OS EVANGELHOS BÍBLICOS



Apesar da explicação simples, porém concisa, com que o Pr. e autor John Piper respondeu à questão do estudante, sabe-se que as teses mais eruditas sobre o tema em questão não fogem, essencialmente, ao que foi dito. Sou professor da disciplina "Evangelhos", em um curso de Teologia (Bacharelado) que leciono, e atualmente utilizo o autor indicado por Piper, Craig Bloomberg, autor de "Jesus e os Evangelhos", nas minhas aulas. O livro é realmente bom e tem um razoável nível de erudição conservadora sobre o assunto, assim como o de Broadus David Hale, "Introdução ao Estudo do Novo Testamento". Há muito material sendo feito e de boa qualidade. Contudo, é necessário que o cristão entenda que questões não resolvidas não implicam, necessariamente, em ´erros´ e ´contradições´ nos Evangelhos.

O estudo destas ´discrepâncias´ entre os evangelhos chama-se "Harmonia dos Evangelhos". Um bom exemplo de um texto traduzido para a língua portuguesa é o livro de nomo homônimo, de Stanley Gundry. Este livro, por exemplo, coloca os textos evangelísticos (inclusive o de João) em paralelo, e observa-se com mais clareza as diferenças nas ênfases dos relatos. Como disse o Pr. Piper, a intencionalidade de cada evangelística de cada autor deve ser levada em consideração, e os autores modernos pensam exatamente assim. Sabe-se que os autores dos Evangelhos têm "propostas teológicas" com um elemento invariável e comum, o messiânico, porém com outros elementos variáveis, peculiares a cada evangelista e que estavam em função de seus respectivos destinatários.

Assim, hoje (de um modo praticamente unânime, entre os autores mais conservadores), estabeleceu-se - a partir da análise da Crítica Textual -, o seguinte quadro:

"Mateus" - escreveu imediatamente para os judeus e, mediatamente, para uma comunidade gentílica. É o único dos evangelistas bíblicos que apresenta a palavra "Igreja" (ekklessia, no grego. Ex. capítulo 16). Sua "teologia da mensagem" versa sobre a "Realeza de Cristo (Messias)". É o que mais fala no Reino de Deus - particularmente no "Reino dos Céus", expressão que lhe é peculiar, talvez por um cuidado rabínico em não expressar constantemente o nome de Deus (daí não usar o termo "Reino de Deus").

"Marcos" - hoje, há um debate, que se iniciou no século XIX, sobre a chamada "prioridade de Marcos". Se isto for estabelecido, "Marcos" foi o primeiro dos Evangelhos bíblicos escritos, e não "Mateus". Sabe-se que os livros bíblicos não estão na ordem cronológica de sua composição, mas no caso dos Evangelhos isto não era verdade. Marcos é o menor dos evangelhos (em termos de quantidade de texto) e também traz como tema central o messianismo de Jesus. Contudo, por causa de características peculiares ao seu relato - em que mostra um estilo prático no conteúdo e na forma -, afirma-se que o Evangelho é o que enfatiza o "Messias-Servo de Deus".
"Lucas" - o evangelho que leva o nome de um dos maiores colaboradores do apóstolo Paulo é o único que tem o destinatário especificado, "Teófilo" (cap. 1, vss 1-4). Lucas, como os demais sinóticos e o Evangelho de João também enfatiza o messianismo de Jesus, com a particularidade de evidenciar o aspecto humano deste. É o Evangelho em que mais se vê a expressão "Filho do Homem" e é o único em que a genealogia de Jesus retroage até o primeiro homem, Adão. Isto pode denotar a ideia de que Lucas, que era grego, queria ressaltar que Jesus Cristo, antes de ser "Filho de Davi" ou "Filho de Abrão" - expressões que carregam uma forte conotação etnocêntrica -, era o "Filho do Homem", com uma ligação com toda a humanidade.

