"ILUSÃO" DE VÁRIOS TIPOS DE FILOSOFIAS, E O CUIDADO QUE DEVEMOS TER COM AS MESMAS!




Por Norman L. Geisler
Tradução de Tatiana Teles Luques dos Santos
Adaptado por Artur Eduardo



A exortação do apóstolo Paulo para se ter “cuidado com a filosofia humana” (Col. 2:8) é tão urgente hoje quanto foi no primeiro século, se não muito mais. E isto não é verdadeiro somente para cristãos que se consideram filósofos, mas para todos aqueles que não se consideram, especialmente no caso de exegetas bíblicos.

Por que temos que ter cautela com a Filosofia
Embora o contexto de Col. 2:8 provavelmente refere-se tipo de filosofia proto-gnóstica em Colossos que trouxe uma mistura desastrosa de legalismo, ascetismo e misticismo com cristianismo [1] , a implicação da admoestação de Paulo para ter “cautela com a filosofia” é aplicada apropriadamente para outros sistemas diferentes de pensamento que tem invadido o cristianismo através dos séculos desde então.

Filosofias atuais
Existem muitas filosofias atuais com as quais devemos ter muito cuidado. Mas primeiramente vou explanar algumas das ideologias mais prejudiciais dos últimos séculos. Entre elas, poucas tem sido mais destrutivas que o naturalismo, nas versões metafísica e metodológica.

Cuidado com o Naturalismo
Naturalismo é a filosofia que nega que existam intervenções sobrenaturais no mundo. É a raiz da crítica bíblica negativa moderna que se iniciou na verdade com a publicação de Tratado Teológico-Político de Benedict Spinoza em 1670.

Benedict Spinoza
Spinoza argumentou que “nada até então, vem para passar na natureza em contravenção a suas leis universais, sim, tudo está de acordo com elas e as segue, porque… ela mantém uma ordem imutável”. De fato, um “milagre, seja em contravenção para, ou além, natureza, é um mero absurdo”. O notável panteísta Holandês-judeu não era em nada pouco dogmático sobre a impossibilidade de milagres. Enfaticamente, proclamou, “poderemos então, sermos absolutamente certos de que toda situação que é descrita com veracidade nas Escrituras necessariamente aconteceu, como todas as outras coisas, de acordo com as leis naturais [2] .

Seu racionalismo naturalista o levou a concluir que” há muitas passagens no Pentateuco que Moisés pode não ter escrito, e sigo com a crença de que Moisés como autor do Pentateuco é ultrapassada e até mesmo irracional [3] .”Além disso, Spinoza (foto) insistiu que foi escrito pela mesma pessoa, quem escreveu todo o resto do Velho Testamento – o escriba Ezra [4] ”.
Spinoza também rejeitou a idéia de que a ressurreição faz parte dos Evangelhos. Considerando o cristianismo, disse que “os apóstolos que vieram depois de Jesus, o pregaram a todos os homens como uma religião universal somente em virtude da Paixão de Cristo” [5] .

Não houve ressurreição. Como o Cristianismo ortodoxo tem sido mantido desde tempos ancestrais, através das Escrituras (1 Cor. 15:1-14) e dos credos, apartada da verdade da ressurreição de Cristo, o cristianismo seria uma religião falsa sem esperança, assim segue que a visão de Spinoza é diametralmente oposta à ortodoxia [6] .
Aliás, Spinoza categoricamente negou todos os milagres da Bíblia. Ele elogia “quem busca pelas causas verdadeiras dos milagres e esforça-se para entender fenômenos naturais como um ser inteligente…” [7] Não somente concluiu que “todo acontecimento (…) nas Escrituras necessariamente aconteceu, como qualquer outra coisa, de acordo com as leis naturais” [8] mas as Escrituras por elas mesmas “fazem uma afirmação geral em várias passagens em que o curso da natureza é fixo e imutável” [9] . Em suma, milagres são impossíveis.

Finalmente, Spinoza sustentou o fato de que os profetas não falaram através de “revelações” sobrenaturais e “as formas de expressão e discurso adotadas pelos apóstolos nas epístolas mostram muito claramente que “estes últimos não foram escritos por revelação e direção divina, mas apenas pelos poderes naturais e julgamento dos autores” [10] .
O naturalismo de Spinoza levou diretamente à primeira crítica sistemática negativa moderna da Bíblia. Isso tem trazido um efeito devastador para a interpretação bíblica. Seu trabalho foi a inspiração para Richard Simon que se tornou conhecido como o “Pai do Cepticismo Bíblico Moderno.” A adoção do naturalismo de Spinoza é um exemplo claro e evidente de falha ao acatar a advertência dos apóstolos para “ter cuidado com a filosofia”.

David Hume
O cético escocês David Hume (1711-1776) deu continuidade ao anti-sobrenaturalismo de Spinoza, somente em uma forma menos censurável para uma visão moderna da lei científica. No Livro Dez de seu famoso Inquérito sobre a Compreensão Humana (1748), ele lançou seu ataque nos milagres [11] . Nas palavras de Hume, a razão se torna assim: 1) “Um milagre é uma violação das leis da natureza”. 2) “Uma experiência firme e inalterável tem estabelecido estas leis [da natureza]”.3) “Um homem sábio torna suas crença proporcionais à evidência.” 4) “Portanto, a prova contra milagres… é tão completa como qualquer argumento de experiências que não podem ser imaginadas.”, escreveu Hume, “Deve haver, portanto, uma experiência uniforme contra todo acontecimento miraculoso.

Por outro lado o fato não dá mérito a apelação.” Então nada é tido como um milagre se acontecer no curso comum da natureza.” Os resultados do naturalismo filosófico de Hume tem sido desastrosos para o cristianismo [12] . Seu amigo, James Hutton (1726-1797) aplicou o anti-sobrenaturalismo de Hume para a geologia, completando quase dois séculos do naturalismo na ciência. Pouco tempo depois, David Strauss (1808-1874) escreveu sua primeira versão sem fatos sobrenaturais da vida de Cristo. Como dizem, o resto da história. Ou melhor, o resto da destruição da história – particularmente a histórias miraculosas gravadas nas Escrituras.
Outra consequência do anti-sobrenaturalismo tem sido negar a profecia preditiva. Dois Isaías foram inventados e Daniel foi adiado depois dos fatos incríveis da história que haviam previsto. Desta forma, uma explanação puramente naturalística poderia ser providenciada. Em tudo isso as conseqüências do naturalismo são evidentes para não se ouvir a injunção: “cuidado com a filosofia”. Porque se existe um Deus sobrenatural que conhece o futuro, então não há razão para que Ele não consiga prevê-lo.

