DOCUMENTÁRIO: SÉRIE SABEDORIAS DA ANTIGUIDADE - OS GREGOS


Excelente documentário que irá nos mostra um pouco da riqueza cultural desta civilização.

MENSAGEM DA CRUZ: SINTOMAS DE CRENTE DESVIADO - PASTOR PAULO JUNIOR


Nesta mensagem vamos entender como identificar uma pessoa que vive dentro da igreja, mas fora de Cristo, uma abordagem edificante para nosso crescimento espiritual.

ESCATOLOGIA E SUAS PRINCIPAIS VERTENTES


1 – SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DA ESCATOLOGIA
Escatologia é o estudo das “últimas coisas”, ou seja, que estão reservadas para o futuro do homem e do mundo. Trata, basicamente, do período do arrebatamento, das ressurreições, da tribulação, da volta de Cristo, do milênio e do juízo final.
Assim como outras áreas da Teologia, a escatologia é bastante complexa e apresenta inúmeras dificuldades. Isso faz com que muitos considerem seu estudo de importância secundária, mas essa é uma visão inexata.
Objetivos do estudo da escatologia pelos crentes:
  • Oferecer alegria em meio à aflição (2Co 4.17; 1Ts 4.18);
  • Encorajar a viver em santidade (1Jo 3.3);
  • Ajudar no ensino e na correção dos crentes, já que faz parte das Escrituras (2Tm 3.16,17);
  • Fornecer informações sobre a vida futura (2Co 5.8).

2 – VISÃO PÓS-MILENISTA
Consiste na crença de que o “milênio” deve ser um período indefinido de tempo na própria era em que vivemos, sendo que Jesus voltará ao final desse período. A. H. Strong, em seu livro Teologia Sistemática, esse milênio seria:
“Um período, nos dias finais da igreja militante, quando, sob a influência especial do Espírito Santo, o espírito dos mártires deverá ressurgir, a verdadeira religião será grandemente estimulada e revivida, e os membros das igrejas de Cristo ficarão tão conscientes da sua força em Cristo que chegarão a uma abrangência antes desconhecida e triunfarão sobre o poder do mal tanto dentro quanto fora dela.”
Para os pós-milenistas, um “período dourado” de paz e harmonia se instalará nos últimos dias da nossa era, quando os cristãos serão dominantes no mundo e Satanás estará amarrado de uma maneira especial. Esse período será encerrado pela volta de Jesus e seguido da ressurreição e dos julgamentos.
Quanto às alianças e promessas não cumpridas ainda em relação a Israel (que os dispensacionalistas afirmam que serão cumpridas no milênio), os pós-milenistas dizem estar sendo cumpridas hoje com a igreja (para os pós-milenistas, não há distinção entre Israel e igreja e a igreja atual é o Israel de Deus).
Essa posição cresceu, principalmente na segunda metade do segundo milênio, devido aos avanços obtidos pelos homens. Acabou por perder força após as guerras mundiais.

3 – VISÃO AMILENISTA
O amilenismo defende a inexistência de um “milênio” antes do fim do mundo. Postula que haverá sempre dois reinos, o de Deus e o pertencente a Satanás, até que Jesus volte e promova a ressurreição e o juízo. Quanto ao milênio em si, alguns amilenistas pensam se tratar do que a igreja vive hoje na Terra, enquanto outros acham que se trata da realidade dos santos atualmente no céu.
No tocante às alianças e promessas não cumpridas ainda em relação a Israel, os amilenistas dizem que elas não precisam se cumprir, pois eram promessas “condicionais”. Para tanto, o amilenismo utiliza, principalmente, uma hermenêutica fundamentalmente “alegórica” para interpretar os profetas do AT.
Importante: Nem o pós-milenismo, nem o amilenismo creem em um reinado futuro de Cristo na Terra.

4 – VISÃO PRÉ-MILENISTA
É a visão que afirma que a Segunda Vinda de Cristo se dará antes do milênio. Isso abrirá o cronômetro para um período de tempo de mil anos nos quais Cristo vai reinar. Também entende que haverá nesse período, além de juízos, ressurreições. Terminará com o Grande Trono Branco, o juízo final. Dentro dessa visão há certa discordância sobre quando ocorrerá o arrebatamento da igreja.
Para que alguém seja pré-milenista, é imperativo que creia firmemente na Bíblia como a Palavra de Deus inspirada e inerrante e utilize uma interpretação normal ou literal das Escrituras, também chamada de interpretação histórico-gramatical.
Quanto às alianças e promessas não cumpridas ainda em relação a Israel, os pré-milenistas creem que serão todas cumpridas durante o milênio, quando Cristo reinará na Terra (2Sm 7.11-16), restaurará a nação de Israel (Jr 31.31-34; Ez 36.24-36) e lhe dará a terra prometida a Abraão (Gn 15.18-21) e que nunca foi antes “plenamente” possuída pelos israelitas – notar que o texto indica como limite Norte o rio Eufrates, o que significa que essa terra incluirá o território do Líbano e um pedaço da Síria.
Os pré-milenistas fazem distinção entre Israel e a igreja. Para eles, Deus tem planos históricos para cada um deles.

AS ALIANÇAS INCONDICIONAIS DE DEUS COM ISRAEL
a)       Aliança Abraâmica — Promessa da TERRA a Abraão (Gn 12.1-3; 15.18-21).
b)       Aliança Davídica Promessa de um TRONO perpétuo a um descendente do Davi (2Sm 7.11-16).
c)       Nova Aliança Promessa de um novo TRATO com Deus por meio da conversão nacional (Jr 31.31-34; Ez 36.24-36; Jl 2.28-32).

RESUMO EXPOSITIVO DAS EPÍSTOLAS PASTORAIS - POR ANDRÉ RODRIGUES


INTRODUÇÃO

Levando em consideração, a alta experiência do apóstolo Paulo com relação a assuntos relacionados à igreja do Senhor, o mesmo proporcionou a dois de seus companheiros, “os quais foram por ele chamados de filhos”, a responsabilidade de estarem à frente de igrejas e os adverti-os de modo sensato e preciso, dando-lhes direção e instrução, afim de que, eles pudessem ter condições suficientes para se manterem firme nesta obra tão árdua. A Timóteo e a Tito, findando a sua missão neste mundo, Paulo, o Apóstolo dos Gentios, endereçou cartas com diversas admoestações, fortalecendo-os quanto a fé e de como deveriam se portar ante as heresias que assolavam a igreja na época, bem como a cerca da formação daqueles que dariam prosseguimento a obra do Senhor. Estas cartas tão preciosas tanto para seus receptores, como para nós igreja, por conterem mais um tratado de conselhos práticos do que compêndio teológico tem sido conhecidas desde os tempos mais remotos como Epístolas Pastorais.

ÍNDICE

Introdução
Epístolas Pastorais; Introdução e cenário Histórico
Autenticidade e Evidência Externa
Evidência Interna:
• Cenário Histórico
• A Linguagem
• A Teologia
• A Eclesiologia
• Os Ensinos heréticos/Conclusão
Época e Local
Primeira Epístola a Timóteo:
• Ocasião e Propósito/Estrutura e Conteúdo/Esboço
Segunda Epístola a Timóteo:
• Ocasião e Propósito
• Estrutura e Conteúdo/Esboço
Epístola a Tito:
• Estrutura e Conteúdo/Esboço
• Esboço (cont.)
Bibliologia

EPÍSTOLAS PASTORAIS
(AS EPÍSTOLAS A TIMÓTEO E A TITO)

INTRODUÇÃO

A Primeira e a Segunda Epístolas a Timóteo e a Epístola a Tito foram pela primeira vez chamadas "Pastorais" no século dezoito, por D.N. Bardot (1703), e popularizadas por esse título em 1726, por Paul Anton. Embora estas epístolas não sejam cartas de teologia pastoral, o título serve convenientemente para distinguir as três, como um grupo, de outras cartas escritas por Paulo. Estas epístolas não são manuais de organização eclesiástica, disciplina da igreja, administração eclesiástica ou métodos eclesiásticos. Paulo estava dando instruções para situações históricas reais de duas igrejas, que estavam sob os cuidados de dois ministros que ele conhecia intimamente. Por esta razão, as epístolas são limitadas quanto ao assunto discutido, mas elas contêm princípios que podem ser usados em igrejas de qualquer época e lugar. As três tem tanta coisa em comum, quanto a estilo, doutrina e alusões históricas, que devem ser tratadas como um grupo, da mesma maneira como as Epístolas da Prisão.
Em contraste com a Epístola aos Hebreus, que não traz no texto nenhuma indicação clara do seu autor, estas três epístolas declaram abertamente terem sido escritas pelo apóstolo Paulo. Há evidência externa, primitiva e bastante forte, em apoio disto, não havendo evidência igual contra esse fato. A incerteza de hoje em dia sobre este ponto deve-se inteiramente a considerações internas e teóricas: estas considerações são de pouco proveito, visto não levarem a uma conclusão e apenas criarem hesitação e desconfiança. Embora o seu tema e, ainda mais, o seu vocabulário possam usar-se em argumento contra a possibilidade da autoria de Paulo, nenhum desses raciocínios é decisivo. Muito ainda se pode dizer sobre o outro lado da questão, e muitos eruditos de responsabilidade tem ainda aceitado a autoria paulina.
As próprias epístolas não somente endossam esta atitude, como também exortam com instância que não nos demos a debates que não produzem efeitos satisfatórios, e que não somente não trazem benefícios positivos, como podem servir para minar em alguns a sua fé. (Ver 1Tm 1.4; 6.20-21; 2Tm 2.14-23; Tt 3.9).
Estas epístolas, todavia, apresentam um dos maiores problemas no Novo Testamento. As cartas tem forte apoio externo; não obstante, há muitas peculiaridades internas, em comparação com outras cartas pau¬linas. Estas peculiaridades são de tal natureza que muitos eruditos bíblicos modernos rejeitam estas cartas como sendo verdadeiramente de Paulo. O estudante que quiser entender estas Cartas Pastorais deve examinar, em detalhes", os problemas envolvidos.

CENÁRIO HISTÓRICO

O cenário histórico colhido destas epístolas é como segue. Depois que Paulo e Timóteo estiveram juntos em Éfeso, Paulo partiu para a Macedô¬nia (I Tm. 1:3), mas esperava voltar logo (I Tm. 3:14). Timóteo havia partido para Éfeso, para cuidar da igreja refutar os falsos mestres que estavam em atividade lá. Uma vez que sua volta podia ser retardada, Paulo escreveu esta carta, para ajudar Timóteo em seu ministério (I Tm. 3:14,15). De maneira semelhante, Paulo estivera em Creta e, ao partir, deixou Tito para cuidar da organização da igreja (Tt. 1:5). Paulo estava, provavelmente, na Macedônia ou em Acaia e queria que Tito se encontrasse com ele em Nicópolis, onde Paulo planejava passar o inverno (Tt. 3:12). De II Timóteo fica-se sabendo que Paulo era um prisioneiro (II Tm. 1:8, 16,17; 2:9). Ele já havia estado perante o tribunal uma vez (II Tm. 4:11,16, 21) e estava aguardando outro aparecimento. Ele tinha pouca esperança de ser solto (II Tm. 4:6). Somente Lucas ainda estava com ele (II Tm. 4:11), Tito tendo sido enviado à Dalmácia (II Tm. 4:10) e Tíquico a Éfeso (II Tm. 4:12); Demas havia abandonado Paulo e retornara a Tessalônica (II Tm. 4:10).
Esta, então, é a informação colhida das três cartas. A ordem dos eventos de I Timóteo e Tito é difícil traçar; a de II Timóteo logica¬mente seguiria as outras duas. Mas, onde, na vida e ministério de Paulo estes eventos podem ser colocados? É esta pergunta que levou ao questio¬namento da autenticidade destas epístolas.
AUTENTICIDADE

Até o século dezenove, estas cartas foram aceitas como cartas genuínas de Paulo. Em 1804, J.E.C. Schmidt expressou alguma dúvida acerca da antenticidade, mas foi F. Schleiermacher(1807) que negou abertamente a autoria paulina de I Timóteo, em bases filológicas. Conseqüentemente, por causa das semelhanças com as outras Pastorais, os críticos começaram a questionar todas as três. Os estudiosos modernos estão divididos com respeito à autenticidade destas epístolas. Há alguns que diriam que paulinista as escreveu, e alguns admitiriam serem fragmentos paulinos genuínos reunidos após a morte de Paulo. Há muitos estudiosos modernos que ainda mantêm a integridade e autenticidade da autoria paulina. As duas áreas amplas de evidência externa e interna serão discutidas ao se apresentar os problemas críticos na determinação da autenticidade.

