CINCO FALÁCIAS SOBRE A ATUAÇÃO FEMININA.

 

ENFRENTANDO O TEMA

O assunto sobre o papel da mulher na sociedade como um todo, incluindo a Igreja e o lar, não é simples de se tratar. Discussão polêmica, o assunto tem suscitado debates acalorados incluindo acusações injustas quando alguns afirmam que o machismo e a falta de consideração, e não as Escrituras, são a grande referência do tema para aqueles que buscam ser mais criteriosos ao vetar toda e qualquer liderança feminina sobre homens. Os que assim pensam sequer concedem um tratamento mais aprofundado e equânime. Falando nisso, como eu já expressei em outros artigos, o machismo é um pecado covarde que afronta a santidade e o propósito de Deus ao relacionamento entre um homem e uma mulher. Reduzir esta mulher à condição de objeto, fazendo com que seja tratada como propriedade de alguém é desumano e criminoso, é pecaminoso. E contrariando este pecado, as Escrituras apresentam o lugar da mulher e do homem diante de Cristo conforme encontramos em Gálatas 3.25-28:

Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio. Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.

O mesmo é dito no contexto da intimidade do casal em 1Coríntios 7.3,4:

O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher.

Homem é mulher são iguais segundo os dois contextos tratados pelos textos acima. Todavia, o convívio entre o homem e a mulher não se limita a dois estes ambientes apenas. Quando tratamos sobre a função de cada um, não há dúvidas da existência de diferenças estabelecidas na criação antes da inserção do pecado por nossos primeiros pais. Na economia[1] divina, assim como se exige a submissão dos filhos aos pais, pois o contrário seria um absurdo, da mesma forma a mulher se constitui como auxiliadora ao homem que lidera.

Quando Paulo parece enfrentar o problema diante de algumas mulheres que tentavam burlar esta regra, seu argumento é a ordem da criação. Se em momentos diferentes ele usa a imposição da lei em 1Coríntios 14.34,35 e o processo de entrada do pecado no Éden em 1Timóteo 2.14, o argumento criacional está presente em ambas as vezes em que o assunto é tratado:

Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem. Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem. Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade. (1Coríntios 7.7-10)

Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. (1Timóteo 2.13,14)

Agora vejamos, se a submissão da mulher como doutrina bíblica é consenso, então surge a pergunta: em que contexto aplicamos este princípio? Estaria esta funcionalidade restrita ao lar somente? Podemos aplicar este princípio à sociedade como um todo ou apenas à Igreja? Até que ponto as mudanças culturais da modernidade devem interferir neste assunto?

Essa matéria não é tão fácil, mas eu me atrevo a discuti-la de acordo com aquilo que creio ser a revelação da vontade de Deus nas Escrituras sob a perspectiva de que a cosmovisão bíblica se aplica a toda sociedade e não apenas a alguns setores do Reino de Deus. Também quero ser honesto em dizer que minhas afirmações são diretamente influenciadas pela interpretação que faço das Escrituras conforme o compêndio oferecido pela Teologia Reformada.

A aplicação da funcionalidade existente entre o homem-líder e a mulher-submissa deve ser aplicada a todos os seres humanos por dois motivos simples. Primeiro, o argumento de Paulo sobre o assunto se baseia na criação, momento em que, pelo pacto das obras, o Criador revela os seus mandatos para os seres humanos. Vejamos o que diz Gênesis 2.15,18

Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar(...) Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.

Em segundo lugar, o termo cosmovisão significa visão de mundo, regras que se aplicam a todo contexto humano, o ideal para toda sociedade. Como exemplo disto trago outra cosmovisão muito conhecida, principalmente no contexto escolar e acadêmico, o marxismo. É notório que esta doutrina, baseada em questões econômicas, grassam suas ideias em todas as áreas do conhecimento e das práticas humanas. Não há um espaço sequer da condição humana onde o marxismo não tente decifrar e interferir. E o que significa esta ampla abordagem doutrinária? Significa ter coerência com relação por se tratar de uma cosmovisão vivida e imposta. A mesma coerência deve ocorrer quando se trata da cosmovisão bíblica uma vez que não há como fragmentá-la, não há como estabelecer áreas distintas: Igreja e lar distintos do restante da sociedade. A Lei de Deus é para todos, embora somente os eleitos convertidos tenham amor por ela. Ou se tem uma visão de mundo ou se tem uma visão das partes, fraturada, fragmentada. E, caso haja apenas uma visão das partes, o que vai prevalecer, no final das contas, é o relativismo, mesmo que disfarçado.

ABORDANDO AS FALÁCIAS

Quero apresentar o que chamo de as cinco falácias relacionadas às práticas femininas. Não quero dizer com isso que os defensores de algumas ou de todas estas falácias são sempre intencionalmente mentirosos ou desonestos. O que afirmo é que estas pessoas se baseiam em argumentos frágeis e inconsistentes embora lógicos. São pessoas bem intencionadas, mas que, a meu ver, estão equivocadas. As cinco falácias que me refiro são: A mulher pode pregar sob a autoridade do pastor. A mulher pode exercer o ofício de diaconisa. A mulher pode dirigir a liturgia do culto. A mulher pode exercer autoridade sobre homens na esfera civil. A mulher pode ensinar adultos numa classe bíblica.

Tratemos, então, de cada uma delas:

Primeira falácia: A mulher pode pregar sob a autoridade do pastor.

Este argumento é muito utilizado para justificar a pregação feminina no culto solene. Seus defensores se baseiam no que Paulo diz em 1Coríntios 11.5:

Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada.

Há dois pontos que devem ser considerados aqui. Em primeiro lugar, o assunto tratado por Paulo é sobre a utilização do véu no culto solene e não sobre quem deve pregar na igreja. Sobre se a mulher pode ou não profetizar será tratado mais a frente no capítulo 14 onde este tema é o ponto central (em paralelo com o dom de línguas). Em segundo lugar, não há nesta passagem uma ordem direta, pois esta também virá no mencionado capítulo 14.34,35. Em terceiro e último lugar, quando nos deparamos com um assunto aparentemente contraditório, a regra da interpretação é clara: as Escrituras explicam as Escrituras. Ou seja, a clareza de outros textos ajuda na compreensão e interpretação de afirmações menos claras. É como afirma a Confissão de Fé de Westminter:

A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.[2]

Como exemplo, citarei o comentário de Calvino sobre esta passagem. O reformador escreveu:

Parece-me, no entanto, dispensável Paulo proibir a mulher de profetizar com a cabeça descoberta, uma vez que o faz num outro momento (1Timóteo 2:12) quando veta terminantemente as mulheres de falar na Igreja. Para o apóstolo, portanto, não era permitido às mulheres o profetizar, mesmo com a cabeça coberta. Neste caso, torna-se desnecessário aqui o prolongamento da discussão sobre o uso do véu. Logo, concluo que, ao condenar uma coisa, não significa que o apóstolo tenha aprovando outra, pois quando há a reprovação das mulheres profetizarem com a cabeça descoberta, não há, ao mesmo tempo, a permissão para que o façam sob outras circunstâncias. Paulo está apenas adiando a reprovação do erro para outra passagem, ou seja, 1Coríntios 14. Não há nada de errado nesta afirmação, pois atende ao fato de que o apóstolo exigia a modéstia das mulheres – não só no local onde se encontrava a Igreja reunida, como também em qualquer outro ajuntamento digno, seja de senhoras, seja de homens, como acontecia de vez em quando no interior dos lares.[3]

Não fica dúvida de que este modo de interpretar o trecho de Paulo em 1Coríntios 11.5 anula qualquer tentativa de se justificar a pregação feminina no culto solene, mesmo sob o pretexto de que a suposta pregadora esteja debaixo da autoridade de um pastor[4]. Afinal de contas, se uma mulher, sob a justificativa de que está debaixo da autoridade da liderança da igreja, prega a Palavra, ela exercerá inequivocamente autoridade sobre os demais ouvintes, não importando se são homens, mulheres, crianças ou líderes. Ela exercerá autoridade de homem, prática condenada por Paulo em 1Timóteo 2.12 quando diz: “E não permito que a mulher (...) exerça autoridade de homem...” A fragilidade do argumento em favor da pregação feminina está no fato de que a mulher, em última instância, exercerá autoridade sobre seus ouvintes, contrariando o ensino claro do apóstolo Paulo a respeito deste assunto.

