não somente isso, as objeções são autodestrutivas. Os escritores implicam que todos deveriam ter o direto de fazer e acreditar no que quiserem e que não se deve permitir alguém forçar seu ponto de vista sobre outros. Mas esse é o ponto de vista deles, que eles imediatamente tentam forçar em seus leitores de forma abusiva.

Aqueles com crenças opostas foram rotulados na imprensa como fanáticos, covardes, desrespeitosos, desprovidos de coragem, abomináveis, temíveis, indecentes, ligados ao KKK, e – você pode acreditar – intolerante.

Por que não abandonamos todo esse absurdo sobre tolerância e abertura de mente?É enganoso porque cada um tem seu ponto de vista que pensa estar correto. O real problema é sobre qual tipo de moralidade nossa sociedade deve encorajar e se essa moralidade é baseada em fatos e raciocínio sadio ou retórica vazia.

Covardia Intelectual

A maior parte do que se passa por sendo tolerância hoje, não é de maneira alguma tolerância, mas sim desonestidade intelectual. Aqueles que se escondem atrás do mito da neutralidade geralmente estão com medo de se engajar intelectualmente (inteligentemente). Não querendo ser desafiado por pontos de vista diferentes, eles não se envolvem em opiniões contrárias ou nem ao menos as consideram. É mais fácil atirar um insulto – “seu fanático intolerante”- do que confrontar a ideia e refutá-la ou ser mudada por ela. “Tolerância” tornou-se intolerância.

A regra clássica da tolerância é essa: Tolerar as pessoas em todas as circunstâncias, dando-lhes respeito e cortesia mesmo quando suas ideias são falsas ou estúpidas. Tolerar (isto é, permitir) um comportamento que seja moral e consistente com o bem comum. Finalmente, tolerar (ou seja, abraçar e acreditar) ideias que são sólidas. Esta é ainda uma boa orientação.


CRISE DE IDENTIDADE NO MINISTÉRIO PASTORAL



Para especialistas, o descrédito da liderança evangélica perante a sociedade se deve em grande parte a deslizes éticos e morais cometidos pela própria Igreja.

Deu na CNN:
jovem pastor de uma das maiores denominações evangélicas da Austrália confessou ter mentido nos últimos dois anos para a igreja, família e amigos, dizendo que tinha câncer. Para se passar por doente em fase terminal, ele chegou a raspar o cabelo e as sobrancelhas e andava com um tubo de oxigênio ligado ao corpo. A farsa lhe rendeu milhares de dólares, arrecadados junto aos fiéis de sua igreja para o suposto tratamento, que nunca aconteceu. Segundo palavras do próprio impostor, o pastor Mike Guglielmucci, a “vida dupla” serviu, entre outras coisas, para ocultar seu maior pecado – o vício na pornografia, fato narrado na reportagem O Evangelho segundo o SexxxChurch, nesta edição. Rumorosas também foram as quedas de ícones dos púlpitos, como o televangelista americano Jimmy Swaggart, flagrado com prostitutas, ou o pastor brasileiro Caio Fábio D’Araújo Filho, um dos mais destacados líderes evangélicos já surgidos no país, que há exatos dez anos revelou um caso extraconjugal que abalou seu multifacetado ministério.


Se é verdade que todo o ser humano vive em crise de integridade desde o pecado original, também é fato que este mal nunca assolou tanto os líderes evangélicos, freqüentemente envolvidos em escândalos muito diferentes do “escândalo do Evangelho” citado pelo apóstolo Paulo. Coincidência ou não, recente pesquisa do Ibope revelou que o número de pessoas que não confiam nas igrejas evangélicas subiu de 41% para 44%, e o contingente de pessoas que confiam nelas caiu para 52 por cento. Segundo o instituto de pesquisas, isso fez com que as igrejas evangélicas despencassem da 8ª colocação para a 11ª posição entre as instituições mais confiáveis, atrás de instituições como a TV, empresas privadas e até dos produtores de soja.

Para o historiador Ziel Machado, secretário da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (CIEE), não há dúvida: a crise de integridade das lideranças religiosas é a principal responsável por essa queda na credibilidade das instituições evangélicas. Para ele, há outros termômetros tão precisos quanto as pesquisas para aferir isso. “Basta uma simples observada nas livrarias cristãs. Nunca se viu um volume tão grande de obras abordando essa temática da crise de integridade entre os pastores”, diz. O escritor Jaime Kemp, mestre em teologia e doutor em ministério familiar, é autor de duas dessas obras. Ele lançou, há algum tempo, os livros Pastores em perigo e sua continuação, Pastores ainda em perigo (Editora Hagnos), nos quais aborda o problema. “A Igreja Evangélica tem padecido com a escassez de integridade em sua liderança, seja em nível moral ou na vertiginosa e constante quebra dos relacionamentos familiares”, constata.

Kemp, que é referência no segmento evangélico brasileiro quando o assunto é família, identifica nessa crise um dos principais motivos do descrédito social em relação aos crentes, sobretudo em relação à sociedade em geral. “Essa triste realidade tem abalado a nossa credibilidade não somente nas igrejas, mas também em um mundo crítico e observador, que não perde as oportunidades, já volumosas, para tripudiar a Igreja de Cristo”, lamenta.

Mau testemunho – Para a professora Durvalina Barreto Bezerra, diretora e coordenadora de ensino do Seminário Evangélico Betel, a sociedade tem desacreditado da liderança evangélica por conta do péssimo testemunho de alguns, que não praticam o que pregam. “São pastores broncos, mal-formados, imaturos, que dão vexame na política e na televisão, com deploráveis deslizes éticos e morais”, critica. Segundo ela, esses pastores e líderes têm seguido o Evangelho sem observar os critérios estabelecidos por Cristo para uma vida moral e espiritual autêntica. “Querem as bênçãos divinas, mas não o compromisso com a verdade que transforma, com a vida moral exemplar e, mais do que isso – não querem andar como Jesus andou.”

É bem verdade que os escândalos de natureza sexual costumam provocar desastres dentro das igrejas, mas não chamam tanto a atenção de quem é “de fora” quanto outros tipos de deslizes. Afinal, a indissolubilidade do casamento não tem tanto apelo fora dos arraiais evangélicos. Desta forma, atos como malversação de recursos e exploração da boa-fé alheia rendem muito mais “frutos podres” para a Igreja. “Milagreiros, exploradores de dízimo, estelionatários, desrespeitadores de outras religiões: estas são algumas das alcunhas mais freqüentemente utilizadas pela opinião pública a fim de desqualificar um crescente número de pastores evangélicos Brasil afora”, aponta o psicólogo Ageu Heringer Lisboa, mestre em ciências da religião e um dos fundadores do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos, o CPPC. Para ele, o descompasso entre o inchaço da presença dos crentes na população e a questão ética ganhou maior dimensão no país a partir da década de 1950, com o início da predominância das teologias mais subjetivistas e emocionais, típicas do neopentecostalismo. “Da periferia do sistema, aos poucos eles chegaram às classes médias e à mídia. Sem o mínimo senso de obediência a um coletivo dirigente, por qualquer discordância alguém se desliga de um grupo e funda o seu próprio”, diz.