EVIDÊNCIA EXTERNA

Se a autenticidade fosse decidida somente em bases externas, não haveria nenhuma dúvida acerca da autoria paulina. Há traços destas cartas em Clemente de Roma e Inácio, mas nenhuma citação direta. Há várias palavras e locuções comuns às Pastorais e aos escritos de Clemente e Inácio. Os críticos que atribuem estas cartas a um paulinista do início do segundo século afirmam que o compilador tomou emprestado de Clemente! Policarpo mostra conhecimento mais aguçado das Pastorais I parece citar diretamente delas. Há alusões em Justino Mártir e Heracles, e Irineu indicou diretamente que estas foram cartas de Paulo. Pela época do final do segundo século, as Pastorais eram largamente conhecidas e aceitas como sendo de Paulo. Os traços da circulação das Pastorais na igreja antes da época de Marcião são mais claros que os que podem ser encontrados para Romanos e II Coríntios. Estas três cartas estão incluídas na lista das cartas paulinas, conforme apresentadas no Fragmento Muratoriano.
Os que se opõem à autoria paulina das Pastorais em bases ex¬ternas fazem isto por duas razões: 1) Elas não aparecem no câ¬non de Marcião; 2) elas estão ausentes do mais antigo manuscrito grego existente das cartas paulinas, o p46. Alega-se que as dez cartas paulinas contidas na lista de Marcião indicam que ele não soube da existência des¬tas outras três. Diz-se que estas não estiveram em circulação o suficiente cedo para Marcião incluí-las em seu cânon; que elas foram escritas durante o segundo século, no grande debate contra a heresia de Marcião. Contudo, Tertuliano, em sua polêmica contra Marcião, afirmou que foi por esta razão que Marcião rejeitou três dos Evangelhos, mutilou o terceiro Evangelho, para satisfazer aos seus critérios, mutilou algumas das cartas de Paulo (principalmente Romanos) e rejeitou as cartas que conhecemos como as Pastorais. Esta seleção foi feita em bases doutriná¬rias, e há materiais, nestas cartas (i.e., I Tm. 1:8; 6:20; II Tm. 3:16; etc), que estão em desacordo com os conceitos básicos de Marcião. Deve ser lembrado também que os cristãos ortodoxos do segundo e terceiro séculos aceitaram estas Pastorais como genuínas. Por que deveria ser dado mais peso a uma lista de um conhecido hereje do que àqueles que estão na corrente principal do cristianismo?
A ausência das Pastorais (e Filemom), no p46, é também citada como prova para negar-se a autoria paulina. Contudo, se assim fosse, muito do Novo Testamento seria rejeitado também. Os papiros de Chester Beatty contem fragmentos de um códice dos Evangelhos p46, quase tudo de um códice contendo as cartas de Paulo p46 e fragmentos de outro códice do Apocalipse P47. Concluir-se que somente os livros representados nestes papiros são autênticos seria por em risco todos os que não aparecem. Igualmente, é observado que faltam, no códice existente, denominado P46, a primeira e a última páginas. Estimou-se que pelo menos sete das últimas páginas estão faltando. Pode-se ver que o copista estava começan¬do a aglomerar suas cartas nas últimas páginas existentes, e, assim, dando a impressão de que estava tentando colocar todo o material paulino restante dentro do códice. Normalmente se tomaria nove páginas para as Pastorais e Filemom, mas com a aglomeração de cartas isto poderia ser feito em sete páginas. Deve ser também lembrado que estes papiros foram produzidos em Alexandria, e, os escritores patrísticos de Alexandria, todos reconhecem, sem dúvida, a autenticidade destas quatro cartas ausentes de Paulo. Clemente de Alexandria e seus discípulos aceitaram estas como autênticas muito antes de o P46 ter sido escrito. Portanto, rejeitar-se a autenticidade em bases externas é uma conjetura subjetiva, que deve ser abandonada por qualquer observador honesto.
EVIDÊNCIA INTERNA

Muita parte do questionamento acerca da evidência externa é subjetiva e se torna dúvida e negação reais, devido a considerações e conclusões que surgem da evidência interna. Se devesse ser concluído de considera¬ções internas que Paulo não poderia ter escrito as Pastorais, então, logicamente, o testemunho da igreja primitiva deve estar errado. Os críticos que encontram falha quanto à autoria paulina das Pastorais fazem-no com base em cinco considerações: 1) O cenário histórico; 2) a linguagem; 3) a teologia; 4) a eclesiologia; e 5) os ensinos heréticos a serem combatidos.

1. O Cenário Histórico — Uma das razões principais dadas para a rejeição da autoria paulina é que os lugares e muitas das pessoas mencionadas nas Pastorais não podem ser harmonizados com o que se conhece dos movimentos de Paulo, conforme vistos em Atos e nas outras cartas de Paulo. I Timóteo indica que Paulo, após ter trabalhado em Éfeso por algum tempo, deixou Timóteo (1:3) e foi para a Macedônia. Segundo Atos 19:22 e 20:1, Paulo permaneceu em Éfeso e enviou Timóteo, bem como Erasto, para a Macedônia. Após algum tempo, Paulo deixou Éfeso antes da volta de Timóteo, foi para Corinto, e lá Timóteo o encontrou. Como este é o único lugar, em Atos. acerca de um ministério em Éfeso, deve-se concluir que I Timóteo teve que ocorrer após Atos 28. Na Epístola a Tito, Paulo infere que trabalhou na ilha de Creta e deixara Tito quando foi para a Macedônia ou Acaia (1:5; 3:12). Ele pediu a Tito para encontrar-se com ele em Nicópolis, onde planejava passar o inverno. Nada existe em Atos ou nas cartas de Paulo acerca de um ministério em Creta. Ele passou por lá como prisioneiro, quando ia para Roma, proveniente de Cesaréia (At. 27:7-12), mas não teve nenhuma ocasião ou tempo para um ministério na ilha. Também Paulo — estando a caminho de Roma e os dois anos como prisioneiro lá — passou o inverno, que se seguiu à viagem, em Roma, e não em Nicópolis. Portanto, nenhum dos movimentos de Paulo, conforme apresentados em Tito, pode ser harmo¬nizado com Atos. II Timóteo mostra Paulo como um prisioneiro em Roma, Trófimo deixado doente em Mileto (4:20), Tito na Dalmácia (4:10), Erasto como havia ficado em Corinto (4:20), e que os livros e a capa haviam sido deixados em Trôade (4:13). Timóteo deve chegar antes que o inverno comece (4:9,13). Nenhuma destas informações concorda com Atos. Isto não poderia ter sido durante o chamado primeiro encarceramento romano (o de Atos 28), porque, em II Timóteo 4:12, Paulo está enviando Tíquico a Éfeso, e, embora parecesse ser. Aquela ocasião de Colossenses 4:7, Timóteo estava com Paulo em Roma quando a carta Colossense foi escrita (Col. 1:1).
Como estes movimentos de Paulo não podem ser encaixados no quadro do seu ministério como ele é encontrado em Atos, uma de suas alterna¬tivas deve ser adotada. Ou Paulo não escreveu estas cartas, ou houve um ministério realizado por ele depois de Atos 28. A primeira posição foi adotada por muitos críticos modernos, porque eles não podem aceitar a tradição de uma soltura de Roma e um ulterior ministério, reprisão, e morte sob Nero. A segunda alternativa é a explicação tradicional acerca do cenário para as Pastorais: Paulo foi solto, escreveu I Timóteo e Tito, então sendo preso outra vez, escrevendo II Timóteo de Roma, pouco antes de sua morte.
Atos 28:30,31 dá a impressão de que Paulo foi solto da prisão. O tom dos sete últimos capítulos de Atos, bem como o tom de Filipenses (1:19, 25; 2:24) e Filemom (v. 22), dão a impressão de espera de liberdade. Em contraste, II Timóteo 4:6-8 não dá a mais ligeira esperança de libertação. Existe evidência patrística de que Paulo foi solto da prisão, embora os críticos, aqueles que negam a autenticidade destas cartas, não considerem isto. Em cerca de 95 d.C, Clemente de Roma, escrevendo somente trinta anos após a morte de Paulo em Roma, afirma que Paulo após instruir o mundo inteiro (o Império Romano) sobre a justiça, "e tendo ido até as extermidades do Ocidente, e tendo dado testemunho perante governadores", sofreu martírio em Roma (I Clemente 5). Embora as "extremidades do Ocidente" pudesse significar Roma para os que estavam na parte oriental do Império, isto só poderia significar Espanha para os que estavam em Roma, e Clemente escreveu de Roma, como um romano. O prólogo a Atos, no Fragmento Muratoriano, afirma que Lucas "omite a morte de Pedro e também a partida de Paulo da cidade, quando este partiu para a Espanha". Depois dessa época, não há dúvida, entre os escritores patrísticos, acerca da soltura de Paulo do encarceramento de Atos 28.
Um argumento usado pelos críticos, contra este peso de evidência patrística, é a completa falta de uma tradição na igreja hispânica de que Paulo trabalhou lá. Pode bem ser que Paulo não tenha passado muito tempo na Espanha. Das palavras de Paulo, nas epístolas da prisão, pode ser que, por causa do alarmante crescimento da heresia na província romana da Ásia, ou seu ministério na Espanha foi muito breve ou ele retornou ao Oriente sem ter ido à Espanha. O problema real não é esta ida à Espanha; o problema é se ele obteve sua liberdade e teve um ministério ulterior na parte oriental do Império. Se ele o teve, haveria tempo e oportunidade ampla para que os movimentos revelados nas Pastorais tivessem ocorrido antes de sua morte, após o incêndio em Roma, em 64 d.C.