Conclusão: não existe, segundo as Escrituras, nenhuma condição que autorize a mulher pregar no culto solene, nem mesmo 1Coríntios 11.5.

Segunda falácia: A mulher pode exercer o ofício de diaconisa.

Há uma grande diferença entre o ofício diaconal e a prática diaconal. O ofício diaconal transforma um crente em um oficial da igreja por meio da imposição de mãos, o que demanda certa autoridade sobre os demais crentes. A prática diaconal pode ser exercida por qualquer pessoa, seja homem ou mulher.

Agir como diácono é agir como quem serve. Neste sentido, o Novo Testamento reconhece algumas mulheres que serviam a Cristo e à Igreja (Mateus 27.55; Marcos 15.40,41; Lucas 8.2,3; 10.40; João 12.2; Romanos 16.1 etc.; os verbos trazem o significado de “agir como diácono”). Embora estas servas de Deus tenham agido de forma diaconal, não há uma menção sequer de que tenham sido consagradas ao ofício diaconal, uma vez que esta função só poderia ser realizada por homens. Isto fica claro quando Paulo traz as características do homem que deveria exercer este o ofício, tendo, inclusive uma esposa que o auxiliasse com toda submissão e modéstia, características requeridas a todas as mulheres crentes.

Em 1Timóteo 3.8-13, Paulo os chama de diácono os homens crentes candidatos ao ofício, mas quando trata das mulheres crentes, ele as identifica com o termo mulheres, além do fato de que a expressão: “Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo.” antecede imediatamente à recomendação que trata da família do candidato ao ofício diaconal: “O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria casa.” Se há uma ligação entre os termos mulheres do verso 11 e mulher do verso 12, logo Paulo está recomendando que a esposa do candidato ao ofício diaconal o auxilie no futuro ministério sem, contudo, ter sobre ela o oficialato.

Se assim for, parece-nos antibíblico uma mulher exercer o cargo de oficiala dentro da igreja. Conclusão: nenhuma irmã pode ser consagrada ao ministério diaconal pela imposição de mãos, nem ser vista como diaconisa dentro daquilo que o termo significa, embora não seja proibida de servir à Igreja com submissão e modéstia.

Terceira falácia: A mulher pode dirigir a liturgia do culto.

Um dos costumes mais disseminados nas igrejas hoje em dia é o conhecido Ministério de Louvor. Este costume tem seu início no final da década de 1960 e se fortaleceu a partir da segunda metade da década de 1970. Mas é na década de 1980 que há uma explosão do chamado Grupo de Louvor fazendo com que muitas igrejas-comunidades nasçam embasadas unicamente nesta prática musical em detrimento, muitas vezes, da pregação fiel da Palavra. Nesta inversão das prioridades cúlticas, a música passa a ser o centro e não mais a exposição fiel das Escrituras.

Dentro deste contexto, vitalizado pelo comércio e consequente proliferação das antigas Fitas K7, discos de vinil, CDs e, mais recentemente, o DVD, o Blue-Ray e o MP3, foi criado o cargo de Ministro de Louvor, isto é, do dirigente que possui a responsabilidade de ministrar à igreja presente entre uma música e outra. Ocorre que este cargo passou a ser ocupado, tanto por homens como por mulheres. E mesmo que o momento de cânticos do chamado Grupo de Louvor no culto seja apenas uma pequena parte do tempo total, neste momento mulheres passam a dirigir a liturgia incluindo as ministrações exortativas e didáticas.

Deixo claro que minha questão não é discutir aqui sobre modelos ou formas de liturgia[5], reservo isto para outro momento, minha questão aqui é discutir sobre o fato das mulheres estarem dirigindo a liturgia, ou parte dela, sob o pretexto de que são ministras ou simplesmente dirigentes de louvor. Muitos defensores desta prática dizem que estas dirigentes agem sob a autoridade do presbítero ou do pastor da igreja. Bem, a contra-argumentação segue na mesma direção daquilo que foi exposto no item primeiro, ou seja, mesmo que haja a justificativa de que o lugar da dirigente está sob a autoridade da liderança, ainda assim, esta dirigente exercerá autoridade sobre os demais presentes, incluindo a própria liderança.

Paulo, em 1Timóteo 2.12, ordena que a mulher está proibida de exercer a autoridade destinada aos homens. Isto inclui, por inferência, a direção total ou parcial da liturgia, pois desde o Velho Testamento, o culto sempre foi dirigido por homens como responsabilidade dada por Deus, e não há nenhuma afirmação no Novo Testamento que modifique este princípio. Conclusão: o dirigente principal do culto solene, que eu prefiro chamar de liturgo, deve ser somente um homem habilitado para tal.

Quarta falácia: A mulher pode exercer autoridade sobre homens na esfera civil.

Este talvez seja o ponto mais controverso entre os crentes que afirmam subscrever a Teologia Reformada, incluindo aqueles que defendem o cultivo e disseminação de uma cosmovisão bíblica. Este tema não é novo, eu mesmo já escrevi sobre este assunto falando acerca da impossibilidade de uma mulher assumir o cargo da presidência da república. Todavia, desejo aqui ampliar a discussão e acrescentar toda e qualquer posição de autoridade exercida por uma mulher sobre homens, quer na política, quer no trabalho ou em qualquer outro ambiente da sociedade que exista para além da Igreja e do lar.

Já argumentei no início deste texto que a funcionalidade entre o homem e a mulher foi determinada nos mandatos divinos contidos no pacto das obras antes de o pecado entrar na humanidade, haja vista que Paulo embasa seu argumento sobre o homem-líder e a mulher-submissa na criação antes da queda, o que significa que tais mandatos são para a sociedade como um todo não apenas para parte dela como a igreja ou o ambiente familiar.

Em meu argumento quero utilizar dois textos da Palavra de Deus. O primeiro é a narrativa de Débora e de Baraque quando nesta exceção soberana do Senhor Deus aconteceu a desonra deste homem. Isto pode ser visto nas palavras de Débora em Juízes 4.9 ao discorrer sobre a libertação do povo de Deus por meio da ação de Baraque que, covardemente, afirma que só iria para o campo de batalha acompanhado por ela:

Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o SENHOR entregará a Sísera. E saiu Débora e se foi com Baraque para Quedes.

A humilhação não ocorre somente porque Baraque roga para que Débora o acompanhe ao campo de batalha, ocorre também porque Sísera morre, não pela mão de um homem guerreiro, mas pela mão de outra mulher, Jael. A desonra dos homens representados por Baraque é clara demonstrando que o mesmo ocorre quando mulheres assumem o papel que aos homens pertence.

