INTRODUÇÃO AOS PROFETAS MENORES



 A Bíblia hebraica, de onde vêm nossas versões da Bíblia, tratam os Profetas Menores como um único livro. Chamado O Livro dos Doze Profetas, o volume em hebraico traz os profetas na mesma ordem que a nossa. Juntos, os Profetas Menores têm por objetivo apresentar uma mensagem única que reafirma o amor e os planos de Deus para Israel, acima de seu julgamento contra o pecado do povo.
Estamos tão familiarizados com os nomes dos profetas a que esses livros são atribuídos, que é fácil esquecer que a maior parte deles não é mencionada em nenhum outro lugar da Bíblia. As exceções são Miquéias 0r 26.18), Jonas (2Rs 14.25) e Ageu e Zacarias (Ed 5.1; 6.14). Pouco sabemos acerca da maioria dos Profetas Menores e menos ainda sobre como as informações de que dispomos podem ajudar-nos a compreender seus livros.
Os Profetas Menores vão de Oséias (contemporâneo de Jeroboão II, 786-746 a.C.) a Malaquias (provavelmente contemporâneo de Esdras, 458 a.C.). Em meados do século VII a.C., os reinos de Israel em Samaria e de Judá em Jerusalém mantinham sua soberania e prosperavam. Mas, na Mesopotâmia, a Assíria crescia em poder e ambição. Cada vez mais, ela se interessava pela Palestina e, além desta, pelo Egito. Suas campanhas militares em 734 e 721 destruíram Sa­maria, o que fez com que a maior parte de sua população seguisse para o exílio. Judá sobreviveu, mas tomou-se vassalo da Assíria, tendo uma história conturbada durante o século seguinte.
Após 655 a.C., a Assíria se enfraqueceu devido a uma série de rebeliões, sendo por fim derrotada pela Babilônia em 612 e 609. A Babilônia derrotou o Egito e dominou a Palestina. Jerusalém foi destruída pela Babilônia em 587 e muitos judeus foram levados ao exílio. Então a Pérsia sucedeu a Babilônia em 539, herdando o império.
Sob a atitude persa mais tolerante com as várias religiões, os judeus receberam permissão para reconstruir o templo em Jerusalém. Isso levou muito tempo por causa da oposição dos povos vizinhos. Mas pelo trabalho de Zorobabel em 520-515, Esdras em 468 e Neemias em 445-427 a.C., o templo e a cidade foram reconstruídos, os serviços sacerdotais foram reinstituídos, a Torá de Moisés foi reconhecida como lei em Jerusalém e os peregrinos passaram a ser recebidos para grandes festas.


Os Profetas Menores não seguem uma ordem cronológica rigorosa. Há certa sequência cronológica que vai de Oséias, Amós e Miquéias (cerca de 750-701 a.C.) a Sofonias, Naum e Habacuque (cerca de 628-605), a Ageu e Zacarias 1—8 (520-515) e, finalmente, a Malaquias (cerca de 500-450). A situação cronológica dos outros livros é vaga. Obadias e Habacuque parecem estar ligados à queda de Jerusalém em 587, mas isso não é claro. O primeiro versículo de Sofonias o coloca na época de Josias (640-609), mas nada no livro encaixa-se nesse período.

Partes dos Profetas Menores seguem mais um esboço temático que uma ordem cro­nológica. Os seis livros curtos relacionam três temas em ordem invertida.

1. Joel: O dia do Senhor

2. Obadias: Edom (presente na queda de Jerusalém em 587 a.C.)

3. Jonas: Nínive

3. Naum: Nínive

2. Habacuque: Babilônia (presente na queda de Jerusalém em 587 a.C.)

1. Sofonias: O dia do Senhor

Eles parecem organizados numa ordem pouco ligada à cronologia. Antes, tratam de questões relacionadas com o julgamento de Deus contra Israel e contra as nações. Parece que os livros estão particularmente ligados com os terríveis acontecimentos por ocasião da queda de Jerusalém em 587 (Obadias e Habacuque) ou com o longo domínio de Nínive e sua queda (Jonas e Naum) e à teologia mas ampla do julgamento de Deus sobre toda a história 0oel e Sofonias).