O terapeuta lembra que a natureza do trabalho pastoral, em sua acepção bíblica original, é a de alguém que vive em comunhão com Deus, é instruído nas Escrituras e tem vocação e preparo para cuidar de pessoas espiritualmente desorientadas e ensinar a Palavra. “Os termos ‘trabalho pastoral e terapêutico’ se assemelham semanticamente, significando cura ou cuidado com as almas. Isso traz uma exigência ética específica – a de que esses pastores se mantenham íntegros, moral e profissionalmente”, pondera. No entender de Ageu, é compreensível essa cobrança pelo lugar que pastores e líderes ocupam no imaginário popular. “Sacerdotes, desde tempos imemoriais, supostamente estão mais próximos da divindade ou conhecem o mundo espiritual. A população necessita de referenciais de integridade, precisa encontrar pessoas dignas no meio de tanta imoralidade e corrupção. Quando ocorre um pecado grave, como adultério ou falcatrua, isso desperta decepção, revolta e angústia no Corpo de Cristo”, completa.

Moralismo inútil – Para muita gente, a eclosão recente de escândalos entre a liderança religiosa pode ser apontada como sinal do fim dos tempos. E é evidente que eles não se resumem aos arraiais evangélicos. De uns anos para cá, o catolicismo tem sido abalado pelos casos de pedofilia envolvendo sacerdotes em diversos países, inclusive nos Estados Unidos, onde a Igreja Católica tem sido obrigada a arcar com indenizações milionárias às vítimas de abusos sexuais praticados por padres. No Brasil, costuma-se atribuir os problemas à liderança no meio pentecostal ou neopentecostal – o que é um preconceito, na avaliação do sociólogo Gedeon Alencar, diretor do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos (Icec), de São Paulo. “Clérigos, reverendos e outras sumidades tradicionalistas não agem muito diferente. A diferença é que uns são descobertos, outros não”, diz.

O sociólogo considera pretensioso e apressado o apontar culpados, coisa que invariavelmente se faz quando o tema “crise de integridade” vem à tona. “É preciso ter cuidado para não cairmos num moralismo inútil, como se, em geral, tivéssemos um povo puro, honesto e cumpridor de seus deveres, mas a liderança evangélica fosse péssima”, destaca. Sobre as pesquisas que mostram o crescente descrédito em relação à Igreja Evangélica e sua cúpula, Gedeon lembra que nas congregações existe gente comum. “E gente comum também comete erros”, pondera. “Daí, a credibilidade de todos vai por água abaixo.” Na mesma linha vai o psicólogo Ageu Lisboa: “Muitos líderes acabam escravizados ao medo de serem criticados, de não serem bons nem carismáticos ou não serem capazes de fazer a igreja crescer”, enumera. “Isso compromete sua saúde psicofísica, podendo afetar suas relações familiares, predispondo-os à depressão. Daí a largar tudo e se meter em aventuras financeiras e eróticas é um passo comum. Pastores assim precisam resgatar seu direito de serem gente comum, nem mais santos ou pecadores que os demais crentes”, completa.

O missionário Marcos Cunha, ligado ao ministério Servindo Pastores e Líderes (Sepal), segue a mesma linha de raciocínio. “Virou moda dizer-se evangélico, e isso atrai os holofotes para as igrejas e seus líderes, que são humanos como todos nós e sujeitos às mesmas tentações. No entanto, quando eles são expostos à crítica pública têm seus pecados superestimados”, diz. A Sepal, onde Cunha atua, presta diversos serviços à liderança cristã brasileira, incluindo trabalhos de mentoria espiritual, aconselhamento e reciclagem voltados para pastores e suas famílias. O obreiro reconhece ainda que é preciso levar em conta que a Igreja brasileira é muito nova, tendo se consolidado de fato no país apenas a partir da segunda metade do século 20. “Estamos, digamos assim, vivendo os dias de adolescência. Os líderes que podem ser reconhecidos por sua integridade e valor ainda são poucos, o que deixa a brecha para o surgimento de dirigentes sem tanto preparo ou vocação”.

Cunha cita ainda o fato de o número dos evangélicos ter praticamente triplicado no país nos últimos 20 anos, passando, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística, o IBGE, de pouco mais de 13 milhões para mais de 30 milhões. Como os números atuais referem-se ao último Censo, realizado há quase dez anos, há quem aposte que os crentes já estariam beirando os 40 milhões. “Nessa proporção, em 2020 seríamos mais de 100 milhões, numa população projetada de 235 milhões de brasileiros. Isso, por si só, desperta a atenção da sociedade. Mas temos de parar de nos preocupar com o que a mídia diz e buscarmos um verdadeiro avivamento que dê a esta Igreja uma visão missionária, que forma discípulos e gera um impacto inigualável na coletividade, com credibilidade e influência positiva”, completa.

“Remanescentes” – O surgimento de lideranças autoritárias, que não precisam prestar contas de seus atos, é apontado pelo pastor Gerson Borges, da Comunidade de Jesus de São Bernardo do Campo (SP), como causa de boa parte dos problemas ocorridos no andar de cima das igrejas. “Boa parte desses pastores não se submetem a nada nem a ninguém, não prestam contas, são senhores de si”, diz. Além da carência de acompanhamento e aconselhamento, a educadora Durvalina Bezerra acredita que o despreparo também contribui, e muito, para crises na liderança. “Há uma avalanche de pastores sem formação alguma, e isso contribuiu para a escassez de obreiros de qualidade. Falta discipulado sério para formar o caráter, além de preparo teológico e critérios eclesiásticos capazes de inibir a proliferação de lideranças que pregam adulterando a Palavra de Deus e sem comprometimento com a verdade bíblica”, opina. “Mas ainda existem muitos fiéis. Deus sempre teve seus remanescentes, que sofrem as conseqüências do mau testemunho dos colegas”, acrescenta a diretora do Seminário Betel.

“É bom que se diga que a maioria dos mais de 200 mil pastores evangélicos que atuam no Brasil são como a população de onde saíram, enfrentando todos os problemas da sociedade em geral. E essa maioria vive com baixos salários, em condições precárias, em meio à violência, e nem assim se deixam corromper”, ressalva Ageu Lisboa. Para ele, os crentes também têm certa culpa na equivocada generalização que tem colocado os ministros do Evangelho no mesmo patamar de descrédito. “Essa imagem do crente como alguém que não merece confiança é um tipo de juízo sobre todos nós que descuidamos de nos questionar uns aos outros. Se não nos avaliarmos para correção e crescimento, o mundo fica autorizado, pelas Escrituras, a nos julgar. E é o que está acontecendo”, finaliza.