"João" - não é considerado um sinótico com os demais, pois não é semelhante aos mesmos. João é, na verdade, 93% diferente dos Evangelhos sinóticos. Isto se dá pela ênfase do relato joanino, que, como os demais, também enfatiza o aspecto messiânico de Jesus. Contudo, João escreve o Evangelho que leva seu nome de uma maneira mais peculiar: estão evidenciadas no relato os discursos de Jesus que o ligam à divinidade, ou seja, àqueles que revelam que Jesus era Deus. Os discursos "Eu Sou..." de Jesus, exclusivos de João, consolidam esta idéia. Neste Evangelho Jesus é, por exemplo, "o Caminho, a Verdade e a Vida" (14:6), aliando-se especialmente à divindade. O "prólogo" joanino é um dos mais conhecidos de toda a literatura bíblica ("No princípio era a Palavra (Verbo), e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus" - vs. 1). Uma cristologia apurada já pode ser observada neste texto, no qual o autor (João) liga Jesus ("a Palavra") a Deus, sem confundi-lo com Deus Pai. Assim, Jesus está com Deus e é Deus, corroborando o tradicional e ortodoxo dogma da divinidade e humanidade de Jesus.

Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo  


O RIO EUFRATES ESTÁ SECANDO!



Os estudiosos das profecias bíblicas oferecem várias interpretações para os textos que anunciam os sinais apocalípticos. Mas alguns parecem ser bem claros. O texto de Apocalipse 16:12 diz: “E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente". Embora aBíblia não forneça maiores detalhes de como isso ocorreria, desde o ano passado os cientistas alertam que, de fato, o Eufrates e o Tigre, principais fonte de água potável do Oriente Médio, estão secando. O motivo seria a maneira inadequada como Iraque, Turquia e Síria usam as águas daqueles rios para a agricultura. Existem sete represas do Eufrates na Turquia e na Síria, segundo as autoridades iraquianas. Sabe-se que eles alcançaram o menor volume de águas da história. Há quem acredite que em breve poderá ser a metade do que era. E não parece haver sinais de recuperação de seus leitos.

Satélites americanos detectaram uma grande diminuição das reservas de água nos rios Tigre e Eufrates em um período de sete anos, a partir de 2003, segundo um novo estudo que deve ser publicado nesta sexta-feira na revista Water Resources Research, periódico da União Geofísica Americana. O estudo foi realizado por cientistas da Universidade da Califórnia, do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA, e do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas.


Os leitos desses rios, cujas águas irrigam parte do Iraque, Irã, Turquia e Síria, perderam o equivalente a um Mar Morto, determinou o estudo. "É uma quantidade de água suficiente para satisfazer as necessidades de milhares de pessoas na região a cada ano, dependendo das regras de uso regional e a disponibilidade", afirmou Jay Famiglietti, coordenador da pesquisa.
O estudo baseia-se nos dados recolhidos durante um período de sete anos pelos satélites GRACE, da NASA, que vigiam as mudanças globais nas reservas de água. De acordo com as variações nas reservas de água em uma determinada região, os satélites medem a gravidade das transformações e seus impactos.
"Os dados dos GRACE mostram um índice alarmante de queda no armazenamento total de água no Tigre e Eufrates, que atualmente possuem a segunda taxa de perda mais rápida de águas subterrâneas da Terra, depois da Índia", indicou Famiglietti.

Fontes: Veja e Gospel Prime

O IMBECIL JUVENIL = UMA REFLEXÃO AS NOVAS GERAÇÕES (OLAVO DE CARVALHO)

 



Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.

        O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.

        Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria - a supressão, em suma, da personalidade.

        É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação - literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador.

      Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que orejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.

        Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.
        Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não-ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidade do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior.

        Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.

A BÍBLIA ENSINA QUE NOÉ PREGOU 120 ANOS POR QUE AINDA EXISTIA VAGA NA ARCA?

 

Em 29/08/2010
Eliel Lago escreveu:
Pastor Sandro meu amigo. 
Gostaria de saber como eu provo a luz da bíblia que Noé pregou por 120 anos.
Um grande abraço. Shalom.

Resposta:

Querido pastor Eliel,
Na verdade não há na Bíblia a afirmação de que Noé tenha pregado durante 120 anos.
Todavia, embora não se possa afirmar, é possível inferir. Vejamos:

Em Gênesis 6. 1-7 lemos:
Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram. Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos. Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade. Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o SENHOR: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito.