A posição de Miquéias no centro do todo parece ser deliberada, ou seja, mudar o ponto central, deslocando-o de 587 a.C., a destruição de Jerusalém, o acontecimento crucial dos livros de Reis e Crônicas. Isaías fez essa mudança ao colocar os capítulos 36—39 no meio de sua visão. Os doze Profetas Menores seguem o mesmo padrão. Eles vêem o momento decisivo, não num acontecimento da história, mas na decisão divina que determina toda a história futura. Isaías colocou no início esse quadro da futura cidade do templo (CAP. 2). Os doze Profetas Menores usaram as mesmas palavras no centro de sua obra, em Miquéias 4, alcançando o mesmo efeito.

Tanto Isaías como os Profetas Menores fazem as predições e os anúncios contidos em seus livros se voltarem para um cumprimento no final ou perto do final do livro. Eles atentaram para a palavra de Deus falada por meio dos profetas e em suas páginas, para celebrar seu cumprimento antes do término do livro. Eles não deixaram os leitores sem um futuro. Pelo contrária, aquilo que Deus realizou na história concede aos leitores um futuro a ser vivido com a Palavra escrita de Deus (a Torá em Ml 4.4) e com a palavra viva de Deus por meio dos profetas (Ml 4.5).

Os Profetas Menores interpretam os três séculos e meio anteriores (cerca de 750 a 430 a.C.) da perspectiva da soberania de Deus na história. De forma específica, isso inclui seu povo da aliança, as nações de Canaã, as nações da Mesopotâmia e o Egito.

A questão central era se o Senhor ainda amava a Israel e tinha um propósito para a nação após todos os períodos terríveis que haviam passado. Sua história é revista em termos das bênçãos e maldições prescritas nas declarações da aliança em Levítico 26 e Deuteronômio 28—30. Mas a ênfase está no amor contínuo de Deus pelo seu povo, mesmo após os julgamentos inevitáveis.

Outra questão era se Deus controlava aquela história turbulenta ou se o caos vencera o propósito e o controle divinos. Qual a relação de Deus com uma história em que impérios pagãos ocupavam a terra de Deus e escravizavam seu povo? Onde encontrai- Deus num mundo obviamente não controlado pelo rei de Sião ungido por Javé? E que dizer dos que o cultuavam?

Os Profetas Menores, junto com os outros livros proféticos, foram escritos para ajudar seus leitores ou ouvintes a crer que a época em que viviam era a que Deus desejara e concretizara. Sabendo disso, poderiam perguntar “que deseja Deus que façamos neste momento?”, e fazê- lo. Era preciso que soubessem que certamente eram amados por Deus. Eram herdeiros privilegiados das grandes vitórias de Deus. Tinham responsabilidade diante do amor de Deus que lhes havia poupado e restaurado. Ainda eram o povo eleito de Deus, amados e benditos, a serem guiados por sua Palavra escrita (a Torá) e por sua presença entre eles, testemunhada por pregações inspiradas como as de Elias.

Como um todo, os Profetas Menores falam a um povo que duvidava do amor de Deus para com ele. Eram sacerdotes que não conseguiam perceber a seriedade do serviço que prestavam. Eram pessoas que optaram por ignorar alei e as provisões da aliança. Para eles, o Livro dos Doze avaliava três séculos e meio de relação entre Deus e a amarga história de Israel. As lições dessa história são as seguintes:

Oséias: o amor de Deus é constante e persistente. Não desiste, apesar da apostasia de Israel.

Joel: o pecado é grande e sério; o julgamento, necessário.

Amós: o pecado de Israel e de seus vizinhos atingira a plenitude; o julgamento era iminente.

Obadias: o domínio de Deus é manifestado no julgamento de Edom.

Jonas: Deus se importava também com Nínive.

Miquéias 4—5 (no centro da coletânea): a casa de Deus (o templo de Jerusalém) seria elevada acima de todos os montes. Todos os povos viriam até ela para cultuar. A justiça e a misericórdia são mais importantes que o sacrifício.

Naum: a ira de Deus revelou-se na destruição de Nínive.

Habacuque: as provações da fé em crise por causa da Babilônia deviam ser suportadas com paciência.

Sofonias: o tema de Joel acerca do Dia do Senhor é retomado.

Ageu e Zacarias 1—8: a construção do templo, liderada por Zorobabel e Josué, mostrou que estava próximo o tempo do cumprimento dos propósitos benevolentes de Deus para Jerusalém. As coisas caminhavam nessa direção.

Zacarias 9—14: a história de Israel no pré-exílio é resumida da perspectiva do judaísmo do pós-exílio sob domínio persa.