Daí datando Daniel depois dos fatos da história mundial na qual ele prevê ou colocando outro Isaías porque por outro lado, o nome Ciro é mencionado um século e meio antes de ter nascido, vem de base numa raiz de rejeição pelo sobrenatural. Disto é claro que o aumento e a propagação da Alta Crítica negativa é fundamentalmente uma questão filosófica, e não concernente a fatos. No entanto, a evidência factual tem se dirigido no caminho de visões conservadoras por quase um século, como demonstrado na crescente visão conservadora do famoso arqueólogo e paleógrafo, William F. Albright. Assim que as evidências surgiram, Albright, diferentemente de muitos, estava disposto a desistir de suas pressuposições filosóficas por fatos históricos. Então, moveu-se continuamente para uma direção mais conservadora.

Rudolph Bultimann
Mais recentemente, usando a mesma pressuposição anti-sobrenatural herdada por Spinoza e Hume, Rudolph Bultmann (1884-1976) transformou as histórias dos Evangelhos em mitologias religiosas ("Hércules e Nesso", foto). Por quê? Porque, em suas palavras, acreditava que seria tanto absurdo quanto impossível não reconhecer os Evangelhos como um mito. “Seria um absurdo, porque não há nada especificamente cristão na visão mítica do mundo. É simplesmente a cosmologia de uma era pré-científica” [13] . Além do mais, “seria impossível, porque nenhum homem pode adotar uma visão do mundo pela sua própria vontade– isto já é predeterminado por ele por seu lugar na história” [14] . A razão para isto, diz Bultmann, é que “todos nossos pensamentos diários são formados para o bem ou para o mal pela ciência moderna”. Então “uma aceitação cega da mitologia do Novo Testamento seria irracional… Envolveria um sacrifício do intelecto Significaria aceitar uma visão de um mundo em nossa fé ou religião que deveríamos negar em nossa vida cotidiana” [15] .

Com uma confiança ilimitada na modernidade, Bultmann pronunciou uma imagem bíblica de milagres como impossíveis ao homem moderno. Porque “o humano conhecimento e maestria a respeito do mundo tem avançado uma tal extensão através da ciência e tecnologia que não é mais possível para ninguém seriamente manter a visão de mundo do Novo Testamento – de fato, dificilmente existe alguém que o faça. Portanto, a única forma honesta de recitar as crenças é remover a moldura mitológica da verdade que eles consagram…” [16] Isto significa que “a ressurreição de Jesus é simplesmente tão difícil, isto é, um fato em que o poder sobrenatural é liberado. Para os biólogos, tal linguagem é “sem significado” e “tal noção é intolerável para o idealista.” [17] .

Enquanto os evangélicos não foram trazidos ao naturalismo metafísico de Spinoza ou Hume, todavia, eles tem sido confundidos com sua prole, com o naturalismo metodológico ambos na ciência (pela forma de evolução teísta) e no ceticismo bíblico. Aqui, o naturalismo tem sido largamente absorvido através de metodologias como a Crítica de Redação, que supõe um desenvolvimento literário gradual do texto. Nesta conexão, é revigorante ler o trabalho perspicaz do notável ex-crítico bíblico bultmanniano, Eta Linnemann, que em seu mais novo trabalho publicado na Alemanha, com o título bem próximo em inglês de “Higher Criticism in the Dock” (“A Alta Crítica no banco dos réus”), expõe os calcanhares de Aquiles da Alta Crítica negativa.

Cuidado com o Agnosticismo
O grande pensador alemão, Immanuel Kant (1724-1804) alegou ter sido despertado por David Hume, não ao ceticismo, mas ao agnosticismo. Em seu enfático “Critique of Pure Reason” – Crítica da Pura Razão (1781) e seu menos anunciado, mas altamente influenciador “Religion Within the Limits of Mere Reason” – A Religião dentro dos limites da mera razão (1793) argumentou que Deus não pode ser conhecido (mesmo com revelações) e que a natureza da religião é moral. Insistiu que nossas mentes e sentidos são tão estruturados que não podemos conhecer a realidade por si mesma (a “coisa em si”), mas apenas o que ela aparenta para nós (fenômeno). Assim, a ciência é possível porque fala do mundo observável. Mas a metafísica não é possível. (Como na imagem de Escher, que é uma ´armadilha óptica´, o agnosticismo é uma armadilha filosófica - ´Perspectiva´).

Além disso, bifurcou o observável ramo do fato e do ramo do valor. A dicotomia tem sido desastrosa para estudos bíblicos. Direciona para a rejeição da importância, se não a existência, do registro factual e histórico nas Escrituras e uma ênfase nas dimensões moral e religiosa que tem dominado a teologia liberal desde seu tempo. O problema, então, com o liberalismo que surge de Kant não é factual nem filosófico. Não é exegético, mas ideológico. Ele importa uma metafísica e metodologia alienígena para estudos bíblicos. Kant mesmo concluiu que a religião cristã deveria operar sem a crença em milagres declarando que, “se uma religião moral (que consiste não em dogmas e rituais, mas na disposição do coração de preencher as tarefas humanas como comandos divinos) está para ser estabelecida, todos os milagres cujas histórias estão ligadas com seu primeiro acontecimento devem, por eles mesmos, no fim, tornar supérflua a crença em milagres, no geral” [18] . Considerando a influência imersa de Kant no mundo moderno, vemos mais uma vez a importância de nossa tese para termos “cuidado com a filosofia”.

Cuidado com o Evolucionismo
Muitos pensadores trabalham a partir da ilusão que a evolução é uma ciência empírica quando, de fato, é uma filosofia. Macro-evolução é uma filosofia na qual princípios naturalísticos são expelidos pelo homem Charles Darwin (Darwin, em caricatura), referido como “nosso grande filósofo”, Herbert Spencer (1820-1903) [19] . Spencer chegou à sua filosofia enquanto meditava nas ondas num charco em uma manhã de domingo – algo que sem dúvida não teria acontecido se ele estivesse numa igreja meditando na Palavra de Deus! Muitos evolucionistas não se contentaram a hipotetizar que a vida evoluiu de simples para complexa. Eles aplicam o mesmo método naturalístico para sociedade e religião, afirmando que tinham evoluído também.