Neste texto vemos o profundo sentimento de Deus, devido à maldade humana, estipulando um tempo para a aplicação do castigo do Dilúvio, que é de cento e vinte anos, a partir daquela data (1).
 
Continue a leitura: Gênesis 6: 8 - 22
Porém Noé achou graça diante do SENHOR. Eis a história de Noé. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus. Gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé. A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência. Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra. Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra. Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento; de cinqüenta, a largura; e a altura, de trinta. Farás ao seu redor uma abertura de um côvado de altura; a porta da arca colocarás lateralmente; farás pavimentos na arca: um em baixo, um segundo e um terceiro. Porque estou para derramar águas em dilúvio sobre a terra para consumir toda carne em que há fôlego de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra perecerá. Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos. De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo. Das aves segundo as suas espécies, do gado segundo as suas espécies, de todo réptil da terra segundo as suas espécies, dois de cada espécie virão a ti, para os conservares em vida. Leva contigo de tudo o que se come, ajunta-o contigo; ser-te-á para alimento, a ti e a eles. Assim fez Noé, consoante a tudo o que Deus lhe ordenara.

Repare que Deus ordena que Noé faça a arca para si, sua esposa, seus filhos, as suas esposas e também para os animais; logo, a arca começou a ser construída quando os filhos de Noé já eram adultos e casados e não no início dos cento e vinte anos de tolerância.

Noé foi um pregador?
Sim, confira:

2 Pedro 2. 5 lemos: “[Deus] não poupou o mundo antigo, mas preservou a Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo de ímpios”.
E
1 Pedro 3: 18-20 Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais em outro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água.

Note que, na sua segunda carta o apóstolo Pedro chama Noé de “pregador da justiça” e na primeira carta nos informa da longanimidade de Deus, cujo Espírito de seu Filho, antes de sua encarnação, através de Noé, pregou aos homens rebeldes que, então, no tempo de Pedro, eram espíritos aprisionados no inferno(2).

Isto nos autoriza a pensar que Noé pregou sim aos seus contemporâneos, provavelmente por todos aqueles longos 120 anos, mesmo antes do início da construção da arca.

Qual o conteúdo da pregação de Noé?
Certamente, a mesma pregação acerca do futuro juízo de Deus, como já havia pregado o seu bisavô Enoque:
Judas 1:14, 15  Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades,  para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele”.

O historiador Flávio Josefo (37-103 AD) opina: "Noé, entristecido pela dor de vê-los imersos em seus crimes, exortava-os a mudar de vida"(3).
Noé chamava as pessoas para que entrassem na arca?
Não há nenhum texto bíblico que diga isto, pelo contrário, diante da maldade do mundo, Deus ordena a arca para a salvação de Noé e de sua família.

Hebreus 11:7  Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé.

Mas, sendo assim, então para que servia a pregação de Noé?
Para conclamar os homens à fé e ao arrependimento, que sempre foi o instrumento de Deus para a salvação, assim como a justiça de Deus sobre os impenitentes!
Através do Novo Testamento vemos um paralelo entre o juízo de Deus no Dilúvio e a destruição de Sodoma e Gomorra:

Lucas 17:26-29  Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos.

E
2 Pedro 2: 5-8  e [Deus] não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregador da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios; e condenou à subversão as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente; e livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis (porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, pelo que via e ouvia sobre as suas obras injustas).

Lembremos que Abraão tentou interceder por aquelas cidades:
Gênesis 18:23-32 E chegou-se Abraão, dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio? Se, porventura, houver cinqüenta justos na cidade, destruí-los-ás também e não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti seja. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? Então, disse o SENHOR: Se eu em Sodoma achar cinqüenta justos dentro da cidade, pouparei todo o lugar por amor deles. E respondeu Abraão, dizendo: Eis que, agora, me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza. Se, porventura, faltarem de cinqüenta justos cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco. E continuou ainda a falar-lhe e disse: Se, porventura, acharem ali quarenta? E disse: Não o farei, por amor dos quarenta. Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, se eu ainda falar: se, porventura, se acharem ali trinta? E disse: Não o farei se achar ali trinta. E disse: Eis que, agora, me atrevi a falar ao Senhor: se, porventura, se acharem ali vinte? E disse: Não a destruirei, por amor dos vinte. Disse mais: Ora, não se ire o Senhor que ainda só mais esta vez falo: se, porventura, se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei, por amor dos dez.