2. A Linguagem — O argumento mais antigo e de maior peso contra a autenticidade das Pastorais é o da linguagem. Quanto ao estilo, as Pasto¬rais não são argumentativas e são desprovidas do caráter ardente e quebrantado que é tão típico nos outros escritos de Paulo. Estas três cartas são simplesmente instrutivas; a atmosfera, tranqüila e calma. Esta possibilidade poderia ser exatamente assim por causa da natureza e propósitos das cartas: ajudar seus associados mais jovens na obra do ministério e igrejas específicas, com problemas específicos. O estilo de Paulo era muito flexível e determinado pelo material do assunto, em muitas de suas cartas, incluindo as Pastorais.
É com o vocabulário, contudo, que tantos críticos tem problemas quanto à autoria paulina. As estatísticas tem muitas falhas, mas são impressivas para um linguista. P.N. Harrison (The Problem of the Pastoral Epistles — O Problema das Epístolas Pastorais, 1921) tem a mais capaz apresentação do problema de vocabulário, de acordo com as estatísticas. Há 902 palavras no texto crítico das Pastorais. Destas, cinqüenta e quatro são nomes próprios. Das 848 restantes, 36% ou 306 não ocorrem em outras cartas paulinas. Cento e trinta e uma (destas 306) são encontradas em outros livros não-paulinos do Novo Testamento; mas, 175 não são encontradas alhures no Novo Testamento. Por outro lado, há 1.635 palavras nas outras cartas paulinas que não são encontradas nas Pastorais, 582 das quais não são encontradas alhures no Novo Testamen¬to. Alega-se que a porcentagem de vocabulário especial para as Pastorais é alta demais em comparação com outras cartas de Paulo, e esta diferença no vocabulário, portanto, impede uma autoria paulina. É interessante observar-se, todavia, que das 848 palavras encontradas somente nas Pastorais, 278 ocorrem somente em I Timóteo, 96 somente em Tito, e 185 em II Timóteo. Estas três cartas partilham somente 289 do vocabulário especial. Se estas cartas não fossem tomadas como um grupo, cada uma seria negada como sendo do mesmo autor, da mesma forma que, tomadas como um grupo, elas são rejeitadas como paulinas. Contudo, o mesmo estilo corre através das Pastorais, e todos os críticos concordam que o mesmo autor escreveu todas as três.
Foram feitas tentativas para mostrar que o vocabulário representa a Igreja do final do primeiro século ou início do segundo. Alega-se que o autor revela sua época através de seu vocabulário, e, como este é o vocabulário de Clemente e Inácio e outros escritores do segundo século, o autor reuniu estas cartas durante o segundo século. É mais provável ser verdadeiro que este autor influenciou Clemente, Inácio e os outros escritores, em seu vocabulário, do que ter sido influenciado por eles. É observado que os 87% dos hapax legomena (termo técnico para palavras que aparecem somente uma vez) nas Pastorais são encontrados nas obras de Filo, e 80% na Septuaginta (LXX). Dos 175 hapax legomena, apenas noventa e dois foram encon¬trados nos escritores patrísticos. Por outro lado, todos, exceto vinte e oito, são conhecidos como de outros escritores, antes de 50 d.C. Simplesmente não pode ser substanciado que o vocabulário especial das Pastorais não estava em uso durante a época de Paulo.
Várias proposições foram dadas para explicar estas peculiaridades do vocabulário. Sugere-se que o assunto afeta o vocabulário usado. Isto também pode ser dito da pessoa, ou pessoas, a quem a carta foi escrita. Depois, há a atmosfera de onde se escreve, o ficar mais idoso, a passagem do tempo. Há também o cabedal sempre crescente de vocabulário, à medida que uma pessoa de tal inteligência como Paulo encontra novos termos, ao viajar de lugar a lugar. Há também a ser considerado o trabalho de um amanuense e a liberdade dada a ele na transcrição da carta. Estas são todas sugestões válidas para explicar as peculiaridades, mas talvez a maior destas é o assunto. Num estudo estatístico das cartas de Paulo, foi observado, e facilmente confirmado, que a maior parte dos hapax legomena de cada carta ocorre nas seções éticas ou práticas. As palavras que são consideradas "palavras paulinas" encontram-se normalmente nas partes teológicas, geralmente a primeira parte da carta. O todo das Pastorais é ético e prático; muito pouco é teológico. Ao comparar-se as Pastorais com seções não-ateológicas das outras cartas de Paulo, pode-se observar que a porcentagem dos hapax legomena é quase a mesma para cada carta. Nessas cartas práticas de Paulo, as Pastorais, há várias citações ou quase citações, materiais pré formulados, sobre os quais o escritor tem pouco controle de vocabulário. Estes ditos, hinos, provér¬bios e confissões tradicionais teriam palavras que necessariamente não seriam parte do vocabulário normal do escritor. O estilo e vocabulário próprios do autor não podem ser julgados por esta espécie de conteúdo.
Embora haja uma diferença no vocabulário entre as Pastorais e as outras cartas de Paulo, esta diferença não obsta necessariamente uma autoria paulina. Diferenças até maiores ocorrem entre as obras de outros escritores, e, se for concluído em bases vocabulares que Paulo não poderia ter escrito as Pastorais, deve ser dito, nas mesmas bases, que Cícero não poderia ter sido o autor dos livros sobre oratória, assim como daqueles sobre filosofia, nem Shakespeare ter escrito as tragédias e as comédias, as quais o mundo reconhece como obras-primas suas.

3. A Teologia — A objeção à autoria paulina em bases doutrinárias pode ser resumida nas palavras de James Denny: "São Paulo era inspirado, mas o escritor destas epístolas é às vezes apenas ortodoxo" (The Death of Christ — A Morte de Cristo, 1911). Paulo é criativo e propõe grandes doutrinas e contende por elas, ao passo que este escritor urge seus leitores a se firmarem "na fé". Muita parte da posição doutrinária de Paulo não é encontrada nas Pastorais. A ausência de ênfases paulinas — tais como a paternidade de Deus, a filiação de Jesus Cristo e a pequena atenção dada ao Espírito Santo — certamente deve indicar um escritor que não Paulo. O significado místico de "em Cristo", alega-se, e a antítese entre a lei e a fé, não são encontrados. A palavra "Salvador", usada tanto para Deus como para Jesus, não é tipicamente paulina, bem como o uso dos termos "fé", para simbolizar o conteúdo da crença cristã. Diz-se que toda esta diferença doutrinária só pode significar que Paulo não foi o autor das Pastorais. Há também o uso extensivo da palavra "piedade" (eusébia) nas Pastorais, que não se vê nas outras cartas de Paulo.
Mesmo os mais críticos dos que negam a autenticidade das Pastorais dificilmente negariam a base paulina da teologia nelas encontrada. Hans Windisch, há muito tempo atrás (Zur Christologie der Pastoral-briefe — À Cristologia das Cartas Pastorais, 1935), observou que a teologia das Pastorais não é pós-paulina, e, sim, pré-paulina. Deve ser observado que a maior parte das idéias doutrinárias é encontrada nas seções citadas. Paulo não estava escrevendo teologia; ele estava dando conselho prático. Paulo era um teólogo criativo (quando a ocasião o exigia), mas era primeiramente um apóstolo, e a necessidade de conservar o ensino apostólico era mais importante que a criatividade e a inovação. O meio mais eficaz para a conservação e propagação da mensagem cristã era através de declarações pré-formuladas: "sã doutrina" (I Tm. 1:10; II Tm. 4:3; Tt 1:9); "verdade" (I Tm. 2:4; II Tm. 4:4; Tito 1:1); "depósito" (I Tm. 6:20; II Tm. 2:23; Tito 1:3); "fé" (I Tim. 4:1; II Tim. 3:8; Tito 1:13). Igualmente, o uso destas declarações pré-formuladas teria sido muito mais provável em cartas dirigidas a associados íntimos do que a comunidades mistas (ver I Tm. 3:16). O ministério, tanto de Timóteo quanto de Tito, era assegurar a continuação da doutrina apostólica. A natureza conservadora do escritor das Pastorais encontra-se em acen¬tuado contraste com a teologia "progressiva" e "criativa" de alguns dos escritores do segundo século, e mesmo daqueles a quem Paulo admoesta Timóteo e Tito a resistirem. Paulo estava exortando seus colegas mais jovens a promoverem somente aquilo que haviam recebido para satisfazer aos problemas que encontravam em suas respectivas igrejas.
4. A Eclesiologia — Uma vez que as Pastorais falam de bispos, anciãos e diáconos, presume-se que isto reflete uma data muito posterior, quando um alto grau de organização eclesiástica já se havia desenvolvido. Esta presunção é uma conseqüência da teoria (de F.C. Baur) de que Paulo não tinha interesse na estrutura organizacional da igreja. Há, contudo, evidência, em Atos, de que Paulo estava muito interessado na ordem na igreja. Atos 14:23 é explícito acerca deste interesse, ao mostrar a designação dos "anciãos" (presbúteroi). Este ofício foi moldado na forma dos líderes da sinagoga, onde os anciãos tinham o cuidado e a respon¬sabilidade do trabalho e do culto. Atos 20:17 mostra Paulo mandando chamar os anciãos da igreja em Éfeso. Aparentemente, Paulo havia participado na escolha deles, para o ofício, antes de partir de Éfeso para a Macedônia e Corinto. Em I Tessalonicenses 5:12, as palavras "os que presidem sobre vós" poderiam referir-se a algum tipo de estrutura organi¬zacional daquela época primitiva.
A amplitude da organização nas Pastorais pode ser facilmente exage¬rada. A menção de "bispos" e "diáconos" é encontrada em Filipenses 1:1, e Paulo se refere aos anciãos de Éfeso (At. 20:17) como "bispos" (epískopoi) em Atos 20:28. O termo presbúteros é usado nas Pastorais de maneira não-técnica ("homens mais idosos" em I Tm. 5:1,17,19), bem como no sentido técnico (Tt 1:5). O bispo monárquico do segundo século não é retratado nas Pastorais. O ministério do "bispo", nas Pastorais, não é essencialmente diferente do dos outros escritos neotes¬tamentários. É infundada a afirmação de que Timóteo e Tito, porque tem o poder de designar anciãos (I Tim. 5:19; Tito 1:5) e exercer controle sobre a igreja, são o tipo de bispos do segundo século. Eles são representantes pessoais de um apóstolo deixado para trás, para completar a obra que Paulo havia iniciado. A escolha de pessoas para os ofícios é ainda o ministério do profeta (I Tm. 4:14), conforme visto antes em Atos 13:2. A imposição das mãos na ordenação (I Tm. 4:14; 5:22; II Tm. 1:6) está relacionada à tarefa da missão (At. 13:3; 14:23). Um dos resultados da descoberta dos Rolos do Mar Morto é a revelação de que a co¬munidade essênia escolhia "supervisores" (epíscopoi) para realizar quase o mesmo trabalho dos da igreja cristã e das sinagogas judaicas espalhadas através do mundo daqueles dias. E esta era a prática muito antes de 70 d.C.
Deve-se concluir que a evidência nas Pastorais não exibe uma ecle¬siologia avançada. Lá está revelada a preocupação de Paulo de que o trabalho da igreja deverá ser realizado de maneira ordenada.
5. Os Ensinos Heréticos. As Objeções à autoria paulina, nestas bases, recebem menos importância, da parte dos críticos antipaulinos modernos, do que dos mais antigos. Este é outro resultado da descoberta e edição dos Documentos do Mar Morto. Reconhece-se, agora, que a heresia das Pas¬torais não pode ser o gnosticismo desenvolvido do segundo século ou o marcionismo. A citação de Policarpo, de I Timóteo, obstaria a polêmica anti-Marcião como sendo um propósito deste autor. O gnosticismo do segundo século simplesmente não está presente nestas cartas. Os falsos ensinos têm uma natureza judaica muito decidida, e, no máximo, seria um judaísmo gnosticizado, em oposição ao trabalho dos missionários cristãos entre os gentios. Reconhece-se que a heresia não pode ser muito diferente da de Colossenses, embora a ênfase, nas Pastorais, pareça ser mais estritamente judaica. Há brechas causadas por argumento intermi¬nável da lei (Tito 3:9; cf. I Tm. 6:4; II Tm. 2:14-23) e genealogias (I Tm. 1:4). Os ensinos incluíam domínios, proibição de certos alimentos e do casamento (I Tim. 4:1-3) e a crença de que a ressurreição já era passada (II Tim. 2:18). Isto tudo tem paralelos no judaísmo pré-cristão. A base gnóstica para a negação da ressurreição não é encontrada aqui; a interpretação de II Tm. 2:18 é mais provavelmente uma observação da fórmula batismal paulina (Rm. 6:4; Col. 2:12; 3:1-4). A estrutura gnóstica de uma cristologia docética não está presente em nenhuma parte nas Pastorais. Mais e mais, à medida que são feitas novas descobertas de documentos escritos por volta da época do início da era cristã, está sendo reconhecido que as raízes da heresia gnóstica remontam ao século pré-cristão. O gnosticismo é uma amalgamação de muitas crenças, incluindo idéias do judaísmo. O primeiro século foi uma época de solidificação daquilo que se tornou uma doutrina definida pelo fim do primeiro século e metade do segundo. As Pastorais refletem ensinos judaicos que até certo ponto se tornaram helenizados. Que os ensinos estavam em oposição à missão aos gentios está prontamente óbvio através das Pastorais; que elas são mais que judaísmo helenizado não pode ser sustentado. A heresia mostrada nestas cartas é quase aquela com que Paulo se confrontava sempre que entrava em contato com oposição liberada por judeus helenizados da diáspora.