Isto deu origem para o mito ainda persistente que a crença religiosa evoluiu de mágica ao politeísmo e deste ao henoteísmo, e deste ao monoteísmo. Esta visão tem dominado a situação desde que James Frazer escreveu “The Golden Bough” (“O Galho Dourado”) em 1890, mesmo que a descoberta da criação monoteísta “ex nihilo” (em Latim, “do nada”) nos Ebla Tablets deveria ter acabado com ela, desde que são anteriores às fontes de Frazer [20] . Até mesmo Charles Darwin propôs isso no seu “The Descent Man” (“O Homem Ancestral”) – 1871. “As mesmas altas faculdades mentais […] levaram o homem a acreditar em fatos espirituais não vistos, quando no fetichismo, politeísmo e em última instância, o monoteísmo…” [21] Baseado em sua preposição naturalística, escreveu em sua autobiografia, “Eu tinha vindo gradualmente, até este momento, para ver que o Antigo Testamento, de sua história manifestamente falsa do mundo, com sua Torre de Babel, o arco como um sinal, etc, etc, e de sua atribuição a Deus, os sentimentos de um tirano vingativo, não é para ser mais confiado do que os livros sagrados hindus, ou as crenças de qualquer bárbaro.” [22]

Em resumo, Darwin concluiu que, “Tudo na natureza é o resultado de leis fixas”. E acrescentou, “Por uma reflexão mais profunda a evidência mais clara seria um requisito para fazer qualquer homem sano crer em milagres pelo qual o cristianismo é defendido – que quanto mais conhecemos sobre as leis fixas da natureza, mais incríveis os milagres se tornam, — que os homens daquele tempo eram ignorantes e crentes em um grau quase incompreensível a nós, — que os Evangelhos não podem ser provados como escritos simultaneamente aos eventos, — que eles diferem em muitos detalhes importantes, muito importantes, como parecem para mim, para serem admitidos como discrepâncias naturais de testemunhas oculares – por tais reflexões como essas… gradualmente vim a desacreditar no cristianismo como uma revelação divina” [23] .

O resultado da filosofia do evolucionismo tem sido catastrófico por estudos bíblicos e teológicos. A historicidade e exatidão científica do registro de Gênesis têm sido negadas. A doutrina da criação tem sido descartada com sérias conseqüências morais em nossa dignidade e sociedade. Hitler, por exemplo, aplicou a visão Darwiniana à sociedade com horrendas conseqüências humanas, argumentando que, “Se a natureza não deseja que indivíduos mais fracos devam equiparar-se com os mais fortes, ela deseja até menos que a raça superior deva interpenetrar com uma inferior; porque em tal caso todos os esforços dela, ao longo de centenas de anos, para estabelecer um estágio evolutivo maior de seres, poderão, assim, ser proveitos fúteis”. Ele então veio a dizer que, “Tal preservação vai de mão em mão com a lei inexorável de que o mais forte e o melhor que deve triunfar e tem o direito de durar” [24] . Com isso, abateu um número estimado em 12 milhões de seres humanos os quais considerava que eram de raças inferiores.

Aliás, o texto da evolução utilizado no estado de Tennessee em questão do julgamento de John Scopes, que era racista, referia à raça caucasiana como a “mais alta raça de todas” [25] .
O prejuízo causado pelo Darwinismo no reino teológico tem sido igualmente indesejável. Claro, alguns estudiosos tem, bravamente, mas de forma fútil, arriscado a tentar reconciliar evolução com as Escrituras, incluindo James Orr e A. A. Strong, somente para fazer violência ao método histórico-gramatical e inconscientemente, minar tanto a dignidade humana como a ortodoxia teológica.

Eles falharam ao escutar as advertências de Charles Hodge em seu trabalho, em 1878, intitulado “O que é Darwinismo?”, no qual Hodge responde corretamente: “É ateísmo. Isto não significa, como dito anteriormente, que o Sr. Darwin por ele mesmo e todos que adotaram suas visões são ateus; mas significa que sua teoria é ateísta; que a exclusão do design vindo da natureza … equivaleria ao ateísmo.” [26] Afinal, se não existe nenhum design, então não existe necessidade de um Designer. E se as coisas não foram criadas, então não houve nenhum Criador.

Cuidado com a filosofia do Progressivismo
Muitos dos estudiosos bíblicos modernos foram sugados para a filosofia do historicismo, no despertar do panteísmo em desenvolvimento de George Wilhelm Hegel (1770-1831). Em seu trabalho massivo, o “The Phenomenology of Spirit (1807)” (“A Fenomenologia do Espírito”), e seu posterior “Encyclopedia of Philosophy (1817)” (“Enciclopédia da Filosofia”), Hegel esclarece em seu progressivismo histórico no que se tornou conhecido através do erro de interpretação de Johannn Fichte (1762-1814) como um dialético de teses, antíteses e sínteses [27] . Todavia, Hegel afirmou que a história é o desdobramento do espírito absoluto de um desenvolvimento dialético.

Os resultados de este chamado “Hegelianismo” para estudiosos da Bíblia foram desastrosos. F. C. Baur’s (1792-1860) Tubingen School alegou que o Evangelho de João deve ser visto como uma síntese de conflitos do século II de teses-antíteses de Pedro e Paulo. Chegaram a esta conclusão com quase um total desrespeito pela evidência interna e externa por uma data anterior ao primeiro século de João. As conclusões chamadas “exegéticas”, porém maciças ou acadêmicas, foram, em grande parte, determinadas pela filosofia prevalecente. Mais uma vez, os especialistas em hermenêutica deveriam ter ouvido a advertência de “cuidado com a filosofia.”