Com relação ao cargo de juíza ocupado por Débora, é importante mencionar que uma pessoa nesse tempo só era vista como juiz sobre o povo após ser reconhecido como libertador por meio de ações militares. Isto é, primeiro este alguém deveria vencer uma batalha e vencer os inimigos, assumindo a posição de libertador do povo de Israel para, em seguida, ser visto como juiz capaz de julgar as causas do povo. O caso de Débora é totalmente sui generis, uma absoluta exceção, pois primeiro ela julga para depois participar da batalha cujo objetivo é a libertação do povo contra a coalizão cananéia. Por esta linha de interpretação, Débora desejava que Baraque assumisse este posto de juiz ao incentivá-lo para a batalha, mas a atitude de Baraque retira esta honra de sobre si, trazendo a desonra, uma vez que não confiou em Deus, mas numa mulher.

O segundo texto que trago o texto de Isaías 3.1,8,9,11-14, que diz:

Porque eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, tira de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio, todo sustento de pão e todo sustento de água; (...) Porque Jerusalém está arruinada, e Judá, caída; porquanto a sua língua e as suas obras são contra o SENHOR, para desafiarem a sua gloriosa presença. (...) O aspecto do seu rosto testifica contra eles; e, como Sodoma, publicam o seu pecado e não o encobrem. Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos. (...) Ai do perverso! Mal lhe irá; porque a sua paga será o que as suas próprias mãos fizeram. Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres estão à testa do seu governo. Oh! Povo meu! Os que te guiam te enganam e destroem o caminho por onde deves seguir. O SENHOR se dispõe para pleitear e se apresenta para julgar os povos. O SENHOR entra em juízo contra os anciãos do seu povo e contra os seus príncipes. Vós sois os que consumistes esta vinha; o que roubastes do pobre está em vossa casa.

O contexto é claro quando mostra o juízo de Deus contra o povo. E uma das várias ações divinas que demonstram o duro julgamento está contida na frase: “mulheres estão à testa do seu governo”. Como se não bastasse o caos de uma nação sem rei, sem guerreiros, tomada por opressores e por líderes corruptos e infantis, mulheres encontram-se à frente como chefes do governo. Neste caso, a conclusão é simples, quando mulheres assumem o posto que, por direito criacional pertence aos homens, significa que o juízo de Deus desceu do céu e se instaurou sobre a nação.

Minha conclusão sobre o que vimos acima é simples, nenhuma mulher deve assumir o posto de liderança sobre homens porque se assim fizer trará desonra e demonstrará a presença do juízo de Deus. É obvio que o mundo situado no maligno faz pouco caso sobre este assunto, mas para nós que somos de Deus trata-se de uma questão que deve ser, pelo menos, refletida com profundidade e temor. E para auxiliar um pouco mais nesta reflexão faço os seguintes questionamentos: qual o homem de Deus gostaria de ver sua esposa como presidente da república, governando a nação? Ou como oficiala do exército comandando diretamente dezenas de homens? Ou como chefe de uma grande repartição chefiando vários funcionários? Ou como delegada de polícia vociferando sobre policiais e bandidos? Ou como alta funcionária pública mandando sobre homens subordinados? Ou ainda, qual o homem de Deus gostaria de ver sua esposa como parlamentar decidindo sobre seus comissionados? Se sua resposta for “nenhum” então você concorda com o que defendo até aqui.

Quero ampliar a discussão trazendo uma ilustração. Suponhamos que um casal de crentes está relaxando sobre a cama ouvindo uma música suave; ele presbítero e ela membro comungante da igreja. Inesperadamente o celular da esposa toca e a partir daí um diálogo tem início com um subordinado ao cargo exercido por ela na empresa. A conversa ocorre sob forte tensão e a mulher começa a dar comandos com extrema firmeza por meio de reprimendas e cobranças ao tal sujeito do outro lado da linha. Em seguida, metas são estabelecidas para que o funcionário do outro lado da linha as cumpra dentro de prazos estabelecidos. A autoridade no tom de voz e na maneira de se comunicar salta aos olhos e aos ouvidos do marido que permanece passivo, como mero espectador daquela cena. Por fim a conversa acaba e o telefone celular é desligado fazendo com que a música suave volta a ser ouvida por não mais ser superada pelo firme tom de voz da esposa que agora se vira e olha para o marido e desabafa: “Ai! Não é fácil ser chefe de departamento na empresa, tenho que lidar com tantas pessoas incompetentes?!” Ao ver o olhar do marido, ela percebe toda a situação criada pelo telefonema e, tentando amenizar diz: “Oh, meu querido, ainda bem que aqui em casa e na igreja estou debaixo da autoridade dos homens...”

O que este marido crente e presbítero pensaria sobre este contraste vivenciado entre o lar, a igreja e o tipo de trabalho da esposa? Esta narrativa fictícia elucida sobre a funcionalidade ordenada por Deus ao homem-líder e à mulher-submissa, funcionalidade esta que não se restringe somente à Igreja e à família, mas atinge todo o espaço social ao redor de nós. Repito, se esta ilustração o incomoda, então no mínimo você caminha na mesma direção em que eu caminho. Conclusão: de acordo com a economia divina, não há nenhum lugar na sociedade onde seja permitido à mulher exercer autoridade sobre homens.

Quinta e última falácia: A mulher pode ensinar adultos numa classe bíblica.

Muitos não vêm problema quando uma professora coloca-se à frente de uma sala de jovens ou de adultos para ensinar a Bíblia no ambiente da Escola Dominical. O argumento é simples, como há uma diferença entre o culto solene e a Escola Dominical, então concorda-se que lá no culto a mulher não pode dirigir nem pregar, mas aqui na escola não há problema quando uma irmã piedosa ensina numa sala repleta de homens.

Com relação ao argumento acima faço duas considerações. Primeiro, os argumento é verdadeiro quando estabelece uma diferença importante entre a Escola Dominical e o culto solene. Não podemos confundir o momento em que a família de Deus se reúne para cultuar ao Senhor com um momento didático cujo objetivo é o aprendizado da Bíblia. E digo mais, uma igreja não estaria pecando contra Deus se transferisse a Escola Dominical para qualquer outro dia da semana ou mesmo se a eliminasse praticando apenas o culto solene no dia do Senhor, embora eu concorde que tal atitude em muito prejudicaria os crentes, retirando deles a oportunidade de estudar em grupo a Palavra de Deus no Domingo. A segunda consideração que faço é que há um grande equivoco na derivação do argumento supracitado quando, em nome dessa diferença, seja dado às mulheres o direito de ensinar aos homens. Mais uma vez recorro ao texto de Paulo em 1Timóteo 2.12: “E não permito que a mulher ensine...”.

Mas há outro texto de Paulo que quero utilizar aqui para ampliar os fulcros do meu argumento. É o que está escrito em Tito 2.3-5

Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada.

Este texto reconhece que as mulheres podem receber de Deus a capacidade para ensinar, de serem boas professoras, ou como Paulo afirma, de serem mestras do bem. Mas a quem estas mestras devem ensinar? Hoje muitos diriam que a qualquer sala mista de jovens e adultos da Escola Dominical. Mas não é isso que Paulo escreve. O apóstolo deixa claro o alvo deste ensino são outras mulheres pouco experientes no trabalho voltado ao lar. Logo, não se nega a existência de mulheres mestras, a questão é o público alvo deste ensino, e neste aspecto as Escrituras não deixam dúvidas.

E por que o apóstolo não indicou homens como alunos das mestras do bem? Justamente porque Paulo não poderia ferir o princípio imposto por ele mesmo sobre a impossibilidade de existir mestras de homens. Conclusão: nada nas Escrituras justificam o ensino por parte da mulher aos homens na Escola Dominical ou em qualquer outro contexto.