Conclusão — Foi mostrado que a autoria paulina não deve ser rejeitada por causa de problemas externos ou internos. Os argumentos para refutar a autenticidade estão longe de serem conclusivos. São suficientemente atrativos para assegurar que muitos eruditos críticos continuarão a propô-los de uma forma ou outra. Mesmo a conclusão, feita por alguns, de que as Pastorais contem porções de materiais paulinos autênticos, assimilados e expandidos por um paulinista do final do primeiro século ou princípio do segundo (i.e., II Tm. 1:16-18; 3:10,11; 4:1,2, 5-22; Tt 3:12-15) não pode ser substanciada. É interessante observar que, sempre que são encontrados materiais favoráveis à autoria paulina, estas passa¬gens são ditas serem fragmentos de outros documentos conhecidos ou perdidos; que os outros materiais são da mão de um compilador! Mas há coisa demais que um paulinista deixa fora, que seria de muita ajuda durante a época das perseguições e disputa sobre doutrina, e ele certamente teria tido o cuidado de mencionar a viagem à Espanha depois da saída da prisão. Contudo, o maior argumento contra a autoria de um paulinista é o cuidado que a igreja primitiva teve em selecionar seus documentos. Ela estava preocupada com a verdade histórica, e estas cartas afirmam que elas foram escritas por Paulo. A história da igreja, nos primeiros séculos, mostra a natureza exigente da igreja para com a verdade. Escrever em nome de outro é algo que a igreja não poderia e não iria tolerar. O oficial da igreja romana que escreveu "Os Atos de Paulo" no nome de Paulo não somente foi removido do ofício, mas também excluído da igreja! Tal era a importância que a igreja dava à veracidade acerca do testemunho apostólico, segundo Tertuliano.
É afirmado neste livro que o estudante do Novo Testamento não deve ter nenhuma hesitação em crer no versículo introdutório de cada uma destas três cartas que têm o nome "Paulo" como o autor. Paulo escreveu estas cartas, e elas podem ser usadas com confiança, como sustentando a verdade.
ÉPOCA E LOCAL

Os movimentos de Paulo e de seus amigos, após a saída do encarce¬ramento romano de Atos 28, são difíceis de se precisar. O melhor é usar a informação disponível e tentar reconstruir o itinerário mais simples. As palavras de Clemente de Roma, em 95 d.C, devem ser tomadas seriamente acerca de Paulo ter trabalhado na Espanha. Isto foi escrito cedo demais, após a morte de Paulo (dentro de trinta anos), para ter sido informação falsa e a igreja não contestá-la. Seja quanto tempo for que Paulo tenha trabalhado na Espanha, crê-se que não se trata de um trabalho permanente. A exigüidade da informação dada por Clemente é entendida pelo contexto da carta que ele escreveu; ele estava escrevendo acerca das mortes de Paulo e Pedro em Roma, não acerca de seus ministérios como tais.
A informação contida nas Pastorais é esboçada e as tentativas de se fazer um itinerário preciso são fadadas ao fracasso. O que se sabe das Pastorais pode ser declarado: Paulo esteve em Creta, Éfeso, Trôade, Macedônia, Mileto, Corinto e Roma. O tempo envolvido seria de 60-61 d.C. até uma data desconhecida, após o incêndio de Roma, em 19 de julho de 64 d.C. Se Paulo foi à Espanha e não retornou em seus passos, a simples viagem seguinte poderia ser traçada geograficamente para se conformar ao material contido nas Pastorais. De Roma até a Espanha seria a primeira etapa. De lá, Paulo teria ido a Creta, onde trabalhou por um período de tempo indeterminado. Deixando Tito (Tt 1:5), Paulo foi para Éfeso. É possível que durante esse tempo ele tenha feito uma visita às igrejas no vale do Lico (Fm. 22). Deixando Timóteo em Éfeso (I Tm. 1:3), Paulo foi à Macedônia (provavelmente a Filipos). Enquanto esteve lá, escreveu I Timóteo e talvez Tito, embora seja mais provável que as tenha escrito de Corinto. Ele então teria ido a Trôade, deixando uma capa e alguns livros na casa de Carpo (II Tm. 4:13), para ir a Éfeso e Mileto, onde Trófimo adoeceu e ficou para trás (II Tm. 4:20), e depois para Corinto. Pensa-se que Paulo pode ter escrito a Tito durante essa época, pois planejava ir a Nicópolis para o inverno (Tt 3:12), mas não é certo se o fez. Quando ele deixou Corinto, Erasto ficou para trás (II Tm. 4:20).
Em algum lugar Paulo foi preso, depois que a perseguição aos cristãos, conduzida por Nero, começou. Nero, para transferir a atenção de sua própria culpa no incêndio de Roma, culpou os cristãos. A perseguição, que imediatamente se iniciou, foi intensa, e Paulo foi arrastado nela. A prisão pode ter acontecido em Éfeso, explicando, desta forma, a origem da tradição acerca das ruínas de uma torre lá chamada "Prisão de Paulo". A prisão poderia ter ocorrido em Corinto. Ambas estas cidades eram bem zelosas em sua lealdade para com o culto ao imperador, cada uma tendo um templo e sacerdotes para promover a veneração ao imperador. Depois de sua prisão, Paulo teria apelado para Roma, com base no fato de ser um cidadão romano, e teria asseverado seu direito de ser ouvido em Roma. Chegando a Roma, Paulo tinha já tido sua primeira audiência perante o tribunal (II Tm. 4:11,16,21) e esperava ser condenado na segunda (II Tm. 4:6). Durante esse intervalo Paulo escreveu II Timóteo. O inverno mencionado em Tt 3:12 possivelmente seria o inverno de II Timóteo 4:21. Se assim for, é improvável que Paulo tenha ido a Nicópolis, como planejara. Se não é o mesmo inverno, a razão para enviar Tito à Dalmácia (II Tm. 4:10) estaria esclarecida. Uma tradição antiga afirma que Paulo morreu no ano do incêndio de Roma. Isto poderia significar, e provavel¬mente significa que ocorreu dentro do espaço de um ano. A tradição também afirma que Paulo foi decapitado fora de Roma, na Via Óstia, em 29 de junho. Isto mais provavelmente teria ocorrido no ano de 65 d.C.

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO
PAULO A TIMÓTEO

OCASIÃO E PROPÓSITO

Paulo havia deixado Timóteo em Éfeso (1:3), para cuidar do cresci¬mento organizacional da igreja e refutar os falsos mestres. De Atos 20:17,28 fica-se sabendo que a igreja tinha já "anciãos", também chamados "supervisores" ou "bispos"; assim, a instituição da organiza¬ção não seria algo novo nem a Timóteo nem à igreja. I Timóteo 3:13-15 indica que Paulo esperava retornar logo, mas, para o caso de demorar, ele escreveu esta carta não somente para dar instruções escritas acerca de como se proceder com a administração da igreja e como refutar-se os falsos ensinos. Ele também escreveu para encorajar Timóteo e desafiá-lo a tomar o controle firme em defesa da sã doutrina.

ESTRUTURA E CONTEÚDO

Esta Primeira Epístola a Timóteo pode facilmente ser dividida em três partes: 1) A necessidade de promover a sã doutrina, à luz do erro e da heresia (1:3-20); 2) a maneira ordenada para a adoração pública, através da organização (2:1-3:16); 3) o exemplo do ministro perante toda a igreja (4:1-6:19). Após a saudação (1:1,2), Timóteo é encorajado por Paulo a lembrar-se dos distintivos da sã doutrina e a reconhecer e combater idéias errôneas (1:3-11), mostrando suas próprias experiências com o evangelho (1:12-17) e a responsabilidade que foi deixada para Timóteo cumprir (1:18-20). Paulo então escreve acerca da importância da adoração pública através da oração (2:1-7), do comportamento correto durante o culto (2:8-15) e da direção de um líder qualificado moral e espiritualmente (3:1-13). A seção é concluída com a razão para Paulo escrever esta carta (3:14-16). A vida cristã real deve ser demonstrada pelo ministro, em face da heresia (4:1-5), através de instruções corretas à igreja (4:6-16). Os deveres do ministro, ao trabalhar com vários grupos sociais, são esboçados (5:1-6:2). Várias exortações (6:3-19) são seguidas de um apelo final pela sã doutrina (6:20-21), e uma bênção (6:21).

ESBOÇO

Introdução (1.1-20)
I. Instrução a respeito do Ministério Eclesiástico (2.1---4.5)
A. A Proeminência da Oração (2.1-8)
B. A Conduta apropriada das Mulheres (2.9-15)
C. Qualificações do Pastor (3.1-7)
1. Pessoais
a. Irrepreensível 3.2
b. Vigilante 3.2
c. Sóbrio 3.2
d. Honesto 3.2
e. Hospitaleiro 3.2
f. Apto para ensinar 3.2
g. Não dado ao vinho 3.3
h. Não espancador 3.3
i. Moderado 3.3
j. Não contencioso 3.3
k. Não ambicioso por dinheiro 3.3
l. Não novato na fé 3.6
m. Boa reputação fora da igreja 3.7
2. Família
a. Marido de uma mulher 3.2
b. Que governe bem sua própria casa 3.4,5
c. Que tenha filhos obedientes e respeitosos 3.4
D. Qualificações de Diáconos (3.8-13)
1. Pessoais
a. Digno de respeito 3.8
b. Sincero 3.8
c. Não dado ao vinho 3.8
d. Livre de torpe ganância 3.8
e. Guarda o ministério da fé com consciência pura 3.9
f. Provado e irrepreensível 3.10
2. Família
a. Marido de uma mulher 3.12
b. Mulher piedosa e fidedigna 3.11
c. Governa bem os filhos e a casa 3.12
E. Razões da igreja exigir de seus dirigentes Altas Qualificações (3.14---4.5)
II. Instruções a respeito do Ministério de Timóteo (4.6---6.19)
A. Sua vida pessoal (4.6-16)
B. Seu tratamento com os Membros da Igreja (5.1---6.19)
1. Homens idosos e jovens 5.1
2. Mulheres idosas e jovens 5.2
3. Viúvas 5.3-16
4. Presbíteros e Candidatos ao Presbiterato 5.17-25
5. Servos 6.1,2
6. Falsos Mestres 6.3-10
Parêntese: Exortação ao próprio Timóteo
7. Os ricos 6.17-19
Conclusão (6.20,21)

Autor: Paulo
Tema: A Sã Doutrina e a Piedade
Data: Cerca de 65 d.C.

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO
PAULO A TIMÓTEO

OCASIÃO E PROPÓSITO

Na primeira Carta a Timóteo, Paulo expressou um temor de que pudesse ser retardado ao retornar a Éfeso Agora ele é um prisioneiro em Roma. Ele já havia estado perante o tribunal uma vez, e a maioria de seus amigos o havia deixado (1:15-17; 4; 10,11,16). Paulo previa o pior (4:6,18). Nessa hora negra, ele anseia por ver Timóteo (4:9) e tê-lo consigo (4:11). Paulo escreve para fazê-lo saber qual é a situação e para pedir-lhe que vá a Roma. Temeroso de que Timóteo não chegue a Tempo, Paulo se concentra na tarefa que está deixando para Timóteo executar. Ele também aproveita a ocasião para advertir contra falsos ensinos. Pode ser que Tíquico leve a carta a Éfeso (4:12). Essa carta mostra a ansiedade de Paulo, mas também mostra coragem numa circunstância difícil. É um documento muito comovente, pois Paulo é visto enfrentando a morte, relembrando seu ministério passado, e com terna preocupação com seu filho na fé para que seja forte na obra para a qual Deus o chamou.

ESTRUTURA E CONTEÚDO

É mais difícil dividir II Timóteo que I Timóteo. Esta é uma carta verdadeira, e Paulo não dá um tratamento sistemático a seus pensamen¬tos. A escrita é num estado de espírito natural de amigo para amigo, e Paulo se movimenta para frente e para trás, entre as idéias. Após a saudação (1:1,2) e ação de graças (1:3-5), há um desafio à vida corajosa, como um ministro chamado por Deus (1:6,7), que tem Jesus (1:8-10) e o próprio Paulo como exemplos de fidelidade (1:11-14). Paulo então dá notícia acerca de alguns companheiros (1:15-18). Segue-se a exortação à paciência no sofrimento (2:1-13) e pela conduta pessoal (2:14-26). Paulo exorta Timóteo a preparar-se para a crise vindoura (3:1-17) e à firmeza na pregação e cumprimento de seu ministério (4:1-5). Paulo calmamente escreve acerca de suas expectativas (4:6-8) e depois dá a Timóteo algumas instruções pessoais (4:9-18). A carta conclui com saudações e uma bênção (4:19-22).

ESBOÇO

Introdução (1.1-4)
I. Paulo exorta Timóteo (1.5-18)
A. Despertar o Dom de Deus 1.5-7
B. Estar disposto a sofrer pelo Evangelho 1.8-10
C. O exemplo de Paulo 1.11,12
D. Obedecer e defender a Verdade 1.13,14
E. Amigos desleais e leais, de Paulo, em Roma 1.15-18
II. Requisitos do Obreiro Fiel (2.1-26)
A. Ser forte na Graça de Deus 2.1
B. Confiar o Evangelho a Homens Fiéis 2.2
C. Suportar sofrimentos 2.3-7
1. Como bom Soldado 2.3,4
2. Como Atleta disciplinado 2.5
3. Como Agricultor laborioso 2.6,7
D. Morrer com Jesus Cristo e Sofrer com Ele 2.8-13
E. Evitar discussões inúteis e defender o evangelho de modo cabal 2.14-26
III. A Iminência do surto final da maldade (3.1-9)
IV. Perseverança na Verdade (3.10-17)
A. Testemunho de Despedida de Paulo 4.6-8
B. Instrução pessoal a Timóteo 4.9-13
C. Advertência a Timóteo 4.14,15
D. A certeza da Fidelidade de Deus 4.16-18
Conclusão (4.19-22)

Autor: Paulo
Tema: Perseverança Inabalável na Fé
Data: Cerca de 67 d.C.