E o resultado:
Gênesis 19:15, 16;24, 25 E, ao amanhecer, os anjos apertaram com Ló, dizendo: Levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças na injustiça desta cidade. Ele, porém, demorava-se, e aqueles varões lhe pegaram pela mão, e pela mão de sua mulher, e pela mão de suas duas filhas, sendo-lhe o Senhor misericordioso, e tiraram-no, e puseram-no fora da cidade.  Então, o SENHOR fez chover enxofre e fogo, do SENHOR desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra. E derribou aquelas cidades, e toda aquela campina, e todos os moradores daquelas cidades, e o que nascia da terra.

Usando do paralelo destes textos com os outros já estudados podemos entender que a presença de um certo número de pessoas tementes a Deus, chamadas de “justos” nestas ocasiões seria suficiente para que Deus, por amor a elas, cancelasse a destruição; todavia, este número de pessoas nessas mínimas condições de temor a Deus não chegou a dez em cada caso. Deste modo, tanto os anjos enviados à casa de Ló, como a arca de Noé foram instrumentos de Deus para a salvação dos poucos que criam nEle.
Assim, a pregação de Noé não visava que mais pessoas entrassem na arca, e sim que o povo se arrependesse de seus pecados para que Deus os perdoasse (lembre-se do arrependimento dos ninivitas do livro de Jonas).
   
Contudo, assim que Noé iniciou a construção da arca, podemos assegurar que o esforço seu e de sua família tenha se concentrado no trabalho árduo; e que as marteladas na madeira se tornaram a sua pregação mais eloqüente, indicando o juízo que fatalmente se cumpriria.

Entretanto, estes acontecimentos não podem ser circunscritos à mera história, pois, servem de alerta para o materialismo e vaidade de nossos dias. Jesus Cristo nos alerta:

Mateus 24.37-39  Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem.

REFLEXÃO
Volte ao início da resposta e me diga:
Qual foi a gota d'àgua que despertou a ira de Deus sobre aquelas pessoas?
No tempo de Noé, quem se casava com quem?
Os filhos de Deus casando-se com as filhas dos homens; não é? 
Pois é, também em nossos dias, quando um enorme contingente de servos de Deus já não se preocupa com a formação de famílias verdadeiramente cristãs, reconhecemos que o juízo de Deus fatalmente se aproxima!

NOTAS
(1) Alguns estudiosos entendem que esses cento e vinte anos sejam, na verdade, a delimitação do tempo de vida dos homens desde então; todavia, vemos relatos bíblicos posteriores que mencionam diversas pessoas que viveram muito mais que isso:
Por exemplo:
Gênesis 9:29  Todos os dias de Noé foram novecentos e cinqüenta anos; e morreu.
Gênesis 11.10 - 16 São estas as gerações de Sem. Ora, ele era da idade de cem anos quando gerou a Arfaxade, dois anos depois do dilúvio; e, depois que gerou a Arfaxade, viveu Sem quinhentos anos; e gerou filhos e filhas. Viveu Arfaxade trinta e cinco anos e gerou a Salá; e, depois que gerou a Salá, viveu Arfaxade quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas. Viveu Salá trinta anos e gerou a Héber; e, depois que gerou a Héber, viveu Salá quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas. Viveu Héber trinta e quatro anos e gerou a Pelegue.

(2) Há autores que defendem a idéia de que, após a crucificação, o espírito de Jesus desceu ao inferno e pregou aos espíritos dos homens mortos no Dilúvio. Contudo, deixam de perceber que tal pensamento levanta dúvidas quanto à longanimidade de Deus em aguardar 120 anos  para executar o julgamento no tempo de Noé, como também impõe suspeitas sobre a justiça de Deus na aplicação do castigo do Dilúvio e do inferno sobre aquelas pessoas, bem como minimiza o pecado e a responsabilidade do homem contra Deus, mesmo diante da vida e do testemunho de Noé.

(3) Josefo, Flávio "História dos Hebreus". Livro Primeiro, 3.11. Editora CPAD. São Paulo, 1990. 