***
Fonte: Monte de Siao http://www.montesiao.pro.br/index.html

PRINCÍPIOS PARA UMA VERDADEIRA ADORAÇÃO A DEUS


Published by Calvin Gardner on 15/07/2015
Leitura: João 4:23,24

Quando pensamos em adoração a Deus, geralmente imaginamos algo que emana de nós a fim de expressarmos louvor às qualidades de Deus. Seja na música, serviço, oração ou outra forma de expressarmos adoração, pensamos que louvor é próprio de nós. A pergunta é: A adoração verdadeira é produzida pelo homem e dada, com os devidos merecimentos, ao único Deus vivo e verdadeiro? Será essa a verdadeira adoração que Deus deseja receber do homem?

O Que Significa a Palavra “Adoração”?

O dicionário Aurélio define adoração como culto a uma divindade; culto, reverência e veneração. O mesmo dicionário define o verbo adorar como render culto a (divindade); reverenciar, venerar (Dicionário Aurélio Eletrónico). As palavras que definem adoração, no Velho Testamento, significam ajoelhar-se, prostrar-se (#7812, Strongs), como em Êx. 20:5. As palavras que definem adoração, no Novo Testamento, significam beijar a mão de alguém, para mostrar reverência; ajoelhar ou prostrar-se para mostrar culto ou submissão, respeito ou súplica (#4352, Strongs), como em Mat. 4:10 e João 4:24. Adoração então é uma atitude de extremo respeito, inclusive ao divino, que se expressa com ações singulares de reverência e culto.

Qual é a Base da Definição da Adoração Verdadeira?

Seria um engano severo achar que toda e qualquer expressão verdadeira de adoração é oriunda do homem. Do homem não pode emanar a verdade pura. O homem possui um coração enganoso e uma mente limitada (Jer 17:9; Isa 55:8,9). Essas duas coisas geram um erro que não é percebido facilmente pelo homem, especialmente quando a maioria ao seu redor está envolvida no erro (II Tim 4:3,4). Não é sabedoria colocar base de sustentação naquilo que é enganoso e limitado. Devemos usar o que é firme e eterno. Se essa sustentação não vem do homem, tem que vir do que não é contaminado pelo homem. Somente a Bíblia, por ser dada pela inspiração do Espírito Santo, é a base firme para estipular o que é a adoração verdadeira. Se a Bíblia por escrito for a base; ela será a base “mui firme” (II Pedro 1:19; Heb 4:12). Se as Escrituras Sagradas forem a nossa única regra de fé e prática, então tudo o que não concorda com elas será julgado como falso (Isaías 8:20). Não é válido estipular uma parte exclusiva da Palavra de Deus para a nossa sustentação do que é adoração verdadeira, pois “Toda a Escritura é inspirada e proveitosa” (II Tim. 3:16; Rom. 15:4). Por ser a Bíblia completamente dada por Deus, é ela que define para nós o que é a adoração verdadeira.

As Naturezas Distintas da Verdade e do Amor

Existe verdade e a natureza dela é única, exclusiva e eliminatória. A verdade proclama: “À lei e ao testemunho! Se estes não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles.” (Isaías 8:20). A doutrina repreende, exorta, corrije, instrui, reprova com o intuito de que haja aperfeiçoamento e obediência “boa” (II Tim 3:16,17; 4:2-6). O ensinamento pela Palavra de Deus pode dividir (Heb 4:12, “mais penetrante que espada alguma de dois gumes”; Mat. 10:34; Atos 14:1-4). Por ser a Bíblia entendimento verdadeiro, aquele que retém as Suas palavras odiará todo falso caminho (Sal 119:104, 128). Se pretendemos agradar a Deus, temos que separar-nos dos que não andam segundo a verdade (ou na igreja – Rom 16:17; I Cor. 5:11; II Tess 3:6, 14; ou no mundo – II Cor 6:14-18; I Tim 6:3-5). Deus pergunta ao Seu povo: “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Amós 3:3). O apóstolo Paulo indaga à igreja de Deus em Corinto, com todos os santos que estão em toda a Acaia, “que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?” (II Cor. 6:14-16). As respostas são claras, pois a verdade é única, exclusiva e eliminatória.
Todavia, o amor, por natureza, é inclusivo. O amor (#26, ágape: afeição e benevolência, Strong’s) é sofredor, não se irrita, nem suspeita mal. Este amor bíblico sofre e suporta tudo (I Cor 13:4-7) e cobre uma multidão de pecados (I Pedro 4:8). A natureza desse amor “ágape” dá valor àquele que não o merece. Quando esse amor for ativo (#25, agapão, amor num senso moral e social, Strong’s) a misericórdia reinará (Rom. 9:25; Efés. 2:4). Podemos observar esse amor (#25) em ação: Deus amou a Cristo (João 17:24) e o mundo (João 3:16), Jesus amou os Seus discípulos (João 13:1; 15:9; Gal. 2:20; Apoc. 1:5), os discípulos devem amar os outros discípulos (João 13:34; I João 3:11-14; 4:7), os esposos devem amar as suas esposas (Efés. 5:25,28; Col. 3:19) e nós devemos amar o nosso próximo e inimigo (Mat. 5:43,44; Rom. 13:8,9).

O servo que anda na verdade não precisa desistir de amar de jeito nenhum. Mas há diferença entre o amor e a participação do erro. O amor equilibrado andará junto da verdade, nunca em oposição a ela (João 14:15). O amor verdadeiro leva-nos a cuidar de todos os que estão no erro para que eles odeiem o seu erro (Judas 1:23; Lev 13:56,57; I Cor 5:5; II Cor 6:14-18; Heb. 1:9; 12:5). O Apóstolo Paulo tinha amor pelo povo de Israel e este íntimo amor desejou que eles andassem segundo a verdade (Rom 10:1; 11:14). Deus, o Amor verdadeiro, levou nos à Verdade (Cristo) para nossa salvação do pecado (Efés 2:4-7). Para podermos entrar no Amor (Cristo), nosso erro tem que ser deixado de lado (arrependimento). Agora, para andarmos em santidade, por amor a Deus, somos constrangidos à obediência (II Cor. 5:14), a suportar um ao outro (Efés. 4:2) e a deixar o erro (II Cor 5:14; 6:14-18). O andar em obediência tornou-se o nosso culto racional em amor (Rom 12:1). O amor (#26, ágape), mesmo inclusivo, é equilibrado pela verdade que é exclusiva. Somente existe crescimento quando o amor é acoplado com a verdade (Fil. 1:9; Efés. 4:15, 16; II Pedro 1:5-7) pois o amor é o “vinculo da perfeição” (Col. 3:14) e leva às boas obras (Heb. 10:24). O amor verdadeiro não se isenta da fé, da justiça, da perseverança, da piedade, da santificação, da obediência ou do poder espiritual, mas é aperfeiçoado neles (I Tim. 1:5; 2:15; 4:12; 6:11; II Tim. 1:7; 2:22; 3:10; Tito 2:2; I João 2:5; 4:18; II João 6). Pelo amor aceitamos todas as pessoas como elas são, e, pelo mesmo amor, encorajamo-las a andarem na luz pela verdade. Nisso entendemos que o amor não é inimigo da verdade nem a verdade do amor.