Cuidado com o Existencialismo
O Pai do Existencialismo moderno não foi um ateu francês do século XX, mas um cristão dinamarquês chamado Soren Kierkegaard (1813-1855) que poderia ter assinado uma declaração endossando os fundamentos históricos da Fé. Ele escreveu: “No geral, a doutrina como é ensinada (na igreja) é inteiramente sensatal” [28] .Todavia, poucos teriam feito mais no meio evangélico para minar metodologicamente a ortodoxia histórica que Kierkegaard. Aliás, foi seu filho filosófico, Karl Barth, quem deu o início à Nova Ortodoxia. Kierkegaard concluiu que “mesmo se afirmarmos que os defensores do Cristianismo”…tiveram sucesso ao provar sobre a Bíblia, tudo o que qualquer teólogo, em seu momento mais feliz, jamais desejou para provar sobre a Bíblia”, designadamente, “que esses livros e não outros pertencem ao Cânon; são autênticos; são completos; seus autores são confiáveis—um poderia muito bem dizer, que é como se cada carta fosse inspirada”. Kierkegaard perguntou: “Será que alguém que anteriormente, não teve fé foi trazido a apenas um passo mais próximo à sua aquisição? Não, nenhum passo” [29] .

Então Kierkegaard colocava o oposto, ou seja, “que os oponentes tiveram sucesso em provar o que desejavam acerca das Escrituras, com uma certeza transcendendo o desejo mais ardente da mais entusiasta hostilidade – e depois? Os oponentes aboliram assim o cristianismo? De jeito nenhum. O crente foi prejudicado? De forma alguma, e nem um pouco” [30] .
No mínimo, a bifurcação de Kierkegaard de fato e valor está axiologicamente fora de lugar. Na verdade, tem sido biblicamente desastroso, como Barth, Brunner e Bultmann demonstraram – ou quaisquer outros “Bs” que possam aparecer de repente zanzando em círculos não-ortodoxos. Precisamos somente mencionar as crenças inspiradas de Kierkegaardian: 1) A verdade religiosa é localizada num encontro pessoal (subjetividade); 2) A verdade proposicional não é essencial a fé; 3) A Alta Crítica é inofensiva ao real cristianismo; 4) Deus é “inteiramente outro” e essencialmente não pode ser conhecido, mesmo através da revelação bíblica. Isto dá um significado ainda maior para a advertência Paulina de “tomar cuidado com a filosofia”.

Cuidado com a Fenomenologia
Seguindo a metodologia do seu mentor, Edmund Husserl, Martin Heidegger (1889-1976) definiu o as bases para afirmação de que o verdadeiro significado de um termo é encontrado em etimologia. Em suas obras, “Being and Time (1927)” (“Ser e Tempo”) e especialmente “Introduction to Metaphysics (1953)” (“Introdução à Metafísica”), Heidegger definiu não somente a base para a chamada “Nova Hermenêutica” de Ott, Ebeling, Fuchs, Bultmann, e Gadamer como também o fundamento para o amplo e freqüentemente utilizado ingenuamente “Kittel’s Theological Dictionary of the New Testament“ (“Dicionário Teológico do Novo Testamento de Kittelbut”). Entre as conflituosas premissas escondidas em um trabalho maciço as discórdias são: 1) A origem de um termo é a chave para seu significado; 2) O significado é não-conceitual e místico; 3) A linguagem é simbólica, não descritiva. Até mesmo o liberal James Barr expôs as pressuposições do Heideggeriano Kittel em suas Semânticas Bíblicas. Considerando o uso extensivo e com freqüência, filosoficamente acrítico de Kittel por estudiosos da Bíblia, este não pode ajudar, mas ser lembrado da exortação de Paulo para se ter “cuidado com a filosofia” – e neste caso, a filosofia da fenomenologia.

Cuidado com o Convencionalismo
Poucas filosofias penetraram nos estudos lingüísticos contemporâneos e na interpretação bíblica mais do que o convencionalismo. Com raízes em Gottlob Frege (1848-1925), Ferdinand Sausure (1857-1913), e Ludwig Wittgenstein (1889-1951), Esta filosofia nega que hajam quaisquer formas objetivas ou absolutas de significado. Em suma, todos os significados são relativos. Se for assim, então toda verdade é relativa, desde que todas as sentenças verdadeiras devem ser significativas. Mas se toda a verdade é relativa, então não existem verdades absolutas na Bíblia, não importando o quanto os especialistas as avaliem como boas. Mas desde que esta asserção da verdade se refuta a si mesma quanto é incompatível com a teologia evangélica, então devemos tomar cuidado com a filosofia do convencionalismo.

Basta aqui simplesmente constatar que, tal como outras visões não-cristãs, a controvérsia central do convencionalismo refuta-se a si mesma. Porque a afirmação que nenhum significado é objetivo é dada como uma afirmação objetiva sobre significado. E a afirmação que toda verdade é relativa é oferecida como verdade absoluta. Não obstante, não é comum ouvir especialistas no evangelho falar da relatividade cultural de expressões lingüísticas. Aliás, muitas das traduções modernas são baseadas na premissa mal entendida.

Aceleramos ao dizer que isto não é negar que a maioria dos símbolos é culturalmente relativa. Com exceção de termos como sinais naturais e palavras onomatopaicas, o uso de uma palavra em particular é culturalmente relativo. Mas o significado expresso por palavras usadas em sentenças não é mais culturalmente relativo que a matemática e morais culturalmente relativos, porque são também expressos em diferentes termos e diferentes culturas.

Além disso, ao contrário da alegação do desconstrucionista, a lógica não é dependente da linguagem. Melhor ainda, a linguagem é dependente da lógica. Porque por esta alegação de que “a lógica é dependente da linguagem”, é por si só dependente na coerência lógica para fazer algum sentido. Aqui novamente, o estudioso da Bíblia deve ter “cuidado com a filosofia”. Aqueles não treinados a reconhecer as alegações falsas em si mesmas dos relativistas lingüísticos são iscas fáceis para a sutileza deles.

Cuidado com a filosofia do Processo
Quando a história for escrita, Alfred North Whitehead (1861-1947) provavelmente emergirá como um dos dois ou três filósofos, mas importantes do século. Seus trabalhos incluem “Religion in the Making (1926)” (algo como a “Religião na prática”) e “Process and Reality (1929)” (“Processo e Realidade”). Sua visão processista de Deus e da realidade tem trazido um efeito desastroso na teologia em geral e, mais recentemente, teologia evangélica em particular. E, tragicamente, em nome da boa exegese bíblica muitos teólogos evangélicos tem abandonado o Deus imutável e absolutamente onisciente da história ortodoxa por um Deus que não somente muda sua mente como não sabe nem ao menos com certeza o que acontecerá no futuro.