O ESQUERDISMO CRISTÃO.


Recentemente, um conhecido líder evangélico definiu-se ideologicamente da seguinte maneira: “Sou um pensador independente, de esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista. Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados". (conferir)
Causa-me espanto que um homem que se diz “de Deus” seja tão rápido em enfileirar-se nas trincheiras da teologia da libertação, como se ela se constituísse leitura fiel do Evangelho, sem, no entanto, aperceber-se das claras divergências entre ambos. Pelo menos foi o que ficou evidente.
Com base nesta percepção, gostaria de fazer as seguintes considerações:
1. O Evangelho não está restrito a uma classe social. Uma das pessoas mais mal compreendidas do mundo é o Senhor Jesus. Em seu nome muitos abusos foram e ainda são praticados. Um deles é restringi-lo à pobreza e à miséria. Na verdade, o Evangelho não defende a pobreza, ele defende unicamente a glória de Deus e a vitória de seu Filho para a salvação dos eleitos, sejam eles riquíssimos, medianos, pobres ou miseráveis financeiramente. Nesse contexto há cinco considerações importantes. Em primeiro lugar, Jesus recebeu e conviveu com ricos, além de freqüentar a casa dos publicanos, indivíduos censuráveis, não por terem recursos financeiros, mas pela maneira como enriqueceram. Em segundo lugar, o próprio conceito de pobreza não está restrito às posses materiais. Mt 5: 3 menciona acerca dos pobres de espírito, enquanto o próprio rei Davi, em meio à sua fortuna, afirmou no Sl 40:17: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” Em terceiro lugar, a defesa bíblica dos pobres ocorre no contexto da Aliança de Deus com o seu povo, ou seja, é o pobre crente que recebe as promessas dos cuidados divinos para a sua penúria. Em quarto lugar, o problema levantado pelas Escrituras não estava na riqueza, mas no apego a ela que promovia o orgulho, o egoísmo e o desprezo pelos necessitados. Em quinto lugar, condicionar as Boas Novas aos pobres, portanto, é permitir que a falta de recursos seja, em si mesma, santificadora do homem. O Evangelho não defende os pobres nem os marginalizados, pois o pobre sem Cristo será condenado, assim como o rico com Cristo será salvo.
2. A esquerda é, em essência, contra a moralidade divina. A esquerda defende uma liberdade pecaminosa ao homem. Não importa se se trata do Democratic Party americano, do Bloco de Esquerda português, do Sozialdemokratische Partei Deutschlands alemão ou do PSOL brasileiro, o alvo principal é o mesmo. A luta em favor do aborto, do feminismo, do homossexualismo, do divórcio, da compartimentação radical da sociedade, do uso de células-tronco embrionárias etc. são claramente contra a Lei de Deus. Se, historicamente, alguns segmentos da direita cometeram abusos, os da esquerda, de igual modo, cometeram também. O que determina tal posição é o humanismo em detrimento do teísmo (o mesmo ocorre com a teologia relacional, o neopentecostalismo e, obviamente, a teologia da libertação).
3. Toda cúpula governamental é abastada. Este é outro ponto que os esquerdistas não entendem. Os líderes da esquerda clássica vivenciaram a opulência e o conforto financeiro diante da miséria social. O próprio Fidel Castro é um exemplo clássico disso, sem falar de Hugo Chávez ou Evo Morales. Todos estão encastelados devorando faisões enquanto seus patrícios morrem por migalhas. Mas não são apenas estes que vivenciam o usufruto de bens materiais, até mesmo os homens de Deus sérios que ocuparam cargos públicos gozaram da riqueza e do conforto como foi o caso de Davi, de Salomão, de José e de Daniel.
4. Cuidar dos pobres é uma parte do cumprimento da Lei. Há vários textos que alertam o crente quanto ao cuidado aos necessitados. Mas isto não ocorre para que haja uma transformação social radical. Isto é utopia. Aliás, “nunca deixará de haver pobres na terra” (Dt 15: 11). A responsabilidade do crente está em partilhar daquilo que Deus concede generosamente, pois nada é nosso, tudo é dele. A riqueza não deve embrutecer ou criar a sensação de auto-suficiência, pois em tudo dependemos da graça. Por isso, somos obrigados a servir ao próximo, inclusive com o bolso. É nesse contexto que o Evangelho promove mudanças na sociedade, embora isso não seja o alvo principal.
Além de tudo o que acima foi exposto, é preciso ressaltar que o esquerdismo manifesto na Teologia da Libertação lê as Escrituras com um programa de mudança social, isto é, a interpretação que ela faz do Evangelho pretende ser apenas uma justificativa para as práticas políticas voltadas à sociedade. Afinal, para a Teologia da Libertação, a leitura é uma “produção de sentido” onde leitor constrói o significado do texto.
Concluo dizendo que “ser de esquerda” e “ser cristão” estabelece uma grande contradição, cuja síntese – se é que isso exista – sempre prejudicará o Evangelho e contribuirá maciçamente para com a esquerda. Ser cristão é não pertencer ao mundo, é ser peregrino, é ser louco para com os inteligentes deste mundo.