A Adoração Falsa Existe

1. Existe adoração sem santidade, mas não é adoração verdadeira. Nos últimos dias, como nos dias passados, falsos profetas virão (Mat. 24:24; II Tim 3:1-8). Os falsos adoradores têm somente uma aparência de piedade (II Tim. 3:5), mas, na realidade, negam a eficácia dela. Olhando além daaparência, as vidas públicas e íntimas dos falsos adoradores revelam uma atração maior e dominante para os deleites do mundo do que para agradar ao Santo Deus (II Tim. 3:4). Eles carregam a Bíblia junto com eles, estudam-na (II Tim. 3:7), mas eles não conhecem a obra do Espírito Santo nas suas vidas (João 14:26; 15:26), que leva ao conhecimento e à verdade (II Tim. 3:7) a ponto de seguir a verdade dos apóstolos (II Tim. 3:10). Estes falsos adoradores querem somente as coisas aprazíveis (Isa 30:10), as fábulas (II Tim 4:3,4) e freqüentemente apregoam tradições de homens como se fossem mandamentos de Deus (Mar 7:7,9). São réprobos quanto àquela fé uma vez dada aos santos (II Tim. 3:8; Judas 1:3,4). Resumindo, se o seu conhecimento da Palavra de Deus não o leva a ter uma vida nova, que zela pela santidade, e uma santidade que influi tanto a vida pública, quanto íntima, você ainda não está adorando a Deus em espírito e em verdade. Se o fruto do Espírito Santo não está evidente na sua obediência à doutrina (II Tim. 3:10), você está exercitando-se em adoração falsa. A adoração na forma correta leva à substância da verdade e ao aperfeiçoamento real (II Tim 3:16,17). Os que querem adorar em espírito e em verdade devem afastar-se daqueles que não têm a eficácia da piedade (II Tim. 3:5).

2. Existe adoração com os lábios, mas não com o coração. Tal adoração é falsa. Essa adoração pode ter uma aparência impecável, como se o povo estivesse chegando a Deus e assentando-se diante dele, como sendo o povo verdadeiro de Deus, ouvindo as palavras de Deus, mas por fim, seus corações seguem o pecado (Isaías 29:13; Ezequiel 33:31; Mat. 6:7; 7:21-23; 15:8; Atos 8:21). Isso é nada mais ou nada menos que uma adoração falsa. Em Isaías 1:2-18, o povo de Israel tinha holocaustos abundantes (v. 11-13), com uma aparente aproximação de Deus (v. 12). Eles praticavam oblações e reuniões solenes (v.13), orações constantes e o levantar das mãos (v. 15), mas, em tudo disso, não tinha um reconhecimento da grandeza de Deus nos seus corações, nem uma obediência em amor (v. 15, “porque as vossas mãos estão cheias de sangue”). Toda essa adoração, que o povo aceitou largamente, era vista por Deus como iniqüidade, vaidade, abominação, cansaço e maldade (v. 13-16). Para revelar que aquela adoração não era adoração aceitável diante de Deus, Ele escondeu os Seus olhos deles (v. 15). A adoração ocupou todos os lábios do povo mas o coração deles estava longe de Deus. Não há adoração verdadeira se não tiver obediência de um coração singular e temente a Deus (Jer 9:23,24). Tudo isso é uma lição para nós (Rom. 15:4). Verifique a sua adoração. Está mais nos lábios para com os homens do que no coração para com Deus? Pode ser que os falsos adoradores andem religiosamente com uma multidão bonita, mas tal adoração, para com Deus, é uma iniqüidade, cansaço, vaidade e uma maldade. Quem é que você quer agradar? Se quiser andar entre os adoradores verdadeiros, peça que Deus sonde o seu coração e o instrua no caminho eterno, Cristo no coração (Sal 139:1,23,24; Prov. 23:26; Isaías 1:16-18). Somente aquela adoração que vem de um coração sincero, preparado pelo Espírito e estabelecido na verdade, é a adoração aceitável ao Senhor Deus e praticada no céu (Josué 24:14; João 4:24; Apoc. 4:9-11).

3. Existe adoração com a letra da lei, mas não com o espírito da lei. Zelar pelas regras, mesmo as mais rígidas e absurdas, em vez de inteirar-se com um espírito da adoração, parece ser fácil. Isso acontece entre os religiosos, com uma adoração falsa, e, até entre os que têm a forma correta de doutrina. A igreja em Éfeso, que era uma igreja com doutrina verdadeira, não foi corrigida por zelar pela doutrina, mas por não incluir o espírito da adoração na sua doutrina. Deixaram o seu primeiro amor (Apoc. 23:1-7). Se aconteceu com aquela igreja naquela época, pode acontecer entre nós hoje. Os Fariseus eram religiosos que faziam tudo pela lei com a esperança sincera de deixar Deus o mais alegre possível. Socialmente eram bem aceitos. Religiosamente também. A cerimônia da sua adoração era exatamente conforme a lei que Deus estipulava, mas, mesmo assim, era uma adoração falsa. Por quê? Porque deixavam o espírito da lei desfeito (Mat. 23:23). Na cerimônia (Mat. 23:1-12), pela letra da lei, muitas vezes em adoração, faziam “prolongadas orações” (v. 14), evangelismo fervoroso (v. 15), um dízimo sério (v. 23) e vidas corretíssimas (v. 25). Todavia, com todo o esforço expedido na sua adoração, o espírito da lei foi contrariado. Deus, a Quem deviam praticar essas ações, julgou-os hipócritas (v. 14), condutores cegos (v. 16), insensatos (v. 17) serpentes, raça de víboras, (v. 34) condenadores (v. 35) e enganadores que invertiam valores (v. 19-22). Tais palavras de descrição, revelam o grau de falsidade: quanto ao zelo e à letra da lei, esta não era adoração verdadeira. A maior evidência da sua falsidade foi quando a própria pessoa da Verdade presenciou os que adoravam por meio da letra da lei, vindo a zangar-se. No fim da história, crucificaram a Verdade, que cumpriu toda parte da lei (João 8:46), para que pudessem continuar em adoração pela letra da lei (Mat. 26:57-68; 27:1). Não podemos classificar como adoração verdadeira aquela que dê primazia à letra da lei, ao abandono do espírito da lei. Que tenhamos a adoração verdadeira que é correta tanto em espírito quanto em verdade (João 4:24)!