Enquanto censuram erroneamente outros evangélicos que se apegam ao imutável Deus de Abraão, Isaque e Jacó que alegou “Eu, o Senhor, não mudo” (Mal. 3:6) e quem, de acordo com Isaías “anuncia o fim desde o princípio” (Isaías 46:10), confessam ter comprado o processismo de Alfred North Whitehead, Charles Hartshorne, e John Cobb. Um dos líderes deste movimento, Clark Pinnock, posicionou corretamente sua visão neoteísta “Between Classical and Process Theism” [31] (Entre o Clássico e o Processo Teísta). Aliás, um dos mentores deste processo também confessou que desde que Deus não sabe o futuro com exatidão, Ele “tem que aguardar com respiração acelerada” para ver como as coisas acabam! [32] Poucas coisas são um vívido exemplo da necessidade de escutar a injunção Paulina para se ter “cuidado com a filosofia”.

Cuidado com o Alegorismo Platônico
O tempo não permite comentar outras numerosas filosofias que tem enganado por outro lado bons evangélicos para derrubar doutrinas uma vez por todas comprometidas aos santos. Poderia falar do alegorismo platônico que tem estado na igreja desde Origen que, na forma mutante do judeu Midrash, levou um de nossos próprios membros, deserdar de nossas fileiras, alegando que seções inteiras do evangelho de Mateus não são históricas. Pois Robert Gundry insistiu que a estória dos Magos visitando Jesus não é baseada em fatos reais, mas foi criada por Mateus sem bases! Quando questionado numa entrevista da JETS (Journal of Evangelical Theological Society – jornal da instituição), como votaria na adesão de Mary Baker Eddy em ETS (Evangelical Theological Society – “Sociedade Teológica Evangélica”), se ela concordou com nossa afirmação na inerrância, mesmo que ela tenha usado um método alegórico ao interpretar as Escrituras, Gundry respondeu com uma sinceridade chocante: “Eu votaria sim…” [33] Felizmente, os acadêmicos do ETS votaram “não” para sua adesão.

Cuidado com o Minimalismo Ockamista
Não se tem tempo de rastrear as influências do ceticismo nominalista em círculos evangélicos. Não se pode falar somente da experiência pessoal de um nominalista que foi mantido em uma faculdade de uma instituição conservadora apesar do fato que isto implica a negação de crenças ortodoxas que Deus teria uma natureza, Cristo teria duas naturezas (uma divina e outra humana), e que as leis básicas de pensamento (como a lei da não-contradição) não são arbitrárias. Os erros do nominalismo têm sido adequadamente expostos no excelente trabalho doutoral de um de nossos próprios membros, J. P. Moreland, em sua obra, “Universals, Qualities, and Quality Instances” (Universais Qualidades e Instâncias de Qualidade). No entanto, o fato de que alguns evangélicos têm trazido esta visão alienígena revela a necessidade de se ter “cuidado com a filosofia”.

Cuidado com o Aristotelismo
Em caso de ser acusado de não ser ciente dos erros de Aristóteles, que negou o infinito, a personalidade e soberania de Deus, a temporalidade do mundo, e a imortalidade da alma, eu simplesmente apontaria que Tomás Aquino, conhecido pelo uso dos conceitos de Aristóteles, rejeitou todos esses erros. Em suma, o Aristóteles que ele empregou, teve de se arrepender, ser batizado e catequizado antes de poder servir a fé cristã. (Platão, à esq., e Aristóteles, à dir. Representação artística).

Por outro lado, aqueles como Jack Rogers do seminário Fuller que negou a inerrância das Escrituras, de forma errata alegando que o evangelicalismo escolástico criou a doutrina da inerrância [34] , estão mal informados e na direção errada. Mas aqui novamente, aconteceu por causa do trabalho de um evangélico filosoficamente consciente, Dr. John Woodbridge, que as visões de Roger foram refutadas sem que houvesse uma réplica substancial.

Ao contrário das teses de Roger, Santo Agostinho, que dificilmente seria um aristoteliano, abraçou claramente a inerrância oitocentos anos antes do escolasticismo, declarando que: “se ficamos perplexos por uma contradição aparente das Escrituras, se não é permitido dizer, O autor deste livro está enganado; mas seja o manuscrito defeituoso, ou a tradução incorreta, ou você não tem entendido” [35] . A verdade é que Aristóteles, e seu distante pupilo Aquino tem sido de grande contribuição aos evangélicos [36] , que são, como Paulo nos exortou, “colocados para a defesa do evangelho” (Fil. 1:17). Pois Aristóteles acreditava na correspondente visão da verdade, as leis fundamentais da lógica, e a hermenêutica histórica-gramatical – todas as quais são essenciais para a preservação da teologia evangélica.

Cuidado com a filosofia do Monismo Antropológico
Um estudioso do Novo Testamento de uma renomada escola evangélica admitiu ter sido envolvido por “basicamente uma antropologia monística” [37] . Antes que sua instituição estivesse totalmente ciente das consequências devastadoras desta filosofia em seus estudos, ele tinha negado a ressurreição física dos crentes, a materialidade essencial da ressurreição do corpo de Cristo, e pronunciou a Ascensão de Cristo como uma “parábola” ou um “símbolo visual” [38] Num primeiro ponto, escreveu: “…a ressurreição do corpo do crente virá do céu, não da sepultura…” [39] e “Certamente, pessoas mortas se levantarão, não cadáveres impessoais.” [40]

Por causa de sua antropologia monística confessa, foi forçado a afirmar (a fim de evitar um aniquilacionismo entre morte e ressurreição temporariamente) que crentes receberam seu corpo permanente embora ressurreto espiritualmente, no momento da morte enquanto seus corpos físicos continuaram a decompor para sempre na sepultura, notando que “A ressurreição corporal [no momento da morte] é o pré-requisito para o recomeço da vida verdadeira depois da intervenção da morte” [41] . Ele inclusive, foi tão longe que disse que a ressurreição do corpo de Cristo possuía “imaterialidade essencial” [42] e não era “carnalmente”.

Em suas próprias palavras, declarou: “não será nem carnalmente nem da carne” [43] . Mas, claro, nega a materialidade essencial e contínua do Cristo encarnado ambos, antes e depois da ressurreição, a qual tem sido parte do cristianismo ortodoxo [44] dos tempos do Novo Testamento (cf. Lucas 24:39, Atos 2:31, I João 4:2, II João 7) [45] . Falo de Murray Harris, ex-professor da Escola da Divindade Evangélica Trinity, que sob críticas contínuas de fora e pressão de dentro, de forma tranquila, mudou sua visão na ressurreição de crentes e expressou arrependimento por colocar a ressurreição de Cristo como “imaterial” [46] .
Uma década inteira de dor poderia ter sido evitada não tivesse Harris comprado uma “antropologia monística” confessa que inquinou seu estudo desde o tempo de seus estudos doutorais. Mais uma vez, podemos ver o valor da exortação de Paulo para o “cuidado com a filosofia”.