SOLA SCRIPTURA
PR. ALFREDO DE SOUZA

CONSIDERAÇÕES SOBRE O MARXISMO

 

É impressionante como o discurso da esquerda marxista é, antes de tudo, alienado, desonesto e perverso.

É Alienado porque repete clichês internalizados sem o mínimo de criticidade teórica ou histórica. Os abusos na utilização dos termos são enormes, “mais-valia” “classe social”, “capital internacional”, “infra” e “super estrutura”, “reificação”, “ideologia” e por aí vai. Como exemplo, ressalto o termo “mais-valia” onde muitos marxistas desconhecem os precursores deste equivocado conceito no Empirismo Deista Inglês, como também desconhecem o seu contraponto iniciado por Böhm-Bawerk;

É desonesto porque manipula, pelo discurso, suas representações de mundo excluindo qualquer pensamento que seja contrário. Além disso, dissimulam a ocorrência de que em lugar nenhum do planeta o regime marxista deu certo.

É perverso porque limita, embota e dissimula os dados e as narrativas, fazendo com que os mais desinformados internalizem as ações revolucionárias tão emotivas quanto quiméricas.

Além disso, discutir com os pensadores da esquerda é dura tarefa que gera canseira dolorosa. E isso pelos seguintes motivos:

1. No Brasil a produção acadêmica não existe fora da esfera gigantesca do esquerdismo, principalmente o marxista. Não há debate equilibrado, pois a única disputa existente acontece somente entre as várias vertentes do próprio marxismo. A maioria dos intelectuais e seus reproduzidos simplesmente não conseguem enxergam outra coisa;

2. O marxismo não é uma teoria, mas uma doutrina que não aceita, sob hipótese alguma, ser contrariada. Aliás, contrariar o velho Marx é um escândalo para os seus servos intelectuais. Trata-se de uma doutrina, principalmente, pelo viés do marxismo cultural que possui como meta ações que vão além da política e da economia. O alvo é a legalização do aborto, da eutanásia etc., bem como a desmoralização e a destruição da religião cristã. É por estes motivos que há a doutrinação nas escolas desde o ensino fundamental moldando os alunos a terem como práticas aquilo que denominam de “politicamente correto” tão celebrado hoje em dia.

3. As teorias marxistas são metamórficas. Elas se adaptam em qualquer espaço humano. Por este motivo há as influências marxistas, não só nos partidos radicais de esquerda, como também nas esferas evangélicas por meio da TMI;

4. A desonestidade do discurso marxista é flagrante. A manipulação que fazem da historiografia é cruel, alienante e risível. É impressionante como os marxistas acreditam que todas as esferas das práticas e das representações humanas se resumem na exploração do capitalista contra a miséria humana. Outra falácia é debitar na conta da direita partidos totalitários da II Guerra Mundial. Quer fazer um teste desta crendice? Faça a afirmação de que o Nazismo e o Fascismo foram movimentos da esquerda socialista! Pronto, prepare-se, pois a casa desmoronará sobre você!