4. Existe adoração com ignorância da verdade de Cristo e é tida como adoração falsa. Jesus, na sua conversa com a mulher Samaritana, chegou a dizer-lhe que os Samaritanos adoram o que não sabem (João 4:1-24, v. 22). A instrução de Cristo é: se não esteja adorando, em espírito e em verdade, a pessoa de Cristo, não está adorando ao agrado do Pai (João 4:24). Os Samaritanos eram Judeus também, mas uns Judeus que tinham linhagem e doutrina consideradas poluídas pelos Judeus de Jerusalém (João 4:9, Zondervan Bible Dictionary, p. 747). Sendo Judeus, não eram sem conhecimento intelectual do Messias, mas eram ignorantes de Cristo por não O aceitarem como o Messias, igual aos Judeus em geral. A sua adoração abrangia fatos e cerimônias, mas não tinha o alvo correto: a pessoa de Cristo. Era sem a verdade de Cristo e, portanto, a sua atividade religiosa era uma adoração ignorante (João 4:22,23). Jesus disse que os Fariseus erraram na mesma maneira, pois os seus ensinamentos exteriorizavam uma ignorância tremenda da verdade de Cristo como o Filho de Deus (Mat. 22:29, “Errais, não conhecendo as Escrituras”). Por não ser uma adoração baseada somente na verdade de Cristo, todo o aparato religioso dos Fariseus era classificado por Jesus Cristo como errado. O Apóstolo Paulo notou também a existência de adoração com ignorância entre outros povos. Em Atenas, capital da mitologia, não faltava adoração. A adoração dos Atenienses tinha forma, deidades, sacrifícios, tradição, lógica e antigüidade. Todavia, pela inspiração do Espírito Santo, tudo isso não era uma adoração mas uma superstição (Atos 17:22,23) por ser dirigida “AO Deus DESCONHECIDO”. Foi uma adoração falsa e supersticiosa por ser falha com a verdade da pessoa e obra de Cristo. Destes exemplos podemos aprender: Se a adoração não está correta tocante à verdade de Cristo, é adoração falsa. O eunuco de Etiópia atravessou países em busca da adoração (Atos 8:27). Não obstante toda sua sinceridade e esforço, ele não entendeu o tema das Escrituras: o Cristo Jesus (Atos 8:30,31). Portanto, enquanto ignorante de Cristo, não pode adorar a Deus verdadeiramente. Cristo é a Verdade Única (João 14:6, “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim.”). Foi Ele, por Deus, que foi estabelecido como “sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor” (I Cor. 1:30,31). Qualquer adoração que não é centrada somente em Cristo, como Ele é apresentado pelas Escrituras, é uma adoração falsa. O Apóstolo João confirmou que a Sua pregação, e toda a sua adoração resultante, era verdadeira por ser exclusivamente centrada na pessoa e obra de Cristo (I João 1:1-4). O Apóstolo Paulo apelou para a autenticidade da Sua pregação e, conseqüentemente, a sua adoração, mostrando que ela era somente de Cristo, “segundo as Escrituras” (I Cor. 2:1-5; 15:3,4). O Apóstolo Pedro substanciou a sua pregação, e a sua adoração juntamente, como sendo verdadeira por ser aquela que foi exclusivamente de Cristo. A sua mensagem foi testemunhada por Cristo, pelo Pai e pelas Escrituras (II Pedro 1:16-21). Se conhecemos Cristo pela obra de Deus, pelas Escrituras, e obedecemos à Palavra de Deus para o agrado do Pai, estamos adorando o Pai como convém, “em espírito e em verdade”. De qualquer outra maneira a nossa atividade de adoração é vista por Deus, como ignorância, e portanto, falsa. Como vai a sua adoração? É centrada somente na pessoa e obra de Cristo? Deus não dá um prêmio pela adoração que é oferecida com ignorância. Jesus ensinou que devemos ser humildes como uma criança para entrarmos no reino dos céus (Mat. 18:1-4). Não deve ser interpretado que humildade é ser sem conhecimento da pessoa e obra de Cristo. O oposto é a verdade. A humildade que Cristo ensinou significa não confiar mais em outra coisa do que em Cristo, mesmo que a sociedade, tradição, ou a lógica assim diga. Ser humilde como uma criança é confiar somente em Cristo como o Salvador. Já O conhece pela fé, uma fé que se revela arrependimento dos pecados e confiança unicamente na pessoa e obra de Cristo? Somente assim a sua adoração seria verdadeira.

5. Existe adoração com sacrifício aceitável ao homem, que não é em obediência à Palavra de Deus, e, portanto, não é adoração verdadeira. O Rei Saul foi instruído detalhadamente para destruir completamente os Amalequitas. Todos os homens, as mulheres, as crianças e os animais deviam ser destruídos. Nada deveria ser perdoado. O Rei Saul foi à cidade e feriu-a mas tomou o Rei Agague, rei dos Amalequitas, vivo, como também o melhor das ovelhas e das vacas, e também as da segunda ordem. Quando Samuel encontrou-se com o Rei Saul, terminada a guerra, Samuel perguntou-lhe se a palavra do Senhor foi obedecida. O Rei Saul disse que sim. Mas o balido de ovelhas e o mugido das vacas veio aos ouvidos de Samuel. Saul explicou que estas foram poupadas para serem oferecidas ao SENHOR, em Gilgal. Samuel explicou que essa é uma adoração falsa, pois obedecer ao que Deus diz é melhor que qualquer sacrifício que o homem possa pensar. O atender a voz do SENHOR é melhor que a gordura dos carneiros ou qualquer outra oferta que o homem possa dar (I Sam 15:3,8-9,14,21-22). É interessante notar que as ações do Rei Saul tinham o aval do grande público. Todo o povo estava contente por ter o estômago cheio, e, também por ter agora as riquezas dos Amalequitas. O fato de humilhar ao rei pagão foi muito gratificante. Todavia, apesar do grau de aceitação humana da ação do Saul pelo povo, não foi em nada uma adoração aceitável ao SENHOR. Apenas a obediência restrita à Palavra de Deus é adoração verdadeira. Seria melhor se o Rei Saul obedecesse exatamente à Palavra de Deus. Pela obediência explícita à Palavra de Deus, manifestamos a nossa confiança em Deus. Tal confiança é tida por Deus como adoração aceitável, pois, pela fé que é vista em obediência, Deus é santificado diante do povo. Por Moisés não subjugar a sua carne diante do povo de Deus no deserto e por não reter a sua reação de ira ao bater a rocha, que foi uma manifestação de falta de fé, Deus não foi santificado diante do povo (Num 20:7-13). Em vez de ser uma adoração, para Deus foi uma indignação (Deut. 1:37). Por essa falta de obediência explícita, Moisés foi proibido de introduzir o povo de Israel na terra prometida (Deut. 32:51). Seria bem melhor obedecer e fazer o que era correto a seus olhos. O povo de Deus, em outra ocasião, movido pelo temor de Deus, obedeceu com rigor à Palavra de Deus ao ficar silencioso quando marchou ao redor de Jericó (Josué 6:8-11). O obedecer, sem dúvida, parecia estranho, tanto para povo de Deus que marchava, quanto para o povo de Jericó, que observava a marcha silencioso. Mesmo que essa marcha não fosse um culto de louvor, Deus aceitou a obediência como uma manifestação de confiança Nele foi mostrado o Seu Poder com uma grande vitória. Foi melhor obedecer a Deus, que inventar astúcias que agradariam ao homem por pouco tempo. Em Isaías 58:2-5, o povo inventou sacrifícios que pareciam retos diante dos seus olhos, mas não eram aceitos por Deus. A igreja de Sardes (Apoc. 3:1) também tinha atividades que lhe agradaram, mas, para Deus, era uma igreja morta. Há muitos que chamam o SENHOR de Senhor e fazem muita coisa boa, mas, para Deus, não vale nada (Mat. 7:21-23). Estes casos de Rei Saul diante dos Amalequitas, de Moisés às águas de Meribá, do jejum falso de Israel, dos religiosos reprovados por Jesus e da igreja em Sardes nos ensinam o que é adoração aceitável. Esse ensino é: Quando obedecemos a Ele, em vez de fazer o que nós pensamos, é melhor estarmos dando a Deus o sacrifício que Lhe agrada. É a obediência que exalta Cristo na qual o Pai é glorificado. (Mat. 5:16). Este é o sacrifício vivo (Rom. 12:1) que a Deus é devido (I Pedro 2:5). Fazer justiça e juízo é melhor do que sacrifício (Prov. 21:3; Sal 69:31), mesmo que não seja o mais fácil. Vamos então perseverar explicitamente na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão, e nas orações (Atos 2:41,42). A Deus é dada toda a glória. Ele recebe toda a glória pela obediência correta da Palavra de Deus (João 4:24).