Cuidado com o Criticismo Histórico
Outros estudiosos evangélicos que se envolveram com as pressuposições evangélicas da Alta Crítica negativa têm sido expostos em um excelente trabalho novo de Robert Thomas e David Farnell intitulado “The Jesus Crisis: The Inroads of Historical Criticism into Evangelical Scholarship” (A Crise de Jesus: As Incursões da Crítica Histórica dentro dos Estudos Evangélicos). Citando Scot McKnight, eles falam do aviso de George Ladd’s que a Crítica da Forma “tem jogado considerável luz na natureza dos evangelhos e as tradições que eles implicam, adicionando: “Estudiosos do Evangelho deveriam estar ávidos por aceitar essa luz” [47] . (Assim como não se pode saber, segundo o criticismo histórico, os limites entre o "Jesus histórico" e o "Jesus da fé", não se pode saber se a figura acima é um "coelho" ou um "pato").

Notaram também que “Robert Stein é outro evangélico que reflete uma concordância significante com pressupostos histórico-críticos. Como outra forma de ceticismo, ele aceita a Hipótese das Quatro Fontes, baseando-se em conclusões interpretativas nisto” [48] . Stein até afirmou que “se a falta de autenticidade de uma fala [de Jesus] deveria ser demonstrada, isto não deveria ser tomado como um significado que esta fala não tem autoridade” [49] . Além do mais, Stein argumenta que esta cláusula de exceção em Mateus 5:31-32 “é um comentário interpretativo acrescentado por Mateus [50] .

Então, temos Robert Guelich, quem em seu comentário sobre o Sermão da Montanha confessa: “Este comentário oferece um estudo crítico no que faz uso das ferramentas críticas literárias e históricas incluindo o Criticismo do texto, da fonte, da forma, da tradição, da redação e o criticismo estrutural” [51] . Seguindo este método, Guelich expressou sérias dúvidas acerca das palavras de Jesus nos evangelhos em geral e no de João em particular, quem ele acreditava colocar suas próprias expressões teológicas na boca de Jesus”. Thomas e Farnell também citaram a alegação de Catchpole: “A tradição dos Evangelhos por ela mesma obriga-nos a nos empenharmos no inquérito histórico-tradicional”, acrescentando “dificilmente podemos evitar tanto a atribuição ao estágio posterior pós-Páscoa quanto a redação do material, e quando for o caso, sua criação” [52] .

Parece haver pouca consciência entre esses estudiosos evangélicos do perigo de adotar métodos filosóficos, de qualquer forma modificados pelas crenças evangélicas deles, as quais direcionam logicamente – e algumas vezes na verdade –, como Catchpole admite – para os escritores do Evangelho “criando” material, mais do que o reportando. Qualquer método que mina o que o Evangelho nos informa sobre as palavras e os atos de Jesus, assim, mina o cristianismo ortodoxo.
Thomas e Farnell fizeram um ótimo trabalho para a comunidade evangélica ao expor a deriva de estudiosos do Novo Testamento evangélico nesta direção perigosa.

Um ex-crítico negativo do Novo Testamento, Eta Linnemann, escreveu sobre os esforços deles: “com excelentes conhecimentos abordando a teologia histórica crítica direto ao mais ínfimos detalhes, os autores são bem equipados para detectar o pensamento histórico crítico, onde quer que vá, germina, mesmo onde ninguém o esperaria – no meio da teologia evangélica por escritores supostamente fiéis a Bíblia” [53] . Claro, que é o ponto que temos chegado, designadamente, não importa o quanto alguém pode ser evangélico pelo seu treinamento ou pelos seus conhecimentos, se ele não tem “cuidado com a filosofia”, pode cair diretamente para essas influências sutis na sua teologia.



Como ter cuidado com a Filosofia


Venho agora para a seção final desta discussão: “Como ter cuidado com a Filosofia”. Meu conselho aqui é dividido em duas partes: intelectual e espiritual. Primeiro, algumas cautelas intelectuais para estudiosos evangélicos.

Como evitar conclusões não ortodoxas durante a exegese
Em vista da discussão proposta, alguns conselhos de um filósofo evangélico para exegetas evangélicos seguem abaixo:

Alguns conselhos intelectuais (para a mente):
Meu primeiro conselho é este:
Evite o desejo de tornar-se um estudioso famoso. Parece haver uma tentação quase irresistível entre muitos estudiosos, particularmente entre os mais novos, para “fazer um nome”. Em termos bíblicos este é o pecado do orgulho do qual as Escrituras Sagradas nos adverte. É humilhante lembrar a nós mesmos que o apóstolo Paulo explicitamente exorta-nos que ainda que ele “entenda todos os mistérios e toda a ciência…se não tivesse amor, nada seria” (I Cor. 13:2). O estudo deveria ser usado para construiu o reino espiritual de Cristo, não um reino acadêmico para cada um. Santo Agostinho identificou, sem dúvida, a raiz do problema quando escreveu: “e o que é a origem de nossa vontade má senão o orgulho? Porque o orgulho é início do pecado” [54] . São Paulo concordou quando advertiu contra soberba em posições de liderança (I Tim. 3:6). E o apóstolo João advertiu contra a “soberba da vida” como um de nossos três pecados principais. (I João 2:16). (Estátua de Dante Alighieri).

Evite a tentação de ser único. Meu segundo conselho é estreitamente associado ao primeiro. É isto: evite o desejo de ser único. A tentação para esta forma de orgulho parece ser endêmica para o maior processo acadêmico. Porque por sua natureza, uma dissertação doutoral é normalmente suposta como uma contribuição original para o conhecimento. Mas se o estudante está para fazer uma descoberta que ninguém fez, então é uma tentação quase irresistível parabenizar a si mesmo por ser o descobridor desta nova verdade. Pouco imaginou o apóstolo que advertiu-nos que “o conhecimento incha” mas o “amor edifica” (I Cor. 8:1) As Escrituras nos alerta ao fato que a ocupação dos intelectuais na academia moderna é pouco diferente daquela da qual o ancião Mars Hill diz, “quem gasta o tempo em nada além de dizer ou ouvir alguma coisa nova. (Atos 17:21)”.