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO PAULO A TITO

O propósito imediato da carta é pedir a Tito para encontrar-se com Paulo em Nicópolis (3:12). Um propósito secundário é encorajar Tito a cumprir a tarefa que Paulo deixou para ele realizar na ilha de Creta (1:5,6). A carta provavelmente foi levada por Zenas e Apolo (3:13), para quem Tito é instruído a fazer provisão e ajudá-los a se estabelecerem em seu ministério. Com estes propósitos básicos, Paulo usa a ocasião para escrever acerca de questões concernentes à igreja: a escolha de líderes, a identificação de falsos ensinos e como proceder com eles, e a necessidade de doutrinamento da igreja com sãos ensinamentos.

ESTRUTURA E CONTEÚDO

Esta carta também se divide facilmente em três partes. A primeira tem a ver com a designação dos líderes da igreja (1:5-16); a segunda com como aconselhar e trabalhar com diversos grupos sociais (2:1-15); e a terceira é composta de exortações gerais (3:1-11). Após a saudação (1:1-4), Paulo expressa a razão por que ele deixara Tito em Creta (1:5,6) e como Tito deveria proceder na escolha de pessoas para a liderança na igreja (1:7-9). Tito é advertido acerca dos falsos mestres e da necessidade de refutá-los (1:10-16). A norma para a conduta cristã normal é observada para diferentes grupos de pessoas (2:1-10), e enfocam-se as obrigações e privilégios de um cristão numa sociedade (2:11-15). Exortações acerca de males especiais na comunidade (3:1-3) são acompanhadas pela base para um ministro realizar o que é bom (3:4-8). Após algumas admoestações finais acerca dos falsos ensinos (3:9-11), são dadas instruções pessoais (3:12-14). A carta encerra com saudações finais e uma bênção (3:15).

ESBOÇO

Introdução (1.1-4)
I. Instruções sobre o estabelecimento de Presbíteros (1.5-9)
A. Presbíteros em cada cidade 1.5
B. Qualificações para Presbíteros
1. Pessoais
a. Irrepreensíveis 1.6
b. Despenseiro fidedigno 1.7
c. Não soberbo 1.7
d. Não iracundo 1.7
e. Não dado ao vinho 1.7
f. Não espancador 1.7
g. Não cobiçoso 1.7
h. Hospitaleiro 1.8
i. Amigo do bem 1.8
j. Sensato 1.8
k. Justo 1.8
l. Santo e moderado 1.8
m. Retendo firme a fiel palavra 1.9
n. Capaz de exortar com a Palavra 1.9
o. Capaz de refutar os contradizentes com a Palavra 1.9
2. Familiares
a. Marido de uma só mulher 1.6
b. Filhos crentes 1.6
c. Que seus filhos não sejam dissolutos nem rebeldes 1.6
II. Instruções a Respeito dos falsos Mestres (1.10-16)
A. Seu caráter 1.10
B. Sua conduta 1.11,12
C. Sua repreensão 1.13-16
III. Instruções a Respeito dos Grupos de Crentes na Igreja (2.1-15)
A. O alcance da Instrução 2.1-10
B. O fundamento da Instrução 2.11-14
C. A responsabilidade de Tito 2.15
IV. Exortação às boas obras (3.1-11)
A. Nossa conduta ante o próximo 3.1,2
B. A misericórdia de Deus para Conosco 3.3-7
C. Discernindo entre o bem e o mal 3.8-11
Conclusão (3.12-15)

Autor: Paulo
Tema: A Sã Doutrina e as Boas Novas
Data: Cerca de 65/66 d.C.

Por André Rodrigues


BIBLIOGRAFIA

• Introdução ao estudo do Novo Testamento. Hale, Broadus David. Tradução de
Cláudio Vital de Souza. Rio de Janeiro, Junta de Educação
Religiosa e Publicações, JUERP-RJ 1983.

• O Novo Comentário da Bíblia. Editado e organizado pelo Prof. F. Davidson, MA, DD.
Colaboradores Rev. A. M. Stibbs, MA, DD Rev. E. F. Kevan, MTh. Editado em português pelo Rev. Dr. Russell P. Shedd, MA, BD, PhD. Edições Vida Nova-SP

• Bíblia de Estudo Pentecostal. Antigo e Novo Testamento, Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com referências e algumas variantes. Edição Revista e Corrigida, Ed.1995, Edições CPAD-RJ 2002.

DEBATE: O QUE É DIREITA E ESQUERDA NA POLÍTICA?


Um debate muito instrutivo sobre as diferenças básicas e fundamentais entre o que é esquerda e direita na política.

BOLIVARIANISMO: O USO DO CINISMO - A ILUSÃO DA DEMOCRACIA (FILIPE PONDÉ)


Nesta edição do jornal da cultura o filosofo e professor Luis Filipe Pondé vai falar sobre a ação sorrateira da visão bolivarianista no Brasil.

LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO - CONCEITOS INTRODUTÓRIOS


Os filósofos procuram resolver problemas. É por isso que apresentam teorias, ideias ou teses. Estas três coisas não são exactamente o mesmo, mas para simplificar iremos falar apenas de teorias. A diferença é a seguinte: ao passo que uma teoria é uma forma completamente articulada de resolver um problema, uma ideia ou uma tese é algo mais vago. Mas o que há de comum entre as ideias, as teorias e as teses é que todas elas procuram resolver problemas.

Ora, sempre houve boas e más teorias, seja qual for o problema que procuram resolver. As teorias dos filósofos não podem constituir excepção. Assim, também há boas e más teorias filosóficas. Mas, como é óbvio, apenas estamos interessados nas boas teorias filosóficas. Por isso se torna crucial saber distinguir as boas das más teorias. Há duas maneiras de avaliarmos teorias, para procurarmos saber se são boas ou más: 1) podemos procurar saber se a teoria resolve o problema que pretendia resolver, e se essa solução é aceitável; 2) podemos procurar saber quais são os argumentos em que essas teorias se apoiam e verificar se tais argumentos constituem boas razões a favor daquilo que nelas se defende. Assim, 2 obriga-nos a pensar deste modo: “Que razões me dá o autor para aceitar a teoria dele?”. E 1 obriga-nos a pensar assim: “Se eu aceitar a teoria dele, consigo explicar melhor o que a teoria procurava explicar, ou consigo resolver o problema que a teoria queria resolver? Será que há alternativas melhores a esta teoria?”. Ora, tanto no primeiro como no segundo caso, temos de saber avaliar argumentos. Temos de saber se os argumentos que apoiam a teoria são bons ou não, e temos de saber se são bons ou não os argumentos que mostram que a teoria explica o que queria explicar e resolve o problema que queria resolver.

No caso dos filósofos, conhecer os argumentos que sustentam as suas teorias é ainda mais importante do que noutros casos. Isso é assim porque os problemas da filosofia são problemas de carácter conceptual e não empírico. Dificilmente acontece, com base em factos empíricos, mostrar que uma teoria filosófica é verdadeira ou falsa, ao contrário do que se verifica com muitas teorias científicas. Não há factos empíricos que mostrem que Deus existe ou não existe; mas a teoria segundo a qual existe vida em Marte pode ser refutada ou confirmada pelos factos. Daí que o valor de uma teoria filosófica, mais do que qualquer outro tipo de teoria, dependa essencialmente dos argumentos que a sustentam.

Não podemos, pois, saber se uma teoria é boa se não soubermos avaliar a qualidade dos seus argumentos. Esse é, precisamente, o nosso objectivo ao estudar lógica. Eis, então, a nossa primeira pergunta:

O que é um argumento?

Podemos começar por dizer que um argumento é um conjunto de frases. Só que não se trata de um qualquer conjunto de frases. O seguinte conjunto de frases, por exemplo, não é um argumento:
Gosto do Algarve por causa do clima, do Alentejo por causa do silêncio e do Alto Douro por causa da paisagem. E se nas próximas férias desse uma volta pelo país?
Para que um conjunto de frases constitua um argumento tem de haver entre elas uma certa relação, de tal modo que uma, e só uma, se apresente como conclusão e que todas as outras sirvam como razões para obter essa conclusão. Às frases, ou afirmações, que oferecemos como razões chamamos premissas, podendo haver uma ou mais premissas num argumento; à afirmação que daí obtemos, fazendo apelo às premissas, chamamos, como se viu, conclusão. Eis um exemplo de um conjunto de frases que é um argumento:
Se os filósofos têm sempre razão, então não vale a pena discutir o que dizem, porque se têm sempre razão não temos nada para criticar e se não temos nada para criticar não vale a pena discutir o que dizem.
Neste conjunto de frases há uma delas que é a conclusão e duas outras que são premissas. Perante um argumento, a primeira coisa a fazer é um trabalho de interpretação, identificando a conclusão e as premissas (ou premissa, caso haja apenas uma).

O que quero defender com o argumento anterior? É claro que estou a defender que “se os filósofos têm sempre razão, então não vale a pena discutir o que dizem”. Esta frase, por sinal a primeira, é a conclusão. E que razões adianto para isso? Duas: “se têm sempre razão não temos nada para criticar” e “se não temos nada para criticar não vale a pena discutir o que dizem”. Se quisermos, podemos reformular o argumento de modo a tornar as suas premissas e conclusão ainda mais claras. Podemos, por exemplo, destacar em primeiro lugar as suas premissas e depois a conclusão, de modo a exibir claramente cada uma delas:
Se os filósofos têm sempre razão, não temos nada para criticar.
Se não temos nada para criticar, não vale a pena discutir o que dizem.
Logo, se têm sempre razão, não vale a pena discutir o que dizem.
Torna-se, deste modo, mais fácil não apenas identificar premissas e conclusão como também verificar se a conclusão se segue das premissas, isto é, se as premissas apoiam a conclusão. Não podemos, contudo, esperar que os argumentos sejam apresentados sempre de modo a tornar completamente claras as suas premissas e conclusões. Na linguagem comum, e nos textos filosóficos, as premissas e conclusões dos argumentos são frequentemente difíceis de detectar, pois nem sempre se dispõem segundo uma ordem fixa. Por vezes surgem até intercaladas com outras frases que nem sequer fazem parte do argumento. Veja-se o seguinte exemplo:
Para quê discutir o que os filósofos dizem? Não vale a pena discutir o que dizem se não temos nada para criticar e não temos nada para criticar se têm sempre razão. Não me interessa perder tempo assim! Não vale a pena discutir o que dizem se têm sempre razão.
Como se vê, este é ainda o mesmo argumento, só que apresentado de maneira menos acessível. Convém, neste momento, dizer que há, mesmo assim, palavras ou expressões que costumam acompanhar quer as premissas, quer a conclusão e que facilitam a sua identificação. Trata-se de termos e de expressões que muitas vezes anunciam ou introduzem as premissas e a conclusão de um argumento. Termos e expressões como “logo”, “daí que”, “assim”, “portanto” e “por isso” costumam servir para anunciar a conclusão inferida; termos e expressões como “porque”, “pois”, “uma vez que”, “posto que”, “tendo em conta que”, “em virtude de”, “devido a” e “dado que” indicam que se irão oferecer razões (premissas) para concluir algo. Frequentemente as premissas aparecem ligadas entre si por termos como “e”, “ora” e “mas”, ou por uma vírgula (uma pausa breve, no discurso oral) e também por um ponto final (uma pausa mais longa, no discurso oral). Com esta informação, torna-se relativamente fácil identificar as premissas e conclusão do seguinte argumento:
Tenho estudado lógica, uma vez que se não tivesse estudado lógica não seria bem sucedido em filosofia. Mas eu tenho sido bem sucedido em filosofia.
As premissas são (i) “se não tivesse estudado lógica não seria bem sucedido em filosofia” e (ii) “eu tenho sido bem sucedido em filosofia”. A conclusão aparece logo no início e é “tenho estudado lógica”. Qualquer pessoa, ainda que não tenha estudado lógica, consegue ver que se trata de um argumento válido, na medida em que intuitivamente se dá conta que aquelas premissas conduzem àquela conclusão. Mas repare-se agora no seguinte argumento:
O Luís Figo já comeu bacalhau porque todos os portugueses já comeram bacalhau.
Temos apenas uma premissa, que é “todos os portugueses já comeram bacalhau”, sendo a conclusão “o Luís Figo já comeu bacalhau”. Mas será que esta conclusão se segue daquela premissa? Muitos serão os que imediatamente respondem que sim. Outros dirão que não; que aquela premissa, por si só, não constitui uma boa razão para concluir que o Luís Figo já comeu bacalhau. Perguntariam estes: e se o Luís Figo for brasileiro? É preciso que se diga que o Luís Figo é português para, então sim, se poder concluir que ele já comeu bacalhau. Se não acrescentarmos a premissa “o Luís Figo é português”, também não poderemos inferir que o Luís Figo já comeu bacalhau. Ao que possivelmente responderiam os primeiros: nem sequer é preciso dizê-lo, todos sabemos que o Luís Figo é português. A verdade é que, sem essa segunda premissa, o argumento não é válido. Assim, a única maneira de reparar o argumento, de forma a torná-lo válido, é introduzir tal premissa. O único cuidado que devemos ter é o de verificar que a premissa não está lá apenas porque quem apresentou o argumento achou desnecessário referir aquilo que lhe parecia ser óbvio para toda a gente. A uma premissa destas chama-se premissa suprimida e a um argumento que tem premissas suprimidas chama-se entimema. Saber isto é importante porque muitas vezes nos deparamos com argumentos com premissas suprimidas e nem todos eles são casos fáceis de identificar. Disso pode depender a nossa decisão de aceitar um argumento como válido ou de o rejeitar como inválido.