6. Existe adoração com intenção pura mas não vale como adoração verdadeira. Jesus explicou que viria um tempo em “que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus” (João 16:2). Este tempo veio acontecer não muitos anos depois. Encontramos Saulo de Tarso, zelosamente perseguindo a igreja (Atos 9:1,2; 22:1-5). Em toda essa perseguição à igreja, ele se julgava irrepreensível segundo a sua religião, a Lei de Moisés (Fil. 3:4-6). Sem dúvida nenhuma ele tinha as melhores intenções para com Deus quando procurava a destruição do ajuntamento dos crentes. Todavia, não obstante a sua intenção pura e a sua devoção a Deus, era uma adoração falsa. Depois da sua conversão ele entendeu as coisas bem melhor. Essa intenção pura que antes julgava “ganho”, depois do seu encontro com a Verdade, ele julgou “perda” (Fil. 3:7, “Mas o que para mim era ganho, reputei-o perda por Cristo”). Com o seu entendimento entendendo a Verdade, ele julgou vãos os que têm “zelo de Deus, mas não com entendimento” (Rom. 10:1-3). Nisso entendemos que existe adoração que é movida somente pela intenção pura. Tal adoração não é necessariamente uma adoração verdadeira. Tal adoração não é com entendimento (Rom. 10:2). Tais adoradores não conhecem nem o Pai, nem Jesus Cristo (João 16:3) e, portanto, não é adoração, segundo a verdade. O homem pode honestamente desprezar Deus e o Seu Cristo e ainda perder a sua alma. Convém adorar o Senhor Deus por Jesus Cristo. Isso é adorar “em espírito e em verdade” (João 4:24). Os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Asera (I Reis 18:19) eram sinceros na sua adoração aos seus deuses. Eles achavam que serviam um deus pessoal, que podia ouvir e responder-lhes. Isso poderia ser dito de todos os que vivem nas tradições vãs que recebem de seus pais (I Pedro 1:18). Estes profetas de Baal entraram de corpo e alma na sua adoração (I Reis 18:26-29). Todavia, com todo os seus sacrifícios, e sinceridade, intenção e boa fé, a sua adoração era completamente falsa, sem nenhum vestígio de adoração verdadeira. Eles pagaram caro pelo seu erro (I Reis 18:40). Não depende da sua intenção a indicação da veracidade da sua adoração. A intenção pura do homem, mesmo quando é dirigida a Deus, não faz que o seu coração enganoso não seja perverso (Jer. 17:9; Mat. 15:19). Quando o Rei Davi quis trazer de volta a arca da promessa, ele tinha intenções puras. Ele e todo o povo de Deus estavam empenhados em fazer o que achavam correto segundo Deus. Tinham a intenção de levar a arca da terra dos inimigos sujos e pagãos à terra de Deus. Eram empolgados com intenções que eles consideravam santas e puras, mas não fizeram de maneira correta. Eles não acharam errado misturarem a sabedoria humana no meio da adoração à Deus. Eles pensavam que tudo isso seria aceitável e agradável a Deus. Porém, mesmo com intenções puras na sua adoração, Deus ministrou morte entre eles (II Sam 6:1-8). Isso não foi um caso isolado, pois encontramos os religiosos em Mateus 7:15-23 aconteceu a mesma maneira. Na adoração verdadeira, a intenção do homem não é o que vale mais. É a obediência da Palavra de Deus em amor. Não deixe a sua boa intenção enganar você. Deus quer que o adoremos pela obediência de Jesus Cristo para a nossa redenção e, pelo Espírito Santo obedecer à Palavra de Deus. Não precisamos ser ignorantes nesse assunto, pois Deus já nos revelou como Ele quer ser adorado: “em espírito e em verdade” (João 4:24).

Nenhum destes seis exemplos, apesar da sua aceitação por parte do povo, foram aceitos por Deus. Eram abomináveis e desobedientes. A adoração falsa é repreendida por Deus, e, às vezes, até à morte. Agora estamos informados de que aquilo que nós queremos naturalmente dar ao Senhor pode ser uma abominação para Ele.
Em verdade, a adoração verdadeira não é aquilo produzido pelo homem, é dado, com os devidos merecimentos, ao único Deus vivo e verdadeiro. O que é produzido pelo homem é contaminado pela natureza do homem, pelo pecado, e pela mente limitada do homem.

A ADORAÇÃO VERDADEIRA EXISTE JOÃO 4:23,24

PARTE I – “EM ESPÍRITO”

É muito claro que Deus o procura no assunto de adoração. Deseja Deus ser adorado por aquilo produzido por Ele. Isso seria uma adoração em “espírito e em verdade”. O que cria confusão entre os que querem adorar O SENHOR é tanto a teoria quanto a prática, de adorar em espírito. Podemos entender melhor este assunto, se entendêssemos o próprio espírito do homem.

O Espírito do Homem Natural e a Adoração Verdadeira

O homem natural (I Cor 2:14; 15:46), o primeiro Adão (I Cor 15:45); ou seja, o pecador não salvo, não pode adorar o Senhor verdadeiramente. Ele é morto espiritualmente. Quando Deus falou a Adão e a Eva, no Jardim do Éden, “certamente morrereis” (Gên. 2:7), se comerem do fruto proibido, eles morreram para com Deus, que é uma morte espiritual (Gên. 3:6; Efés 2:1; I Cor 2:14). Agora o filho natural de Adão é morto para com as coisas de Deus. Portanto, diante de Deus, o pecador é filho da desobediência (Efés 2:2), inimigo de Deus (Rom 8:7) e separado de Deus (Isa 59:1,2). Por causa do seu estado espiritual, o pecador não tem entendimento espiritual (I Cor 2:14). Não há nada que vem naturalmente do espírito do pecador que pode agradar a Deus (Jer 13:23; Rom 8:8; João 3:3-6; 15:5). O primeiro Adão é apenas um ser terreno com uma alma vivente, mas sem um espírito vivificado para com Deus (I Cor 15:45-47). Ele vive segundo a sua natureza pecaminosa, o que a Bíblia determina “o homem velho” que se corrompe pelas concupiscências, ou os desejos carnais (Efés 4:22; I João 2:16; Rom 6:6). Isso quer dizer que aquilo que o homem natural faz segundo o seu coração enganoso (Jer 17:9) é para satisfazer suas concupiscências, e por elas, é corrompido. Mesmo na esfera de religião o homem natural não agrada a Deus, pois não habita bem algum na carne (Rom 7:18).
O homem natural, que é um descrente, pode vestir-se com religião e moralizar suas ações diante dos homens, mas, mesmo assim, não ser vivo para com Deus, ou não ser espiritual, não agrada Deus de nenhuma maneira (Mat. 7:21-23; Luc 6:46; 11:39-44; João 4:22; Atos 17:22-24).