CONCLUSÃO

Devido à complexidade do assunto, termino este texto citando 1Coríntios 2.14 que diz:

Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

Vejo com tranquilidade que os argumentos tratados até aqui são loucura para os incrédulos. Já para os crentes, pelo menos, deveria ser motivo para uma reflexão cheia do temor do Senhor. Tratar sobre o papel da mulher no lar, na Igreja e na sociedade como um todo não é tarefa fácil, embora o desafio seja honroso. O que tentei até agora não foi outra coisa senão apenas usar de honestidade com aquilo que creio estar nas Escrituras e nos Símbolos de Fé que subscrevo. Espero de coração que a reflexão provocada por minhas palavras aconteça ao redor da vontade divina revelada e que, em tudo, o nome de Deus seja glorificado.

Não posso encerrar sem antes fazer um reconhecimento. Quero distinguir, honrar e louvar a atuação feminina como auxiliares de Deus aos homens crentes em todos os momentos e em todos os lugares. Deus tem capacitado suas eleitas ao longo da jornada da Igreja para que sejam benevolentes e servas abençoadas. A mulher, representada na pessoa de Maria, possui o privilégio de ter sido instrumento exclusivo para a vinda do Salvador a esta terra. Que privilégio, como Deus ama as mulheres, como são importantes. Daí a grande e séria responsabilidade dos homens em liderá-las biblicamente por meio do cuidado e do serviço a cada uma delas, sempre atentos para não pecarem contra Deus e, consequentemente contra as mulheres por meio da omissão, da preguiça, da covardia, ou ainda por meio da brutalidade, da violência e do descaso. Quanto às servas de Deus, mulheres de valor, rogo para que todas tragam no coração e na mente as palavras de Maria registradas em Lucas 1.38:

Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra

Rev. Alfredo de Souza


HIPERCALVINISMO: A HERESIA DO DESTINO

 


Não há como negar que os extremos são expressões do erro que se afastam do verdadeiro. Extremar é embutir a racionalização aristotélica que se sustenta pela visão binária. Quero deixar claro que não estou  desprezando o fato de que há situações estabelecidas nos pólos do “ou, ou”. Mas isso não nos dá o direito de superestimar o binarismo grego em tudo que existe. Isso seria extremo.

Não há, sob hipótese alguma, qualquer contradição na revelação contida nas Escrituras. Mas isso não significa dizer que o texto sagrado segue a simetria rígida grega dos opostos em toda a sua extensão, pois há posições que são, aos nossos raciocínios, paradoxais. Defino aqui paradoxo como uma aparente contradição daquilo que é coerente e verdadeiro dentro do postulado revelado por Deus. O paradoxo está em nosso sistema de raciocínio, e não naquilo que foi proposto pelo Criador. Um exemplo disso é a afirmação de que Satanás deve ser visto também como ministro de Deus. “Mas ele não é inimigo do Senhor?” perguntaria alguém. Sim, mas está sujeito às ordenanças e às determinações soberanas, inclusive para sancionar o reto juízo ou a disciplina necessária de Deus para que os eleitos cresçam na fé. Resumindo, a nossa mente é tão finita e tão fortemente determinada pela estrutura de raciocínio ocidental que não conseguimos apreender certos aspectos revelados na Bíblia.

Provavelmente, o maior e mais visível paradoxo que encontramos nas Escrituras oscila entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana. Muito se tem debatido sobre isso e muita heresia humanista se tem criado. Uma delas é o arminianismo que, incoerentemente, afirma que Deus apenas sabe quem vai se converter a Cristo ou rejeitá-lo. Ora, se Deus já sabe que um indivíduo irá se converter em um determinado ano, mês, dia e hora, e se a conversão se dá pela ação do Espírito Santo, eu pergunto: “onde está o livre arbítrio”? Outro pensamento que extrema a oscilação entre soberania e responsabilidade humana é o teísmo aberto, tema que discuto em algumas postagens aqui neste espaço virtual.

O terceiro exemplo que quero tratar aqui é o ponto que me motivou a escrever esta postagem. Refiro-me à heresia destinatária conhecida por hipercalvinismo.

Nem todo mundo compreende o que significa este sistema de pensamento. Certa vez eu conversava com uma missionária enquanto lhe dava uma carona e no meio da conversa ela expressou a sua dificuldade para comigo porque me considerava um hipercalvinista. Espantado perguntei o motivo daquela conclusão e a resposta foi: “você acredita na dupla predestinação”. Ora, a dupla predestinação é uma doutrina bíblica que aparece claramente no Velho e no Novo testamento. Crer desta maneira não significa ser um hipercalvinista.

Hipercalvinismo não é outra coisa senão a teologização do cruel destino que faz de cada ser humano um fantoche destituído de vontade. É a rejeição da totalidade do chamado do Evangelho, negando, nas entrelinhas, a vontade dispositiva de Deus com relação ao ímpio. Assim sendo, o hipercalvinismo nega a necessidade de se pregar o Evangelho a toda criatura ou qualquer obrigação para com o próximo.

Eu, como calvinista que sou, creio que o homem é totalmente depravado e que a sua capacidade de querer seguir a Deus foi destruída; creio que Deus elegeu homens para serem salvos incondicionalmente; creio que Cristo morreu para salvar apenas os eleitos; creio que a graça irresistível é apresentada aos eleitos e, por fim; creio que será preservada, inevitavelmente, a salvação destes eleitos até o final. Mas isso não quer dizer que o meu calvinismo anula o dever que tenho de pregar a salvação de Cristo a toda e qualquer criatura, bem como de contribuir com toda obra missionária séria e comprometida com as Escrituras.

O hipercalvinismo é uma doutrina carnal e diabólica que, em sua estrutura, se apresenta como um anticalvinismo. Se alguém me identifica com tal corrente que desonra o meu Senhor, ficarei ofendido e sentirei muita tristeza. 

Para concluir afirmo que minha mente finita não entende a conciliação entre a soberania divina e a responsabilidade humana. Para mim é paradoxal. Todavia este paradoxo gerado em minha subjetividade não anula a veracidade das duas realidades coexistentes que se expressam muito bem nas palavras de Paulo: Assim, pois, amados meus (...), desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” (Fp 2: 12, 13). Portanto, não deixarei de pregar a toda e qualquer criatura e nem deixarei de orar para que elas sejam alcançadas pela maravilhosa salvação em Cristo. Nem deixarei de crer na expressão contida em Ez 18: 23: “Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? —diz o SENHOR Deus...” 

Rev. Alfredo de Souza



MENSAGEM DA CRUZ: APRENDENDO A ORAR COMO JESUS - REV. AUGUSTO NICODEMOS


Uma palavra de edificação e benção para você e sua família.

DEBATE TEOLÓGICO SOBRE A GRANDE TRIBULAÇÃO


Nesta edição o programa vejam só traz um debate interessante sobre o tema "Grande Tribulação"

AS TRÊS PRINCIPAIS LINHAS ESCATOLÓGICAS NO SEGMENTO EVANGÉLICO

 

AMILENISTA – Como  L. Berkhof, O.T.Allis, G.C. Berkhouwer e outros crêem que as Escrituras Sagradas não fazem nenhuma distinção cronológica entre a segunda vinda de Cristo, o arrebamento da igreja, e a participação do crente no novo céu e na nova terra. Para os amilenistas haverá apenas uma ressurreição geral dos crentes e dos incrédulos, a qual ocorrerá durante a segunda vinda de Cristo. O julgamento final será para todos os povos. A tribulação é algo que experimentamos na presente era. O milênio referido nas Escrituras(Ap 20) não significa um milênio literal,  pois o reino de Deus, inaugurado visivelmente com a primeira vinda do Senhor  Jesus, continua espiritualmente presente, embora invisível. Os expositores desta corrente teológica, também não fazem diferença entre a igreja do Velho  Testamento(Israel) e a igreja do Novo testamento(O novo Israel, composta por circuncisos e incircuncisos).