5. Falta leitura e, consequentemente, aprofundamento nas teorias de contraponto. Dificilmente um marxista terá lido um Carl Menger ou Luiz Pondé, Henry Hazlitt, Denis Rosenfield, Ivan Dauchas, Russell Kirk, Murray Rothbard, para citar apenas alguns. Não, não leram! E não leram por causa do que apresento no item 1 e, neste caso específico, podemos isentá-los da culpa e classificá-los como vítimas deste gigantesco processo. O resultado é que a esfera de leitura que transitam não ultrapassa Eric Hobsbawm, Louis Althusser, Perry Anderson, Leo Huberman, Caio Prado Júnior, Edward Thompson,Georges Politzer, Jacques Lacan, também para citar apenas alguns.

6. Sempre que um movimento econômico esquerdista político ou estatal dá com os burros n'água, logo afirmam que o problema pode ser explicado a. pela teoria da adulteração que fizeram de Marx; b. que tais movimentos se tornaram de direita (este é o atual discurso com relação ao PT) ou; c. que o capitalismo internacional esmagou cruelmente o lindo sonho de uma noite de verão. O discurso de que os vários movimentos esquerdistas desmantelados faliram por terem se vendido ao capitalismo ou ao sistema democrático liberal contraria a posição de, por exemplo, Deng Xiaoping ou mesmo a de Antonio Gramsci, tão celebrado por muitos. Pensemos um pouco. Afinal de contas, por que Lula e Dilma, vivem abraçados ao capital estrangeiro ou por que Nicolas Maduro insiste em vender o seu petróleo aos Estados Unidos, por que a Perestroika e a Glasnost de Gorbachev, ou por que o assassino Fidel Castro há anos chora as pitangas devido ao embargo econômico?

7. Por fim, os revolucionários esquecem que o marxismo é um subproduto do Iluminismo do século XIX como o Positivismo, o Empirismo Deísta, o Hegelismo, o kantismo etc. E como tal, já deveria ter sido banido das questões epistemológicas de compreensão do mundo na atualidade, deveria ser relegado aos porões das teorias há muito ultrapassadas, teorias que são tratadas como clássicas ou ímbrica.

Encerro com Eduardo Galeano: "Para mim, essa proza da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera."


Sola Scriptura
PR. ALFREDO DE SOUZA


O QUE REALMENTE SIGNIFICA A AFIRMAÇÃO "NÃO TOQUE NO UNGIDO DO SENHOR."?

 


Há várias passagens na Bíblia onde aparecem expressões iguais ou semelhantes a estas do título desta postagem:
A ninguém permitiu que os oprimisse; antes, por amor deles, repreendeu a reis, dizendo: Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas (1Cr 16:21-22; cf. Sl 105:15).
Todavia, a passagem mais conhecida é aquela em que Davi, sendo pressionado pelos seus homens para aproveitar a oportunidade de matar Saul na caverna, respondeu: "O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele [Saul], pois é o ungido do Senhor" (1Sm 24:6).

Noutra ocasião, Davi impediu com o mesmo argumento que Abisai, seu homem de confiança, matasse Saul, que dormia tranquilamente ao relento: "Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor e fique inocente?" (1Sm 26:9). Davi de tal forma respeitava Saul, como ungido do Senhor, que não perdoou o homem que o matou: “Como não temeste estender a mão para matares o ungido do Senhor?” (2Sm 1:14).

Esta relutância de Davi em matar Saul por ser ele o ungido do Senhor tem sido interpretado por muitos evangélicos como um princípio bíblico referente aos pastores e líderes a ser observado em nossos dias, nas igrejas cristãs. Para eles, uma vez que os pastores, bispos e apóstolos são os ungidos do Senhor, não se pode levantar a mão contra eles, isto é, não se pode acusa-los, contraditá-los, questioná-los, criticá-los e muito menos mover-se qualquer ação contrária a eles. A unção do Senhor funcionaria como uma espécie de proteção e imunidade dada por Deus aos seus ungidos. Ir contra eles seria ir contra o próprio Deus.

Mas, será que é isto mesmo que a Bíblia ensina?

A expressão “ungido do Senhor” usada na Bíblia em referência aos reis de Israel se deve ao fato de que os mesmos eram oficialmente escolhidos e designados por Deus para ocupar o cargo mediante a unção feita por um juiz ou profeta. Na ocasião, era derramado óleo sobre sua cabeça para separá-lo para o cargo. Foi o que Samuel fez com Saul (1Sam 10:1) e depois com Davi (1Sam 16:13).