Malaquias: o amor de Deus foi revelado. Aproveitem as oportunidades. Lembrem-se das instruções de Deus. Ouçam a palavra profética de Deus.

Por causa da complexidade da literatura, é importante manter em mente um "mapa” do núcleo da mensagem. São estes os principais pontos de destaque:

Oséias 1—3: o amor resoluto de Deus por Israel.

Miquéias 4—5: o alvo de Deus —uma nova Jerusalém como cidade-templo à qual todos se dirigirão para adorar.

Malaquias: o amor resoluto de Deus prevaleceu. Correspondam a ele.

Uma vez que Livro dos Doze Profetas é preservado no cânon judaico dos Profetas Posteriores e nas Escrituras cristãs no fim do Antigo Testamento, os leitores de hoje encontram nele lições que continuam aplicáveis. Entre elas estão: o amor de Deus por aqueles que ele escolheu, que o buscam e que nele crêem; o controle de Deus sobre a história para cumprir seu plano, no qual seus eleitos amados devem desempenhar papel vital: e o alvo principal de Deus para seu povo: o culto sincero e alegre prestado a ele. Em todas as nações e povos, Deus convida pessoas que o buscam para que se juntem a seu povo no culto prestado a ele.

Tanto judeus como cristãos reconhecem que os Profetas Menores afirmam o estilo de vida que Deus deseja para eles. Não foi necessário aos judeus que voltaram do exílio recriar as situações das doze tribos em Canaã, como no livro de Josué ou no reino unido com Davi. Deus lhes confirmou a posição de povo disperso pelo mundo de então, prestando culto a ele onde quer que estivessem. Ele convocou o povo a manter-se unido em seu compromisso com ele no culto, pelo uso de uma Escritura em comum e na atenção ao templo de Jerusalém.

Os cristãos e os judeus têm plena consciência de que a história posterior eliminou o templo. Os romanos o destruíram em 70 d.C., e ele não foi reconstruído nem substituído. Os evangelhos revelam consciência disso (MC 14.58; 15.29;Jo 2.19,21). Tempos depois, uma parcela do cristianismo passou a considerar Roma e a basílica de São Pedro os substitutos do templo de Jerusalém. Mas todos os cristãos aceitam outras formas de vida para o povo de Deus conforme se ensina aqui: a dispersão pelo mundo, a orientação por meio de uma Escritura comum e a expectativa de que Deus continue a falar por meio de mensageiros escolhidos.

Os cristãos colocaram os doze Profetas Menores no fim do Antigo Testamento. Isso Uga a última mensagem acerca de Elias com o ministério de João Batista nos evangelhos. Ao fazê- lo, os cristãos afirmam a mensagem básica do livro. Os evangelhos afirmam o amor contínuo de Deus por seu povo conforme prometido a Abraão. Jesus ensinou que Deus se preocupa com os aleijados, cegos e outros deficientes do povo. Jesus também ensinou a preferência de Deus pelos pobres, mansos e humildes entre os crentes. Tudo isso é enfatizado nos doze

Profetas Menores. Atos e as epístolas que se seguem afirmam que Deus envia seu povo para se estabelecer em pequenas congregações espalhadas entre as nações, com o compromisso de ensinar, cultuar e também cuidar dos pobres. E o livro de Apocalipse retrata Jerusalém e seu templo elevados acima da terra para serem o lugar eterno da presença de Deus com seu povo amado e redimido.

Os Profetas Menores ( o Livro dos Doze) ajudaram os que voltaram do exílio e os que ali permaneceram a fazer as pazes com o passado turbulento. Eles haviam perdido a terra, o rei, o templo; estavam ameaçados de perderem até mesmo a própria identidade. Os Profetas Menores os ajudaram a ver que o amor e o propósito coerentes de Deus ainda sobreviviam e eram válidos para eles. Eles foram convidados a encarar aquela experiência terrível como recurso de Deus para lapidá-los, preparando-os para um novo modo de cumprir seus primeiros propósitos para Abraão e Jacó.

Os Profetas Menores também ensinam que os problemas de apostasia e rebeldia continuam. Nem todos os judeus entram no reino de Deus. Mas a porta está aberta para eles e para todos os outros que queiram juntar-se a eles, buscando a Deus e voltando-se para ele. O Livro dos Doze ensina que o guia que leva ao caminho de Deus está nas Escrituras, tanto na Lei como nos Profetas. (ESTUDO EXTRAÍDO DO MANUAL BÍBLICO DOCKLERY).