Voltando ao início, afirmei que um argumento é um conjunto de frases; mas procurei também mostrar que nem todo o conjunto de frases é um argumento. Devo agora acrescentar que um argumento não é constituído por qualquer tipo de frases. Só as frases que exprimem proposições podem fazem parte dos argumentos.

O que é uma proposição?

Acabei de dizer que só um certo tipo de frases exprime proposições. Embora talvez todas as proposições se possam exprimir por meio de frases, há frases que não exprimem proposições. As frases seguintes não exprimem proposições:
  • Que horas são?
  • Tira os pés da mesa!
  • Ser sempre corajoso.
  • Quem me dera saber lógica.
  • Prometo que amanhã vou à praia contigo.
Estas frases não exprimem proposições porque não são frases declarativas. Ou seja, nada afirmam; exprimem apenas promessas, desejos, ordens e perguntas. Por isso não estamos em condições de dizer se são verdadeiras ou falsas. Diz-se que não têm condições de verdade. Assim, as frases declarativas são todas as frases, e só essas, que têm condições de verdade. Donde se excluem todas as frases que, como acontece nos exemplos anteriores, exprimem promessas, desejos, ordens e perguntas. As seguintes frases podem ser verdadeiras ou falsas, e portanto têm condições de verdade:
  • São seis horas da tarde.
  • Alguém disse ao Paulo para tirar os pés da mesa.
  • Nós somos sempre corajosos.
  • Gosto de aprender lógica.
  • Prometi à Carla que amanhã vou à praia com ela.
Saber se uma frase é declarativa ou não torna-se fácil, embora haja frases muito semelhantes em que uma é declarativa e outra não. Eis um exemplo, em que a primeira é uma frase declarativa e a segunda não é:
  • Rui está na sala.
  • O Rui está na sala?
É claro que podemos ter dúvidas ou nem sequer saber se algumas daquelas frases são verdadeiras ou falsas. Mas, apesar das nossas dúvidas, e quer saibamos ou não, elas hão-de ser verdadeiras ou falsas. Quer dizer, têm um valor de verdade. A frase “são seis horas da tarde” proferida às nove da manhã é falsa e proferida às seis da tarde é verdadeira. Não deixa, contudo, de ter um valor de verdade. Assim como a frase “gosto de aprender lógica”, proferida por umas pessoas pode ser verdadeira e por outras falsa. Mas tem de ser verdadeira ou falsa. Eis alguns exemplos de frases declarativas claramente verdadeiras:
  • A Lua não é feita de queijo.
  • Três vezes nove é igual a vinte e sete.
  • Portugal é um país europeu.
  • Nenhuma galinha fala português.
Eis agora algumas frases declarativas claramente falsas:
  • As bananas têm caroço.
  • Faro não fica no Algarve.
  • Portugal é o país mais poderoso da Europa.
  • Nenhum italiano fala português.
Sabemos agora o que é uma frase declarativa e que só as frases declarativas são proposições. Mas, ainda assim, há diferenças entre frases declarativas e proposições. Tanto que o número de frases declarativas é superior ao número de proposições. O que acontece porque há diferentes frases declarativas que, apesar disso, exprimem a mesma proposição. As frases são entidades linguísticas e as proposições são aquilo que tais frases exprimem, isto é, o seu conteúdo. As seguintes frases declarativas exprimem todas a mesma proposição:
  • A Lua inspira os poetas.
  • Os poetas são inspirados pelo satélite natural da Terra.
  • Os poetas deixam-se inspirar pela Lua.
  • Poets are inspired by the moon.
  • La luna inspira los poetas.
Mas por que precisamos nós de saber o que são proposições? Porque, recordando o que disse acima, as frases que constituem os argumentos têm de exprimir proposições. Assim, todas as premissas e conclusões de todos os argumentos exprimem proposições, por isso têm de ter um valor de verdade. Só que, ao contrário das frases de um argumento, os próprios argumentos nunca são verdadeiros ou falsos. Verdade e falsidade são propriedades das proposições e não dos argumentos. Dos argumentos diz-se que são válidos ou inválidos.


O que é a validade?

Dizemos frequentemente que uma ideia, uma pessoa ou uma iniciativa são válidas. Com isso queremos dizer que tal pessoa, tal ideia ou tal iniciativa são boas ou úteis, ou que têm um certo valor. Isso é o que acontece na linguagem comum. Em lógica e filosofia, porém, o termo “validade” tem um significado diferente e muito preciso, que já veremos qual é. Antes disso, há uma ideia que tem de ficar bem clara. Essa ideia é a da distinção entre verdade e validade; distinção fundamental em lógica e filosofia.

De uma proposição dizemos que é verdadeira ou falsa. Mas de um argumento, que é formado por várias proposições, já não podemos dizer que é verdadeiro ou falso. Isso seria um erro enorme. Algumas pessoas pensam que se um argumento é um conjunto de proposições e como as proposições são verdadeiras ou falsas, assim também os argumentos podem ser verdadeiros ou falsos. Isso seria o mesmo que dizer que um conjunto de pessoas é alto porque é formado por pessoas altas. As pessoas podem ser altas ou baixas, mas os conjuntos (sejam eles de pessoas ou de outra coisa qualquer) não são altos nem baixos. Se, como se verá, o mesmo argumento pode conter proposições verdadeiras e falsas, por que razão afirmaríamos que esse argumento é verdadeiro em vez de falso, ou vice-versa? Aquilo que, primeiramente, nos interessa num argumento é saber se a conclusão se segue das premissas. No caso de isso acontecer estamos perante um argumento válido. Caso contrário, estamos perante um argumento inválido. O seguinte argumento é claramente válido:
Todos os espanhóis são toureiros.
Bill Clinton é espanhol.
Logo, Bill Clinton é toureiro.
Ao analisar este argumento, a diferença entre verdade e validade torna-se clara. É fácil verificar que tanto as premissas como a conclusão são falsas. Contudo, a conclusão segue-se das premissas. Por isso o argumento é válido. Falamos de verdade e falsidade quando referimos as premissas e a conclusão e falamos de validade ou invalidade quando referimos o próprio argumento. Veja-se agora o seguinte argumento claramente inválido:
Todos os portugueses são europeus.
Luís Figo é europeu.
Logo, Luís Figo é português.
É muito fácil verificar que se trata de um argumento inválido, bastando substituir o nome de Luís Figo por outro nome como, digamos, Tony Blair, mas mantendo tudo o resto. E, apesar de ser um argumento inválido, todas as proposições que o constituem são verdadeiras. Só que a conclusão não é sustentada pelas premissas.

Mais uma vez se diz que um argumento é válido ou inválido consoante a sua conclusão se segue ou não das premissas, sejam elas verdadeiras ou falsas. Mas esta é ainda uma forma imprecisa de dizer o que é a validade. Existe, contudo, uma definição explícita de “argumento válido”. Assim, diz-se que um argumento é válido se, e só se, é logicamente impossível ter premissas verdadeiras e conclusão falsa. Sabemos agora exactamente o que procurar num argumento para saber se é válido ou não. Tudo pode acontecer com um argumento válido, menos uma coisa: ter premissas verdadeiras e conclusão falsa. Mas isto não significa que o argumento é válido desde que não tenha premissas verdadeiras e conclusão falsa. Não basta que não tenha as premissas verdadeiras e a conclusão falsa; é necessário que isso seja impossível de acontecer. Repare-se no meu último exemplo: não acontece ele ter as premissas verdadeiras e a conclusão falsa, até porque premissas e conclusão são todas verdadeiras. Mas se no mesmo argumento substituirmos, como atrás sugeri, o nome de Luís Figo pelo de Tony Blair, o que acontece? Acontece que as premissas continuam verdadeiras mas a conclusão é falsa. E essa é a única coisa que não pode acontecer num argumento válido. Portanto, é inválido.
Para tornar mais clara a noção de validade, podemos mesmo prescindir de qualquer nome, seja ele Luís Figo ou Tony Blair, e construir um argumento com a seguinte forma:
Todo o A é B.
c é A.
Logo, c é B.
Seja o que for que A, B e c signifiquem, este argumento é claramente válido. Admitindo que as premissas são verdadeiras, a sua conclusão não pode ser falsa. Mas como sabemos que este argumento é válido se não sabemos ainda o que significam A, B e c? Sabemos isso porque a validade de um argumento não depende daquilo que nele se afirma, isto é, do seu conteúdo, mas da sua forma lógica. Para sabermos se um argumento é válido nada mais temos de fazer senão atender à forma como está estruturado. É por isso que um argumento pode ser válido mesmo que nele se afirmem as coisas mais inverosímeis do mundo. Um bom exemplo disso é o seguinte:
Se as bananas têm asas, o ouro é um fruto seco.
Acontece que as bananas têm asas.
Logo, o ouro é um fruto seco.
Também aqui a conclusão terá de ser verdadeira, caso as premissas o sejam. Contudo, dificilmente alguém estaria disposto a aceitar um argumento destes. O que acontece é que não é suficiente um argumento ser válido para termos de o aceitar, mostrando assim que nem todos os argumentos válidos são bons. Não estamos interessados em aceitar a conclusão de um argumento válido quando essa conclusão é inferida de falsidades. Queremos também que um argumento seja sólido. Ou seja, que, além de ser válido, tenha premissas verdadeiras. Assim, se um argumento for válido e tiver premissas verdadeiras, somos, racionalmente, obrigados a aceitar a sua conclusão. Se não quisermos aceitar a conclusão de um argumento válido, só nos resta, então, mostrar que alguma das premissas é falsa.

Pelo que disse até aqui, dir-se-ia que apenas existem argumentos válidos e inválidos. E que os inválidos, ao contrário dos válidos, apresentam uma forma que não permite preservar sempre na conclusão a verdade das premissas. Assim, a lógica seria apenas o estudo da forma dos argumentos, ocupando-se exclusivamente dos argumentos válidos. Só que isso não corresponde à verdade. Há outros tipos de argumentos cuja aceitabilidade não depende da forma que apresentam. Tais argumentos fazem, por isso, parte da chamada “lógica informal”.

Que tipos de argumentos há?