PÓS-MILENISTAS – Como Charles Hodge, B.B. Warfield, W.G.T. Shedd  A.H.Strong, crêem que a segunda vinda de Cristo ocorrerá após o milênio(não literal). A era presente se misturará com o milênio de acordo com o progresso do evangelho no mundo. Em geral, os pós-milenistas assumem a mesma postura amilenista com relação ao ensino da ressurreição, do julgamento final, da tribulação e da posição sobre Israel e a igreja.

Os pré-milenistas se dividem em dois grupos principais: os pré-milenistas históricos(como G.E.Ladd, A Reese e M.J.Erickson) e os pré-milenistas dispensacionalistas(como L.S.Chafer, J.D.Pentescost, C.C.Ryrie, J.F.Walvoord e Scofield).

OS PRÉ-MILENISTAS HISTÓRICOS  -  Crêem que a segunda vinda de Cristo para reinar nesta terra e o arrebatamento da igreja acontecerão simultaneamente; haverá a ressurreição dos salvos no início do milênio(1.a ressurreição) e a ressurreição dos incrédulos no final do milênio. O milênio, entretanto, na posição pré-milenista histórica, é tanto presente como futuro. No presente, Cristo reina nos céus. No futuro, Cristo reinará na terra, embora os pré-milenistas históricos em geral não considerem o período da tribulação e façam uma certa distinção entre Israel e Igreja(o Israel espiritual).

OS PRÉ-MILENISTAS DISPENSACIONALISTAS – Ensinam que a segunda vinda de Cristo acontecerá em duas fases: na primeira, o Senhor Jesus se encontrará com a igreja nos ares, levará os salvos para participar das Bodas do Cordeiro nas regiões celestiais; e após sete anos de tribulação na terra sem a presença da igreja, regressará com ela para reinar neste mundo por mil anos. Eles fazem uma distinção entre a ressurreição para igreja, na ocasião do arrebatamento, a ressurreição para aqueles que virão a crer durante a tribulação de sete anos(ressurreição que acontecerá na segunda vinda do Senhor, no final da  tribulação) e a ressurreição dos incrédulos no final do milênio.  
Os pré-milenistas dispensacionais fazem, também, uma distinção entre o julgamento dos crentes após o arrebatamento, o julgamento de judeus e gentios convertidos no final da tribulação de sete anos e o julgamento dos incrédulos no final do milênio. Sem  dúvida, para os membros desta escola de interpretação, os sete anos de tribulação será literal, mas a Igreja neo-testamentária será arrebatada antes dessa tribulação. O milênio será inaugurado e estabelecido com a segunda vinda de Cristo, após a tribulação e durará, literalmente, 1000 anos. Com certeza,  esta linha de pensamento  distingue completamente Israel e Igreja.

Extraído parcialmente da revista Ultimato  março/98.


OS ERROS DO PRÉ-MILENISMO...SERÁ?

 


INTRODUÇÃO

Sem dúvida alguma, atualmente a grande massa de evangélicos no século 21 seguem a visão escatológica pré-milenista (predominantemente pré-tribulacionista), algumas vezes chamada de “quiliasmo”. Corrente esta, que ensina que a segunda vinda pessoal e visível de Cristo se dará antes do milênio – governo de literalmente mil anos de paz, prosperidade e justiça mundial, no qual a sede do governo será em Jerusalém. Assim, a segunda vinda de Cristo é anterior ao milênio e antecedendo (intervalo de tempo, em média, 1000 anos) o fim da raça humana.
O Pré-Milenismo é baseado numa interpretação literal de Apocalipse 20. Fazendo cronologicamente os capítulos 19 e 20 de Apocalipse sua interpretação. Muitos pré-milenistas não conhecem uma interpretação Amilenista. O pré-milenismo se tornou a visão dominante após a publicação, em 1909, da Bíblia de Referência Scofield. Os pré-milenistas freqüentemente não estão cientes dos muitos e sérios problemas teológicos e exegéticos que acompanham a interpretação deles.
Seria uma visão coerente com as Sagradas Escrituras dizer que após a Segunda Vinda de Cristo ficarão pessoas na terra e que estas ainda terão chance de salvação à luz de 1Co 15. 23-24; 2Ts 1. 7-10? Ou ainda, seria correto afirmar, à luz de Jo 16:8-13; Ef 2. 1,4, que apesar do Espírito Santo ser retirado da terra neste período (segundo afirma esta doutrina), muitos pecadores ainda se arrependerão e se converterão? Como isso pode ser uma verdade bíblica se é através do ministério do Espírito que o homem perdido é convencido do pecado, da justiça e do juízo? E como coadunar este ensinamento errôneo com a doutrina calvinista da depravação total do ser humano? (CALISTO, 2001).

1.     PRINCIPAIS ENSINAMENTOS DO PRÉ-MILENISMO

Os pré-milenistas ensinam que Cristo virá nas nuvens visivelmente com os anjos e com os santos – aqueles que foram arrebatados antes do período da grande tribulação - para buscar os retos, vivos e mortos, que participaram da grande tribulação (Mt 24.21). Estes receberão corpos glorificados e imortais, a fim de encontrarem com o Senhor nos ares e a retornar a terra para inauguração do reino milenar. Ainda afirmam que grandes quantidades de ímpios (não glorificados) estarão também durante o milênio na terra. No final desse período, Satanás será solto de sua prisão para enganar as nações. Inúmeros exércitos atacarão a Cristo e os santos em Jerusalém; esses exércitos serão então destruídos por fogo decido do céu, que consumarão a todos. Após a derrota dos exércitos rebeldes, acontecerá o juízo final, bem como a ressurreição dos ímpios para o castigo eterno preparado para satanás e os seus anjos.
·         Veja o resumo dos eventos descritos acima:
Após esse breve resumo dos principais pontos da doutrina pré-milenista, analisemos criticamente seus ensinamentos a luz da hermenêutica e exegética bíblica:

2.     O DIA DO SENHOR

Segundo a doutrina pré-milenista, Cristo retornará visivelmente em pessoa, ressuscitará os santos para o milênio, e ressuscitará os ímpios após os mil anos, para então ocorrer o julgamento final – este, reservado para os ímpios e Satanás com seus anjos. Note que segundo os pré-milenistas há um intervalo de tempo de 1000 anos entre a segunda vinda de Cristo e o julgamento final, bem como o mesmo intervalo para a ressurreição dos santos (dos que participarem da grande tribulação) e dos ímpios. A pergunta a ser feita é: Será que a Bíblia ensina que haverá os intervalos de tempo acima citados? “se tiver, por favor, me prove”! Realmente não há tais intervalos de tempo entre esses eventos na veracidade da bíblia, porém tanto os evangelhos quanto as epístolas mostram que esses eventos irão tomar lugar no mesmo dia, O Dia do Senhor. Segundo o apóstolo Paulo aos tessalonicenses, a segunda vinda de Cristo a terra virá com vingança e ira sobre os ímpios, os quais padecerão eterna perdição ante a face do Senhor glorificado e admirado a todos os que creram. (II Ts 1. 7-10).  A glorificação dos retos e a punição dos ímpios são acontecimentos inter-relacionados no tempo. Aqui, portanto, há uma separação de 1000 anos entre a glorificação dos justos e a destruição dos ímpios? Não, ambos ocorrem no mesmo dia. Certamente também não há espaço para uma possível retirada da igreja em secreto e depois sete anos de tribulação precedido o governo milenar de Cristo; mostrando também que não sobram ímpios sobreviventes (após a segunda vinda de cristo) para um possível reino milenar com o Senhor. “Mas precisam existir ímpios vivos presentes nos mil anos com o Senhor, segundo a perspectiva do pré-milenismo”. O próprio Jesus declara que a sua segunda vinda e o juízo final irão ocorrer no mesmo dia (Mt 25. 31-46). Note que não há intervalo de tempo de 1000 anos entre a segunda vinda e o juízo. Após Jesus voltar a terra, ocorrerá, imediatamente, à separação dos bodes e das ovelhas.
 Quanto a ressurreição dos ímpios e dos justos, os pré-milenistas afirmam que haverá pelo menos 3 ressurreições, a saber: no Arrebatamento, na Grande Tribulação, e após o Milênio (aqui só para os ímpios). Contudo, João inspirado pelo Espírito Santo, afirma que tanto a ressurreição dos retos quanto dos ímpios irão acontecer num único dia, simultaneamente; na 2°vinda de Cristo a terra, quandotodos os que estiverem no sepulcro ouvirem a sua voz (Jo 5. 27-29).  Note que o texto não fala de n ressurreições (Plural), nem muito menos de intervalo(s) de tempo(s) entre os dois eventos; ambos ocorrerão no mesmo dia (singular): Na segunda vinda de Cristo, O Dia do Senhor ou o Último Dia. Veja também: Jo 11. 24; 6.39; 12.48.
Em Mateus 25, Cristo conduz aos seus discípulos a acreditarem que imediatamente o seu retorno inaugurará o juízo final, separando os bodes das ovelhas. Veja que não há nenhum intervalo de tempo entre a sua vinda e o juízo final, de consideravelmente 1000 anos. Podemos observar também, que Jesus não fez separação do mesmo Delta temporal para a glorificação dos justos e dos ímpios, como também da ressurreição dos retos e dos condenados. Esta mesma idéia aparece quando Jesus fala a respeito da ressurreição dos ímpios e dos justos no evangelho de João (Jo 5. 27-29), veja que quando “ouvirem” a voz do Senhor Jesus em sua vinda. Quem? Todos os que estiverem mortos, ressuscitarão! Quando? No Último Dia – o dia do julgamento!


3.     A QUESTÃO DO ARREBATAMENTO SECRETO

Os pré-milenistas, em especial os pré-tribulacionistas, acreditam que a segunda vinda de Cristo se dará em duas fases. A primeira, quando Cristo vier só para a Igreja em secreto (os santos – salvos); não á terra, mas sairá do céu; e, invisivelmente as nações transladarão os salvos – vivos e/ou mortos – para o seu encontro nos ares onde irão participar das Bodas do Cordeiro, julgando cada um segundo as suas obras e distribuindo-lhes galardões para quem o merecer. A segunda será após a “grande Tribulação”; visivelmente e pessoalmente a toda às nações, com os santos anjos e a igreja dantes arrebatada. Apóiam principalmente seus argumentos em I Ts 4. 17 e Mt 24 40-41.
Certamente, ocorre um fato chamado de arrebatamento na segunda vinda de Cristo! Porém, será que este evento se dará de forma invisível a todas as nações de modo que só os santos salvos participarão secretamente, mortos ou vivos, durante o tocante da última Trombeta? E o restante da raça humana, ficará aqui na terra para participar da “Grande” e terrível “Tribulação”?
Na parábola do campo e do moinho (Mt 24:41-44), a ênfase repousa na necessidade de vigilância para o retorno de Cristo – o  qual  será  para  ajustar  contas  com  os  seus  servos. “Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor”. Logo, o foco do ensino não está no fato de um ser levado e o outro continuarem na terra, mas no fato de um está preparado e vigiando para a volta de Jesus (mesmo em meio ao labores desta vida) e o outro não. (CALISTO, 2001).
Isto é atestado pela análise semântica dos verbos empregados nessa parábola. O verbo grego “paralambáno” que é traduzido na passagem por tomar, não tem essa idéia de movimento, de mudança de local (levar para cima – a qual está contida no verbo ekballo), mas uma idéia de mudança de status – literalmente receber ao lado. Portanto, a idéia que o texto nos passa não é de uma retirada, mas de uma separação (bodes das ovelhas); Jesus recebe em seu lado os eleitos, e “deixa” (afíemi - abandona) do outro lado os ímpios. (CALISTO, 2001).
O texto de 1 ts 4. 17 decorre de um arrebatamento da igreja com Cristo. Contudo, é o único texto bíblico que se refere ao verbo arrebatar do grego arpadzo (arrebatar, levar, roubar, apoderar). Aqui Paulo se refere a um evento concomitantemente ao julgamento dos ímpios, veja o cap.5 de 1 Ts no verso 2 e 3, como  contexto  a  Volta  de  Cristo  ( o v.2 – o dia do Senhor), nos diz que  “quando   andarem  (os ímpios) falando  de paz  lhe  sobrevirá  repentina  destruição...,  e  de  modo  nenhum escaparão”.  E Paulo, no v.4, contrasta a posição dos irmãos que “nesse dia” (dia do Senhor) não serão pegos de surpresa, antes, estarão vigilantes a espera do Senhor. Note que paz e segurança, está no contexto de Mt 24. 37-38, que assim como nos dias de Noé comiam, casavam, e davam-se em casamento... até que veio o dilúvio e os levou a todos...assim será na vinda do filho do homem; Mas nesse dia em comparação com Noé e sua família nós, os salvos, devemos estar vigilantes a sermos salvos da destruição dos ímpios no Último Dia ou na Segunda Vinda de Cristo. Portanto, não há aqui espaço para um roubo secreto dos salvos, visto que na segunda vinda de Cristo, ocorrerá tanto a destruição dos ímpios – vivos ou mortos - quanto à salvação dos justos – vivos ou mortos - sendo assim eventos únicos, bem como o juízo final da raça humana. Além do mais, O texto de tessalonicenses relata que na vinda de Cristo irá ocorrer “barulhos” de “vozes” de arcanjo e detrombetas, realmente será o evento mais estrondoso que a terra já mencionou, então como poderia ser (segundo os pré-milenistas) um evento secreto nesta passagem? Certamente, aqui na presente passagem pode apresentar “tudo” menos algo secreto ou silencioso. 
Embora a idéia de um arrebatamento seja bíblica, nada tem haver com o arrebatamento que os pré-milenistas apregoam. Aquele se refere ao encontro da igreja com Cristo nos ares e logo então a condenação dos ímpios e o juízo final. Este, se referindo a um arrebatamento secreto preparado só para a igreja, deixando o restante da raça humana para passar pela “Grande Tribulação”. Além disso, como poderia existir arrebatamento secreto se o próprio Paulo escrevendo a Tito aguardava a esperança e o aparecimento de Cristo em sua Grande Glória nos céus (Tt 2.13)? Pois assim como o vistes subir (Jesus), também o verão descendo do céu (At 1.11).