Não dance nas arestas. Meu próximo conselho para exegetas evangélicos é evitar dançar nas arestas. Não veja quão longe a fronteira do evangelicalismo pode ser alterada para acomodar o último modismo de estudo. Não flerte com a última metodologia crítica. Alguns de nossos membros do ETS tem sido tomados nesta armadilha. Parece que o Grant Osborne temporariamente foi vítima desta tentação, quando alegou que Mateus expandiu na afirmação supostamente original de Jesus para batizar no nome dEle, colocando-o numa forma Trinitariana registrada em Mateus 28:18-20. Outros estudiosos bíblicos, como J. Ramsey Michaels, foi mais para a linha da ortodoxia e declarou que em alguns casos os escritores do Evangelho criaram, não apenas relataram, as palavras de Jesus [55] .

A estória conta de um rei que vivia numa estrada estreita e sinuosa à beira de um penhasco bem íngreme. Ao entrevistar motoristas com potencial, foi cuidadoso ao perguntar quão próximos poderiam chegar até a beira sem cair. O primeiro motorista alegou que poderia chegar a pé sem nenhum problema. O segundo motorista gabou-se de ter a habilidade de dirigir dentro de milímetros sem colocar a vida do rei em perigo. O último candidato disse que dirigiria o mais longe que pudesse. Qual deles você acha que o rei contratou? O último, claro. E sua escolha real é um bom conselho para exegetas bíblicos que parecem saborear a dança pelas bordas do estudo evangélico.

Minha próxima sugestão é esta:
Oriente certo para ir à direção correta. De acordo com experts em aeronáutica, quando um avião pilotado apropriadamente decola, naturalmente gira, ao menos que seja corretamente direcionado. Baseado em minhas observações em instituições evangélicas e líderes desde a metade do século passado, parece a mim que o mesmo princípio se aplica. A única forma de manter no caminho ortodoxo correto é continuar a seguir o que é certo. Igrejas, escolas, e mesmo o estudo evangélico serão naturalmente serão deixados, ao menos que deliberadamente girem para o lado direito. Os ventos da doutrina que prevalecem sopra contra nós. E se estamos para resisti-los, devemos ter um objetivo firme nas rodas do Bom Navio Evangelístico e orientá-lo para o que é direito.

Não troque a Ortodoxia (bíblica) pela respeitabilidade acadêmica. Um dos principais líderes de uma grande denominação Protestante foi questionado uma vez sobre como sua denominação derivou para a esquerda. Sua análise da situação foi breve, porém profunda. Notou que queriam crédito para suas escolas. Para atingir isto precisavam da respeitabilidade acadêmica de seus professores. Assim, enviaram alguns dos melhores alunos graduados para o mundo. Quando retornaram desse instituições não-ortodoxas, trouxeram com eles a respeitabilidade acadêmica. Infelizmente, acrescentou: “Adquirimos reconhecimento acadêmico. Mas sacrificamos nossa ortodoxia pela respeitabilidade acadêmica”. Mas esta é uma troca que nenhum evangélico deveria fazer, nunca.

Como estudiosos evangélicos, devemos aprender a suportar, se necessário, a ofensa de sermos chamados “fundamentalistas”, “obscurantistas,” e teologicamente dinossáuricos”, juntamente com o ataque ao Evangelho. A este propósito, não podemos ajudar mas admirar nosso colega e irmão Thomas Odem que orgulhosamente considerou a si mesmo um “paleo-ortodoxo”. Ou a convicção e coragem de Eta Linnemann que literalmente, destruiu seus próprios trabalhos, após se converter a Cristo e convenceu seus alunos a fazer o mesmo.
Devemos rejeitar a tentação de acreditar que “o novo é verdade”. É muito mais provável que “o velho é ouro”. Porque a verdade está para o teste do tempo, enquanto O erro recente não tem estado por aí por um tempo suficiente para ser pesado na balança e ser descoberto como desejável.

Rejeite qualquer Metodologia inconsistente com a Bíblia ou Boa Razão. Lamentavelmente, a maioria dos exegetas bíblicos evangélicos não tem aceitado o inspirador volume de Etienne Gilson, “The Unity of Philosophical Experience” (A Unidade da Experiência Filosófica). Nisto é demonstrado como uma filosofia após a outra leva aqueles que abraçam o método errado num cul-de-sac indesejável e até mesmo desastroso. A lição para exegetas bíblicos é a mesma: adotar uma metodologia falsa, que levará logicamente para uma teologia errada. Como fazemos nossa exegese, que nos conduzirá para quais resultados que podemos obter dela. Métodos exegéticos são para seus resultados o que o moedor é para a carne: carne dentro, carne moída pra fora – não importa quão suave é o processo. Métodos bíblicos e teológicos não são metafisicamente neutros. Para aceitar nisto é preciso ser um candidato para a advertência colossense: temos que ter “cuidado com a filosofia”.

Alguns conselhos espirituais (para a alma)
Volto-me agora para um conselho espiritual para exegetas bíblicas. Primeiramente e mais importante,–
Sempre escolha o senhorio de Deus aos estudos. Um de nossos notáveis membros da sociedade, o Professor J. Barton Payne, contou sobre uma conversa que teve com um crítico negativo da Bíblia, que nega a criação de Adão e Eva, o Dilúvio na época de Noé, Jonas e o Grande Peixe, um Isaías, a autoria mosaica do Pentateuco e outras crenças ortodoxas. Quando o Professor Payne colocou que Jesus tinha pessoalmente afirmado todas essas coisas no Evangelho, seu amigo liberal surpreendentemente respondeu: “Bom, sei mais sobre a Bíblia do que Jesus sabia!”! Este é um exemplo claro de colocar os estudos acima do senhorio de Cristo. Se Jesus foi o filho de Deus, o qual o Novo Testamento confirma que Ele era, então qualquer coisa que afirmou sobre o Velho Testamento é absolutamente verdadeiro. Além do mais, Jesus alegou a autoridade divina em seus ensinamentos (Mateus 28:18-20).