O Espírito do Homem Novo e a Adoração Verdadeira

O homem espiritual (I Cor 2:15; 15:46) é feito espírito vivificado através da obra do último Adão (I Cor 15:45). O último Adão é do céu e é espírito vivificante (I Cor 14:45-47). O pecador arrependido e crente em Cristo pela fé, é feito um homem novo e espiritual. Este homem novo pode adorar o Senhor em espírito verdadeiramente. Pode ser uma nova criatura, este homem novo é adotado na família de Deus, feito filho de Deus (Gal 4:5; I João 3:1,2) amigo (João 15:15) e nunca mais pode ser separado de Deus (Efés 2:14). Este novo homem está com entendimento espiritual (I Cor 2:15), é espiritualmente vivo (João 3:16; 10:28; Efés 2:1) e não pode pecar (I João 5:18). Todas essas bênçãos espirituais nos lugares celestiais estão confirmadas por Jesus Cristo (Efés 1:3; João 3:16). O Espírito de Deus habita no corpo desse homem que foi feito novo (I Cor 6:19; II Cor 6:16) e faz com que ele seja agradável a Deus por Jesus Cristo (Efés 1:6). O cristão, que é vivificado espiritualmente, é chamado um novo homem (Efés 4:24) e tem um homem interior (Rom 7:22). Esse novo homem é criado por Deus em verdadeira justiça e santidade (Efés 4:24; Col. 3:10). É assim que os Cristãos podem adorar a Deus corretamente “em espírito”.
O pecador regenerado no seu espírito tem prazer na lei de Deus (Rom 8:22) e anseia ser obediente a Deus, pois é feito conforme a imagem de Cristo que foi obediente em tudo (Rom 8:29; João 17:4; Fil. 2:8). Esta nova criatura é evidenciada pelos desejos santos e ações de obediência. Pela nova natureza feita por Deus, através de Jesus Cristo pelo Espírito Santo, os frutos da santidade serão vistos (Gal 5:22; Efés 4:24). Os frutos desta santidade são separação de tudo o que é imundo (Sal 97:10; 119:104; Prov. 8:13) para viver em obediência à Palavra de Deus (Efés 2:8-10). A adoração verdadeira consiste em uma vida separada do mundo e uma crescente obediência à Palavra de Deus.
Resumo: A adoração “em espírito” é muito mais que um cântico bem cantado, ou uma aparência de santidade, uma concordância de observar uma lista de regras para a vida, ou um sentimento de bem estar. A adoração “em espírito” é um estilo de vida para com Deus, que deseja ser conforme o Seu Filho. Esse estilo de vida espiritual resulta em uma apresentação dos nossos corpos em sacrifício vivo para expressar pública e continuamente uma vida santa e agradável a Deus (Rom. 12:1,2; Gal. 2:20).
Estás com o principal de uma vida espiritual, o Cristo? Somente com Ele seremos agradáveis a Deus. Somente por Ele temos o espírito vivificado pelo qual Deus deseja ser adorado.

Como o Cristão Adora “Em Espírito”

Por ter o Cristão um espírito vivificado e ainda ter o pecado nos seus membros da carne, há conflitos. Uma natureza deseja os prazeres da carne e batalha contra a outra que vive segundo a justiça e santidade (Rom 7:23,24). Tentações vêm ao crente através da sua carne (I Cor 10:13; Tiago 1:13-15). A vitória sobre essas tentações é por Jesus Cristo pelo espírito vivificado (Rom. 7:25; I João 4:4). O crente é justificado eternamente por Jesus Cristo (João 3:16; 10:28,29; Heb 9:12, “eterna redenção”), mas vive confessando seus pecados para ser purificado no seu viver no mundo (I João 1:9; Prov. 4:18).

Só o que é produzido do alto é aceito por Deus, pois o que o homem natural produz é sujo. Para podermos adorar a Deus verdadeiramente, tem que ser “em espírito”, pois é este que é movido e feito por Deus no crente. Só aquele que é separado do mundo, é obediente à Palavra de Deus. A adoração, que é baseada nas emoções da carne, e movida pelas maneiras e métodos extra-bíblicos (os métodos inventados pelos homens que não são apoiados pela Bília) ou anti-bíblicos (os métodos inventados pelo homem que são contrários aos princípios da Bíblia), mesmo que sejam dirigidos a Deus, é uma adoração vã e não aceita por Deus, pois não foi produzida por Ele. O que Deus aceita é feito por Ele e é evidenciado pela santidade, silêncio, temor e por uma obediência crescente (Sal 97:10; Hab. 2:20; Mat. 7:21; Rom 8:27; Fil. 1:6; 2:13).

O homem que cultiva uma sensibilidade ao temor de Deus nos seus pensamentos, na fala, na vestimenta, no estudar, no trabalhar e no adorar e é levado a obedecer a Palavra de Deus onde quer que seja, no lar, na sociedade ou na igreja, esse é o homem que adora Deus “em espírito”.

A adoração que agrada a Deus não é produto dos esforços do homem natural mas é fruto do Seu Espírito que está no homem novo. Isso é o que significa “adorar em espírito”.

PARTE II – “EM VERDADE”

O que é a Adoração “Em Verdade”?

Mesmo que este estudo sobre a adoração verdadeira seja dividido em dois pontos (“em espírito” e “em verdade”) devemos entender que não existe um sem o outro. Importa a Deus que os que O adoram O adorem tanto “em espírito” quanto “em verdade” (João 4:24). Se procuramos adorar o Senhor em só um ponto, estamos adorando incorretamente. Mas estes dois pontos podem, para maior clareza, ser estudados separadamente.
Não Existe Adoração Verdadeira sem a Verdade.