4.      O MITO A INTERPRETAÇÃO LITERAL VS. NÃO-LITERAL

De acordo com Brian Schwertley, os pré-milenistas argumentam que eles sustentam uma interpretação literal da Escritura, enquanto acusam seus oponentes teológicos (e.g., pós-milenistas) de terem uma tendência de espiritualizar passagens proféticas. A verdade é que pré-milenistas, Amilenistas e pós-milenitas todos eles  crêem que a Escritura deve ser interpretada literalmente, às vezes, e simbolicamente em outras ocasiões, dependendo do contexto da passagem e da intenção do autor. Os autores pré-milenistas dizem aos seus leitores que eles interpretam a Bíblia literalmente. Mas se você ler os seus livros, cenas com arcos, flechas e cavalos tornam-se futuras batalhas com tanques, helicópteros e aeronaves. A marca da besta se torna um chip de computador ou um código de barra. Os gafanhotos do abismo (Apocalipse 9) supostamente se tornam ataques de helicópteros, e assim por diante. Há algum autor ou comentarista pré-milenista que creia que a besta do mar com sete cabeças e dez chifres (Apocalipse 13) é uma criatura literal? O ponto é: pré-milenistas, amilenistas e pós-milenitas  todos eles interpretam algumas passagens simbolicamente e alguma passagens literalmente. A única forma de determinar qual é a melhor interpretação é usando princípios bíblicos saudáveis de interpretação ao examinar as passagens em questão. Isso significa que o contexto, a audiência, a intenção do autor, o tempo da escrita, e assim por diante, devem ser considerados. Além do mais, a Escritura não pode contradizer a Escritura; portanto, quando duas passagens parecem estar em conflito uma com a outra, a passagem mais clara deve ser usada para interpretar a menos clara. Esse princípio é muito importante, pois há muitas passagens claras no Novo Testamento que ensinam algo sobre a segunda vinda de Cristo.
O método de interpretação seguido pelos aderentes deste sistema é um defeituoso. Uma regra saída é que as passagens difíceis da Palavra, e certamente Apocalipse 20 o é, devem ser explicada à luz de textos mais simples. Contudo, alguém não pode escapar do sentimento de que com esta visão, uma teoria preconcebida é trazida à Escritura, passagens difíceis são apeladas como prova e então, se tenta fazer com que as passagens mais simples se encaixem com a teoria. O resultado é uma divisão violenta da Palavra e, portanto, da obra redentora de Deus! Sua Palavra é uma (apresentada em dois testamentos, profecia e cumprimento), e a redenção de Jesus Cristo é uma! (KUIPER, 2004)

5.     “O FRACASSO DA ÚLTIMA BATALHA”

Os pré-milenistas afirmam à veracidade da Bíblia na passagem de apocalipse 20.8, que a batalha final, que ocorrerá no fim do milênio - quando Satanás será solto por um pouco de tempo - será de forma literal, ou seja, a partir do momento em que o opositor for solto a enganar a muitos na terra, voltará os olhos para Jerusalém – sede do milênio – para atacar a Cristo e os santos com tanques de guerra, armas de guerra, mísseis, aviões etc. Contudo, como Cristo e seus santos estarão com corpos glorificados e espirituais, poderão ser atacados com armas de homens? Como o próprio Deus glorificado aqui na terra, poderá ser pelo menos arranhado com uma bala ou um míssil, ou coisa semelhante a esta? É claro que não podem ser, nem se quer tocado com tais artifícios humanos, já que estão glorificados em seus corpos e espiritualmente transformados. Jesus quando foi glorificado na ressurreição, pôde atravessar portas (Jo 20. 19). Como pode então ser intimidado por armas humanas? Certamente esta interpretação é absurdamente patética, fora do campo do bom senso e da racionalidade até de um leigo em teologia.
Além disso, eles interpretam apocalipse 19 e 20 como eventos que ocorrem cronológico/literal, ou seja, os eventos do capítulo vinte complementam cronologicamente os eventos citados no capítulo 19. Segundo os pré-milenistas, o capítulo 19 fala a respeito da segunda vinda de Cristo, enquanto que o capítulo 20 relata a inauguração do reino milenar na terra. De acordo com eles, o texto do capítulo dezenove, a partir da segunda metade em diante, Cristo retorna e julga as nações e no capítulo vinte, Cristo reina sobre as nações. Mas se o capítulo dezenove é tomado todo literalmente, não há mais nações para governar no capítulo vinte, pois segundo o texto a besta e o falso profeta foram lançados no lago de fogo e enxofre, e, os demais (todos) foram mortos pelo que estava assentado no cavalo com a espada que saiu de sua boca (Ap. 19. 15-21). Os pré-milenistas dizem que isso é uma batalha literal, com corpos mortos no campo de batalha, e aves voando fartando de suas carnes. Notemos que o capítulo vinte não tem nenhum sentido; pois, quando vamos para o capítulo vinte no verso 3, observamos que Satanás é lançado no abismo, para assim impedi-lo de enganar as nações. Contudo, como é que Satanás pode enganar as nações se estas foram destruídas no final do capítulo 19? O verso 21 do capítulo 19 mostra que Cristo destruiu a todos os demais que estavam contra ele, ou seja, a passagem enfatiza que Cristo matou a todos os que estavam a favor do inimigo. Se Cristo eliminou todas as nações e todos os ímpios, como pode então ainda governar por mil anos com eles? O capítulo vinte ainda mostra que todas as nações existem. Como podemos ver a interpretação dos pré-milenistas para estes dois capítulos é extremamente equivocada.

6.     O GOVERNO DE CRISTO É CELESTIAL E NÃO TERRENO

As escrituras ensinam que o reino de Cristo é de forma terrena? Com os santos e alguns ímpios morando com grande paz e regozijo ao lado do cordeiro de Deus em Jerusalém na palestina? O reino de Cristo é adiado até a segunda vinda? O próprio Cristo afirmou: “meu reino não é deste mundo” (Jo 18. 36). O reino de Cristo não procede de uma Jerusalém terrena, mas Celeste. Podemos observar em Mt 28. 18, que o reino do messias não é adiado até a sua segunda vinda, porém iniciou-se após a Sua ressurreição – “foi me dada toda autoridade no céu e na terra”. Paulo e Pedro assumiram esta postura de Mateus em Rm1. 4 e At 2. 34-35, respectivamente. Daniel profetizou que o reino de Deus jamais será destruído (Dn 2. 44).
Jesus pregou que o reino de Deus estava próximo (Mt 3. 2; Mc 1. 15; Lc 4. 43).Jesus declarava não um reino terreno, à aproximadamente 2000 mil anos futuramente, mas de um reino espiritual que se iniciaria após a Sua ressurreição. Se realmente fosse bíblico um reinado terreno, então porque Jesus rejeitou enfaticamente este “reino”, quando os judeus o ofereceram um governo plenamente terrestre (Jo 6. 15)? A bíblia não ensina que devemos ansiar um reinado terrestre; antes, afirma que Cristo já é rei e que governa do céu: “Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1. 20-21). Jesus Cristo tem domínio universal. O que ele realizou definitivamente pela sua morte e ressurreição é agora progressivamente realizado por toda a terra (SCHWERTLEY, 2006).
Algumas perguntas devem ser feitas para aqueles que interpretam apocalipse 20.9 de forma literal. Primeiro, será que os cristãos da era apostólica acreditavam e ansiavam que Cristo iria reinar (juntamente com os santos e alguns ímpios) numa Jerusalém terrena por um período de mil anos? Segundo, será que os cristãos esperavam por uma cidade aqui na terra, no qual iriam morar com o próprio Deus, que fez o universo e tudo o que nele há? É claro que não! Paulo escrevendo aos Hebreus afirmou: Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura (Hb 13. 14). Observamos que sem dúvida alguma, os cristãos ansiavam com veemência e todo o vigor, por uma cidade preparada por Deus, não feita por mãos de homens e terrena, mas sim, uma Jerusalém celestial. Em hebreus 11.16, a ênfase para esta exortação de Paulo é a mesma: Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade. Vemos que Deus não se envergonha de se chamar o seu Deus, pois, já lhes preparou uma Cidade. Na cidade de Filipos, Paulo exortando os filipenses afirmou: Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Fl 3. 20). A única cidade que os Cristãos ansiavam para o seu futuro com Cristo era a celestial; por que então devemos esperar por uma cidade terrena? Aqueles que afirmam que devemos guardá-la, se fundamentando em um único texto - Ap 20. 9 – se deparam com um novo testamento repleto de afirmações contrárias.
 Calvino não fomentava em seu coração nenhuma esperança milenar que fizesse parte desta presente ordem existencial das coisas, o que seria embair-se por um positivismo simplístico e apriorístico. Antes, via no milênio, o domínio espiritual de Cristo sobre sua igreja. O qual é nesta atual conjuntura limitado pelas contingências, mas que terá sua plenitude a partir da mirífica volta de Cristo (CALISTO, 2001).
Em sua explanação do Reino de Cristo em suas Institutas, mostra que o reino de Cristo é eterno e de natureza espiritual. Para Calvino, Jesus estabeleceu o seu Reino já em seu ministério terreno (Lc 1:33), e tem mantido o domínio do seu Reino sobre a igreja e seus membros, guardando-a das vicissitudes e restos desta presente ordem, de tal forma que ela permaneça sã e salva.
Uma terceira pergunta é necessária. A quem se refere João no apocalipse, com relação à cidade amada e o arraial dos santos (Ap 20. 9)? Certamente ao Povo de Deus, e a Igreja, respectivamente. Eles representam toda a igreja de Deus em sua universalidade, no mundo e no céu. João também diz que a Jerusalém é a noiva adornada de Cristo (Ap 21. 2) – uma referencia óbvia a igreja de Deus – e a esposa do Cordeiro ( Ap 21. 9-10) - a noiva adornada, a nova Jerusalém. “Antes da segunda vinda, a noiva adornada de Cristo existe no céu e na terra”. Assim, João numa linguagem apocalíptica está descrevendo o ataque final das forças de Satanás contra a igreja. As nações de Gogue e Magogue, cercando e dirigindo-se a batalha contra a cristandade no sentido mais amplo certamente intentam destruir a ‘Cidade Amada’, a causa de Cristo, e tornar o paganismo supremo no mundo (SCHWERTLEY, 2006).  