Os argumentos de que tenho falado até aqui são também conhecidos como argumentos dedutivos. O melhor que se pode dizer dos argumentos dedutivos é que se trata daquele tipo de argumentos cuja forma garante a verdade da conclusão, no caso de as premissas serem também verdadeiras. A sua forma lógica é, portanto, decisiva. O mesmo não se pode dizer de outros tipos de argumentos, residindo aí a diferença entre lógica formal e lógica informal. Para além dos argumentos dedutivos temos então os argumentos:
  • Por analogia
  • Indutivos (generalizações a partir de exemplos)
  • Sobre causas
  • De autoridade
Juntamente com os argumentos dedutivos, os argumentos por analogia são os mais utilizados pelos filósofos. Os argumentos por analogia costumam apresentar a seguinte forma:
Os x têm as propriedades A, B, C, D.
Os y, tal como os x, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm também a propriedade E.
Podemos resumir e dizer:
Os x, como os y, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm a propriedade E.
Resumindo ainda mais:
Os x são E.
Os y são como os x.
Logo, os y são E.
Os argumentos por analogia partem da ideia de que se diferentes coisas são semelhantes em determinados aspectos, também o serão noutros. Veja-se o exemplo seguinte:
Os soldados de um batalhão têm de obedecer às decisões de um comandante para atingir os seus objectivos.
Uma equipa de futebol é como um batalhão.
Logo, os jogadores de uma equipa de futebol têm de obedecer às decisões de um comandante (treinador) para atingir os seus objectivos.
O termo “como” na segunda premissa está destacado. Esse termo indica que estamos a estabelecer uma comparação entre situações análogas, característica dos argumentos por analogia. Mas será que apenas pela forma do argumento ficamos a saber se é aceitável ou não? Para tornar clara a resposta a esta pergunta, compare-se o argumento anterior com o seguinte:
Os soldados de um batalhão andam armados quando treinam.
Uma equipa de futebol é como um batalhão.
Logo, os jogadores de futebol andam armados quando treinam.
A primeira coisa que se torna evidente é que, ainda que o primeiro argumento possa ser aceitável, este último não o é com toda a certeza. Acontece, porém, que ambos exibem exactamente a mesma forma. Concluímos, assim, que a mera inspecção da sua forma não nos permite classificar os argumentos por analogia como bons ou maus. Portanto, a qualidade destes argumentos não depende da sua forma lógica. Encontramos com a mesma forma bons e maus argumentos por analogia. Por isso é que tais argumentos não fazem parte da lógica formal. Por isso também não dizemos que um argumento por analogia é válido ou inválido, coisa que só se aplica aos argumentos dedutivos. Recordo a definição de validade, segundo a qual é logicamente impossível obter conclusões falsas de premissas verdadeiras, o que não acontece nos argumentos por analogia. Nos argumentos por analogia nunca podemos garantir logicamente que de premissas verdadeiras se obtêm sempre conclusões verdadeiras. Isto é, os argumentos por analogia não possuem a característica de preservar logicamente a verdade. Assim, não temos outro remédio senão olhar para aquilo que as premissas e a conclusão afirmam, de pouco servindo a análise do seu aspecto formal. Repare-se no seguinte argumento:
Os bombeiros dividem-se em batalhões, obedecem a uma hierarquia e têm um quartel, como os polícias.
Os polícias usam farda.
Logo, os bombeiros usam farda.
Vimos que um argumento por analogia não é válido ou inválido, mas que nem todos os argumentos por analogia são maus. Costuma-se dizer que os argumentos por analogia são fortes ou fracos. Como distinguimos uns dos outros? O argumento anterior é constituído por premissas e conclusão verdadeiras. Aparentemente é um argumento forte por analogia. Mas veja-se agora um outro argumento por analogia (com a mesma forma do anterior, claro) com premissas também verdadeiras, mas cuja conclusão é manifestamente falsa:
Os bombeiros dividem-se em batalhões, obedecem a uma hierarquia, têm um quartel e usam farda, tal como os polícias.
Os polícias usam arma.
Logo, os bombeiros usam arma.
Este argumento é, sem dúvida, fraco. Até porque a conclusão é falsa. Ao avaliar um argumento por analogia no sentido de saber se é forte ou fraco, temos de estar atentos a três critérios, os quais se manifestam nas seguintes perguntas:
  1. As semelhanças apontadas nos casos que estão a ser comparados são relevantes para a conclusão que se quer inferir?
  2. A comparação tem por base um número razoável de semelhanças?
  3. Apesar das semelhanças apontadas, não haverá diferenças fundamentais entre os casos que estão a ser comparados?
Aplicando os critérios patentes nas perguntas anteriores, podemos verificar se uma analogia é forte ou fraca. No caso do argumento anterior, por exemplo, verificamos que falha os critérios 1e 3. As semelhanças entre os bombeiros e os polícias são muitas, mas não são relevantes para a conclusão que se quer tirar. Nenhuma delas está sequer relacionada com o uso de arma, falhando assim o critério 1. Mas também falha o critério 3 porque existe uma diferença fundamental entre os bombeiros e os polícias. Estes fazem parte de uma força da ordem, necessitando por isso dos meios para a restabelecerem quando é perturbada; aqueles são membros de uma força de paz, não necessitando de quaisquer meios de coacção.
A seguinte analogia também é claramente fraca:
Os franceses, como os ingleses, têm vários filósofos famosos.
Os franceses estudam filosofia no ensino secundário.
Logo, os ingleses estudam filosofia no secundário.
É discutível se a semelhança referida é ou não relevante para a conclusão, mas não há qualquer dúvida que o critério (ii) não é satisfeito. Não podemos inferir seja o que for sobre o ensino da filosofia em Inglaterra baseados apenas numa semelhança com o caso francês.
Um famoso argumento por analogia a favor da existência de Deus é o seguinte:
Todas as máquinas têm um criador que as põe a funcionar de forma precisa, regular e inteligível.
O mundo é como uma máquina.
Logo, o mudo tem um criador.
Será um argumento forte? Não é difícil admitir que as semelhanças são relevantes para a conclusão, passando satisfatoriamente o critério 1. Também não é difícil admitir que as semelhanças entre as máquinas e a natureza são numerosas, passando também no critério 2. E quanto ao critério 3? Será que há diferenças fundamentais? Parece-me que há uma diferença que não pode ser desprezada: enquanto as máquinas não se modificam nem evoluem com o tempo, a não ser pela intervenção de alguém, os seres naturais modificam-se e aperfeiçoam-se constantemente por si próprios. Esta diferença é determinante para pôr em causa a necessidade de um criador para a natureza. O argumento falha, portanto, o critério 3. Por isso é um argumento fraco.


Se os argumentos dedutivos e por analogia são muito utilizados na filosofia, o mesmo já não acontece com os argumentos a partir de exemplos — mais conhecidos como argumentos indutivos ou generalizações. Contudo, são os argumentos mais utilizados fora da filosofia. Grande parte das opiniões das pessoas resulta de processos indutivos de raciocínio. É o que se verifica em afirmações comuns como “os alentejanos são preguiçosos”, “os alemães são racistas”, “todos os seres humanos morrem”, “o Sol vai nascer amanhã”, “as mulheres são mais sensíveis do que os homens”, etc. A forma dos argumentos indutivos é a seguinte:
Alguns A são B.
Logo, todos os A são B.
Neste caso a premissa é apenas o resumo de um conjunto mais ou menos extenso de casos particulares. Mas por muito extenso que seja o número de exemplos de que se parte num argumento indutivo, nunca temos a garantia lógica de que a conclusão seja verdadeira. Também aqui corremos o risco de encontrar premissas verdadeiras e conclusão falsa. Portanto, os argumentos indutivos, como já acontecia com os analógicos, não são válidos ou inválidos. Veja-se o seguinte exemplo:
Os cisnes observados até agora são brancos.
Logo, todos os cisnes são brancos.
Note-se que a premissa, ao referir todos “os cisnes observados até agora”, está a referir apenas alguns cisnes e não todos os que existem. Apesar disso, dificilmente diremos que não constitui uma boa razão para concluir que todos os cisnes são brancos. De facto, durante muito tempo se pensou que todos os cisnes eram brancos até ao dia em que se descobriu um lugar até então desconhecido (a Austrália) em que os cisnes são pretos. Bastava, aliás, que um só cisne fosse de outra cor para tornar falsa a conclusão anterior. Mas será que alguém considera fraco o argumento seguinte?
Até agora todas as esmeraldas encontradas são verdes.
Logo, todas as esmeraldas são verdes.
É claro que este é um bom argumento. Não é logicamente impossível que a conclusão seja falsa. Mas é improvável. Assim, uma indução é forte se, e só se, for improvável, mas não logicamente impossível, que a sua conclusão seja falsa. Caso contrário a indução é fraca. Tudo depende, como é óbvio, da força com que as premissas apoiam a conclusão. Os argumentos indutivos não são, de resto, invulgares nas ciências empíricas. Algumas das descobertas científicas são o resultado de generalizações fortemente apoiadas em observações e experiências realizadas. O que não significa que essas generalizações não tenham de ser constantemente testadas pelos próprios cientistas. Uma vez que sabem que não é logicamente impossível que as suas conclusões sejam falsas, ainda que apoiadas em numerosas observações, os cientistas procuram testá-las procurando os contra-exemplos que as podem tornar falsas. No caso dos cisnes o contra-exemplo acabou por aparecer, mas isso não significa que todos os argumentos indutivos sejam maus. Tudo o que devemos evitar é fazer generalizações apressadas sem procurar avaliar se as premissas que sustentam as nossas conclusões são suficientemente fortes para isso.

Também frequentes nas ciências empíricas são os argumentos sobre causas. Neste tipo de argumentos o que se faz é procurar conexões entre fenómenos de modo a estabelecer uma relação causal entre eles. A célebre experiência do cão de Pavlov, a qual levou à descoberta do reflexo condicionado, é um exemplo deste tipo de argumento. Pavlov submeteu o cão a determinados estímulos, estudando as suas reacções. Dessa forma Pavlov conseguiu explicar a relação que existia entre o estímulo produzido e o salivar do cão. Apesar de este tipo de argumento não ser habitual em filosofia, há, ainda assim, um cuidado a ter: não concluir que um fenómeno é causado por outro porque a este se segue sempre aquele. Este é um raciocínio muito frequente mas incorrecto. Trata-se, pois, de uma falácia. Essa falácia é conhecida como post hoc. Um exemplo disso é:
O trovão vem sempre depois do relâmpago.
Logo, o relâmpago é a causa do trovão.
Mesmo sendo verdade que o relâmpago antecede o trovão, é falso que este seja causado por aquele. De facto, tanto o relâmpago como o trovão são causados pelo mesmo fenómeno: uma descarga eléctrica.
Resta-me falar dos argumentos de autoridade. Este tipo de argumento é principalmente utilizado quando queremos apresentar resultados que não são do domínio geral e que dependem de alguma forma de competência técnica ou de conhecimento especial. Nesses casos, nada melhor do que invocar o que os especialistas na matéria em causa afirmam. A sua forma costuma ser:
X afirma que P.
Logo, P.
Estes argumentos nem sempre são maus. Mas são frequentemente utilizados de forma abusiva. Eis um exemplo de um bom argumento de autoridade:
Carl Sagan diz que há mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra.
Logo, há mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra.
Por que razão é este um bom argumento de autoridade? Porque obedece aos dois critérios seguintes:
  1. A autoridade invocada é reconhecida como tal pelos seus pares;
  2. os especialistas não divergem entre si.
São estes mesmos critérios que tornam falaciosos os argumentos de autoridade em filosofia. Como se sabe, seja qual for o assunto, os filósofos discordam entre si. Por isso, ainda que o critério 1 fosse satisfeito, o critério 2 nunca o seria. Utilizar argumentos de autoridade em filosofia é incorrer numa falácia: a falácia do apelo à autoridade. Contudo, quando, por exemplo, os filósofos enfrentam determinados problemas cuja discussão depende de informação científica disponível, não só podem mas devem apoiar-se naquilo que os especialistas nessa matéria dizem. Mas sempre com o cuidado de referir claramente quando e onde é que o especialista afirmou tal coisa.

Gostaria ainda de referir uma outra falácia que de alguma forma está relacionada com a autoridade de quem argumenta. Só que, neste caso, para a desvalorizar. Essa falácia é conhecida como ad hominem. Em vez de se discutir o argumento, critica-se a pessoa que o produz. Assim se procura combater as ideias atingindo as pessoas que as defendem. Atacar as pessoas em vez das suas ideias é uma falácia, infelizmente muito frequente. Na verdade, mesmo as piores pessoas do mundo podem utilizar bons argumentos. E os argumentos não são bons ou maus consoante as pessoas que os produzem.

Quando é que um argumento é bom?

Em termos gerais, um argumento é bom quando as suas premissas nos oferecem boas razões para aceitar a conclusão. Mas isto pode não ser inteiramente esclarecedor. Já vimos que há argumentos válidos inaceitáveis e que há argumentos que não são válidos mas são aceitáveis. Temos, portanto, maus argumentos válidos e bons argumentos não válidos. Sabemos também que todos os argumentos inválidos são maus. Mas nós não estamos apenas interessados em argumentos válidos; estamos, principalmente, interessados em bons argumentos. Ou seja, estamos interessados em todos os argumentos que nos conseguem persuadir de forma racional. O que não se verifica apenas com os argumentos válidos. Verifica-se também com argumentos de outros tipos, sejam eles por analogia, indutivos, sobre causas ou de autoridade. Em conclusão: nem todos os argumentos válidos são bons e nem todos os argumentos não válidos são maus.