O homem sempre precisa de um equilíbrio. Por ter o homem Cristão as duas naturezas, (uma pecaminosa e uma santa, Gal. 5:17), a influência que a natureza pecaminosa pode exercer no crente precisa ser sempre lembrada. Por esta razão existem tantos versículos na Bíblia sobre a necessidade do Cristão ser vigilante e sóbrio (I Tess 5:6; I Ped 5:8), despertado do sono (Rom 13:11-14) e ser espiritual (Mat. 26:41; Gal 5:16,17,24-26; Efés 5:14-21). Também, por ter um inimigo astuto, cheio de ardis (Gên. 3:1; II Cor 2:10,11; Apoc 12:9), incansável (I Ped 5:8), que arma lutas espirituais contra nós (Efés 6:11,12) precisamos de um alicerce forte, o qual possa nos restabelecer nos conflitos espirituais.
A Palavra de Deus é o equilíbrio em que o Cristão precisa. Ela é a verdade que santifica (João 17:17), é mui firme, e, portanto, devemos ser atentos a ela (II Pedro 1:19). As Escrituras Sagradas foram dadas pela inspiração do Espírito Santo e não produzidas por vontade de homem algum (II Pedro 1:20,21) e, por isso, nos preparam perfeitamente para toda a boa obra, inclusive a adoração (II Tim. 3:17). A Palavra de Deus é viva e, portanto, eficaz em todas as épocas e para todos os povos a fim de dirigi-los ao que agrada à Deus (Heb 4:12). O equilíbrio de que o Cristão precisa no meio da mentira e engano sagaz que opera ao redor dele (Heb 12:1; Efés. 6:12) é a Palavra de Deus (Sal 119:105). Ela é o que nos aperfeiçoa para a defesa (Efés 6:13-17), a resistência (I Ped 5:9) contra todas as astutas ciladas do diabo e de todo o engano dos nossos próprios corações (Sal 119:130; I Tim 3:16,17). É pela verdade que os espíritos são provados (I João 4:3; I Tim 4:1) e não pelos pensamentos manipuláveis ou emoções enganadoras da natureza humana. De fato, a Bíblia é a única regra de fé e ordem para o crente e isso vale também para o assunto de adoração. Não há adoração verdadeira quando a Palavra de Deus não é cuidadosamente obedecida, tanto na sua letra quanto no seu espírito.

A Palavra de Deus leva o Cristão à imagem de Cristo para poder adorar “em verdade”. O Cristão que adora “em verdade” conforma-se com Cristo, pois Cristo é a própria Verdade (João 14:6). O que Deus produz por Seu Espírito traz a lembrança, tudo o que Cristo ensinou (João 14:26) e que verdadeiramente testifica Cristo (João 15:26). O Espírito do Senhor, pela Palavra de Deus, transforma-nos, de pouco em pouco, EM imagem de Cristo (II Cor. 3:18). A adoração verdadeira nunca pode agir contrária aos ensinamentos de Cristo ou exemplificar outra vida se não a de Cristo. A adoração verdadeira deve ser “em verdade”, e Cristo é a verdade. Tudo que agrada a Deus deve ser em conformidade com Seu Filho, pois pelo Filho o Pai é comprazido (Mat. 3:17 ; 17:5). Tanto mais em conformidade à imagem de Cristo, mais perfeita é a nossa adoração. Deus não procura invenções sinceras ou espertas com que o homem qualquer possa se empolgar em manifestar, mas Ele se compraz em Cristo (Mat. 17:4,5). Deus não se contenta nem um pouco com aquela adoração que é movida pelo raciocínio de homens bem intencionados, mas isentos da verdade (João 18:10,11). Deus somente se contenta com aquela adoração que bebe fundo em obediência ao cálice que Ele dá. Deus não é agradado em nenhuma maneira pela compaixão humana que não é dirigida pela verdade da Palavra de Deus. Deus se agrada naquilo que nos torna iguais a Cristo, naquilo que entenda as coisas que são de Deus (Mat. 16:21-23; I Cor. 2:16). Cristo é o alvo e o meio de toda a adoração verdadeira. Você está se tornando mais e mais a imagem de Cristo? Somente assim se pode prestar adoração verdadeira.

Não há Espiritualidade sem Obediência

Excluir a obediência à Palavra de Deus ou não ser conforme a imagem de Cristo seria uma abominação para Deus a Quem queremos adorar (Luc 6:46). Substituir as Escrituras Sagradas por algo diferente também é abominação (Mar 7:7; Tito 1:14). Há uma multiplicidade de atrativos para afastar o Cristão de uma adoração verdadeira. Há fábulas ou genealogias intermináveis (I Tim 1:4; 4:7) ofertas vás, incenso, observação de luas novas e sábados (Isa 1:13,14). Mas tudo isso tende a adicionar algo à Palavra de Deus, em vez de seguir a sua pureza (Prov. 30:5). Não devemos procurar melhorar a verdade (Deut 12:32; Apoc 22:18,19) mas devemos apenas observá-la. Uma atenção sensível, um estudo constante, a meditação contínua em conjunto com uma obediência temente à verdade, a Palavra de Deus é essencial para adoração verdadeira. Não podemos separar a adoração espiritual da adoração prática (obediência). O próprio Espírito Santo é chamado o Espírito da verdade (João 14:17; 15:26; 16:13) que nos aponta a Cristo que perfeito e espiritual mostrou a Sua espiritualidade pela Sua obediência (Fil. 2:8; João 14:11). É certo que podemos ser menos espirituais que o próprio Cristo, mas de nenhum modo podemos ser tão espirituais a ponto de tornarmos a minuciosa obediência à verdade uma desnecessidade.

A Obediência Verdadeira é Espiritual

Deve ser enfatizado que podemos ter obediência sem espiritualidade. Os que crucificaram Cristo cumpriram a Palavra de Deus completamente, mas, mesmo sendo obedientes, não operam com desejo de adorar o Senhor por amor (Atos 2:21,22; 4:27,28). Demônios crêem na verdade, mas não adoram o Senhor segundo a operação do Espírito Santo (Tiago 2:19). Os Fariseus obedeceram à lei a risco, mas não entraram no reino de Deus (Mat. 5:20). Se vamos servir ao Senhor, a obediência deve ser segundo o Espírito em amor (Oséias 6:6; Miquéias 6:8; Apoc. 2:4,5).

Deve ser lembrado que podemos ter intenção sem uma obediência completa. Pedro tinha intenção pura, tanto quando cortou a orelha direita do Malco (João 18:10) quando repreendeu o Senhor Jesus Cristo quando Este predisse Sua morte (Mat. 16:21-23). A igreja em Tiratira tinha muito amor, mas era displicente com a obediência e isso trouxe uma dura repreensão do Senhor (Apoc. 2:18-23). Se vamos servir o Senhor, o nosso amor deve ser com obediência.

Pelo estudo feito podemos entender bem melhor que o que Deus deseja é a adoração “em espírito e em verdade”, é algo que nunca é produzido pelo homem, mas que vem somente de Deus. É produzida pelo Espírito de Deus e é segundo a Sua Palavra, para trazer os seus à imagem de Cristo (II Cor. 3:18).

Bibliografia

Bíblia Sagrada, Sociedade Bíblica Trinitariana da Bíblia, São Paulo, 1994.
Concordância Fiel do Novo Testamento, Editora Fiel, S. José dos Campos, 1994
Dicionário Eletrônico Aurélio, v. 2.0, Junho 1996
STRONG, James LL.D., S.T.D., Exhaustive Concordance of the Whole Bible, Online Bible, Canada, v. 7.0, (http://www.onlinebible.org).
TENNY, Merrill C. The Zondervan Pictorial Bible Dictionary, Zondervan, Grand Rapids, 1975.