7.     A SEGUNDA VINDA DE CRISTO SE DARÁ EM CHAMAS FLAMEJANTES

Os pré-milenistas afirmam que Cristo estará na terra quando então for inaugurado o milênio. E que no fim deste, Satanás e o Seu exército cercará Jesus e os Santos nos muros de Jerusalém na Palestina. Então, após isso, descerá do céu um fogo consumidor (de Deus) para salvar Jesus e sua igreja. “Mas que interpretação incoerente com as escrituras”! Como pode Jesus em seu pleno poder juntamente com os Santos glorificados passar por outra humilhação; em que é necessário, Deus salvar seu filho da pressão de Satanás! Além do mais, ser salvo por um ataque de Armas e tanques de guerra! Certamente, a bíblia não ensina esta doutrina. Pois, Ap 20.9, se refere a segunda vinda de Cristo em chamas flamejantes: E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou. Esta idéia da segunda vinda de cristo comparado em um retorno com chamas flamejantes, ou seja, com ira sobre os que não aceitaram a Cristo está em outros textos escrituristicos: Veja: Is 66. 15-16; 2 Ts 1. 8; 2 Pe 3. 10; 1 Co 3. 13-15. Onde, pois estará Cristo quando descer fogo do céu no julgamento dos ímpios? Na terra, em Jerusalém, como alegam os pré-milenistas? Não, pois Ele retornará em chamas flamejantes. Assim, Ap 20. 9 se refere à segunda vinda de Cristo. Portanto, Cristo retornará definitivamente em um único evento após o milênio, ou seja, ao término dos mil anos com Cristo.

8.      O JUÍZO SERÁ UM SÓ EVENTO (LUIZ BERKHOF)

Os pré-milenistas dos nossos dias falam de três diferentes juízos futuros. Eles distinguem: (a) Um juízo para os santos ressurretos e para os santos vivos, quando da parousia ou da vinda do Senhor, para vindicação pública dos santos, para dar recompensa a cada um segundo as suas obras e para determinar os seus respectivos lugares no reino milenar vindouro. (b) Um juízo por ocasião da revelação de Cristo (no dia do senhor), imediatamente após a grande tribulação, no qual, conforme o conceito predominante, as nações gentílicas serão julgadas como nações, de acordo com a atitude que elas assumiram para com o evangelizante remanescente de Israel (os irmãos menores do Senhor). A entrada dessas nações no reino dependerá do resultado do julgamento. Este é o juízo mencionado em Mt 25.31- 46 estará separado do anterior por um período de sete anos. (c) Um julgamento dos ímpios mortos, perante o grande trono branco descrito em Ap 20.11-15. Os mortos serão julgados segundo as suas obras, e estas determinarão o grau da punição que eles receberão. Este juízo ocorrerá mais de mil anos depois do juízo das nações.
Devemos notar, porém, que a Bíblia sempre fala do juízo futuro com um só evento. Ela nos ensina a aguardar, não dias, mas o dia do juízo, Jo 5.28, 29; At 17.31; 2 Pe 3.7, também chamado “aquele dia”, Mt 7.22; 2 Tm 4.8, e “o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”, Rm 2.5. Os pré-milenistas sentem a força deste argumento, pois replicam que esse pode ser um dia de mil 726 anos. Além disso, há passagens da escritura que evidenciam abundantemente que os justos e os ímpios comparecerão juntos no juízo para uma separação final, Mt 7.22, 23; 25.31-46; Rm 2.5-7; Ap 11.18; 20.11-15. Ademais, deve-se notar que o julgamento dos ímpios é descrito como um concomitante da parousia e também da revelação, 2 Ts 1.7-10; 2 Pe 3.4-7. E, finalmente, deve-se ter em mente que Deus não julga as nações como nações quando estão em jogo questões eternas, mas somente indivíduos; e que uma separação final dos justos e dos ímpios não tem a menor possibilidade de ser feita antes do fim do mundo. É difícil ver como alguém pode fazer uma interpretação tolerável e coerente de Mt 25.31-46, a não ser partindo do pressuposto de que o juízo a que o texto se refere é o juízo universal de todos os homens, e de que estes serão julgados, não como nações, mas como indivíduos. Até Meyer e Alford, eles próprios pré-milenistas, consideram que esta é a única explanação sustentável.


NOTA DO AUTOR:

Espero que o verdadeiro significado da interpretação Bíblica e escriturística, no que concerne a essência da mente de Deus, revelada para Sua igreja, adentrem nos nossos corações e na nossa mente pura e agradável todos os dias de nossas vidas, esperando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
Positivamente, vivemos perto do fim do que Apocalipse chama de “mil anos”. Este milênio começou no primeiro advento de Cristo e terminará quando o tempo e a história terminarem. Cristo retornará pessoalmente e visivelmente, chamará os mortos dos sepulcros e dos mares, julgará todos os homens de acordo com suas obras, e colocará Suas ovelhas num só rebanho, a casa celestial com muitas moradas! Que a verdade Reformada continue sendo proclamada que “o Filho de Deus reúne, protege e conserva, dentre todo o gênero humano, sua comunidade eleita para a vida eterna. Isto Ele fez por seu Espírito e sua Palavra, na unidade da verdadeira fé, desde o princípio do mundo até o fim” (Catecismo de Heidelberg, Domingo XXI). Benditos aqueles são membros vivos dela!



                                                                    ISAAC PEREIRA DINIZ.