Vejamos novamente o caso dos argumentos válidos, procurando, desta vez, distinguir os bons dos maus. Ninguém estaria disposto a deixar-se convencer por um argumento com premissas falsas, mesmo que tal argumento fosse válido. Frequentemente rejeitamos, como maus, argumentos válidos, simplesmente porque discordamos de alguma das suas premissas. Exigimos, pois, que um bom argumento válido tenha premissas verdadeiras. Sem premissas verdadeiras, um argumento não pode ser sólido. Por exemplo, o seguinte argumento é válido mas não é sólido:
A eutanásia deve ser permitida.
A eutanásia não deve ser permitida.
Logo, deus existe.
Por estranho que pareça, o argumento anterior é válido. Neste argumento nunca ocorre aquilo que não pode ocorrer num argumento válido: premissas verdadeiras e conclusão falsa. Não sabemos qual o valor de verdade da conclusão e nem é preciso. Basta-nos saber que as premissas não podem ser ambas verdadeiras. Se a primeira é verdadeira, a segunda tem de ser falsa e vice-versa. Isto significa que as premissas são inconsistentes. Mas não há aqui nada de novo em relação ao que disse atrás acerca da solidez dos argumentos, pois podemos rejeitá-lo como mau por ter obrigatoriamente uma premissa falsa. Daí os argumentos com premissas inconsistentes serem maus, apesar de serem sempre válidos.
Veja-se agora um outro exemplo, também ele de um argumento válido:
Se a minha teoria é verdadeira, então deus existe.
Se a tua teoria é verdadeira, então deus não existe.
Mas as nossas teorias são ambas verdadeiras.
Logo, deus existe e não existe.
Não há qualquer circunstância possível em que a conclusão seja verdadeira; ela é obrigatoriamente falsa porque é uma proposição inconsistente. Mas dado que o argumento é válido, pelo menos uma das premissas tem de ser falsa. Caso contrário, teríamos premissas verdadeiras e conclusão falsa, o que não é permitido num argumento válido. É fácil de ver que, neste caso, a premissa falsa é a terceira: “as nossas teorias são ambas verdadeiras”. Concluímos, então, que a inconsistência, quer entre premissas quer da conclusão, torna qualquer argumento válido num mau argumento.
Mas vejamos agora outro argumento também ele válido, desta vez sem premissas nem conclusão inconsistentes:
Portugal é um país europeu.
Portimão fica no Algarve.
Logo, o diabo existe ou não existe.
Mais uma vez, parece estranho que este argumento seja válido. E agora nem sequer temos premissas inconsistentes, até porque são ambas verdadeiras. Mas nem sequer precisamos de saber se as premissas são verdadeiras ou falsas. Basta verificar que a conclusão em circunstância alguma pode ser falsa. Diz-se, nesse caso, que a conclusão é uma tautologia. E se a conclusão é tautológica, isto é, se é verdadeira em todas as circunstâncias possíveis, também não pode acontecer as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa. Eis a razão pela qual este argumento tem de ser válido. Ainda assim, ninguém terá dúvidas em considerá-lo um mau argumento.

Note-se que não só é válido como tem premissas verdadeiras. Qual é, então, o defeito deste argumento? O defeito é que as suas premissas são irrelevantes para a conclusão. Como tal, não oferecem boas razões para aceitar a conclusão inferida. Temos, pois, um problema de irrelevância das premissas. A conclusão não se segue das premissas, ainda que as premissas sejam verdadeiras e o argumento válido. A conclusão é verdadeira por si mesma, por isso é que se trata de uma tautologia. Por mais disparatadas que sejam as premissas, a verdade da conclusão está sempre garantida independentemente delas. Estamos agora em condições de acrescentar que um bom argumento válido tem de ser sólido. Só que, para além do que foi dito atrás, a solidez de um argumento implica que a sua conclusão não seja tautológica. Uma conclusão tautológica torna as premissas irrelevantes. Proponho que se verifique se um argumento é sólido respondendo às seguintes três perguntas:
  1. É válido?
  2. Todas as suas premissas são verdadeiras?
  3. A conclusão é tautológica?
A resposta esperada num argumento sólido é “sim” para as primeira e segunda perguntas e “não” para a terceira. O “sim” da primeira garante-nos que o argumento apresenta uma forma lógica correcta; o “sim” da segunda (juntamente com o “sim” da primeira) garante-nos que a conclusão não se segue de falsidades e que não há premissas nem conclusão inconsistentes; o “não” da terceira garante-nos que as premissas não são irrelevantes. Se alguma das respostas não for a esperada, então o argumento não é sólido. E se não é sólido, também não é bom.

Mas, como já referi, há outros argumentos bons que não são válidos. Esses são os argumentos fortes, sejam eles argumentos por analogia, indutivos, sobre causas ou de autoridade. Resumindo o que disse atrás, as analogias fortes são aquelas em que as semelhanças apontadas dizem respeito a aspectos relevantes para a conclusão que se quer inferir; as induções fortes são aquelas em que a força das premissas torna altamente improvável, embora não logicamente impossível, que a conclusão seja falsa; os argumentos sobre causas são fortes se a sua conclusão sugere não apenas causas possíveis mas a causa mais provável, ao mesmo tempo que explica como a causa conduz ao efeito; os argumentos de autoridade são fortes se se referem a domínios de conhecimento muito especializados, se a autoridade invocada é reconhecida como tal entre os seus pares, se os especialistas não discordam entre si, e se a autoridade e a fonte onde a informação foi colhida estiverem devidamente identificadas. Podemos agora concluir que os argumentos bons são todos os argumentos sólidos e todos os argumentos fortes.

De que serve, afinal, estudar lógica?

Será que as pessoas que não estudam lógica não conseguem argumentar nem pensar consequentemente? É óbvio que o conseguem, tal como muitas pessoas analfabetas falam o português, aplicando correctamente muitas das regras gramaticais que elas próprias desconhecem. O mesmo se passa em relação à matemática. Há muitas pessoas que nunca estudaram aritmética e que dificilmente se deixam enganar nas contas. Se, com relativo sucesso, somos intuitivamente capazes de pensar de forma lógica e consequente, porquê então estudar lógica? Penso que há três razões principais:
  1. O estudo metódico e sistemático da lógica desenvolve uma técnica que, na medida em que o fazemos de maneira explícita e consciente, nos permite pôr à prova muitos dos nossos juízos intuitivos.
  2. O treino do uso explícito das regras da lógica dá-nos a possibilidade de aperfeiçoar o raciocínio.
  3. O domínio da lógica permite avaliar a racionalidade de algumas das nossas opiniões, na medida em que as premissas dos nossos argumentos exprimem opiniões nossas e as suas conclusões aquilo que tais opiniões nos levam a afirmar (novas opiniões).

Conceitos principais

Os seguintes conceitos aparecem destacados quando são referidos pela primeira vez no texto:
O que é um argumento?
Argumento, Premissa, Conclusão, Premissa suprimida.
O que é uma proposição?
Proposição, Frase declarativa, Condições de verdade, Valor de verdade.
          O que é a validade? 
           Validade, Forma lógica, Argumento sólido.
                  
          Que tipos de argumentos há? 
            Argumento dedutivo, Argumento por analogia, Argumento indutivo, Argumento sobre causas, Argumento de autoridade, Argumento forte, Argumento fraco, Falácia.

           Quando é que um argumento é bom? 
            Inconsistência, Tautologia, Irrelevância.

Exercícios

Exercício 1: Identifique as premissas e conclusões dos seguintes argumentos, tornando explícitas quaisquer premissas suprimidas:
  1. O pavilhão de Portugal na Expo’98 foi desenhado por Siza Vieira. Por isso é bonito, já que tudo o que é desenhado por Siza Vieira é bonito.
  2. Sartre era nacionalista, pois pertenceu à resistência e as pessoas que pertenceram à resistência eram nacionalistas.
  3. Gosto muito de arte, uma vez que vou frequentemente a exposições.
  4. O Aguiar foi multado porque foi apanhado sem os documentos do carro.
  5. Pavarotti é italiano, portanto é latino.
  6. Não podes ser um bom filósofo se não sabes argumentar. Ora, tu sabes argumentar, portanto podes ser um bom filósofo.
  7. Ou a minha teoria não é verdadeira ou a tua teoria não é verdadeira, pois se a minha teoria é verdadeira, deus existe. Mas se a tua teoria é verdadeira, deus não existe.
Exercício 2: Diga quais das seguintes frases exprimem proposições:
  1. Existe vida fora da Terra.
  2. 2+2=5.
  3. O vinho é um metal raro.
  4. Aceitam-se listas de casamento.
  5. Silêncio!
  6. Tenho uma dor de dentes.
  7. Ver Veneza e morrer.
  8. Esta frase não exprime uma proposição.
  9. Duas frases declarativas exprimem a mesma proposição se, e só se, têm as mesmas condições de verdade.
  10. A China é um país distante.
  11. Lisboa não é a capital de Portugal.
Exercício 3: Consegue atribuir um valor de verdade a cada uma das frases declarativas anteriores. Porquê?
Exercício 4: Diga quantas frases declarativas se encontram na lista que se segue. E quantas proposições?
  1. Dois mais três é igual a cinco.
  2. Três mais dois é igual a cinco.
  3. Espera aí!
  4. Dois mais três é igual a cinco.
  5. Cinco é igual a dois mais três.
  6. Prometo que vou tirar positiva no teste de lógica.
  7. Teixeira Gomes foi o autor de Agosto Azul.
Exercício 5: Dê um exemplo de um argumento válido com premissas e conclusão falsas.
Exercício 6: Dê um exemplo de um argumento inválido com premissas e conclusão verdadeiras.
Exercício 7: Dê um exemplo de um argumento sólido.
Exercício 8: Identifique o tipo de cada um dos seguintes argumentos e diga se os considera fortes ou fracos:
  1. Os ingleses são violentos, pois basta olhar para os hooligans.
  2. Os grandes criadores musicais permitem certas dissonâncias nas suas sinfonias com a finalidade de realçar as partes harmoniosas. Ora, o mundo é como uma sinfonia. Daí que o criador do mundo permita a existência do mal com a finalidade de realçar o bem.
  3. Impedir alguém que não é cristão de fazer aborto em nome da santidade da vida é como impedir os cristãos de comer carne de vaca em nome da divindade das vacas para os hindus. Ora, é errado impedir os católicos de comer carne de vaca porque os hindus consideram que as vacas são sagradas. Logo, é errado impedir os que não são cristãos de fazer aborto em nome da santidade da vida.
  4. O Papa diz que as relações sexuais antes do casamento estão na origem de muitos conflitos familiares. Logo, as relações sexuais antes do casamento conduzem a muitos conflitos familiares.
  5. Sartre afirma que o homem está condenado a ser livre, portanto o homem não pode deixar de ser livre.
  6. Vários estudos mostram que sempre que baixam as taxas de juro aumenta o preço das casas. Logo, a baixa das taxas de juro provoca o aumento do preço das casas.
  7. Nenhuma pessoa até hoje viveu mais de 150 anos. Logo nenhuma pessoa vive mais de 150 anos.
Exercício 9: Diga quais dos seguintes argumentos não são bons e porquê:
  1. Se tudo é arte, então este argumento é uma obra de arte e se este argumento é uma obra de arte, o seu autor é um artista. Assim, se tudo é arte, o autor deste argumento é um artista.
  2. O diabo existe, mas deus foi o seu criador. Logo o diabo existe ou não existe.
  3. O Paulo responde a este exercício e não responde a este exercício. Logo, o Paulo não sabe lógica.
  4. Todos os portugueses são latinos. Luís Figo é latino, portanto Luís Figo é português.
  5. Faro fica no Algarve e o ferro é um metal. Logo, Fernando Pessoa não ganhou o Prémio Nobel da literatura.
  6. Bill Gates afirma que dentro de cinco anos os aparelhos de televisão irão passar a ter as mesmas funções que os computadores actuais. Logo, dentro de cinco anos os aparelhos de televisão passarão a ter as mesmas funções que os computadores actuais.
  7. Todos os espanhóis são toureiros. Plácido Domingo é espanhol. Logo, Plácido Domingo é toureiro.