Uma vez que todos os verdadeiros evangélicos acreditam nisso, não deve haver qualquer hesitação, sempre que houver um conflito ao escolher entre o antigo senhorio e o estudo moderno. Muitos anos atrás, escrevi sobre o autor de um comentário de Jonas de uma boa escola evangélica, que declarou nisso que não era necessário entender Jonas ao pé da letra. Depois apontou que Jesus o considerou literalmente em Mateus 12:40-42, perguntei a ele se era necessário para nós como crentes em Cristo, para crer no que Jesus ensinou. De forma surpreendente, não tinha aparentemente considerado isso, bem como a declaração foi posteriormente retraída.

Não permita a moralidade para determinar a metodologia. Um de nossos respeitáveis membros, Henry Krabbendam, disse isto, brutal e corajosamente quando colocou que quando alguém se afasta da fé, ao adotar uma metodologia errada, existe normalmente uma de duas razões: “Primeiro, é possível que uma metodologia apóstata venha de um coração apóstata. Segundo, é possível que uma metodologia apóstata em uma maior ou menor medida tenha deslizado para o pensamento de um homem que é, por outro lado, compromissado com Cristo” [56] . Qualquer que seja o caso, nas palavras do apóstolo Paulo, aquele que é vítima caiu para “destruindo os conselhos, e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (II Cor. 10:5). Aqui está o grande desafio do estudioso cristão que não somente vive de forma cristocêntrica, como pensa de forma cristocêntrica – uma tarefa que é estabelecida energicamente num excelente trabalho de J. P. Moreland, intitulado: “Love You God with All Your Mind” (Ame Seu Deus de todo seu entendimento).

Não permita que a sinceridade seja um teste de ortodoxia. Apesar de sua fuga radical da ortodoxia destacada anteriormente, Benedict Spinoza,o pai do ceticismo bíblico negativo moderno, insistiu em sua fidelidade bíblica declarando: “Estou certo de tudo isso: Não disse nada que não seja digno das Escrituras ou da Palavra de Deus, e não tenho feito nenhuma afirmações as quais não poderia provar pelos principais argumentos não serem verdadeiras. Posso, por isso, ter a certeza que não tenho avançado em nada que é ímpio ou mesmo destila impiedade” [57] . Isto me lembra da defesa do seminário Fuller para manter Paul Jewitt na faculdade deles depois de ter negado a inerrância da Bíblia ao afirmar que Paulo estava errado no que disse em I Cor. 11:3. Depois de examinar cuidadosamente as visões de Jewett por um período de tempo prolongado, decidiram retê-lo na faculdade porque sinceramente creu que sua visão era ortodoxa e porque tinha fielmente ensinado em Fuller por muitos anos [58] . Desde então, a sinceridade e a longevidade se tornaram um teste para a ortodoxia!

Conclusão

Na análise final, preservar a ortodoxia não é um assunto puramente intelectual. É uma guerra espiritual. “Porque nossa luta não é contra carne ou o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra o príncipe das trevas deste século , contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12). O inimigo de nossas almas quer também enganar nossas mentes. Ele deseja destruir os bons ensinamentos que nos conduzem a viver bem. Ao minar nossa ortodoxia, podemos enfraquecer nossa ortopraxia. Então, precisamos “tomar as armaduras de Deus para resistir ao ataques do Mal. É importante realçar que esta armadura inclui, entre outras coisas, o imenso cinturão da verdade, que mantém o resto da armadura unida”. (Efésios 6:10-18).

Em resumo, minha conclusão é esta: não podemos apropriadamente ter cuidado com a filosofia ao menos que tenhamos conhecimento sobre a filosofia. Para utilizar uma analogia médica, a pessoa com mais probabilidade de pegar uma doença é aquela que não a entende e então não se previne de nenhuma forma contra isso. Afinal, os médicos não usam luvas e máscaras para esconder verrugas e cistos. Um dos problemas mais sérios para exegetas evangélicos é que muitos não são filosoficamente sofisticados. Não são treinados para colocar para fora pressupostos estranhos que se ocultam sob a superfície de sua disciplina. Em suma, muitos exegetas evangélicos não tiveram tempo para ficarem cientes da filosofia e, portanto, não sabem como cumprir a admoestação de Paulo para terem “cuidado com a filosofia”.

É mais do que um interesse passageiro notar a influência conservadora de escolas evangélicas compromissadas e filosoficamente treinadas. Em adição aos nomes mencionados, listo entre eles os membros de nossa própria Sociedade Filosófica Evangélica, incluindo David Beck, Frank Beckwith, David Clark, Winfried Corduan, Douglas Geivett, e Gary Habermas. William Craig merece uma menção especial, uma vez que tanto fez o mestrado e o doutorado em filosofia, mas também nos estudos teológicos e do Novo Testamento. Membros mais novos como este, com seu compromisso teológico ortodoxo e sofisticação ortodoxa, estão em uma posição para evitar os erros teológicos,dentro das quais, estudiosos sem treino filosófico também frequentemente caem.
O erro, mesmo o erro grave, é um algo muito sutil. A razão para isto foi apontada por Ireaneus, quando notou que “o erro, além do mais, não é nunca estabelecido em sua própria deformidade nua, assim sendo exposto, deveria, de uma vez, ser detectado. Mas são bem vestidos por fora com trajes atraentes, então assim como pela sua forma exterior, fazer parecer ao inexperiente… mais verdadeiro que a verdade em si mesma” [59] . Assim, precisamos estão tanto espiritual quando filosoficamente alertas para evitá-lo.

Falando em ser filosoficamente informado, as palavras imortais de Platão são aplicáveis aos exegetas bíblicos num todo. No livro V da República de Platão escreveu: “ao menos… que os filósofos se tornem reis em seu estado ou aqueles os quais são chamados nosso reis e governantes, tomem o exercício da filosofia séria e adequadamente, e existe uma conjunção dessas duas coisas, o poder político e a inteligência filosófica,… pode nunca existir o fim dos problemas…para nossos estados, nem, imagino eu, para a raça humana” [60] . Aplicando esta reflexão para o tema em apreço, gostaria de exortar que: ao menos que os filósofos se tornem exegetas bíblicos em nossas escolas, ou aqueles os quais agora chamamos exegetas bíblicos levem o exercício da filosofia séria e adequadamente, e há uma conjunção dessas duas coisas, exegese bíblica e a inteligência filosófica, pode não haver o cessar dos problemas teológicos para nossas escolas, nem, imagino eu, para a igreja cristã também.