A razão pela qual Davi não queria matar Saul era porque reconhecia que ele, mesmo de forma indigna, ocupava um cargo designado por Deus. Davi não queria ser culpado de matar aquele que havia recebido a unção real.

Mas, o que não se pode ignorar é que este respeito pela vida do rei não impediu Davi de confrontar Saul e acusá-lo de injustiça e perversidade em persegui-lo sem causa (1Sam 24:15). Davi não iria matá-lo, mas invocou a Deus como juiz contra Saul, diante de todo o exército de Israel, e pediu abertamente a Deus que castigasse Saul, vingando a ele, Davi (1Sam 24:12). Davi também dizia a seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, quando o próprio Deus haveria de matá-lo por seus pecados (1Sam 26:9-10).

O Salmo 18 é atribuído a Davi, que o teria composto “no dia em que o Senhor o livrou de todos os seus inimigos e das mãos de Saul”. Não podemos ter plena certeza da veracidade deste cabeçalho, mas existe a grande possibilidade de que reflita o exato momento histórico em que foi composto. Sendo assim, o que vemos é Davi compondo um salmo de gratidão a Deus por tê-lo livrado do “homem violento” (Sl 18:48), por ter tomado vingança dos que o perseguiam (Sl 18:47).

Em resumo, Davi não queria ser aquele que haveria de matar o ímpio rei Saul pelo fato do mesmo ter sido ungido com óleo pelo profeta Samuel para ser rei de Israel. Isto, todavia, não impediu Davi de enfrentá-lo, confrontá-lo, invocar o juízo e a vingança de Deus contra ele, e entregá-lo nas mãos do Senhor para que ao seu tempo o castigasse devidamente por seus pecados.

O que não entendo é como, então, alguém pode tomar a história de Davi se recusando a matar Saul, por ser o ungido do Senhor, como base para este estranho conceito de que não se pode questionar, confrontar, contraditar, discordar e mesmo enfrentar com firmeza pessoas que ocupam posição de autoridade nas igrejas quando os mesmos se tornam repreensíveis na doutrina e na prática.

Não há dúvida que nossos líderes espirituais merecem todo nosso respeito e confiança, e que devemos acatar a autoridade deles – enquanto, é claro, eles estiverem submissos à Palavra de Deus, pregando a verdade e andando de maneira digna, honesta e verdadeira. Quando se tornam repreensíveis, devem ser corrigidos e admoestados. Paulo orienta Timóteo da seguinte maneira, no caso de presbíteros (bispos/pastores) que errarem:
"Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas. Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam" (1Tim 5:19-20).

Os “que vivem no pecado”, pelo contexto, é uma referência aos presbíteros mencionados no versículo anterior. Os mesmos devem ser repreendidos publicamente.

Mas, o que impressiona mesmo é a seguinte constatação. Nunca os apóstolos de Jesus Cristo apelaram para a “imunidade da unção” quando foram acusados, perseguidos e vilipendiados pelos próprios crentes. O melhor exemplo é o do próprio apóstolo Paulo, ungido por Deus para ser apóstolo dos gentios. Quantos sofrimentos ele não passou às mãos dos crentes da igreja de Corinto, seus próprios filhos na fé! Reproduzo apenas uma passagem de sua primeira carta a eles, onde ele revela toda a ironia, veneno, maldade e sarcasmo com que os coríntios o tratavam:

"Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco.
Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens.
Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis.
Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.
Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados. Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus. Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores" (1Cor 4:8-17).
Por que é que eu não encontro nesta queixa de Paulo a repreensão, “como vocês ousam se levantar contra o ungido do Senhor?” Homens de Deus, os verdadeiros ungidos por Ele para o trabalho pastoral, não respondem às discordâncias, críticas e questionamentos calando a boca das ovelhas com “não me toque que sou ungido do Senhor,” mas com trabalho, argumentos, verdade e sinceridade.

“Não toque no ungido do Senhor” é apelação de quem não tem nem argumento e nem exemplo para dar como resposta.

Rev. Augusto Nicodemos Lopes